Jesus curando o paralítico em Cafarnaum: diferenças entre revisões

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== Análise do texto ==
De acordo com [[Adam Clarke]], Jesus primeiro perdoa os pecados do paralítico para, em seguida, o curar, porque, de acordo com as crenças dos judeus da época, nenhuma pessoa doente poderia ser curada sem que, antes, seus pecados fossem expiados. Nesta passagem, há não apenas um milagre, mas três milagres de Jesus: o perdão dos pecados, a descoberta do pensamento secreto dos escribas, e a cura do paralítico.<ref name="adam.clarke.mat.9">[[Adam Clarke]], ''Commentary on the Bible'' (1831), ''Matthew Chapter 9'' [http://www.sacred-texts.com/bib/cmt/clarke/mat009.htm <nowiki>[em linha]</nowiki>]</ref>
 
De acordo com [[John Gill]], o fato de Jesus conhecer o pensamento das pessoas era um sinal suficiente para demonstrar que Jesus era o Messias, conforme o ensinamento dos judeus. [[Bar Coziba]], que reinou por dois anos e meio e se declarou, aos rabinos, como Messias, foi desmascarado por não ter este poder, e foi executado.<ref name="john.gill.mat.9">[[John Gill]], ''Exposition of the Old and New Testament'' (1746-63), ''Matthew Chapter 9'' [http://www.sacred-texts.com/bib/cmt/gill/mat009.htm <nowiki>[em linha]</nowiki>]</ref>
 
É possível que fosse mais fácil dizer ao homem alguma coisa do que comandar que ele se levantasse e andasse<ref name="Brown et al. 602"/>, mas Jesus escolhe provar sua habilidade de perdoar pecados com uma demonstração da habilidade do homem de andar. Ele perdoa e cura através de sua palavra apenas, realçando seu poder<ref name="Brown et al. 602"/>. Segundo Marcos, ''"todos"'' ficaram impressionados, mas ele não detalha se entre estes estavam os doutores da Lei ou os ''"obstinados"'' fariseus.
 
Jesus se refere a si mesmo como [[Filho do homem]] ({{lang-el|''ho huios tou anthrōpou''}}, literalmente "filho do ser humano") pela primeira vez das muitas que o fará no Evangelho de Marcos. O termo em si pode ser interpretado de diversas formas em Marcos, mas a interpretação aceita pela [[ortodoxia doutrinária]] do [[cristianismo]] é de que trata-se de uma referência ao seu caráter [[Messias|messiânico]]<ref name="Brown et al. 602"/>. A expressão aparece em diversas fontes nas [[Escrituras]], como em {{citar bíblia|Daniel|7|31]], por exemplo, e também está no [[Livro de Enoque]]. Na [[escatologia judaica|tradição apocalíptica judaica]], o título é utilizado para fazer referência ao juiz do [[Juízo Final|julgamento final]], geralmente um ser [[anjo|angélico]] ou celestial que se faz carne e osso. Apenas Jesus menciona este título nos evangelhos, geralmente utilizando-o para falar de si próprio na [[pessoa gramatical|terceira pessoa]]. Ele também é interpretado como um símbolo do plano de Jesus para a humanidade<ref name="Miller 17">Miller 17</ref>.
 
Alguns estudiosos entendem que Jesus teria ligado doenças e pecados numa relação causal neste episódio, mesmo tendo Marcos afirmado que Jesus o curou depois de ter Jesus ''"visto sua fé"'' ({{citar bíblia|Marcos|2|5}}). Este conceito é rejeitado tanto em [[Evangelho de Lucas|Lucas]] ({{citar bíblia|Lucas|13|1|5}}) quanto em [[Evangelho de João|João]] ({{citar bíblia|João|9|2|3}}). Em outras partes da Bíblia, como no [[Livro de Jó]], aparece uma visão similar, de que justos e os pecadores estão sujeitos às agruras da vida, que não são "castigos" divinos. Por outro lado, histórias como a de [[Sodoma e Gomorra]], no [[Livro do Gênesis|Gênesis]], parecem de fato demonstrar que pecados podem resultar numa intervenção divina e num castigo terreno.
 
Neste trecho, os doutores da Lei afirmam que apenas Deus pode perdoar pecados, possivelmente uma referência a {{citar bíbla|Êxodo|34|6|7}}, {{citar bíblia|Isaías|43|25}} e {{citar bíblia|Isaías|44|22}}. Marcos novamente deixa implícito que Jesus é, portanto, Deus e que a fé no poder dele pode levar não apenas à cura de doenças físicas, mas também ao perdão dos pecados<ref>Kilgallen 53</ref>. Porém, esta afirmação precisa ser contraposta com a aceitação de [[Paulo de Tarso|Paulo]] de seu {{citar bíblia|II Coríntios|12|7|citação=espinho na carne}}, que deixa claro que a fé não resulta automaticamente na cura do corpo. Os [[primeiros cristãos]] podem ter utilizado esta história para reforçar sua crença de que Jesus era capaz de perdoar pecados<ref name="Brown et al. 601"/>. Por isto, para os doutores, esta alegação de Jesus é uma blasfêmia, mas para o público alvo de Marcos seria uma confirmação de sua fé na divindade de Jesus<ref name="Brown et al. 602"/>.
 
== Ver também ==