Museu Nacional de Belas Artes (Brasil): diferenças entre revisões

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== História e estrutura ==
Embora o museu tenha sido criado oficialmente apenas em [[13 de janeiro]] de [[1937]] - e inaugurado em [[19 de agosto]] de [[1938]] - sua história é bem mais antiga, e remonta à [[Transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821)|chegada da família real portuguesa]] ao Rio de Janeiro em [[1808]], já que [[Dom João VI]] se fez acompanhar de um conjunto de obras de arte, algumas das quais permaneceram no país depois de seu retorno à [[Europa]] e figuram como o núcleo inicial da coleção.<ref name="Souza"> Souza, Alcidio Mafra de (ed.). ''O Museu Nacional de Belas Artes''. Série Museus Brasileiros. São Paulo: Banco Safra, 1985</ref>
 
Por outro lado, alguns anos depois de sua chegada ao Brasil o rei fundou a [[Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios]], que a princípio funcionou em um prédio próprio construído por [[Grandjean de Montigny]], um dos integrantes da [[Missão Francesa]] e professor da escola, e inaugurada em [[1826]] pelo imperador [[Pedro I do Brasil|Dom Pedro I]], ocasião em que a instituição passou a ser chamada de [[Academia Imperial de Belas Artes]]. Com o passar dos anos a Academia Imperial formou uma significativa [[pinacoteca]] e uma [[gliptoteca]], e com o advento da República, a academia foi rebatizada como [[Escola Nacional de Belas Artes]]. Permaneceu no mesmo edifício até a construção de sua sede atual na [[Avenida Rio Branco (Rio de Janeiro)|Avenida Rio Branco]], antiga [[Avenida Central]], artéria aberta na gestão de [[Francisco Pereira Passos|Pereira Passos]] durante uma grande reforma urbanística promovida no centro da cidade do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]] no início do [[século XX]].<ref name="Souza"/>
 
O autor do projeto foi o arquiteto espanhol [[Adolfo Morales de los Rios]], que tomou como modelo o [[Museu do Louvre]], em [[Paris]], mas durante a construção o desenho seria alterado, possivelmente por [[Rodolfo Bernardelli]], então diretor da escola, e mais tarde [[Archimedes Memoria]] acrescentou outras mudanças. O resultado é uma construção eclética, com fachadas em diferentes estilos. A fachada principal na Avenida Rio Branco é inspirada na [[Renascença]] francesa, com frontões, colunatas e relevos em terracota representando as grandes civilizações da antigüidade, além de medalhões pintados por [[Henrique Bernardelli]] com retratos dos integrantes da Missão Francesa e outros artistas brasileiros. As laterais são mais simples, e fazem referência à Renascença italiana; possuem mosaicos parisienses com figuras de arquitetos, pintores e teóricos da arte, como [[Vasari]], [[Vitrúvio]] e [[Da Vinci]]. A fachada posterior é um exemplo mais puro e austero do [[Neoclassicismo]], com relevos ornamentais de [[Edward Cadwell Spruce]]. Na decoração interna foram usados materiais nobres como mármores e mosaicos, estuques, cristais, cerâmicas francesas e estatuária. O edifício foi tombado pelo [[IPHAN]] em [[24 de maio]] de [[1973]].<ref name="Souza"/>
 
Finalizada a grande obra, e aberta ao público em [[1908]], procedeu-se à transferência das instalações da Escola Nacional para lá. O acervo da pinacoteca foi instalado no terceiro pavimento, a coleção de cópias de estatuária clássica usada para estudo encontrou espaços no segundo piso, com uma museografia especialmente concebida para dar-lhes destaque, e os ''ateliers'' das aulas práticas e a administração da escola ficaram no quarto andar. Em [[1931]] a Escola Nacional foi incorporada à [[Universidade do Rio de Janeiro]], encerrando sua história como instituição independente.<ref name="Souza"/>
[[Ficheiro:Meirelles-primeiramissa2.jpg|thumb|left|300px|Victor Meirelles: ''A Primeira Missa no Brasil'', óleo sobre tela, 1861.]]
[[Ficheiro:Americo-avaí.jpg|thumb|left|300px|Pedro Américo: ''A batalha do Avaí'', óleo sobre tela, 1872-77.]]
 
Com a criação do Museu Nacional de Belas Artes em 1937 pelo ministro [[Gustavo Capanema]], houve mudanças. A coleção da Escola Nacional passou a constituir o acervo do museu, e os ''ateliers'' e setores administrativos permaneceram no prédio, mas entre as décadas de 1950 e 1970 alguns cursos foram sendo transferidos para outros locais, enquanto a escola mudava novamente de nome, agora se chamando Escola de Belas Artes. Em [[1975]] as aulas que ainda funcionavam no prédio do museu foram transferidas para uma sede na [[Ilha do Fundão]], projetada por [[Jorge Moreira]] em arquitetura moderna, onde continuam até hoje suas atividades. Na transferência, o acervo que antes era comum a ambas as instituições - museu e escola - foi dividido. A maior parte da coleção artística permaneceu no Museu Nacional, mas outra parte, principalmente de documentos e de obras de arte didáticas ou produzidas em atividades pedagógicas, e a ''Coleção Jeronymo Ferreira das Neves'', doada à Escola de Belas Artes em [[1947]], seguiram com ela, passando a constituir o [[Museu Dom João VI]]. Com a saída definitiva da escola do prédio do museu os espaços abertos foram ocupados pela [[FUNARTE]].<ref name="Souza"/>
 
Na [[década de 1980]] o edifício estava em estado de completo abandono, com sérios problemas estruturais que ameaçavam as coleções, o que também afugentou o público. Então foram realizadas diversas reformas importantes para modernizar os equipamentos expositivos e reformular a museografia, mas preservou-se na íntegra seu estilo e decoração, que recuperaram seu esplendor original. Em meados dos [[década de 1990|anos 90]] a FUNARTE desocupou as alas onde funcionava e enfim o Museu Nacional pôde dispor integralmente de seu edifício. Hoje, plenamente recuperado e com equipamentos atualizados, o Museu Nacional de Belas Artes é o mais importante museu de arte brasileira do século XIX, um dos museus brasileiros mais afamados internacionalmente, e um dos maiores em seu gênero em toda a [[América do Sul]].<ref name="Souza"/>
 
Possui mais de 6.733,84 m² de áreas de exposição, com 1.797,32 m² de reservas técnicas. Além dos espaços de exposição e setores administrativos, o [[museu]] possui um ''Departamento de Conservação e Restauração,'' com laboratórios para trabalhos de pintura e papel, as ''Reservas Técnicas'' e a ''Oficina de Molduras e Gesso''.<ref name="Souza"/><ref>Museu Nacional de Belas Artes. [http://www.mnba.gov.br/3_laboratorios/laboratorios.htm ''Laboratórios''].]</ref>
 
Sua [[Biblioteca]] é especializada em artes plásticas dos [[século]]s [[século XIX|XIX]] e [[Século XX|XX]], reunindo obras raras e coleções de [[periódico]]s, [[monografia]]s e catálogos de exposições, além de [[documento]]s e [[fotografia]]s que registram a história da instituição desde a Academia Imperial de Belas Artes, incluindo [[acervo]]s pessoais de alguns artistas.<ref>Museu Nacional de Belas Artes. [http://www.mnba.gov.br/4_biblioteca/biblioteca.htm ''Biblioteca''].</ref>
 
Também organiza projetos para implementar ações educacionais voltadas para o público em geral e, em especial, para professores, no sentido de proporcionar maior divulgação e entendimento do patrimônio cultural brasileiro em exposição permanente e temporária.<ref>Museu Nacional de Belas Artes. [http://www.mnba.gov.br/educacao/educacao.htm ''Seção educativa''].</ref>
 
== Acervo ==
O acervo do museu teve início com o conjunto de obras de arte trazidas por Dom João VI, em 1808, e foi sendo ampliado ao longo do [[século XIX]] e início do [[século XX]] com a incorporação do acervo da Escola Nacional e outras aquisições, e hoje conta hoje com cerca de 15.000 peças, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras de artistas brasileiros e estrangeiros, além de uma coleção de arte decorativa, mobiliário, arte popular e um conjunto de peças de arte africana.<ref name="Souza"/><ref>Museu Nacional de Belas Artes. [http://www.mnba.gov.br/2_colecoes/colecoes.htm ''Coleções''].</ref>
=== Pintura ===
[[Ficheiro:Almeida Júnior - O Derrubador Brasileiro.jpg|thumb|Almeida Júnior: ''O derrubador brasileiro'', óleo sobre tela, 1875.]]
[[Ficheiro:Jan boeckhorst - pégaso.jpg|thumb|[[Jan Boeckhorst]]: ''Pégaso'', óleo sobre tela, c. 1675-1680, uma das obras pertencentes a Dom João VI e hoje no MNBA.]]
[[File:Marc Ferrez - Busto de Dom Pedro I.jpg|thumb|Marc Ferrez: ''Busto de Dom Pedro I'', bronze, 1826]]
Na [[pintura]] se destaca o grande acervo de [[arte brasileira]], o mais importante do país, que permite a reconstituição, com grande variedade de exemplares de primeira linha, de toda a trajetória da pintura brasileira desde o início do século XIX até os dias de hoje. Foi formado primeiramente com peças dos integrantes da Missão Francesa ([[Nicolas-Antoine Taunay]], [[Félix Taunay]], [[Jean Baptiste Debret]]), com a obra dos estrangeiros que participaram do círculo da Academia Imperial ([[Nicola Facchinetti]], [[François-René Moreaux]], [[Abraham-Louis Buvelot]], [[Giovanni Battista Castagneto]], [[Johann Georg Grimm]], [[José Maria de Medeiros]], [[Augusto Rodrigues Duarte]], [[Henri Nicolas Vinet|Henri-Nicolas Vinet]]), e com a produção de brasileiros, professores ou alunos da Academia Imperial, como [[Victor Meirelles]], [[Agostinho José da Mota]], [[Pedro Américo]], [[Almeida Júnior]], [[Henrique Bernardelli]], [[Rodolfo Amoedo]], [[Pedro Weingärtner]], [[Zeferino da Costa]], [[Belmiro de Almeida]], [[Antônio Parreiras]], [[Décio Villares]], [[Galdino Guttman Bicho]], [[Arthur Timótheo da Costa]] e [[Eliseu Visconti]]. Entre os artistas modernos destacam-se [[Portinari|Candido Portinari]], [[Carlos Oswald]], [[Djanira]], [[Tarsila do Amaral]], [[Di Cavalcanti]], [[Vicente do Rego Monteiro]], [[Antônio Bandeira]], [[Guignard]], [[Cícero Dias]], [[Lasar Segall]], [[José Pancetti]], e [[Jorge Guinle Filho]]. Os períodos colonial e modernista estão representados com menor número de peças. Entre as obras mais conhecidas do público estão: ''Café'' (Portinari), ''[[Gioventù]]'' (Eliseu Visconti), ''Batalha do Avaí'' (Pedro Américo) e ''[[A Primeira Missa no Brasil]]'' (Victor Meirelles).<ref name="Souza"/><ref>MARGS. ''De Frans Post a Eliseu Visconti''. Catálogo de exposição, 2000.
</ref>
 
A seção de pintura estrangeira teve seu início com o acervo deixado por Dom João VI quando retornou a Portugal e com a coleção de cerca de 50 telas adquiridas por [[Joachim Lebreton]] na França e trazidas em sua transferência para o Brasil em [[1816]]. Dom Pedro II, notório amante das artes, contribuiu com diversas aquisições, e alguns outros mecenas doaram expressivos conjuntos, como o do [[conde de Figueiredo]], da [[barão de São Joaquim|baronesa de São Joaquim]], do embaixador [[Salvador de Mendonça]], e os de [[Luís Resende]] e [[Luís Fernandes]]. Esta seção se concentra na arte européia do século XIII ao XIX, com um importante núcleo de obras barrocas italianas de autores como [[Baciccia]], [[Il Grechetto]], [[Giovanni Lanfranco]], [[Jacopo da Ponte]], [[Francesco Cozza]], [[Tiepolo]], [[Francesco Guardi]], [[Francesco Albani]], vinte obras de [[Eugène Boudin]], e oito telas de [[Frans Post]].<ref name="Souza"/>
 
=== Escultura ===
A coleção de escultura também teve origem no legado da Academia Imperial e da Escola Nacional, que incluía uma série de cópias de estátuas célebres da antiguidade e outras produzidas por professores e alunos. Enquanto diretor da Escola Nacional, Rodolfo Bernardelli adquiriu várias peças e reuniu outras dispersas por órgãos do governo, e Henrique Bernardelli mais tarde doou um conjunto de 250 peças criadas por seu irmão, que hoje constituem o cerne da coleção de escultura brasileira. Ao longo do século XX outras doações e aquisições vieram a ampliar este departamento. Dos autores mais expressivos neste conjunto estão, além do próprio Bernardelli, [[Francisco Manuel Chaves Pinheiro]], [[Cândido Caetano de Almeida Reis]], [[Celso Antônio de Menezes]], [[Victor Brecheret]], [[Amílcar de Castro]] e [[Waltércio Caldas]]. Dentre os estrangeiros, ligados ou não ao Brasil, figuram [[Zéphyrin Ferrez]], [[Auguste Rodin]], [[François Rude]] e [[Franz Weissmann]].<ref name="Souza"/>
 
=== Arte sobre papel ===
Incluindo gravura, desenho, aquarela e outras técnicas que utilizam o papel como suporte, o Museu Nacional possui uma rica coleção, com mais de 2.500 de peças somente na seção de gravuristas brasileiros, e quase 4 mil desenhos. Destacam-se as produções dos brasileiros Rodolfo Amoedo, [[Manoel de Araújo Porto-alegre]], Victor Meirelles, [[Flávio de Carvalho]], [[Oswaldo Goeldi]], [[Carlos Oswald]], [[Carlos Scliar]], [[Maria Bonomi]], [[Fayga Ostrower]], [[Dionísio del Santo]], [[Rubens Gerchman]], bem como dos estrangeiros [[Annibale Carracci]], [[Pompeo Batoni]], [[Honoré Daumier]], [[Jacques Callot]], [[Francesco Bartolozzi]], [[Turner]], [[Picasso]], [[Kandinsky]] e [[Miró]].<ref name="Souza"/>
 
=== Outras coleções ===
Núcleos menores mas interessantes do Museu Nacional são o conjunto de 106 peças de escultura africana, as obras de arte popular, ingênua ou primitiva, a imaginária sacra, o [[mobiliário]], as [[artes decorativas]], a [[numismática]] e a [[glíptica]].<ref name="Souza"/>
 
== Seleção de obras ==
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== {{Referências ==}}
* Alcidio Mafra de Souza (ed.). ''O Museu Nacional de Belas Artes''. Série Museus Brasileiros. São Paulo: Banco Safra, 1985
* Histórico da Escola Nacional de Belas Artes na página do Museu Dom João VI [http://www.museu.eba.ufrj.br/]
* ''De Frans Post a Eliseu Visconti''. Catálogo de exposição. Porto Alegre: MARGS, 2000.
 
== {{Ligações externas}} ==
{{commonscat|Museu Nacional de Belas Artes}}
* {{Link||2=[http://www.mnba.gov.br/abertura/abertura.htm |3=Página oficial do Museu}}]
{{Cidade do Rio de Janeiro}}