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|Notas =Faz parte do [[Arco de Gibraltar]] juntamente com a [[Cordilheira Bética]]
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O '''Rife'''<ref name=infop /><ref name=aul /> ({{Langx|fr|'''''Rif'''''}}; {{Langx|ber|''Arif'' ou ''Arrif''}}; {{Langx|ar|الريف||'''''er-Rif'''''}}) é uma região montanhosa no norte de [[Marrocos]], que se estende do [[Cabo Espartel]] e [[Tânger]], a oeste, até ao [[Cabo das Três Forcas]], [[MelillaMelilha]] e [[Nador]], praticamente até à fronteira com a [[Argélia]], a leste, e do [[Mar Mediterrâneo]], a norte, até ao [[rio Uarga]] e Alto [[Rio Moulouya|Moulouya]] a sul. É um região tradicionalmente isolada e desfavorecida, habitada sobretudo por populações [[berberes]], embora também haja populações minoritárias de origem [[Árabes|árabe]]. Uma das etnias berberes característica da região, os [[rifenhos]], concentra-se sobretudo junto a [[Al Hoceima]] e [[Nador]]. A população da região é cerca de {{formatnum:2500000}} habitantes.
 
A [[língua materna]] da maior parte dos habitantes do Rife é o [[Língua rifenha|rifenho]] (ou tamazight rifenho, ou ainda tarifit), embora muita gente, principalmente os mais jovens, falem também {{ling|ary}}, {{ling|es}} e {{ling|fr}}. As regiões históricas de [[Jebala]] e [[Kebdana]] fazem parte do Rife. Modernamente, a região é partilhada pelas seguintes [[Subdivisões de Marrocos|províncias marroquinas]] (de oeste para leste): [[{{ilc|Tetuão|Tetuão (província)|Tetuão]]|lk=Tetuão}}, [[{{ilc|Ouezzane|Ouezzane (província)|Ouezzane]]|lk=Ouezzane}}, [[{{ilc|Xexuão|Xexuão (província)|Xexuão]]|lk=Xexuão}}, [[{{ilc|Taounate|Taounate (província)|lk=Taounate]]}}, [[{{ilc|Taza|Taza (província)|lk=Taza]]}}, [[Al Hoceima (província)|Al Hoceima]], [[Nador (província)|Nador]], [[{{ilc|Driouch|Driouch (província)|lk=Driouch]]}} e [[{{ilc|Berkane|Berkane (província)|lk=Berkane]]}}. O enclave [[Espanha|espanhol]] de [[Melilla]]Melilha, situado a norte de Nador. Entre as cidades maiores cabe destacar Al Hoceima, Nador e MelillaMelilha.
 
==Geografia e geologia==
Em termos [[Geologia|geológicos]], a cadeia do Rife faz parte do [[Arco de Gibraltar]] (juntamente com a [[Cordilheira Bética]] do outro lado do [[Mediterrâneo]]), uma [[orogenia]] do [[Terciário]]. As montanhas do Rife apresentam um relvo abrupto nas margens do Mediterrâneo desde [[Saïdia]] até Tetuão e é frequente que as montanhas terminem em escarpas muito acentuadas, que contrastam com as colinas relativamente suaves dos arredores de [[Tânger]]. Embora segundo algumas classificações situem os limites noroeste do Rife em [[El Jebha]], na província de Xexuão, numa perspetiva mais alargada Tânger e [[Ceuta]] fazem também parte do Rife, uma designação que abarca todas as zonas montanhosas situadas entre Tânger e Ceuta até ao vale do [[Rio Moulouya|Moulouya]] e a fronteira argelina, a norte do [[Médio Atlas]].
 
As montanhas mais altas da cordilheira encontram-se a oeste (Rife Ocidental, relativamente perto de [[Tetuão]], [[Xexuão]], [[Issaguen]] e [[Targuist]]) e a leste (Rife Oriental, perto de Al Hoceima, Nador e MelillaMelilha). A montanha mais alta é o [[Jbel Tidirhine]], com pouco mais de {{fmtn|2450|m}} de altitude, situado entre [[Taounate]], cerca de 100&nbsp;km a sudoeste de Al Hoceima. Fora dessas duas regiões onde as montanhas são mais altas, o relevo é muito menos acentuado e há várias zonas planas entre as zonas montanhosas.
 
A leste, os cumes [[calcário]]s estão povoados por árvores, nomeadamente [[azinheira]]s, que na secção central dão lugar a bosques de altitude de [[cedro]]s, onde habita, entre outras espécies, o [[Macaco-de-gibraltar|macaco da Barbaria]] (ou de [[Gibraltar]]). Sobretudo na região de [[Ketama]], uma das culturas mais usuais é a ''[[Cannabis sativa]]'' (localmente conhecido como ''kif''). Na região de Al Hoceima os terrenos têm tendência a ser quase desprovidos de vegetação. Daí até [[Oujda]] (situada a sul de uma fértil planície costeira, junto à fronteira com a [[Argélia]]) o terreno está pejado de leitos de cursos de água secos, chamados localmente ''ighezran''.
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==Geologia==
A [[orogenia alpina]] (segunda metade do [[Terciário]]), originada pelo deslocamento de [[África]] para norte e o choque consequente com a [[Europa]], iniciou a sua elevação, bem como a das cadeias montanhosas atuais que rodeiam o Mediterrâneo. O Rife é então, pela sua idade e pela sua forma, uma típica cadeia alpina, com um sopé antigo sobre o qual se apoiam séries [[Sedimento|sedimentares]] do [[Secundário (geologia)|Secundário]] e Terciário, muito deformadas por [[Dobra (geologia)|dobras]] e [[Falha geológica|falhas de cavalgamento]], soprepondosobrepondo-se os do norte aos do sul. Esta compressão originou um metamorfismo em grau variável, sendo especialmente intenso na zona da costa.
 
A nível estrutural, o Rife divide-se em três partes: Rife interno, Rife médio e Rife externo.
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==História==
===Antiguidade e Idade Média===
O Rife é povoado desde a [[Pré-história]]. No {{séc|XI a.C.}} os [[fenícios]] estabeleceram-se nas costas mediterrânicas e [[Oceano Atlântico|atlânticas]], fundando entrepostos comerciais e cidades como [[Tetuão]], [[MelillaMelilha]] e, no {{séc|V a.C.}}, [[Tânger]].
 
Mais tarde, os [[cartagineses]] substituíram os fenícios como potência dominante na região. Na [[Terceira Guerra Púnica]] {{nwrap||149|146 a.C.}}, os [[República Romana|Roma]] derrotou [[Cartago]] e o Rife passou a fazer parte da [[província romana]] da [[Mauritânia (província romana)|Mauritânia]]. Durante o reinado do imperador [[Cláudio]] {{nwrap|e.|41|54 d.C.}}, Tinjis (Tânger) tornou-se a capital da província da [[Mauritânia Tingitana]].
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No século V d.C. a região foi invadida pelos [[vândalos]], que desalojaram os romanos. No {{séc|VI}} os [[Império Bizantino|bizantinos]] conquistaram uma parte da região.
 
Em 710, o líder [[Árabes|árabe]] Salih I ibn Mansur al-Himyari (al-’Abd as-Salih) fundou o [[Emirado de Nekor]], convertendo algumas [[tribo]]s [[berberes]] ao [[Islão]]. Os árabes fundaram então numerosas cidades. No {{séc|XV}} muitos muçulmanos vindos da [[península Ibérica]] exialaram-se no Rife, trazendo consigo a sua cultura, nomeadamente a música ''andalusí'' (do [[Al Andalus]]), e chegaram a fundar a cidade de [[Xexuão]]. Em 1415 [[Conquista de Ceuta|Ceuta foi conquistada]] pelos [[Império Português|portugueses]] e em 1497 os espanhóis da {{ilc||Casa de Medina Sidonia|Casa de Medina Sidonia}} ocuparam [[Melilla]]Melilha com o beneplácito da rainha [[Isabel, a Católica]].
 
=== Influência espanhola ===
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No entanto, as tribos do Rife resistiram durante muito tempo a serem subjugados pelos espanhóis. Com desejos independentistas, os berberes nunca viram com bons olhos que o seu povo fosse absorvido por Espanha ou pelo reino de Marrocos. Durante os séculos XIX e XX ocorreram diversos confrontos, dos quais se destacam os seguintes:
*1859–1860 — [[Guerra do Marrocos]] (ou Guerra de África), finalizada com o [[Tratado de Wad-Ras]], assinado após as batalhas de [[Batalha de Tetuão|Tetuão]] (31 de janeiro de 1860) e de [[Batalha de Wad-Ras|Wad-Ras]] (23 de março de 1860).
*1893–1894 — [[Guerra de Margallo]] (também conhecida como Primeira Guerra do Rife ou Primeira Campanha de MelillaMelilha)
*1909 — {{ilc|Guerra de MelillaMelilha||Guerra de Melilla|Segunda Campanha de Melilla}} (também conhecida como Segunda Campanha de MelillaMelilha), originada pela contestação às concessões feitas à [[Compañía Española de Minas del Rif S.A.]], durante a qual ocorreu o chamado {{ilc|Desastre do Barranco del Lobo||Batalha do Barranco del Lobo}}, uma batalha na qual os rifenhos derrotaram os espanhóis.
*1913–1956 — Protetorado Espanhol de Marrocos
*1911–1926 — [[Guerra do Rife]] (oficialmente iniciada a 1920), a ocupação espanhola enfrentou forte oposição das tribos rifenhas lideradas por [[Abd el-Krim el-Khattabi|Abd el-Krim]] e culminou no chamado [[Batalha de Annual|Desastre de Annual]], uma batalha ocorrida em 1921 que se saldou por uma grande derrota dos espanhóis. A rebelião, que deu origem à efémera [[República do Rife]] {{nwrap||1921|1926}}, só foi subjugada com o apoio de tropas francesas comandadas pelo general [[Philippe Pétain|Pétain]] após o {{ilc|Desembarque de Alhucemas||Desembarque de Al Hoceima}}, em 1925.
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Devido às pressões a favor da independência dos territórios marroquinas sob o seu controlo, Espanha assinou em abril de 1956 a independência do Rife. No entanto, a região foi praticamente excluída da vida política de Marrocos independente e em 1958 estalou a [[Revolta do Rife]] contra o exército marroquino, que se saldou em cerca de {{formatnum:8000}} mortos rifenhos. À laia de punição, o rei {{lknb|Hassan|II|de Marrocos}} {{nwrap|r.|1961|1999}}, que liderou o esmagamento da rebelião, pouco ou nada fez durante o seu reinado — um período que é conhecido como [[Anos de chumbo (Marrocos)|anos de chumbo]] — para deenvolver a região, que se afundou na pobreza e analfabetismo. O ensino e estudo da língua e cultura berberes foram suprimidos, com o objetivo de evitar uma nova revolta e o recrudescimento de desejos de independência. O castigo foi levantado pelo rei {{lknb|Maomé|VI|de Marrocos}} quando chegou ao poder e atualmente já se estuda a cultura e sobretudo a língua berbere em diversos institutos.
 
No enclave espanhol de MelillaMelilha, a situação dos rifenhos mudou radicalmente com os acontecimentos de 1986, quando uma revolta popular dirigida por Aomar Mohamedi Dudú exigiu que os rifenhos fossem reconhecidos como cidadãos espanhóis. O então delegado do governo espanhol Manuel Céspedes (do [[Partido Socialista Operário Espanhol|PSOE]]), concedeu uma medida sem precedentes, outorgando à grande maioria dos berberes residentes em MelillaMelilha (portadores do chamado cartão de estatística) o {{ilink condicional|Documento Nacional de Identidade (Espanha)|lk1=Documento Nacional de Identidade|txt2=[[Documento de identidade|Documento Nacional de Identidade]]}}, uma medida sem precedentes que teve a oposição, entre outros, dos partidos [[Aliança Popular]] e {{ilc|União do Povo Melillense||Unión del Pueblo Melillense}}. Desde então, os rifenhos melillenses, agora espanhóis, reivindicam a sua condição cultural e a sua língua como "autóctones".
 
Em 2008 o rei marroquino declarou como "fora da lei" o principal partido político berbere, o Partido Democrático Amazigue Marroquino (PDAM), o que originou muito decontentamento popular.