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'''Everardo Dias''' (1883-1966) foi operário gráfico e jornalista, foi importante militante do movimento operário brasileiro nas primeiras décadas do século XX. Everardo Dias participou da [[Greve Geral de 1917|greve geral de 1917]] e da [[insurreição anarquista de 1918]].<ref>{{Citar periódico
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== Biografia ==
 
'''Everardo Dias''' nasceu em [[Pontevedra]], [[Espanha]], em [[1883]]. Com dois anos de idade, em 1887, veio para o [[Brasil]]<ref> {{citar web |url= http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/everardo_dias|título= Everardo Dias |acessodata= 13/03/2012|autor= CPDOC |coautores= FVG}}</ref>, acompanhando seu pai, professor e [[maçom]], Antônio Dias, envolvido em um fracassado levante republicano. Auxiliado pelos Maçons, embarcou para [[São Paulo]], trazendo correspondência para o Irmão Maçom Martinico Prado, um dos líderes republicanos brasileiros.
 
Aos 13 anos, Everardo aprende o ofício de tipógrafo, indo trabalhar no jornal ''[[O Estado de SãoS. Paulo]]'', onde permaneceu até completar os seus estudos na Escola Normal.
 
Diplomado, consegue uma colocação de professor em [[Aparecida de Monte Alto|Aparecida do Monte Alto]], São Paulo, distando vinte quilômetros da cidade de Monte Alto. Nessa cidade, Vicente Picarelli, velho Maçom, criou a Loja Filhos do Universo, do Grande Oriente Estadual de São Paulo, onde Everardo foi iniciado, em junho de 1904, aos 21 anos de idade.
Depois de um ano em Aparecida, regressou para São Paulo, sem conseguir transferência para São Paulo, abandona o magistério e regressa ao jornalismo. Tenta fazer Direito, na Faculdade de Direiro de São Paulo, mas, por dificuldades financeiras, é obrigado a abandonar o curso, só conseguindo diplomar-se, anos mais tarde pela [[Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro]]. Em São Paulo filiou-se à Loja União Espanhola, onde recebe o grau de Cavaleiro Rosa-Cruz em março de 1906.
 
Destaca-se como um dos líderes, no movimento anticlerical em São Paulo. Fez parte da ''Associação de Livres Pensadores'' e dirigiu o quinzenário '''O Livre Pensador''', que saiu pela primeira em 1902. Nele exaltava Lamarck, Darwin, Haeckel, Spencer, atacava implacavelmente a Igreja Católica, o fumo e o álcool. Apareciam muitas críticas contra os padres que atacavam protestantes, maçons, espíritas, livres pensadores, socialistas, etc.
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Em 1905 foi o representante da imprensa no comício dos mártires russos, em São Paulo. Em 1906 falava nas comemorações do 1º de Maio, em [[Campinas]].
 
Em 3 de maio de 1908, ingressa na ''Loja Ordem e Progresso'', em São Paulo, onde ocuparia em 1910 o cargo de 2º Vigilante. Com a ascensão ao Grão Mestrado do Grande Oriente Estadual de São Paulo, do líder republicano [[Pedro Manuel de Toledo| Pedro de Toledo]], foi organizado um programa de conferências no Estado, sobre civismo, liberdade de consciência e defesa da lei. Everardo, atuante, proferiu palestras sobre a necessidade de instrução, de escolas para o povo e a emancipação feminina, nas Lojas Amizade, Ordem e Progresso, União Espanhola, Fidelidade Firmeza e outras, além do interior do Estado e no Rio de Janeiro. Traduziu o livro de [[Victor Margueribe]],'' “La Garcone” '' que causou grande escândalo na França.
 
Na famosa [[Greve Geral de 1917|Greve Geral]] de [[10 de junho]] de [[1917]], em São Paulo, redigiu o boletim distribuído a população, defendendo melhoria de salários e direitos para os trabalhadores <ref> {{citar web |url= http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=55|título= 1919 A conquista da jornada de oito horas diárias em São Paulo |acessodata= 13/03/2012|autor= Causa Operária on line | data= 28 de abril de 2008}}</ref>.
 
Fazia parte do [[Partido Republicano Paulista]] – PRP, ao lado de ''Pedro de Toledo'', lutando contra a reforma da Constituição de 1891. Quando o PRP passou para o governo, foi-lhe oferecido cargo na administração, que recusou por ser contrário a esse apoio e se filiou ao Partido Operário.
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Entre 1912 e 1919, foi membro da Assembléia Legislativa do Grande Oriente, representando as Lojas Perseveranças III, de Sorocaba, União Espanhola, de São Paulo, e Deus, Justiça e Caridade, de Perderneiras. Sempre atuante, de 1916 a 1918, fez parte do Tribunal Maçônico de Justiça Estadual. Em 1918, é eleito Grande Secretário Adjunto do Grande Oriente Estadual.
 
Em 27 de outubro de 1919, após a realização da Greve Geral em São Paulo<ref>{{citar web |url= http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=5295|título= São Paulo, 1917: A Primeira grande greve brasileira |acessodata= 13/03/2012|autor= Historianet}}</ref>, juntamente com José Righetti e [[João da Costa Pimenta]], secretário-geral da União dos Trabalhadores Gráficos de São Paulo, foi preso, levado para Santos e, completamente nu, metidos num cubículo infecto. É ele que escreve:'' “Não és capaz de imaginar o que sofri em Santos”''. Dois dias mais tarde, foi levado para o pátio onde recebeu 25 chicotada nas costas. ''“Imagina: depois de três dias e duas noites sem comer e sem beber, nu, com um frio horrível em Santos (pois chovia sem parar) ardendo em febre, a boca pastosa, sem poder falar, apanhei como um vagabundo ou um ladrão...!” ''Neste mesmo dia, após esse tratamento revoltante, ''Everardo'' foi levado para São Paulo e depois, juntamente com 10 outros prisioneiros e vigiados por 25 soldados, transferido para o Rio de Janeiro, de onde seriam expulsos do país. Na Polícia Central do Rio de Janeiro, Everardo, debilitado, diz ao delegado que ''"fazia quatro dias e quatro noites que não comia, não bebia, nem dormia"''. Só aí receberam café com pão e mais tarde o almoço.
 
Na tarde de 30 de outubro, Everardo e mais 22 prisioneiros foram levados às docas, para embarcarem no ''Benevente'', do [[Lloyd Brasileiro]]. Ao chegarem na [[Bahia]], Manuel Gama envia uma carta em que fala de Everardo,'' “que, triste e pensativo, vai arrastando sua cruz para o Calvário!”''. E o próprio Everardo escreve:'' “Estou mais morto do que vivo...estou fraco e creio que tuberculoso! Oh! É horrível!”''.
 
Enquanto era pedido um ''habeas-corpus'' a favor de Everardo, apontando que residia no país a 33 anos, era naturalizado brasileiro, tinha seis filhas brasileiras e profissão de guarda-livros; o deputado e maçom [[Maurício Paiva de Lacerda | Mauricio de Lacerda]], pai de [[Carlos Lacerda]], lia sua dramática carta na [[Câmara Federal]]. [[Astrogildo Pereira]], através das páginas do ''Spartacus'', lembrava que Everardo publicara, durante 15 anos, o ''Livre Pensador'' e que fora revisor-chefe de ''O Estado de SãoS. Paulo''. A Loja América destacou-se em sua defesa. No dia 8 de novembro o Supremo Tribunal denegou a petição pelo ''habeas-corpus''.
 
Ao chegarem no Recife, permaneceram por três dias em três celas, nas quais cabiam somente três pessoas. No dia 24 de novembro, depois de uma escala na [[Ilha da Madeira]], ancoraram em [[Lisboa]]. A polícia portuguesa recolheu os prisioneiros portugueses, deixando no navio os espanhóis, entre os quais ''Everardo''.
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Em 29 de novembro, em [[Vigo]], na Espanha, todos os deportados desembarcam, menos ''Everardo Dias'', Manuel Perdigão e Francisco Ferreira, por serem corretamente considerados brasileiro. Doentes, abatidos, taciturnos, sem dinheiro e roupas adequadas, temendo passar o invreno no Benevente, imploram para desembarcar também, mas foram proibidos.
 
Em dezembro, em [[Le Havre]], [[França]], sofrendo no inverno rigoroso, pediram ao cônsul brasileiro agasalhos; inutilmente, não obtiveram resposta. Recebiam algum conforto da solidariedade dos outros tripulantes do navio. O Benevente, após passar em Rotterdam, retornou a Vigo, onde Perdigão e Ferreira desembarcaram. Nesse ínterim, o Grão Mestre recém empossado, José Adriano Marrey Júnior, acompanhado do senador e maçom [[Luís de Toledo Piza e Almeida| Luís de Toledo Piza]], da Loja América, em audiência com o governador do Estado, conseguiu a condenação da atitude policial e a revogação da sua expulsão. Ele podia voltar ao Brasil.
 
Aportou em [[Recife]], no dia 25 de janeiro de 1920, sendo recebido com grandes homenagens, participou de uma sessão na União dos Operários em Construção Civil, onde em discurso atribuiu a causa de suas provações aos seus artigos contra o governo publicados em A Plebe, acusou Ibraim Nobre de ser o mandante do espancamento que sofreu em Santos e denunciou o tratamento recebido por Manuel Perdigão, um brasileiro nato. Durante os três dias que permaneceu em [[Recife]], recebeu diversas homenagens, foi saudado por [[Antônio Canellas]], pelo Professor Joaquim Pimenta e [[Cristiano Cordeiro]], na casa de quem pernoitou durante sua estada.
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Em 1921, é um dos fundadores da Loja de Perfeição Segredo, do Rio de Janeiro, que tinha como objetivo a difusão de conhecimento e a doutrinação dos Maçons; com a crise se 1921, essa iniciativa não foi adiante. Por essa época Everardo dirigia a tipografia da Maçonaria, situada no Méier, e suas oficinas publicaram o livro ''Rússia Proletária'', de [[Octávio Brandão]] e a revista ''Movimento Comunista'', em 1923 a polícia acabou por invadir a tipografia e confiscá-la.
 
Quando ocorreu a [[Revolta dos 18 do Forte de Copacabana]] em 1922, Everardo havia montado um comitê pró [[Nilo Peçanha]], ex-Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil, opositor a [[Artur Bernardes]], foi preso e enviado para a ilha da Cobras. Depois para a fortaleza de Santa Cruz.
 
Em 1923, juntamente com ''Canellas'' e outros companheiros, é preso sob a acusação de prepararem uma insurreição contra o governo de [[Artur Bernardes]], mas logo é posto em liberdade. Participa da reunião do [[Partido Comunista Brasileiro]]/[[Partido Comunista do Brasil]], na qual ''Canellas'' foi suspenso <ref>{{citar web |url= http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/segundosimposio/rodrigosalvadordearaujo.pdf |título= A Formação do PCB e a adesão à Internacional Comunista|acessodata= 13/03/2012|autor= Rodrigo Salvador Araújo|data= 21/09/2006 |formato= PDF|obra= II Simpósio Estadual Lutas Sociais na América Latina - Uel|páginas= 10|}}</ref>.
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Ao estourar a [[Revolta Paulista de 1924]], ''Everardo'', que se encontrava no Rio de Janeiro, foi novamente preso e enviado para os campos de concentração existentes nas ilhas da costa brasileira, ficando encarcerado por três anos, principalmente na ilha das Flores.
 
Posto em liberdade, com a saúde abalada, voltou para o seio da família, em situação financeira difícil. Dono de uma livraria e editor, seu patrimônio tinha sido confiscado durante o estado de sítio. De nada adiantou apelar para a Justiça. Voltou a exercer a profissão de jornalista no ''Diário Nacional'', cujo diretor era ''Marrey Júnior'', órgão do [[Partido Democrático (1930)|Partido Democrático]], ali permanecendo até o seu fechamento, após a [[Revolução Constitucionalista de 1932]]. No final de 1927 tem o seu nome lançado, pelo ''O Internacional'', como candidato ao conselho municipal de São Paulo pelo ''Bloco Operário Camponês''<ref> {{citar web |url= http://bernardoschmidt.blogspot.com/2011/08/as-eleicoes-municipais-de-sao-paulo-em_01.html|título= As Eleições Municipais de São Paulo em 1928 e 1936 — Parte 1/2|acessodata= 13/03/2012|autor= Bernardo Schmidt|data= 01/08/2011}}</ref>.
 
Durante esse período foi vigiado e sua casa era constantemente invadida pela polícia. Apoiou o golpe de 1930 e teve de fugir de São Paulo, para não ser preso novamente.
 
Em 1932, desempregado, perseguido pela polícia, mesmo apoiando o golpe de 1930, morava em um cortiço do Rio de Janeiro, onde criava galinhas, para sobreviver.
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Faleceu em [[1966]], cinco anos depois de publicar ''História das Lutas Sociais no Brasil.'' Em 4 de abril desse mesmo ano, foi fundada em sua homenagem a '''Loja Everardo Dias'''.
 
 
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