Gaita de fole: diferenças entre revisões

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É extremamente polêmica a discussão sobre as origens do instrumento, pautada por diferentes teorias. Contudo, é aceito por muitos que sua provável gênese tenha se dado entorno do Mediterrâneo ou Oriente Próximo, onde havia farta matéria-prima e onde o instrumento proliferou em variedades. Em especial, questiona-se muito hoje se a civilização egípcia realmente cultivou o instrumento de forma relevante, visto a inexistência de registos – o que contradiz o hábito deles de observar aspectos cotidianos de seu povo.
 
A partir de então, a polêmica se torna maior ainda quando debate-se sobre sua difusão. Alguns crêem que o Império Romano a tenha disseminado pela Europa, visto os registros escritos do historiador romano [[Gaio Suetônio Tranqüilo]] e do filósofo grego [[Dio Crisóstomo]] (ambos do século I a II d.C.) sobre um aerofone semelhante a uma gaita- de- fole, utilizada por soldados durante marchas e momentos de lazer, chamada [[Tibia utricularis]]. Outros pesquisadores, no entanto, não aceitam essa tese, pois defendem que os povos antigos já comerciavam entre si, havendo um grande intercâmbio de cultura muito antes da ascensão romana.
 
A verdade é que pouco se sabe sobre esse período seminal. Os primeiros registros sólidos de diferentes modelos do instrumento datam a partir de meados da Idade Média, por meio de esculturas, pinturas, gravuras e textos. Suas propriedades sonoras, de alta potência, sempre agradaram muito as populações mais modestas, pastoris, entre as quais o instrumento gozou de maior admiração.
 
A partir da Renascença e principalmente a partir do período Barroco é que se desenvolveram modelos de gaita- de- fole mais “sofisticados”, com fole mecânico e inúmeras chaves e reguladores, capazes de soarem mais de uma oitava numa escala cromática – são as musetas, que apesar do nome, proliferam inicialmente não só na França como na Alemanha também, dois caldeirões de ideias novas para a música e a lutheria. Esses modelos chegaram posteriormente à Inglaterra e finalmente à Irlanda, sendo adaptados à estética local.
 
Infelizmente, foi justamente nesse período que as gaitas-de-fole começaram a sofrer seu declínio, especialmente as de ar quente. A estética musical começava a se transformar, novos instrumentos como os metais passam a ''competir'' com as gaitas e as possibilidades sonoras de apelam ao gosto das pessoas. As gaitas-de-fole passam a ser cada vez menos preservadas e, pouco a pouco, retornam às suas origens: populações pastoris, isoladas em pontos ermos, são preservadas em suas tradições.
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===Tradição versus massificação===
À medida que um determinado modelo de gaita- de- fole volta a se consolidar como instrumento popular, é comum a aparição de diferentes correntes que seguem ideologias opostas: os que preferem a cristalização do instrumento tal como rege sua tradição, e os que buscam experimentações modernas, a combinar diferentes instrumentos em diferentes composições rítmicas. Apesar das aparências, contudo, essas diferenças são complementares e a existência desses dois grupos necessária para o desenvolvimento do instrumento e sua maior aceitação por um público hoje muito diferente do que fora há alguns séculos.
[[Ficheiro:Crayer01.jpg|thumb|250px|''Típica cena da Natividade, em que um gaiteiro figura-se ao fundo.'']]
 
===O mito celta===
Dentre as hipóteses menos consideradas por historiadores sérios está o famoso ''mito celta''. Para muitas pessoas, a gaita- de- fole estaria associada a povos descendentes dos celtas, os quais teriam criado e desenvolvido o instrumento. Muitas influências modernas contribuíram para essa crença, como o movimento [[New Age]] e a ignorância de outros modelos além da gaita das Highlands.
 
O fato é que as gaitas-de-fole se desenvolveram independentemente dos povos celtas, sem qualquer relação com eles. Para além das diversas torrentes migratórias ao longo dos séculos por diferentes povos, hoje questiona-se muito a real extensão desse povo.
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Esse mito hoje serve sobretudo às indústrias culturais de massas, em especial à fonográfica e à cinematográfica.
 
===Gaita- de- fole e a religiosidade===
Diferentes modelos de gaitas-de-fole estiveram intimamente ligados à religiosidade ao longo dos séculos. Registros medievais trazem-nos a associação desses a festividades, cultos, peregrinações e procissões. Isso se deve muito pelo fato de diversas comunidades pastoris apresentarem fortes crenças religiosas, meio em que as gaitas-de-fole eram mais populares. Ademais, igrejas européias de diferentes períodos apresentam esculturas e pinturas de anjos a tocar gaitas-de-fole, em parte por iniciativa dos próprios artesãos e alvineiros -- os quais em grande parte tinham contato com o instrumento.
 
Apesar disso, com a ascensão doutro aerofone – o [[Órgão (instrumento)|órgão de tubos]] – e o vínculo arraigado das gaitas com festividades folclóricas e populares, vincularam-na cada vez mais a uma imagem pagã, sendo prescrita em diferentes momentos da história em diferentes localidades, especialmente por religiões cristãs.
A Reforma Protestante, de [[John Knox]], é um exemplo de como a imagem do instrumento foi alterando-se com o tempo: tocar gaita- de- fole passou a ser um pecado na Escócia do século XVI.
 
===Instrumento precursor no Brasil===
[[Imagem:Carta-caminha.png|thumb|300px|''Carta de Pero Vaz de Caminha.'']]
É possível que uma gaita de fole ibérica tenha sido um dos primeiros instrumentos musicais europeus com registro documentado a soar na [[América do Sul]]. Isso devido a uma passagem da carta escrita por [[Pero Vaz de Caminha]] quando a frota de [[Pedro Álvares Cabral]] aportou oficialmente em solo do Brasil pela primeira vez:
<blockquote>
''(...) Com isto se volveu [[Bartolomeu Dias]] ao Capitão. E viemo-nos às naus, a comer, '''tangendo trombetas e gaitas,''' sem os mais constranger. E eles tornaram-se a sentar na praia, e assim por então ficaram.''<br />
''(...) E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio [[Diogo Dias]], que fora almoxarife de [[Sacavém]], o qual é homem gracioso e de prazer. '''E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita.''' Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais monteses, e foram-se para cima.''
</blockquote>
 
{{Referências}}