Sociologia da educação: diferenças entre revisões

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== A educação na sociologia clássica ==
Como vertente da [[Sociologia]] que estuda a realidade sócio-educacional e os processos educacionais de socialização, ela tem como fundadores [[Émille Durkheim]], [[Karl Marx]] e [[Max Weber]].
* '''Émile Durkheim '''é o primeiro a ter uma Sociologia da Educação sistematizada em obras como ''Educação e Sociologia'', ''A Evolução Pedagógica na França'' e ''Educação Moral''. Segundo [[Émile Durkheim|Durkheim]], a sociologia da educação serviria para os futuros professores para uma nova moral laica e racionalista, sem influência religiosa. Ele lançou as bases da teoria da [[socialização]], processo pelo qual, passando pela família, escola e outras agências sociais, o indivíduo torna-se um ser social. A socialização é um processo que ocorre por toda a vida do indivíduo mas é claro que na escola ela ocorre de forma sistemática e organizada. Nesse sentido a sociologia da educação é mais ampla do que o estudo da escola (sociologia do ensino) na medida em que está faz parte de um dos momentos da aprendizagem social e cultural. A sociologia da educação distingue, pois, entre a socialização primária e secundária. Segundo a definição durkheimiana temos que:
 
''é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meios especial a que a criança, particularmente, se destina.''
 
* Seguindo essa visão,''' [[Talcott Parsons]] '''defendeu que através do processo de socialização o indivíduo aprende a desempenhar determinados [[papel social|papéis sociais]] e que o processo de [[aprendizado]] correspondia a formação de uma determinada [[personalidade]]. Através da educação o indivíduo internaliza as normas sociais e forma uma determinada [[identidade social]]. Tanto Durkheim quanto Parsons tentam mostrar como a educação é um processo que molda os seres sociais e é necessária para a a reprodução da vida social: ela é uma [[Funcionalismo (ciências sociais)|necessidade funcional]]. A escola é considerada uma instituição social responsável pela educação formal e representa um desdobramento da família (educação informal). O sistema escolar nasce da complexificação da sociedade e é resultado da [[divisão social do trabalho,|divisão do trabalho,]] ou seja, é um desdobramento da diferenciação e da especialização social.
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* Já na '''interpretação [[Marxismo|marxista]]''' o processo de aprendizagem e a escola situam-se na [[infra-estrutura]] da sociedade e é nela que são produzidas as ideias ou [[ideologias]] correspondentes aos distintos [[Modo de produção|modos de produção]]. Na realidade atual a escola serve às necessidades do [[capitalismo]]. Seguindo, portanto, as teses de [[Karl Marx]] e [[Friedrich Engels]], os estudiosos marxistas analisam a escola como o lugar na qual são gestadas as visões que legitimam sistemas de exploração, alienação e dominação. É o caso de [[Louis Althusser]] com sua tese de que a escola é um [[ideologia|aparelho ideológico]] do Estado. Outros teóricos ligados ao [[marxismo]], como [[Antonio Gramsci]], por sua vez, preferem entender a escola como o lugar em que pode ser produzida uma contra-ideologia ou uma nova [[hegemonia]]. Nesse caso destaca-se o papel transformador e emancipador do processo escolar. No interior da corrente marxista, portanto, existe um debate sobre o papel reprodutor ou transformador da escola: a escola serve à ideologia ou ao pensamento crítico? A teoria marxista tem enorme influência no Brasil e é adotada por diversos nomes do pensamento [[pedagogia|pedagógico]] como é o caso de [[Paulo Freire]].
 
* Outra vertente da sociologia da educação retoma as ideias de [[Max Weber|'''Max Weber''']] e sua teoria a racionalização social e do desencantamento do mundo. Com base em sua sociologia da dominação (burocrática, tradicional e carismática) esse pensador identificou três tipos ideais ou puros (modelos abstratos)segundo os quais ocorre o aprendizado. A pedagogia carismática visa despertar as qualidades do indivíduo, a pedagogia tradicional o cultivo das qualidades morais e intelectuais e a pedagogia burocrática a formação técnica (treinamento). Max Weber foi um grande defensor da liberdade de pensamento no ensino superior mas defendeu que o educador não deve utilizar a sala de aula como tribuna para divulgar suas convicções. No plano da ciência Weber defendia a neutralidade axiológica: o papel do professor é estimular a autonomia intelectual do educando e não impor suas próprias ideais. Weber fez análises detalhadas sobre a educação ministrada pelos [[mandarins]] na China imperial (exemplo de pedagogia tradicional) e estudou a correlação entre educação e grupos religiosos (protestantes e católicos) na Alemanha no primeiro capítulo de seu estudo intitulado ''[[A ética protestante e o espírito do capitalismo]]''). Na linha weberiana outro importante pensador dos processos educacionais é [[Karl Mannheim|'''Karl Mannheim''']]''' '''que definiu a educação como um tipo de técnica social:
=== ''Assim, a educação apenas será corretamente compreendida se a consideramos como uma das técnicas que influenciam o comportamento humano e como um meio de controle social. A menor mudança nessas técnicas e controles mais gerais reflete-se na educação em sentido restrito - ou seja, a processada no interior da escola''. ===
 
''Historicamente, os dois pólos opostos no campo das finalidades da educação são: despertar o carisma, isto é, qualidades heróicas e dons mágicos, e transmitir o conhecimento especializado. O primeiro tipo corresponde à estrutura carismática do domínio, o segundo corresponde à estrutura (moderna) de domínio, racional e burocrático. Os dois tipos não se opõem, sem ter conexões entre si (WEBER, 1982, p.482).''
 
Max Weber foi um grande defensor da liberdade de pensamento no ensino superior mas entendeu que o educador não deve utilizar a sala de aula como tribuna para divulgar suas convicções. No plano da ciência Weber defendia a neutralidade axiológica: o papel do professor é estimular a autonomia intelectual do educando e não impor suas próprias ideais. Weber fez análises detalhadas sobre a educação ministrada pelos [[mandarins]] na China imperial (exemplo de pedagogia tradicional) e estudou a correlação entre educação e grupos religiosos (protestantes e católicos) na Alemanha no primeiro capítulo de seu estudo intitulado ''[[A ética protestante e o espírito do capitalismo]]'').
 
Na linha weberiana outro importante pensador dos processos educacionais é [[Karl Mannheim|'''Karl Mannheim''']]''' '''que definiu a educação como um tipo de técnica social:
 
=== ''Assim, a educação apenas será corretamente compreendida se a consideramos como uma das técnicas que influenciam o comportamento humano e como um meio de controle social. A menor mudança nessas técnicas e controles mais gerais reflete-se na educação em sentido restrito - ou seja, a processada no interior da escola''. ===
 
== A educação na sociologia contemporânea ==
* Nos anos 60 e 70 a sociologia da educação recebeu um enorme impulso com as pesquisas de [[Pierre Bourdieu|'''Pierre Bourdieu''']]''' '''que buscou analisar a relação entre escola e reprodução social: ele escreveu "''Os estudantes e o ensino''" em 1968 e " ''A reprodução''" em 1970, este junto com [[Jean-Claude Passeron]]. Ele também analisou o sistema universitário em "''Homo academicus''" (1984). Esse autor demonstrou como o processo de socialização imprime nos alunos um [[habitus]] primário que tende a se reproduzir em suas práticas sociais. Na Escola as camadas de baixa renda acabam se defrontando com um habitus diferente, o que acaba desestimulando e dificultando o aprendizado. Em outros termos, na escola o educando encontra um capital cultural diferente daquele herdado na família. Ao mostrar os mecanismos sócio-culturais da [[exclusão social]] a teoria de Pierre Bourdieu recebeu a denominação de crítico-reprodutivista. O tema das desigualdades escolares aparece também na obra de[[Establet| Roger Establet]] e [[Bernard Lahire]].
 
* Algumas linhas de pensamento dedicaram-se também a entender os processos de socialização em uma perspectiva [[Microssociologia|microssociológica]], ou seja, a partir do cotidiano dos indivíduos e de suas [[Ação social|ações sociais]]: no centro dessa abordagem estão as [[Interação social|interações sociais]] e o estudo dos [[Grupo social|grupos sociais]], seja o meio familiar, seja o meio escolar, grupos de amigos, etc.. Um dos principais representantes desse tipo de análise é [[George Herbert Mead|'''George Herbert Mead''']]. Em ''Mind, Self, and Society ''(1932) ele estuda os processos de formação da subjetividade ([[Self]]) a partir da capacidade dos indivíduos de se representarem no lugar do outro (Outro generalizado) em atividades como jogos e recreações infantis. Embora seu estudo seja adotado também pela [[psicologia social]], a análise das relações entre mente e sociedade também faz parte dos estudos sociológicos.
Nos Estados Unidos é especialmente importante a pesquisa de [[James SamuelS. Coleman]] e na Inglaterra um dos principais nomes é [[Basil Bernstein]]. [[Michael Apple]] e [[Henry Giroux]] são alguns autores que propõem uma análise crítica dos currículos escolares. Também as pesquisas de [[Michel Foucault]] e sua análise da microfísica do poder e da [[biopolítica]] tem uma enorme importância na pesquisa social em educação.A pesquisa sobre [[gênero]] e os temas do [[racismo]] e da [[desigualdade social]] são também fundamentais nessa área de estudos.
 
== Sociologia da educação no Brasil ==