Idade do Bronze: diferenças entre revisões

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Complementação a respeito da Idade do Bronze no Egito.
Linha 89:
* Técnicas para integrar e governar o império;
* Saques periódicos e dominação através de juramentos de fidelidades entre príncipes locais.
 
Cardoso (2000) realiza uma análise das relações que o antigo Egito mantinha com o Oriente Próximo, em especial durante a época tardia da Idade do Bronze até aproximadamente 1200 a.C., época de colapso segundo o autor. Ele baseou-se em documentos de Amarna escritos em acadiano (tabuinhas de argila inscritas em cuneiforme) que abarcam do fim do reinado de Amenhotep III até, provavelmente, início do reinado de Tutankhamon. Seus estudos contam a história do Oriente Próximo em geral, além de fazer referência ao Egito.
O ponto mais alto da Idade do Bronze Tardio apresentou países muito fortes que, no entanto, não tinham como enfrentar-se, salvo o Mitanni que perdeu importância perante os demais. Muitos tratados foram realizados em períodos de vários reis.
Cardoso (2000), baseando-se em uma relação de correspondência entre as nações descrita por Zaccagnini (1987), demonstra que cada reino descrevia-se como uma casa, sendo o governante o chefe de família que, por sua vez, tratava os demais como irmãos que trocam presentes (dons ou contra-dons) que podiam ser matérias-primas ou artigos luxuosos. Moran (1992, apud CARDOSO, 2000) traz a tradução de uma das cartas entre Amenhotep III e Kadashmanenlil I, rei da Babilônia, no qual o faraó diz que está tudo muito bem com sua família (o reino) e pergunta como está a família do irmão (reino babilônico). Outro rei babilônico, Burraburiash, em contato com o rei assírio, escreve em uma carta que as saudações (presentes de saudação) não deveriam ter conotação comercial, pois seu reino de nada necessitava, servindo apenas como garantia de boas relações.
O dom/contra-dom davam-se pela relação de utilidade dos materiais enviados de rei para rei. O autor exemplifica com a carta de Ashshuruballit I, rei da Assíria, quando solicita ouro a Amenhotep III para a construção de uma obra. Ele oferece a filha em matrimônio como troca, mas não a enviaria se o faraó enviasse o solicitado quando a obra já estivesse terminada, pois de nada serviria, devolvendo o ouro. Vê-se, também, que mulheres de famílias reais poderiam ser enviadas para casamento em troca de vários presentes, salvo o Egito que não enviava suas princesas, mas recebia-as de seus irmãos.
Outra característica é a depreciação dos presentes enviados entre os irmãos, que poderia ocorrer caso o reino não recebesse algo não correspondente ao prometido ou o tivesse em abundância. O rei assírio, ao solicitar ouro, percebe que o mesmo foi enviado em menor quantidade se comparado a presentes enviados a seus ancestrais e, por isso, reclama a Amenhotep III que ele não é suficiente para cobrir despesas de viagens dos seus mensageiros, visto que o ouro na sua “casa” é comparado a pó devido a sua abundância. Ressalte-se que o Egito era grande detentor de ouro e possuía extrações muito produtivas pelo Oriente Próximo e por suas rotas.
 
''“De certo modo, entravam na mesma lógica os pedidos de envio de mãos-de-obra (serviçais) e especialistas: médicos, mágicos, escultores, etc. Neste caso, tratava-se de um empréstimo: passada a necessidade alegada (sempre de acordo com a lógica do “valor de uso”, portanto), o membro do pessoal de outro palácio emprestado seria devolvido. Em forma análoga, estátuas divinas a que se atribuíam poderes curativos podiam circular entre as cortes.” (CARDOSO, 2000:21)''
 
Caso um súdito solicitasse uma reclamação a seu rei, o último deveria contatar seu irmão para passar a mensagem ao seu vassalo responsável pelo território onde ocorrera o incidente. Poderia o vassalo responsabilizar a aldeia mais próxima. Esse trâmite decidiria quem compensaria a reclamação inicial. Resumidamente, o vassalo reclamava a se governante que, por sua vez, passava a reclamação ao rei do reino reclamado que transmitiria a mensagem ao vassalo responsável.
Sobre o sistema de trocas no período estudado, Cardoso (2000) recorreu a Liverani (1987), que elenca suas características sinteticamente. Considerando principalmente o caso da Síria, o autor elenca que o palácio, de nível político alto, realizava as trocas, pois despachava outros interessados de outros níveis. A regra dizia que um rei não poderia entrar em contato com um vassalo de outro rei, salvo seu próprio vassalo. Como cada reino era diferente estruturalmente, as atividades mercantis ficavam prejudicadas devido a cada sistema hierárquico. As rotas marítimas e terrestres tinham que enfrentar, além disso, os problemas técnicos. Tais rotas encontravam-se fragmentadas entre frotas de vários reinados e estava sob o jugo dos limites tecnológicos.
“A ideia do comércio e a do lucro abriam caminho em certas áreas.” (CARDOSO, 2000:22) Cartas do rei de Chipre ao Egito demonstram que cobrava-se pagamento por material enviado (madeira) ou prometia-se pagar o dobro por presentes de saudação. Em outro exemplo do autor, o rei de Chipre solicitava que o faraó deixasse seus mercadores saírem em segurança de volta à sua terra. Cardoso (2000) considera que nesta última o pedido era a isenção de impostos para o comércio e salvo-conduto37.
O autor dispõe as principais produções dos reinos do Oriente Próximo:
 
''“Assim, a Síria-Palestina se especializava em azeite de oliva, madeira e tecidos tingidos de púrpura; o cobre tinha duas zonas referenciais de maior peso: a ilha de Chipre a oeste e, a leste, a região do Golfo Pérsico (Omã-Magan); o caso do estanho é menos claro, mas pareceria que o Irã em certos períodos era a zona de referência; o Egito controlava as rotas do ouro, bem com as do incenso e da mirra do país de Punt (nesta época proavelmente [sic] a Somália e talvez também o sul da Arábia) por sua navegação no mar Vermelho; por fim, o lápis-lazúli vinha do atual Afeganistão (Liverani,1987: 68). Um de tais circuitos comerciais, dentro do que já vimos acerca da fragmentação dos contactos a longa distância, é representado pelas rotas (fluviais e marítimas) controladas pelo Egito no tocante ao comércio de ouro e incenso.” (CARDOSO, 2000, apud LIVERANI, 1987)''
 
Houve vários confrontos na Síria quando o Egito perdia o controle sobre a situação. A presença de tropas egípcias estava associada, conforme analisa Cardoso (2000), à prevenção de criação de grupos hegemônicos que pudessem confrontar o dominador. Destarte, compreende-se que muitas das campanhas egípcias na região eram empreendidas justamente para interromper a ascensão de tais hegemonias. Amarru é um exemplo, com Labayu e seus filhos ou Aziru, considerados por outras cidades como rebeldes e traidores.
Cardoso (2000) acredita que a política era de mínima intervenção, um protetorado frouxo fiscal e militarmente, pois o país dominador não possuía estrutura para controlar efetivamente o território dominado. A Síria possuía densa população, sistemas palaciais próprios e um sistema de troca firmado nos portos e nas rotas terrestres com o Oriente Próximo. Para Valbelle (1990, apud CARDOSO, 2000), o regime da 18ª dinastia estava assentado num interesse muito maior em explorar novos recursos e exportar sua cultura através da integração de tropas e materiais militares dos inimigos em seu exército e de fortificações que pudessem administrar melhor as ocupações.
Os príncipes asiáticos poderiam continuar no poder, mas seus descendentes deveriam ser educados e treinados no Egito para conferir lealdade. Canaã, Upe e Amurru eram províncias que continham pequenas guarnições egípcias, sendo Gaza, Kumidi e Sumur os principais centros de gestão. Mensageiros e comissários residentes eram responsáveis pela correspondência no regime egípcio salvo em ocasiões de grandes campanhas. A suserania egípcia e o fluxo de tributos estavam nas mãos dos príncipes, mas estavam isentos do oferecimento de tropas ao Egito. Eles comportavam-se como vassalos, e a regra de que o faraó não contatava o vassalo do outro reino vigorava, visto que o príncipe ligado ao Egito responsabilizava-se com a correspondência. O poder dos príncipes estava nas mãos de seu dominador até no caso de desobediência de um campesinato.
Outro fenômeno que Cardoso (2000) destaca é a concentração da população sedentária e a urbanização da costa. Abandonaram-se zonas agrícolas ao pastoreio seminômade, levando ao empobrecimento e à marginalização. Nesse momento surgem os apiru, um grupo de pessoas que abandona o sedentarismo e começa a viver saqueando cidades e zonas agrícolas numa espécie de seminomadismo secundário. Eles também estavam dispostos a ser mercenários dos príncipes das cidades mais importantes. “Se os apiru representavam um elemento móvel e instável, a sociedade organizada centrava-se em cada caso uma cidade fortificada com seu sistema palacial.” (CARDOSO, 2000:27)
Os príncipes locais possuíam à favor combatentes, carros, artesãos e comerciantes. Contudo, os camponeses eram muito explorados e hostis à dominação do palácio. O regime, segundo o autor, enfrentou desafeto mesmo dos maryannu39 e dos comerciantes e enfraqueceu até seu desaparecimento com a invasão dos povos do mar.
Diferentemente dos faraós, os príncipes vassalos deveriam dirigir-se ao seu rei superior, demonstrando sua subordinação. Cardoso (2000) exemplifica com o trecho de uma carta de Rib-Hadda (Biblos) ao faraó, que cai aos pés de seu senhor como subordinação. O Egito mantém relações estratégicas com Ugarit e seu porto através de presentes, visto que era um importante centro comercial e de aspecto político-militar.
 
== Mitologia ==