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→‎Antigo Egito: Idade do Bronze Tardio
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Durante o [[Segundo Período Intermediário]],<ref>Bruce G. Trigger. ''Ancient Egypt: a social history''. 1983. Página 137. (cf. ... "for the Middle Kingdom and Second Intermediate Period it is the Middle Bronze Age".)</ref> o Antigo Egito caiu em desordem pela segunda vez, entre o final do Império Médio e do início da Império Novo. É mais conhecido pelos [[Hicsos]], cujo reinado compreendeu as 15ª e 16ª dinastias. Os hicsos apareceram pela primeira vez no Egito durante a 11ª dinastia, começaram sua escalada rumo ao poder na 13ª dinastia, e surgiram a partir do Segundo Período Intermediário no controle de [[Aváris]] e do [[Delta do Nilo|Delta]]. Pela 15ª dinastia, governaram o Baixo Egito, tendo sido expulsos no final da 17ª dinastia.
 
'''Idade do Bronze Tardio no Egito'''<ref>{{citar web|URL = http://novoimperio.wix.com/novoimperio|título = O Novo Império no Antigo EGito|data = 01/01/2012|acessadoem = 15/07/2015|autor = Raphael Freire Santos|publicado = Raphael Freire Santos}}</ref><ref>SANTOS, Raphael Freire. O Novo Império no Antigo Egito. São Paulo: Raphael Freire Santos, 2012.</ref><ref name=":0">{{citar livro|nome = Raphael Freire|sobrenome = SANTOS|título = O Novo Império no Antigo Egito|ano = 2012|isbn = 978-85-914307-0-3}}</ref>
 
[[http://novoimperio.wix.com/novoimperio|(SANTOS, Raphael Freire. O Novo Império no Antigo Egito. São Paulo: Raphael Freire Santos, 2012.)]]<ref name=":0" />
 
Conforme estudos de Cardoso (2000) existiu uma fase no Oriente Próximo denominada Idade do Bronze Tardio, durante o Novo Império no antigo Egito, que demonstra os aspectos econômicos, políticos e militares do país. Considera-se importante tal estudo, pois como pode-se verificar, a mudança da Idade do Bronze Tardio para a Idade do Ferro marcou significativas mudanças no Egito, principalmente no fim do da 19ª dinastia. Também pode-se perceber um declínio econômico no fim do reinado de Ramsés II, quando povos estrangeiros começam a ascender na política exterior.
 
O início do Novo Império passa pela Idade do Bronze Tardio. Frizzo (2010) estuda o fim do Segundo Período Intermediário do Egito, quando da invasão e expulsão dos hicsos. O período pesquisado demonstra as bases para o início da Idade do Bronze Tardio no país.
O pensamento dos egípcios baseia-se na dualidade criada a partir do mito da criação. “No princípio de tudo fez-se a ordem. Da colina primordial, cercada das águas de Nun, criou-se o demiurgo4.” (FRIZZO, 2010:25) Vê-se dualidade em vários aspectos, como masculino e feminino, ordem e caos etc., mas a principal estava na própria geografia do Egito, a saber, as duas terras. Também percebe-se a simetria existente entre a terra negra (kemet), ou seja, os solos aluviais das inundações anuais do Nilo, e a terra vermelha (desheret), que era o deserto. O sistema geológico das inundações que trazia fertilidade fazia do Egito um país praticamente autossuficiente.
 
''“A experiência singular dos egípcios de autosuficiência [sic] levou-os à associação de kemet ao universo organizado, que, como no mito, erguia-se no mar de caos de desheret. Se a topografia isolou-os geograficamente, a natureza proporcionou, outrossim, uma economia que não necessitava de contatos exteriores para a manutenção da população ou mesmo de um desenvolvimento apurado dos meios de produção.” (FRIZZO, 2010:26)''
 
O herdeiro da totalidade do território egípcio do demiurgo é o faraó. Os povos estrangeiros eram, nesse sentido, vistos como agentes do caos, pois somente os habitantes do kemet foram agraciados a viver no mundo organizado. Para Frizzo (2010), no Novo Império a ideologia muda, e o demiurgo teria concordado em deixá-los viver no mundo, mas dependentes do sopro de vida do faraó. Na época, uma parte do território já era ocupada pelos povos do exterior, algo que não acontecera até o Médio Império.
Segundo o autor, três processos caracterizaram o fim do início do Segundo Período Intermediário devido a perda de território:
 
* Perda da Núbia: os egípcios pensavam a Núbia dualística – Wawat, ou Baixa Núbia, e Kush, ou Alta Núbia;
* Divisão do Delta em reinos e invasão dos hicsos: a divisão do Delta resultou na invasão dos hicsos devido à desfraguimentação do poder, além do fato de possuírem maior tecnologia (o autor pontua que a palavra “hicsos” provém da versão grega, pois os egípcio os conhecia por hekaw khaswt, que significa príncipes das terras estrangeiras);
* Ascensão do poder tebano da 17ª dinastia: o Alto Egito era controlado por Tebas que, por sua vez, viu a terra negra ser controlada pelos estrangeiros. Frizzo (2010, apud SPALINGER, 2005) classifica as relações tensas entre asiáticos e tebanos semelhantes à guerra fria.
 
De um lado, Seqenenrá II era faraó e, do outro, Apophis, rei em Avaris, asiático e igualmente exercia poder no Egito. Seqenenrá II lança mão de um conflito para retirar o poder de Apophis, sem sucesso. A guerra é retomada por seu sucessor. Enquanto Alto e o Baixo Egito estão em conflito, o país permanece fragmentado. Duas estelas relatam a guerra entre Kamés5 e Apophis, com uma grande insatisfação do primeiro em dividir o poder, demonstrando nacionalismo e xenofobia (FRIZZO, 2010, apud SPALINGER, 1982 e BUSBY, 2002).
 
Frizzo (2010), citando Newby (1980), acredita na possibilidade de as cidades do Médio Egito ter se divido entre os apoiadores dos egípcios e apoiadores dos hicsos, inclusive de grandes proprietários de terras que tinham interesse na pastagem do gado.
Kamés vence o confronto, mas volta para Tebas sem literalmente derrotar o exército inimigo asiático de Apophis. O último teria ainda tentado uma aliança com o rei de Kush, uma tentativa de pedido de auxílio desesperado diante do saque inimigo. A demonstração de fraqueza por parte dos hicsos foi o necessário para que Ahmés6, sucessor de Kamés, derrotasse o povo estrangeiro e iniciasse um novo tempo para o Egito.
As ações militares de Ahmés foram escritas pelos oficiais, não diretamente pelo próprio rei. Em uma de suas campanhas, ele apodera-se da cidade de Avaris. Em seguida, o alvo do faraó é Sharuhen, ao sul palestino, ponto de apoio para Avaris. O objetivo das ações seria, conforme o próprio rei, evitar que os asiáticos realizassem algum contra-ataque contra seu território (kemet). Posteriormente, outras ações em território asiático serviram para enfraquecer os inimigos. Frizzo (2010) acredita que isso deva-se à invasão estrangeira, ou seja, uma nova percepção dos egípcios sobre a segurança do país. Frizzo (2010, apud NEWBY, 1989) considera que a própria ideologia de superioridade inata (herança do demiurgo) trouxe um sentimento de patriotismo para a expulsão dos povos estrangeiros, consolidando o poder do próprio rei com fortes alianças com famílias importantes.
 
Mais tarde, duas rebeliões núbias levaram os navios do faraó para o Alto Egito: Aata, núbio invasor do território sul do Egito, e Tetian, um egípcio revoltoso. Para Frizzo (2010), as revoltas núbias não eram novidade para os egípcios. Inclusive, eles fizeram parte do exército do Egito.
 
 
''“Os núbios serviram desde o princípio do período faraônico como força militar, formando as tropas de elite do Exército do faraó. Eram conhecidos como medjayw e tinham grande habilidade com os arcos. Outro papel desempenhado pelos núbios era o de forças policiais. Em geral, eles eram alistados a partir das revoltas, como fica claro a partir do texto conhecido como Admoestações de Ipu-ur, única descrição de uma revolta social durante o Egito faraônico.” (FRIZZO, 2010:31)''
 
Segundo Frizzo (2010), há três especulações a respeito dos motivos que levou os egípcios a incluir soldados estrangeiros em seu exército. O primeiro, de pouca consistência, baseia-se na ideia de que eles eram mais bem treinados com maior habilidade marcial. A segunda considera insuficiência do número de pessoas nativas no corpo militar, levando a contratação de mercenários, núbios ou asiáticos em sua composição. A última hipótese diz que tropas estrangeiras serviam para “manter o controle da coerção nas mãos da classe dominante ligada ao Estado.” (FRIZZO, 2010:32)
Frizzo (2010) não considera somente as modificações na sociedade e a centralização do poder nas bases do império que viria a levantar-se no Egito, mas também as mudanças na forma de recompensas aos militares. A 18ª dinastia foi marcada, dentre outras, pela caracterização do militar como servidor importante do faraó, dando lugar ao sistema de meritocracia. Frizzo (2010, apud LORTON, 1974) atesta, por exemplo, a lógica do inimigo derrotado que, consequentemente, perde a posse de seus bens e família para o vencedor. Nesse sentido, o autor lembra que tudo que era conquistado estava nas mãos do faraó, pois ele seria responsável pelas vitórias e, portanto, tudo estaria em sua posse, centralizando os ganhos e distribuindo aos soldados que destacaram-se nas batalhas. Os capturados, da mesma forma, poderiam ser presenteados como escravos aos vencedores. Já as mortes seriam provadas quando um guerreiro levasse uma mão cortada do inimigo ao rei. O ouro, conforme inscrições do soldado Ahmés, filho de Ebana, servia como título honorífico e como valor pago em recompensa por capturas e mortes.
A expansão do império egípcio iniciada pelo faraó contra os hicsos começa a mostrar resultados quando outros povos começam a enviar tributos para a cidade de Tebas. Apoiando-se em Redford (1993), Frizzo (2010) enuncia que a organização social no antigo Oriente Médio começa a modificar-se. O Chipre e o Levante fortalecem as rotas de comércio de ópio, cobre e cerâmica. A Babilônia não consegue sustentar seu poder no império da Mesopotâmia, pois havia sido invadida pelos kassitas após o reinado de Hammurabi. Não obstante, dois grupos étnicos ameaçam o equilíbrio do Levante e influenciam a história do Egito e de sua relação com o Oriente Próximo: os hititas e os hurritas (estes últimos ganharam força no cenário político, influenciados pelos indo-arianos caracterizados pela utilização do cavalo e do carro de guerra, cremação e da aristocracia jovem – maryannu).
Esses dois povos são importantes para a história egípcia, pois, segundo Frizzo (2010), eles cresceram e enfrentaram-se para conquistar o norte da Síria e o alto Eufrates e, unindo-se famílias com características de ambas as partes, geram um só povo, chamado kharu pelos egípcios7. “A pressão dos hurritas e seus líderes indo-arianos deu origem a um Estado territorial chamado Mitanni (...) e exerceu influência sobre cidades diretamente ligadas ao processo de expansão egípcia.” (FRIZZO, 2010:35) Megido e Kadesh (este último centro de poder do alto Orontes e Galiléia), da Síria-Palestina, eram dois exemplos de cidades influenciadas.
Ahmés estabelece um governo de dominação e intimidação dos povos estrangeiros. As cidades sírio-palestinas deveriam ser servas do Egito, sendo que os reis dos territórios passariam a ser representantes do faraó com o jugo do juramento e da fidelidade ao rei. Assim, ele estendia suas fronteiras. O sucessor de Ahmés, Amenhotep I8, segue a política de dominação do pai em direção à Núbia, promovendo uma ação militar por volta do oitavo ano de reinado. Frizzo (2010), baseando-se em Galán (2002), dá especial atenção ao termo utilizado nos documentos dos militares que registraram as guerras de Amenhotep I, a saber, “estender as fronteiras”, que carrega algo além das delimitações geográficas para as relações do faraó com povos estrangeiros. Destarte, quando o faraó estendia suas fronteiras pode-se entender, de acordo com o contexto, fronteiras geográficas ou relações internacionais.
A invasão da Baixa Núbia relaciona-se com as rotas comerciais de minérios e produtos de luxo. Também está ligada pela importância sagrada da terra negra. “Era necessário limpar o vale do Nilo de qualquer ameaça séria à hegemonia egípcia.” (FRIZZO, 2010:37) Amenhotep I teria expandido mais suas fronteiras ao sul, na segunda Catarata, pela segurança desse território, onde teria construído fortes que incumbiam-se do comércio e das ações de repressão contra rebeldes kushitas. A região de Wawat era tributada conforme Frizzo (2010, apud BRYAN, 2000) cita uma estela do forte de Aniba.
 
''“Com a expansão do império para o sul e a tributação de Wawat, a economia egípcia continuou sua linha de desenvolvimento iniciada com as inovações nas forças produtivas relativas às trocas de experiências com os hicsos. A conquista da Baixa Núbia fornecera um fluxo constante de ouro e outros minérios. Nos 12 anos de paz do reinado de Amenhotep I, abriram-se minas de turquesa no Sinai; iniciou-se a extração de alabastro em Bosra e em Hatnub; e foram abertos os trabalhos nas minas de arenito Gebel el-Silsila.” (FRIZZO, 2010:37)''
 
Frizzo (2010) estabelece dois pontos para a importância do produto da mineração no Egito:
 
* Usada para construção de templos e monumentos em geral. O culto de Amon foi fortalecido, por exemplo, pelos investimentos dados ao templo de Karnak;
* Deslocamento militar para proteção dos trabalhadores e dos produtos.
 
Houve um aumento, segundo o autor, de construções na margem oriental do Nilo, visto que havia subsídio provindo de Wawat e da intensificação da mineração. Amenhotep I foi adorado postumamente, e muitos pontos sobre seu reinado:
 
* Fortalecimento do culto de Amon devido aos investimentos ao templo de Karnak;
* Expansão do território para o sul;
* Fortalecimento da família real contra reivindicações políticas ou econômicas, o que também centralizava os ganhos da guerra com famílias diretamente associadas à realeza e fortalecia as posições políticas;
* Desenvolvimento da administração com importantes famílias das cidades centrais do Egito (Elkab, Edfu e Tebas, por exemplo).
 
Assim, Frizzo (2010) demonstra os aspectos principais das bases para a construção da Idade do Bronze Tardio no Egito entre o reino de Kamés e Amenhotep I.
 
* Expansão do império egípcio – dominação no Oriente Próximo;
* Guerra com caráter defensivo e identitário – expulsão de povos do exterior do território considerado sagrado, o que consolida o poder político;
* Desenvolvimento de forças produtivas – novas técnicas e tecnologias na agricultura, metalurgia e manutenção do conflito, trazendo modificações na sociedade (o autor cita a fração da classe dominante que administrava as regiões dominadas);
* Técnicas para integrar e governar o império;
* Saques periódicos e dominação através de juramentos de fidelidades entre príncipes locais.
 
== Mitologia ==