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====6ª - Cão de Castro Laboreiro - Cão de Gado Transmontano - Rafeiro do Alentejo - Sindh Mastife - Mastim Espanhol - Cão de Santo Humberto====
 
 
[[Ficheiro:Cao de castro laboreiro.jpg|230px|esquerda]]
Diz que o fila brasileiro descenda diretamente de seis raças caninas, o [[cão de gado transmontano]], [[cão de Castro Laboreiro]], [[rafeiro do Alentejo]], [[Bully Kutta|sindh mastife]], [[cão de Santo Humberto]] e o [[mastim espanhol]].
Uma sexta hipótese é pouquíssimo difundida, não chega a ser citada pelo Grande Livro do Fila Brasileiro, mas certamente possui um contexto histórico e fenotipico muito provável. O fila brasileiro é especialista em proteger rebanhos, e um bom condutor de bovinos, entretanto, na hipótese mais difundida de seu surgimento, não existe um cão ancestral com estas características, nem o antigo buldogue inglês, nem o mastif, tampouco o cão de Santo Humberto são especialistas em proteger e conduzir rebanhos. O antigo buldogue inglês, pelo contrário, sua especialidade era a luta com touros, o mastif é até um bom guardião de propriedades, mas devido a sua falta de agilidade, está longe de ser um bom cão para a lida com gado, sua origem está também nos cães de combate, e o cão de santo humberto é um excelente farejador, mas nunca foi usado para a lida com gado, não tem agilidade e aptidão para isto, e muito menos aptidão para qualquer tipo de guarda.
 
Esta hipótese é do ponto de vista histórico do Brasil, a mais plausível. Durante o Século XVI, praticamente o único fluxo de navios que chegavam ao Brasil era proveniente de Portugal, e não havia elevado intercâmbio cultural e econômico entre as nações europeias que justificasse a presença massiva de raças caninas estrangeiras em Portugal.
Outro fator contrário a esta hipótese, é o fato de estas raças serem todas inglesas, e o Brasil não foi colonizado pela [[Inglaterra]], [[Portugal]] colonizou o Brasil, e isto cria uma grande possibilidade de que o fila brasileiro descenda de raças portuguesas, é muito mais provável que os portugueses tenham trazido para o Brasil raças originárias de Portugal, pelo simples fato de serem mais comuns em Portugal do que as raças inglesas. Em Portugal existem raças muito antigas e pouquíssimo conhecidas atualmente, o [[cão de Castro Laboreiro]] e o [[cão de gado transmontano]], essas raças foram forjadas durante séculos pelos camponeses portugueses para se tornarem especialistas na condução e proteção de rebanhos contra ataques de lobos, assim como o fila brasileiro historicamente protegeu os rebanhos de ataques de onças. E ambas também são excelentes cães de guarda, função que também exerceram durante séculos, protegendo propriedades rurais e seus donos nas regiões mais remotas de Portugal.
 
Partindo deste principio deduzimos que os primeiros molossos a chegar no Brasil tinham necessariamente a origem em Portugal. Os molossos portugueses Cão de Castro Laboreiro, Cão de Gado Transmontano e Rafeiro do Alentejo tem aptidões de trabalho idênticas ao fila brasileiro, especialistas em proteger rebanhos de predadores e salteadores, além de um tipo físico bastante semelhante, por isso não nos resta dúvida de que a ancestralidade mais distante do fila brasileiro é oriunda destas três raças.
Não apenas fatores históricos e comportamentais aproximam o fila brasileiro destas duas outras raças lusitanas, grandes semelhanças físicas também são evidentes entre elas, ambas possuem o tipo molossoide, por isso possuem corpo grande e musculoso, e mesmo sendo raças de grande porte, assim como o fila são raças bastante ágeis, o que é incomum para cães de tal porte, uma ou outra possuem as seguintes características também encontradas no fila, como cabeça grande e pesada, formato da cabeça semelhante à do fila, barbela no pescoço, pele grossa, corpo retangular, altura e peso similares à do fila, garupa mais alta que a cernelha, [[dimorfismo]] evidente, com isto havendo grandes diferenças de tamanho entre machos e fêmeas, cores iguais às do fila, inclusive a preta de maneira uniforme, o que explicaria a existência da cor preta no fila, já que o antigo buldogue inglês, o mastif e o cão de Santo Humberto não possuem a cor preta de maneira uniforme.
 
Mais do que a coragem e instinto de proteção de propriedades rurais, os atuais cães de fila brasileiro herdaram destes primeiros molossos por forjados na labuta da selva algumas características físicas bem marcantes, a cor preta sólida e o tigrado escuro, tão contestados por alguns criadores é herança do cão de Castro Laboreiro. As luvas e o colar branco são herança do cão de gado transmontano e do rafeiro do Alentejo, assim como um tom de tigrado que já foi muito comum na raça em décadas passadas. E a cor branco malhado que está extinta no fila brasileiro é muito comum nestas duas raças portuguesas, o CAFIB (Clube de Aprimoramento do Fila Brasileiro) aceita em seu padrão racial a cor branco com malhas baias ou rajadas pois já houveram filas puros assim no passado, já a CBKC (Confederação Brasileira de Cinofilia) não aceita tal cor.
 
Também herdou das raças portuguesas uma peculiar característica, a agilidade, qualidade que não é comum entre os molossos de tal porte, além de garupa mais alta que a cernelha, e dimorfismo evidente, com isto havendo grandes diferenças de tamanho entre machos e fêmeas.
 
Outro molosso com grande contribuição genética no fila brasileiro é a raça indo-paquistanesa sindh mastife, também conhecida como bully kutta, desde o século XVI, após descobrir a rota comercial marítima para a Índia, no retorno da viagem, os navios portugueses quase sempre passavam pela colônia do Brasil, para abastecer o navio com pau-Brasil, água potável e suprimentos que os permitisse voltar a Portugal.
 
Cão muito popular na Índia, o sindh mastife foi levado por marinheiros portugueses em suas viagens até o Brasil, cão muito feroz e que já foi utilizado pelo Império Persa em suas campanhas militares, era muito apreciado pelos senhores de engenho e bandeirantes brasileiros ao se embrenharem na mata para combater e capturar indígenas. pois não haviam cães molossos nas novas terras descobertas na América, do sindh mastife o fila brasileiro herdou o temperamento bravio e um fenótipo muito semelhante.
 
Em território brasileiro estas raças começavam a participar de um processo antigo e gradual de formação do fila brasileiro, os cães mais ferozes nas tarefas de cão de guerra nos ataques a indígenas e quilombolas e no combate às onças para proteger estes homens de vida muito rústica, eram acasalados para se obter filhotes com as mesmas qualidades, os rafeiros do Alentejo, cães de Castro Laboreiro, de gado transmontano, sindh mastife e principalmente as gerações mestiças posteriores adaptadas às árduas condições de vida dos bandeirantes nas selvas brasileiras durante o Século XVI, foram o embrião, o estágio inicial da raça Fila Brasileiro.
 
Outra raça que também contribuiu claramente na formação do Fila brasileiro foi cão de Santo Humberto, por ter herdado deste um faro excepcional e um fenótipo extremamente semelhante, mas como esta raça belga originária das colinas Ardenas teria chegado ao Brasil ainda durante os primeiros séculos de colonização?
 
O cão de Santo Humberto sempre foi muito popular na região das colinas Ardenas pela sua impressionante capacidade olfativa nas caçadas, esta região é de fronteira entre três países, Bélgica, Luxemburgo e França, sendo este ultimo país um grande formador e apreciador de raças de faro, a fama de hábil caçador do Cão de Santo Humberto chegou a ultrapassar as fronteiras destes três países ainda no Século XI, e chegou a Inglaterra quando Guillaume O Conquistador, levou estes cães para o país britânico, sendo lá chamado de bloodhound, ou cão de sangue.
 
Famoso por sua habilidade de faro na região das Ardenas, os militares franceses utilizaram o cão de Santo Humberto em suas incursões fora da Europa, assim como hoje em dia a raça é muito utilizada por instituições policiais e de bombeiros mundo afora. A França tentou seguidamente invadir e colonizar sem êxito o território brasileiro por várias oportunidades durante o Século XVI até ao Século XIX, chegando no Rio de Janeiro em 1555 e somente sendo definitivamente derrotados em 1567. Várias esquadras francesas também aportavam com freqüência no litoral da Paraíba ao Ceará, sobretudo no Rio Grande do Norte para negociar pau-brasil com índios potiguares, e atacavam as embarcações que vinham de Portugal e navegavam por lá. Entre 1594 os franceses invadiram e colonizaram a cidade de São Luís no Maranhão, a sua mais duradoura tentativa de invasão, quando foram derrotados somente em 1615 por tropas luso-brasileiras.
 
Posteriormente a isto, mais alguns ataques frustrados ao território brasileiro aconteceram, como em Fernando de Noronha em 1700, no Rio de Janeiro em 1710 e 1711 (este com êxito), quando mais de cinco mil franceses atacaram a cidade, e ao Amapá em 1895, quando a França ocupou militarmente cerca de 260.000 km², devolvendo-os ao Brasil posteriormente após julgamento em corte internacional. Após todas estas tentativas de ocupação do território brasileiro pela França, é natural e único fato histórico que explica como uma raça franco-belga possa ter entrado no Brasil ainda no Século XVI e ajudado na formação do nosso Fila Brasileiro.
 
Os filas que carregavam os genes do cão de Santo Humberto eram os melhores farejadores, e esta qualidade se tornou primordial para a perpetuação desta característica e consequentemente das demais características físicas do cão de Santo Humberto no fila brasileiro, já que os melhores farejadores eram muito apreciados por capitães-do-mato quando saíam no encalço de escravos indígenas ou africanos fugitivos, e esta atividade era primordial ao sucesso econômico dos primeiros integrantes da elite da sociedade luso-brasileira daquela época, os senhores de engenho, porque era mais barato recapturar um escravo fugitivo do que comprar outro junto aos mercadores de escravos. Com isso, lucravam mais os capitães-do-mato que possuíam filas ferozes e rústicos para encarar a selva e seus perigos, mas principalmente os que também possuíam um bom faro, habilidade principal para conseguir recapturar os escravos fugitivos. Assim os genes do cão de Santo Humberto também se perpetuaram na formação do Fila Brasileiro, e hoje em dia é possível notar grande semelhança física entre as raças, especialmente em algumas características como barbela, cabeça e orelhas, sendo estas ultimas um pouco maiores no cão de Santo Humberto.
 
Também é importante salientar a participação da raça Mastim Espanhol no processo de formação do Fila Brasileiro, ambas as raças são fisicamente muito semelhantes, sendo a cabeça, a barbela e o corpo robusto as característica mais parecidas, além de um temperamento bravio e a cor baio sendo a mais comum em ambas. Durante a época da União Ibérica, que durou de 1580 a 1640, com os portos brasileiros abertos aos navios espanhóis, assim como também abertas as fronteiras com as colônias espanholas vizinhas, os mastins espanhóis teriam chegado em massa ao Brasil, exímios protetores de rebanhos que vinham trabalhar com gado, trazidos por colonos espanhóis e que também foram levados as colônias espanholas vizinhas pelo Exército Espanhol para o combate à indígenas e separatistas. A Guerra Guaranítica, onde tropas do Exército Espanhol adentraram no sul do Brasil, é outro fato histórico que pode ter contribuído com a chegada do mastim espanhol ao território brasileiro.
Os mastins espanhóis pela sua robustez, temperamento bravio e principalmente pelo sucesso no uso por tropas espanholas em suas colônias, pode ter sido amplamente utilizado quando bandeirantes e tropas do governo resolviam atacar os quilombos, contribuindo assim também com seus genes ao cão de fila brasileiro.
 
Já a partir do Século XVIII, o mix de genes formador do Fila Brasileiro já estava por assim dizer terminado, e os tropeiros, que levavam rebanhos e mercadorias rurais do interior do território brasileiro aos grandes centros urbanos, foram os responsáveis por disseminar e popularizar a raça pelo país, já que os filas eram ferramentas indispensáveis na proteção das comitivas, e "produtos" cobiçados por fazendeiros criadores de gado, para garantir a segurança das propriedades rurais e seus rebanhos.
 
==Características==