Flávio Josefo: diferenças entre revisões

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== Biografia ==
 
As informações de que dispomos sobre a sua vida provêm principalmente de sua auto-biografia ([[Vida de Flávio Josefo]]). Josefo, que se apresentou em [[Língua grega|grego]] como ''Iósepos'' (Ιώσηπος), filho de Matias, [[sacerdote]] [[Judaísmo|judaico]],<ref>[[Guerra dos Judeus]]'' I.3</ref>, teria nascido em [[Jerusalém]] numa família de ''[[cohanim]]'' (sacerdotes), onde teria recebido uma educação sólida na [[Torá]]. Sua mãe descendia da [[família real]] dos [[Hasmoneus]]. Aos treze anos de idade, ele iniciou o seu aprendizado sobre três das quatro seitas judaicas: [[saduceus]], [[fariseus]] e [[essênios]] optando aos dezenove anos de idade por aderir ao farisaísmo. Em sua obra, Josefo atribui aos [[zelotas]], a quarta seita, a responsabilidade por ter incitado a revolta contra os [[Roma Antiga|romanos]], que conduziu à destruição de Jerusalém e do [[Templo de Jerusalém|Templo]].
 
Em [[64]], contando com vinte e seis anos de idade, seguiu numa embaixada a [[Roma]] onde obteve, por intermédio de [[Popeia Sabina]], esposa do [[imperador romano]] [[Nero]], a libertação de alguns sacerdotes hebreus condenados pelo governador da [[Judeia (província romana)|Judeia]], [[Marco Antônio Félix]]. Ao regressar à Judeia, Jerusalém encontrava-se à beira da revolta. Josefo procurou dissuadir os líderes mas os seus esforços foram inúteis, tendo os revoltosos tomado a [[Fortaleza Antônia]] ([[66]]). Josefo, com receio de ser acusado de partidário dos romanos, refugiou-se no Templo. Entretanto, após a morte de [[Manaém]] e dos principais líderes da revolta, uniu-se aos sacerdotes do [[Sinédrio]] (''Sanhedrin'') que, naquele momento, aguardavam a chegada das tropas de [[Cássio]] para sufocar a revolta, o que não se concretizou pela derrota destas.
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[[Imagem:Ancient Galilee.jpg|thumb|esquerda|260px|[[Galileia]], governada brevemente por Josefo.]]
 
Enfrentou as forças de [[Plácido (general)|Plácido]], enviadas por [[Géstio Galo]] para a região. Em [[67]], as tropas de [[Vespasiano]] tomaram [[Yodfat|Jotapata]], e Josefo, com quarenta homens, escondeu-se em uma [[cisterna]]. Com a descoberta do esconderijo, foi-lhes proposto que se rendessem, em troca, das próprias vidas. Josefo teria sugerido então um método de suicídio coletivo: tirariam a sorte e matariam-se uns aos outros, de três em três pessoas; restaram apenas Josefo e mais um homem. Há quem veja o ocorrido como um [[problema matemático]], por vezes designado como [[problema de Josefo]] ou ''Roleta Romana''<ref>Exemplo em [http://acm.uva.es/p/v1/130.html ''Roman Roulette''].</ref>). Josefo convenceu este seu soldado a se entregar então às forças romanas que invadiram a Galileia, em julho de 67, tornando-se prisioneiro de guerra. As tropas romanas do [[imperador romano]], (Flávio) [[Vespasiano]], eram comandadas por seu filho, [[Tito (imperador)|Tito]], ele próprio futuro imperador. Em [[69]], Josefo foi libertado<ref>''Guerra dos Judeus'' IV. 622-629</ref> e, de acordo com seu próprio relato, teria tido um papel de relevo como negociador com as tropas de resistência durante o [[Cerco de Jerusalém (70)|cerco de Jerusalém]], em [[70]], fazendo discursos incitando os revoltosos ao arrependimento, sem que fosse ouvido. Indo para Roma, após a queda de Jerusalém, foi bem aceito, assumindo o nome romano de seu protetor Flávio Vespasiano, e recebido a [[cidadania romana]]. Passou também a receber uma generosa pensão. Além disso, tratou de aumentar suas rendas, obtendo permissão de Vespasiano para, através de seus agentes, adquirir, a preço vil, terras na Judeia, confiscadas dos envolvidos na revolta.<ref>Hadas-Lebel, Mirelli. '''Flávio Josefo, o judeu de Roma'''. Rio de Janeiro. Editora Imago, 1992</ref>. As honrarias prosseguiram sob o reinado de Tito e de [[Domiciano]].
 
Em [[71]], Josefo chegou a Roma com a comitiva de Tito; cidadão romano, passou a ser um [[Cliente (Roma Antiga)|cliente]] da [[dinastia]] dominante, os [[Dinastia Flaviana|flavianos]]. foi durante sua estada em Roma, e sob patronagem flaviana, que escreveu todas as suas obras conhecidas. Embora Josefo só se refira a si próprio por este nome, parece ter adotado o [[prenome (Roma Antiga)|prenome]] Tito (''Titus'') e o [[nome (Roma Antiga)|nome]] Flávio (''Flavius'') de seus [[Patrão (Roma Antiga)|patrões]].<ref>Atestado por [[Orígenes]], [[teologia|teólogo]] [[Cristianismo|cristão]] do [[século III]] (''Comm. Matt.'' 10.17).</ref>. Esta prática era costumeira para todos os 'novos ' cidadãos romanos.
 
A primeira esposa de Josefo morreu, juntamente com seus pais, durante o cerco de Jerusalém, e. Vespasiano arranjou-lhe um casamento com uma mulher judaica que também havia sido capturada. Esta mulher o abandonou e, por volta de 70, ele casou com uma judia de [[Alexandria]], com quem teve três filhos. Apenas um, Flávio Hircano (''Flavius Hyrcanus''), sobreviveu além da infância. Josefo se divorciou posteriormente desta sua terceira esposa e, no ano 75, se casou pela quarta vez, com uma judia de uma família distinta de [[Creta]]. Este último casamento produziu dois filhos, Flávio Justo (''Flavius Justus'') e Flávio Simônides Agripa (''Flavius Simonides Agrippa'').
 
[[Imagem:Josephus.jpg|thumb|Imagem romantizada de Flávio Josefo, na tradução de suas obras por [[William Whiston]].]]
A vida de Josefo é recheada de ambiguidades; para seus críticos, ele nunca explicou satisfatoriamente seus atos durante a Guerra Judaica — como por que ele não teria cometido suicídio na Galileia, com seus companheiros, e por que, depois de sua captura, aceitou a patronagem dos romanos.<ref>Smallwood, E. Mary. Introdução à ''Guerra Judaica'', de Josefo, tradução para o inglês de G.A. Williamson, Nova York, Penguin, 1981, p. 24</ref>. Seus críticos, no entanto, ignoram o fato de que [[Simão bar Giora]] e [[João de Giscala]], ambos zelotas extremistas e grandes oponentes de Josefo que permaneceram em Jerusalém e lideraram os combates contra os romanos em sua última etapa, preferiram — num momento de honestidade — a vida ao suicídio, e humildememente se renderam aos romanos. Aqueles que viram Josefo como um traidor e informante também questionaram sua credibilidade como [[historiador]] — desprezando suas obras como [[propaganda]] romana ou uma [[apologética]] pessoal, destinada a reabilitar sua reputação histórica. Mais recentemente, os críticos vêm reavaliando as visões pré-concebidas de Josefo. Um argumento importante é a comparação entre os danos causados por seus atos e aqueles dos idealistas que reprovaram seu comportamento; enquanto Josefo teria sido responsável pelo suicídio de alguns soldados, pela humilhação temporária de um exército enfraquecido e pelo transtorno de uma esposa, os bons, leais, idealistas e corajosos, devotos e patrióticos líderes de Jerusalém tinham sacrificados dezenas de milhares de vidas à causa da liberdade; Tito e Vespasiano sacrificaram dezenas de milhares mais à causa da ordem civil, e até mesmo Agripa II, o rei da Judéia, cliente romano, que fez tudo o que podia para evitar a guerra, acabou supervisionando a destruição de meia dúzia de cidades e a venda de seus habitantes como escravos.<ref>O'Rourke 104.</ref>.
 
Josefo foi sem dúvida alguma um importante apologista, no [[Roma Antiga|mundo romano]], para a cultura e o povo judaico, particularmente numa época de conflito e tensão. Sempre permaneceu, pelo menos em seus próprios olhos, um judeu leal e cumpridor das leis. Fez tudo o que podia para indicar o judaísmo aos gentis letrados, e para insistir sobre sua compatibilidade com o pensamento aculturado greco-romano. Constantemente se manifestou a respeito da antiguidade da cultura judaica, apresentando seu povo como civilizado, devoto e filosófico. Eusébio relata que uma estátua de Josefo teria sido erguida em Roma.<ref>''[[História Eclesiástica (Eusébio)]]'' 3.9.2</ref>
 
== Obra ==
Escreveu um relato da [[Primeira guerra judaico-romana|Grande Revolta Judaica]], dirigida à comunidade judaica da [[Mesopotâmia]], em [[língua aramaica]]. Escreveu, depois, em [[língua grega|grego]], outra obra de cariz histórico que abarcava o período que vai dos [[Macabeus]] até à queda de Jerusalém. Este livro, a [[Guerra dos Judeus]], foi publicado em [[79]]. A maior parte do livro é directamentediretamente inspirada na sua própria vida e experiência militar e administrativa.
 
As [[Antiguidades Judaicas]] (escritas cerca de [[94]] em [[língua grega|grego]]) é a história dos Judeus desde a criação do [[Génesis]] até à irrupção da guerra da [[década de 60]]. Acrescentou, no final, um apêndice autobiográfico onde defendeu a sua posição colaboracionista em relação aos invasores romanos. O seu relato, ainda que com um paralelismo evidente em relação ao [[Antigo Testamento]], não é idêntico ao das escrituras sagradas. Há quem defenda que estas diferenças se devam à possibilidade de Josefo ter tido acesso a documentos antigos (que remontariam até à época de Neemias) que teriam sobrevivido à destruição do templo. A maior parte dos académicos não dá crédito a tal suposição. Neste livro encontra-se o famoso [[Flávio Josefo e Jesus|Testimonium Flavianum]], uma das referências mais antigas a Jesus, mas considerada por alguns estudiosos uma interpolação fraudulenta posterior.<ref>''[[Karl Kautsky|Kautsky, KARL]] A origem do cristianismo, 1908, p. 42''</ref><ref>''[[Emil Schürer|Schürer, EMIL]] Geschichte des Jüdischen Volkes im Zeitalter Jesu Christi, vol.I, 3ª ed., 1901, p544''</ref>.
 
''[[Contra Apião]]'' é outra obra importante deste autor, onde o [[judaísmo]] é defendido como religião e filosofia realmente clássica, em contraponto às tradições mais recentes dos gregos. O livro serve para expor e refutar algumas alegações [[Anti-Semitismo|anti-semíticas]] de [[Apião]], bem como mitos antigos, como os de [[Manetão]].