Museu Nacional de Belas Artes (Brasil): diferenças entre revisões

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|nome = Museu Nacional de Belas Artes
|imagem = MNBA - Marc Ferrez b.jpg
|imagesize = 300px276px
|imagem_legenda=Vista do museu em fotografia de [[Marc Ferrez]]. Atualmente, árvores ocultam boa parte da fachada.
|fundação = {{ani|1937}}
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|website = [http://www.mnba.gov.br/abertura/abertura.htm/ www.mnba.gov.br]
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[[Ficheiro:Debret-djoaovi-mcm.jpg|esquerda|thumb|260px280px|Jean-Baptiste Debret: ''Dom João VI em trajes de sua aclamação''.]]
 
O '''Museu Nacional de Belas Artes''' (MNBA) é um [[Galeria de arte|museu de arte]] localizado na [[cidade]] do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], no [[Brasil]]. É um dos mais importantes museus do gênero no país.
 
== História e estrutura ==
Embora o museu tenha sido criado oficialmente apenas em [[13 de janeiro]] de [[1937]] - e inaugurado em [[19 de agosto]] de [[1938]] - sua história é bem mais antiga, e remonta à [[Transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821)|chegada da família real portuguesa]] ao Rio de Janeiro em [[1808]], já que [[dom João VI]] se fez acompanhar de um conjunto de obras de arte, algumas das quais permaneceram no país depois de seu retorno à [[Europa]] e figuram como o núcleo inicial da coleção.<ref name="Souza"> Souza, Alcidio Mafra de (ed.). ''O Museu Nacional de Belas Artes''. Série Museus Brasileiros. São Paulo: Banco Safra, 1985</ref>
[[Ficheiro:Debret-djoaovi-mcm.jpg|esquerda|thumb|260px|Jean-Baptiste Debret: ''Dom João VI em trajes de sua aclamação''.]]
 
Por outro lado, alguns anos depois de sua chegada ao Brasil, o rei fundou a [[Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios]], que, a princípio, funcionou em um prédio próprio construído por [[Grandjean de Montigny]], um dos integrantes da [[Missão Francesa]] e professor da escola, e inaugurada em [[1826]] pelo imperador [[Pedro I do Brasil|dom Pedro I]], ocasião em que a instituição passou a ser chamada de [[Academia Imperial de Belas Artes]]. Com o passar dos anos, a Academia Imperial formou uma significativa [[pinacoteca]] e uma [[gliptoteca]] e, com o [[Proclamação da República do Brasil|advento da República]], a academia foi rebatizada como [[Escola Nacional de Belas Artes]]. Permaneceu no mesmo edifício até a construção de sua sede atual na [[Avenida Rio Branco (Rio de Janeiro)|Avenida Rio Branco]], antiga [[Avenida Central]], artéria aberta na gestão de [[Francisco Pereira Passos|Pereira Passos]] durante uma grande reforma urbanística promovida no centro da cidade do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]] no início do [[século XX]].<ref name="Souza"/>
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Finalizada a grande obra, e aberta ao público em [[1908]], procedeu-se à transferência das instalações da Escola Nacional para lá. O acervo da [[pinacoteca]] foi instalado no terceiro pavimento, a coleção de cópias de estatuária clássica usada para estudo encontrou espaços no segundo piso, com uma museografia especialmente concebida para dar-lhes destaque, e os [[ateliê]]s das aulas práticas e a administração da escola ficaram no quarto andar. Em [[1931]], a Escola Nacional foi incorporada à [[Universidade do Rio de Janeiro]], encerrando sua história como instituição independente.<ref name="Souza"/>
[[Ficheiro:Meirelles-primeiramissa2.jpg|thumb|esquerda|300px|Victor Meirelles: ''A Primeira Missa no Brasil'', óleo sobre tela, 1861.]]
[[Ficheiro:Americo-avaí.jpg|thumb|esquerda|400px300px|Pedro Américo: ''A batalha do Avaí'', óleo sobre tela, 1872-77.]]
 
Com a criação do Museu Nacional de Belas Artes em 1937 pelo [[ministro]] [[Gustavo Capanema]], houve mudanças. A coleção da Escola Nacional passou a constituir o acervo do museu, e os [[ateliê]]s e setores administrativos permaneceram no prédio, mas, entre as décadas de [[Década de 1950|1950]] e [[Década de 1970|1970]], alguns cursos foram sendo transferidos para outros locais, enquanto a escola mudava novamente de nome, agora passando a se chamar "Escola de Belas Artes". Em [[1975]], as aulas que ainda funcionavam no prédio do museu foram transferidas para uma sede na [[Ilha do Fundão]], projetada por [[Jorge Moreira]] em [[Arquitetura modernista no Brasil|arquitetura moderna]], onde continuam até hoje suas atividades. Na transferência, o acervo, que, antes, era comum a ambas as instituições - museu e escola -, foi dividido. A maior parte da coleção artística permaneceu no Museu Nacional, mas outra parte, composta principalmente de documentos e de obras de arte didáticas ou produzidas em atividades pedagógicas, e a ''Coleção Jeronymo Ferreira das Neves'', doada à Escola de Belas Artes em [[1947]], seguiram com ela, passando a constituir o [[Museu Dom João VI]]. Com a saída definitiva da escola do prédio do museu, os espaços abertos foram ocupados pela [[Fundação Nacional de Artes]].<ref name="Souza"/>
[[Ficheiro:Americo-avaí.jpg|thumb|esquerda|400px|Pedro Américo: ''A batalha do Avaí'', óleo sobre tela, 1872-77.]]
 
Na [[década de 1980]], o edifício estava em estado de completo abandono, com sérios problemas estruturais que ameaçavam as coleções, o que também afugentou o público. Então, foram realizadas diversas reformas importantes para modernizar os equipamentos expositivos e reformular a museografia, mas preservaram-se, na íntegra, seu estilo e decoração, que recuperaram seu esplendor original. Em meados dos [[década de 1990|anos 1990]], a Fundação Nacional de Artes desocupou as alas onde funcionava e, enfim, o Museu Nacional pôde dispor integralmente de seu edifício. Hoje, plenamente recuperado e com equipamentos atualizados, o Museu Nacional de Belas Artes é o mais importante museu de arte brasileira do [[século XIX]], um dos museus brasileiros mais afamados internacionalmente, e um dos maiores em seu gênero em toda a [[América do Sul]].<ref name="Souza"/>
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== Acervo ==
[[Ficheiro:Almeida Júnior - O Derrubador Brasileiro.jpg|thumb|300px240px|Almeida Júnior: ''O derrubador brasileiro'', óleo sobre tela, 1875.]]
[[Ficheiro:Jan boeckhorst - pégaso.jpg|thumb|esquerda|300px240px|[[Jan Boeckhorst]]: ''Pégaso'', óleo sobre tela, c. 1675-1680, uma das obras pertencentes a Dom João VI e hoje no MNBA.]]
[[File:Marc Ferrez - Busto de Dom Pedro I.jpg|240px|thumb|Marc Ferrez: ''Busto de Dom Pedro I'', bronze, 1826]]
O acervo do museu teve início com o conjunto de obras de arte trazidas por Dom João VI, em 1808, e foi sendo ampliado ao longo do [[século XIX]] e início do [[século XX]] com a incorporação do acervo da Escola Nacional e outras aquisições, e hoje conta hoje com cerca de 15.000 peças, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras de artistas brasileiros e estrangeiros, além de uma coleção de arte decorativa, mobiliário, arte popular e um conjunto de peças de arte africana.<ref name="Souza"/><ref>Museu Nacional de Belas Artes. [http://www.mnba.gov.br/2_colecoes/colecoes.htm ''Coleções''].</ref>
=== Pintura ===
 
[[Ficheiro:Almeida Júnior - O Derrubador Brasileiro.jpg|thumb|300px|Almeida Júnior: ''O derrubador brasileiro'', óleo sobre tela, 1875.]]
Na [[pintura]], se destaca o grande acervo de [[arte brasileira]], o mais importante do país, que permite a reconstituição, com grande variedade de exemplares de primeira linha, de toda a trajetória da pintura brasileira desde o início do século XIX até os dias de hoje. Foi formado primeiramente com peças dos integrantes da [[Missão Francesa]] ([[Nicolas-Antoine Taunay]], [[Félix Taunay]], [[Jean Baptiste Debret]]), com a obra dos estrangeiros que participaram do círculo da Academia Imperial ([[Nicola Facchinetti]], [[François-René Moreaux]], [[Abraham-Louis Buvelot]], [[Giovanni Battista Castagneto]], [[Johann Georg Grimm]], [[José Maria de Medeiros]], [[Augusto Rodrigues Duarte]], [[Henri Nicolas Vinet|Henri-Nicolas Vinet]]), e com a produção de brasileiros, professores ou alunos da Academia Imperial, como [[Victor Meirelles]], [[Agostinho José da Mota]], [[Pedro Américo]], [[Almeida Júnior]], [[Henrique Bernardelli]], [[Rodolfo Amoedo]], [[Pedro Weingärtner]], [[Zeferino da Costa]], [[Belmiro de Almeida]], [[Antônio Parreiras]], [[Décio Villares]], [[Galdino Guttman Bicho]], [[Arthur Timótheo da Costa]] e [[Eliseu Visconti]]. Entre os artistas modernos, destacam-se [[Portinari|Candido Portinari]], [[Carlos Oswald]], [[Djanira]], [[Tarsila do Amaral]], [[Di Cavalcanti]], [[Vicente do Rego Monteiro]], [[Antônio Bandeira]], [[Guignard]], [[Cícero Dias]], [[Lasar Segall]], [[José Pancetti]], e [[Jorge Guinle Filho]]. Os períodos colonial e modernista estão representados com menor número de peças. Entre as obras mais conhecidas do público, estão: ''Café'' (Portinari), ''[[Gioventù]]'' (Eliseu Visconti), ''Batalha do Avaí'' (Pedro Américo) e ''[[A Primeira Missa no Brasil]]'' (Victor Meirelles).<ref name="Souza"/><ref>MARGS. ''De Frans Post a Eliseu Visconti''. Catálogo de exposição, 2000.
</ref>
 
[[Ficheiro:Jan boeckhorst - pégaso.jpg|thumb|esquerda|300px|[[Jan Boeckhorst]]: ''Pégaso'', óleo sobre tela, c. 1675-1680, uma das obras pertencentes a Dom João VI e hoje no MNBA.]]
A seção de pintura estrangeira teve seu início com o acervo deixado por Dom João VI quando retornou a Portugal e com a coleção de cerca de 50 telas adquiridas por [[Joachim Lebreton]] na França e trazidas em sua transferência para o Brasil em [[1816]]. [[Dom Pedro II]], notório amante das artes, contribuiu com diversas aquisições, e alguns outros mecenas doaram expressivos conjuntos, como o do [[conde de Figueiredo]], da [[barão de São Joaquim|baronesa de São Joaquim]], do embaixador [[Salvador de Mendonça]], e os de [[Luís Resende]] e [[Luís Fernandes]]. Esta seção se concentra na arte europeia do século XIII ao XIX, com um importante núcleo de obras [[Barroco italiano|barrocas italianas]] de autores como [[Baciccia]], [[Il Grechetto]], [[Giovanni Lanfranco]], [[Jacopo da Ponte]], [[Francesco Cozza]], [[Tiepolo]], [[Francesco Guardi]], [[Francesco Albani]], vinte obras de [[Eugène Boudin]], e oito telas de [[Frans Post]].<ref name="Souza"/>
 
=== Escultura ===
A coleção de escultura também teve origem no legado da Academia Imperial e da Escola Nacional, que incluía uma série de cópias de estátuas célebres da antiguidade e outras produzidas por professores e alunos. Enquanto diretor da Escola Nacional, Rodolfo Bernardelli adquiriu várias peças e reuniu outras dispersas por órgãos do governo, e Henrique Bernardelli, mais tarde, doou um conjunto de 250 peças criadas por seu irmão, que, hoje, constituem o cerne da coleção de escultura brasileira. Ao longo do [[século XX]], outras doações e aquisições vieram a ampliar este departamento. Dos autores mais expressivos neste conjunto, estão, além do próprio Bernardelli: [[Francisco Manuel Chaves Pinheiro]], [[Cândido Caetano de Almeida Reis]], [[Celso Antônio de Menezes]], [[Victor Brecheret]], [[Amílcar de Castro]] e [[Waltércio Caldas]]. Dentre os estrangeiros, ligados ou não ao Brasil, figuram [[Zéphyrin Ferrez]], [[Auguste Rodin]], [[François Rude]] e [[Franz Weissmann]].<ref name="Souza"/>
 
[[File:Marc Ferrez - Busto de Dom Pedro I.jpg|240px|thumb|Marc Ferrez: ''Busto de Dom Pedro I'', bronze, 1826]]
=== Arte sobre papel ===
Incluindo gravura, desenho, aquarela e outras técnicas que utilizam o papel como suporte, o Museu Nacional possui uma rica coleção, com mais de 2 500 de peças somente na seção de [[Gravura|gravuristas]] brasileiros, e quase 4 mil [[desenho]]s. Destacam-se as produções dos brasileiros Rodolfo Amoedo, [[Manoel de Araújo Porto-alegre]], Victor Meirelles, [[Flávio de Carvalho]], [[Oswaldo Goeldi]], [[Carlos Oswald]], [[Carlos Scliar]], [[Maria Bonomi]], [[Fayga Ostrower]], [[Dionísio del Santo]], [[Rubens Gerchman]], bem como dos estrangeiros [[Annibale Carracci]], [[Pompeo Batoni]], [[Honoré Daumier]], [[Jacques Callot]], [[Francesco Bartolozzi]], [[Turner]], [[Picasso]], [[Kandinsky]] e [[Miró]].<ref name="Souza"/>