Arquitetura de Porto Alegre: diferenças entre revisões
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A '''arquitetura de Porto Alegre''', capital do [[Rio Grande do Sul]], no [[Brasil]], como acontece com outras cidades modernas, mas dotadas de alguma história, é um mosaico de estilos antigos e modernos. Essa característica se mostra mais visível no [[Centro (Porto Alegre)|centro da cidade]], o núcleo urbano histórico, onde sobrevivem exemplares de [[arquitetura]] do
A evolução arquitetônica de [[Porto Alegre]] não se diferencia da maioria das outras grandes cidades brasileiras. Iniciou sob o [[arquitetura colonial brasileira|estilo colonial português]], atravessou as escolas [[neoclassicismo no Brasil|neoclássica]], [[arquitetura eclética|eclética]] e [[modernismo no Brasil|modernista]], verticalizou-se, expandiu-se fundindo-se a cidades vizinhas, tendo se tornado [[metrópole]]. Agora, se renova sob a influência do [[pós-modernismo]] e da [[globalização]], desenvolvendo um estilo híbrido e internacionalizante. Isso tem dado margem a críticas sobre a descaracterização de sua identidade, que se somam àquelas que deploram a extensa destruição de arquitetura antiga insubstituível na onda do "progresso" e da [[especulação imobiliária]], que ainda agora continuam a fazer estragos em um patrimônio histórico constantemente ameaçado e cada vez mais raro.
Hoje a cidade reorganiza sua paisagem urbana com grandes obras de infraestrutura, especialmente viária, e ergue exemplares significativos de [[arquitetura contemporânea]]. Mas ao mesmo tempo enfrenta com sucesso desigual os desafios de crescimento de uma das maiores capitais do Brasil, com quase 1,5 milhão de habitantes. Ainda existe grande população a viver em [[favela]]s e sem acesso a serviços básicos, e cresce a insatisfação com os rumos que a administração pública tem adotado nas áreas de [[urbanismo]], habitação popular, uso de áreas especiais, mobilidade urbana, preservação da natureza e outras.
== O estilo colonial português ==
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Porto Alegre nasceu em virtude da ocupação do Rio Grande do Sul por [[estância|estancieiros]] e [[sesmaria|sesmeiros]] portugueses no
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Em 7 de dezembro de 1744, [[Jerônimo de Ornellas]] recebeu, por Carta Régia, a posse de terras que ocupava desde 1732 para criação de gado, em torno do ancoradouro no Guaíba conhecido na época como Porto de Viamão. [[Viamão]], de fato, se localizava a alguns quilômetros ao leste. Consolidando uma série de iniciativas antes esparsas de ocupação do estado, a partir de 1752 começaram a chegar famílias de imigrantes [[açores|açorianos]] enviados pelo governo português, dando origem ao [[centro histórico de Porto Alegre|centro histórico]] da futura Porto Alegre, e também a alguns conflitos com o primeiro sesmeiro, Ornellas. A área foi então desapropriada e disponibilizada legalmente para os colonos já assentados, mas a partilha e entrega efetiva dos lotes individuais só aconteceria em 1772. Em 1760 toda uma grande região em torno, que ia desde a [[Depressão Central]], o nordeste e todo o litoral, já ocupada ''de facto'' pelos portugueses, foi organizada na [[Capitania do Rio Grande de São Pedro]]. [[Povos indígenas do Brasil|Povos nativos]] que viviam na área foram paulatinamente afastados ou exterminados.<ref name="MACEDO"/><ref name="Eimar">Costa, Eimar Bones da (ed). ''História Ilustrada do Rio Grande do Sul''. Porto Alegre: Já Editores, 1998</ref>
Em 1772 o povoado foi elevado à condição de [[freguesia]], posta sob a proteção de [[Francisco de Assis|São Francisco das Chagas]] e denominada oficialmente Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, em alusão aos casais açorianos seus fundadores, desvinculando-o da vila de [[Viamão]], então sede da Capitania.<ref name="MACEDO"/><ref name="Clarissa"/> Já se começava a pensar em organizar a futura malha urbana. O governador [[José Marcelino de Figueiredo]] ordenou, então, ao capitão de engenharia e cartógrafo [[Alexandre José Montanha]], que traçasse uma planta.<ref name="MACEDO"/> Ele organizou o traçado em torno do Alto da Praia, colina junto à beira do lago de onde se tem uma visão desimpedida de todo o entorno, embrião da [[Praça da Matriz]], núcleo vital do povoado que concentraria suas principais edificações públicas e, em seguida, atrairia a elite para morar.<ref name="BOHMGAHREN"/><ref>Fiore, Renato Holmer. "Caráter histórico da Praça da Matriz em Porto Alegre: significados do lugar, permanência e mudança". In: ''IX Seminário de História da Cidade e do Urbanismo''. São Paulo, 04-06/09/2006.
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Nesses primeiros anos, o que se construiu foi naturalmente muito modesto e as edificações se resumiam a pequenas habitações de barro cobertas de palha espalhadas irregularmente à beira do Guaíba. O primeiro logradouro público a surgir foi um cemitério, junto ao lago, mas logo transferido para o Alto da Praia. A freguesia se tornou capital em 1773 apesar de nem ser ainda uma [[vila]] oficialmente (isso só ocorreria em 1809, com instalação efetivada em 1810). A razão da transferência do polo político para lá, povoado ainda tão inexpressivo, se deve, ao que consta, à sua feliz situação geográfica.<ref name="MACEDO" /><ref name="Clarissa" /> Com isso surgiram novas necessidades de infraestrutura. Entre elas, providenciou-se à construção do chamado "[[Palácio de Barro]]", primeiro edifício importante da pequena urbe, erguido em 1773 a mando do governador com projeto de Montanha, destinado a receber a administração geral da Capitania. O prédio ficou pronto em 1789 e foi usado até 1896, quando foi demolido. Tratava-se de um palacete de dois pisos principais e uma água-furtada, com organização simétrica - uma porta central com quatro janelas de cada lado. Acima, uma fileira de janelas, e um telhado de quatro águas como cobertura. As aberturas tinham [[arco abatido]], típico do Barroco colonial, sendo que as superiores recebiam uma [[cornija]] ornamental, também em curva.<ref name="Clarissa" /><ref>''Palácio Piratini''. Folder publicado pelo Governo do Estado do RS. Sem data</ref>
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Ao crescer e enricar, melhorava também a qualidade da [[construção civil]], deixando-se o provisório para adotar-se o [[Arquitetura colonial do Brasil|estilo típico colonial]] comum a todo o Brasil, herança portuguesa, mais permanente, volumoso, complexo e ornamental, e que se descreve esteticamente como uma derivação do [[Barroco]].<ref name="
Entretanto, o projeto mais ambicioso desse início de povoamento foi a [[Antiga Matriz de Porto Alegre|Igreja Matriz]], cuja construção foi ordenada na provisão eclesiástica que criou a freguesia. As obras começaram em 1780, a partir de um desenho enviado pronto pela [[Arquidiocese do Rio de Janeiro]], e cuja autoria é desconhecida. Seu traçado era de um Barroco tardio, ou [[Rococó]], muito simples, quase sem qualquer ornamento externo. Seu elemento mais característico era o delicado ondulado de seu [[frontão]], de resto seguia o plano funcional da igreja Católica durante a colônia: uma [[fachada]] de dois pisos em esquema tripartido, com aberturas decoradas, com um [[frontão]] ornamental e duas torres laterais para os sinos. Por dentro, como foi a praxe colonial, era mais luxuosa, com um vestíbulo sob o [[coro]], uma [[nave]], uma [[capela-mor]] decorados com talha em madeira, com um [[retábulo]] cenográfico ao fundo, altares secundários em [[nicho]]s laterais e [[estatuária]]. A primeira Matriz de Porto Alegre não foi excepcionalmente rica, mas tinha uma decoração interna bastante significativa em um estilo Rococó flamejante e vigoroso, similar ao que ainda hoje podemos ver na [[Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Viamão)|Matriz de Viamão]].<ref name="BOHMGAHREN"/> Sua construção se arrastou por muitos anos, e mesmo sem estar totalmente pronta, já precisava de restauros, como se percebe numa ordem do [[Conde de Caxias]] em 1846 mandando terminar a torre esquerda, rebocar o externo e consertar o telhado que já se estava arruinando.<ref name="FRANCO">Franco, Sérgio da Costa. ''Guia Histórico de Porto Alegre''. Porto Alegre: EDIUFRGS, 2006. 4ª ed.</ref> Da mesma época e erguida no mesmo sítio é a [[Casa da Junta]], datada de 1790, em estilo muito próximo do Palácio de Barro, mas de menores dimensões. É o mais antigo edifício da cidade ainda existente, e serviu como sede da
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A herança do estilo colonial se manteve forte na cidade até fins do
A elite, por sua vez, construía casas bem mais amplas e decoradas interiormente com crescente luxo, às vezes dispondo de extensos jardins e edificações secundárias, como o [[Solar dos Câmara]], a mais antiga construção residencial da cidade ainda de pé, hoje transformado em centro cultural. Foi construído pelo [[Visconde de São Leopoldo]] entre 1818 e 1824, sendo bastante reformado em 1874.<ref>[http://www.al.rs.gov.br/SolarDosCamara/index.asp Solar dos Câmara na página da
No campo religioso, é importante a [[Igreja Nossa Senhora das Dores|Igreja das Dores]], de 1807, a mais antiga de Porto Alegre ainda sobrevivente e declarada Patrimônio Nacional pelo [[IPHAN]]. Embora sua projetada fachada colonial tenha sido modificada no início do
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Ficheiro:Solar_da_Travessa_Paraíso.jpg|[[
File: Casa-da-junta-2.jpg|[[Casa da Junta]], cujo primeiro pavimento data de 1790, sendo por isto considerado o mais antigo prédio remanescente do período colonial
Ficheiro:Athayde d'Avila - Rua da Praia.jpg|Athayde d'Avila: ''Rua da Praia'', c. 1880. Imagem do centro da cidade no fim do
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:: ''"Vasto, com seu muralhão de fortaleza arrematado no alto pela cintura rendada dos balaústres, impressionaria só pelas proporções se, ao cabo da escadaria extensa, não se erguesse, imponente, o frontão clássico triangular sobre a ordem severa das colunas lisas. (…) No centro - a área quadrada dos claustros, com as arcadas simples sobre pilares maciços, os corredores longos batidos pelo sol, e o bom silêncio conventual que leva a gente às meditações"''.<ref name="FRANCO"/>
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Segue-lhe em imponência, mas sobrepujando-o largamente em fama, o [[Theatro São Pedro (Porto Alegre)|Theatro São Pedro]], cujo projeto foi elaborado no [[Rio de Janeiro]] e executado por [[Phillip von Normann]]. Inaugurado em
Logo o Ecletismo predominaria. Um imponente exemplo é o [[Mercado Público de Porto Alegre|Mercado Público]], planejado pelo engenheiro [[Frederico Heydtmann]] em 1861. A construção teve sua pedra fundamental lançada em 1864, sendo inaugurado em 1869, e substituiu o mercado anterior, mais acanhado. O conjunto sofreu modificação substancial nos anos 1910 com a adição de um segundo piso, preservando porém o estilo.<ref name="FRANCO"/> De caracterização estilística semelhante são o [[Museu do Comando Militar do Sul]], um edifício de grandes dimensões, inaugurado em 1867, construído pelo mestre-de-obras Manoel Alves de Oliveira como um anexo do Arsenal de Guerra;<ref>[http://www.cms.eb.mil.br/ Museu do Comando Militar do Sul]</ref> o prédio da [[8ª Circunscrição de Serviço Militar]], erguido sobre uma construção anterior que abrigava os Armazéns Reais, e o [[Palácio do Ministério Público|Palácio Provisório]], cujo desenho, do engenheiro Francisco Nunes de Miranda, foi posteriormente modificado pelo engenheiro Antônio Mascarenhas Telles de Freitas. As obras do Palácio Provisório iniciaram em 1857 e o projeto incluía soluções estruturais avançadas para a época, como a laje de cobertura com sistema de perfis em aço duplo "T " combinado com tijolos por compressão, formando pequenos arcos. Outro grande edifício eclético foi a Casa de Correção, mais tarde demolida, de distribuição neoclássica e detalhamento que remetia à arquitetura militar.<ref>Ministério Público do Rio Grande do Sul. [http://www.mp.rs.gov.br/memorial Memorial].</ref> Mas o exemplo mais monumental do Ecletismo portoalegrense é o conjunto histórico do [[Hospital Psiquiátrico São Pedro]], que segundo os técnicos do [[IPHAE]] é
:: ''"a maior área edificada de interesse social que o
Outro elemento estético que veio acrescentar diversidade ao Ecletismo portoalegrense foi o [[Neogótico]], que ficou restrito à esfera religiosa. Presente na cidade desde meados do
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=== A "fase áurea" da arquitetura em Porto Alegre ===
De um Ecletismo mais ornamentado é o [[Paço Municipal de Porto Alegre|Paço Municipal]], projetado por [[Giovanni Colfosco]], um italiano, e iniciado em 1898. Seria um dos primeiros exemplos arquitetônicos a exibir a influência do [[Positivismo]], percebida na complexa rede de [[alegoria]]s representadas na estatuária decorativa da fachada. Também seria um dos primeiros edifícios públicos monumentais do que se chamou de "fase áurea" da arquitetura portoalegrense.<ref name="DOBERSTEIN">Doberstein, Arnoldo Walter. ''Estatuária e Ideologia: Porto Alegre 1900-1920''. Porto Alegre: SMC, 1992</ref> Segundo Beatriz Thiesen,
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:: ''"A reformulação da estrutura urbana, que foi um fenômeno comum ao mundo ocidental do
Esse desejo de renovação trouxe diversas novidades para a arquitetura da cidade. Uma rica [[burguesia]] formada principalmente por descendentes de imigrantes alemães, junto com as esferas oficiais, deram o impulso mais decisivo, encomendando obras suntuosas, num momento em que o estado experimentava uma fase de prosperidade, tendo se tornado a terceira economia do Brasil.<ref name="KIEFER">Kiefer, Luísa. [http://www.aplauso.com.br/site/portal/detalhe_descricao.asp?campo=1166&secao_id=65 ''O arquiteto de Porto Alegre'']. Porto Alegre: Revista Aplauso, nº 99, 2009.</ref> As influências mais importantes que definiram o perfil dos principais edifícios erguidos nessa fase foram a arquitetura [[arte pompier|pompier]] francesa, com seu decorativismo exuberante e caráter ostentatório, e a filosofia positivista adotada pelo governo, criando uma [[iconografia]] idealista que espelhava visões de progresso, civilização, higiene e ordem. As técnicas de construção acompanhavam o desenvolvimento da tecnologia e da indústria: faz-se uso estrutural mais extensivo do [[concreto armado]], do [[aço]] e do [[cimento]], os edifícios alçam-se a maiores alturas, a estatuária de fachada se multiplica e encontra soluções barateadoras para sua confecção, como os moldes de cimento. Também mudam os materiais de decoração, se tornando comuns os vitrais, os adornos em serralheria, as pinturas parietais com paisagens e ornatos nos interiores, e os mármores para colunas, pisos e outros elementos.<ref name="DOBERSTEIN"/> Também importante foi a formulação em 1914 pela Intendência Municipal do ''Plano Geral de Melhoramentos'', concebido possivelmente por João Moreira Maciel, e considerado por Helton Bello o maior legado da administração positivista em termos urbanísticos, por ser um instrumento fundamental para as transformações modernizadoras que iriam se consolidar logo adiante, suplantando a estrutura e a imagem urbana de herança colonial.<ref name="MACEDO"/><ref name="BELLO">Bello, Helton Estivalet. [http://www.arquiteturarevista.unisinos.br/index.php?e=4&s=9&a=18 ''Modelos, planos e realizações urbanísticas em Porto Alegre'']. ArquiteturaRevista. UNISINOS, nº 2, vol. 2, jul-dez 2006</ref>
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Os nomes mais significativos nesta fase de explosão edificatória foram [[Theodor Wiederspahn]], arquiteto nascido na Alemanha, dono de um estilo eclético pujante e original, combinado traços renascentistas, neobarrocos, neoclássicos e uma concepção decorativa luxuosa; [[Rudolf Ahrons]], engenheiro-construtor, líder de um escritório de construção que realizou as obras mais importantes, e [[João Vicente Friedrichs]], proprietário do mais solicitado e populoso atelier local de decoração, empregando uma multidão de artífices locais e estrangeiros com sólido preparo, como [[Alfred Adloff]], [[Wenzel Folberger]], [[Alfredo Staege]] e muitos mais.<ref>Damasceno, Athos. ''Artes Plásticas no Rio Grande do Sul''. Porto Alegre: Editora Globo, 1971.</ref> A parceria estabelecida entre eles durou até 1914, quando o escritório de Ahrons fechou, e deixou uma grande série de edifícios de grande beleza e imponência, alguns realizando feitos arquitetônicos notáveis, como o [[Prédio da Cervejaria Brahma (Porto Alegre)|edifício da antiga Cervejaria Bopp]], que em sua inauguração era o maior prédio de cimento armado do Brasil.<ref>Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. [http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/historico_cervajaria_brahma1.pdf ''Cervejaria Brahma'']. Memorial descritivo</ref> Outros exemplos são os [[Memorial do Rio Grande do Sul|Correios e Telegraphos]], a [[Prédios históricos da UFRGS|Faculdade de Medicina da UFRGS]] e o edifício da [[MARGS|Delegacia Fiscal]], cuja autoria de Wiederspahn é controversa mas parece provável. [[Günter Weimer]] lhe atribui também o traçado básico da nova [[Catedral Metropolitana de Porto Alegre|Catedral Metropolitana]], que substituiu a antiga Matriz, embora o crédito pelo projeto usualmente se dê a Giovanni Giovenalle.<ref>Weimer, Günter. ''Construtores Italianos no Rio Grande do Sul''. In Dal Bó, Juventino; Iotti, Luiza Horn & Machado, Maria Beatiz Pinheiro (orgs). ''Imigração Italiana e Estudos Ítalo-BRasileiros: Anais do Simpósio Internacional sobre IMigração Italiana e IX Fórum de Estudos Ítalo-Brasileiros''. Caxias do Sul: EDUCS, 1999. p.347.</ref> Wiederspahn continuaria projetando depois da retirada de Ahrons do mercado, ainda contando muitas vezes com Friedrichs para a decoração. Sua obra contabiliza mais de 500 projetos, realizados não só em Porto Alegre. Muitos deles já não existem, mas se preservam vários, tombados por instâncias oficiais, como o [[Edifício Ely]], o [[Casa de Cultura Mário Quintana|Hotel Majestic]], a [[Prédio da antiga Previdência do Sul|Previdência do Sul]], além de mais de uma dezena de palacetes para a elite.<ref name="DOBERSTEIN"/><ref name="KIEFER"/> Para Maturino Luz, seu papel na história da arquitetura portoalegrense se compara, guardadas as proporções, ao de [[Gaudí]] em [[Barcelona]], além de ele ter sido um dos fundadores de uma Escola de Artes e Ofícios e do primeiro [[sindicato]] de arquitetos.<ref name="KIEFER"/>
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Não podem passar sem lembrança [[Manoel Barbosa Assumpção Itaqui|Manoel Itaqui]], um dos introdutores da ''[[Art Nouveau]]'', projetando vários prédios no campus central da [[UFRGS]] como o [[Prédios históricos da UFRGS|Castelinho]] e o Observatório Astronômico, além da antiga sede (desaparecida) do [[Colégio Júlio de Castilhos]] e o [[Viaduto Otávio Rocha]] (este em parceria com [[Duilio Bernardi]]); [[Hermann Otto Menschen|Hermann Menschen]], autor da Faculdade de Direito da UFRGS e de várias residências elegantes;<ref name="DOBERSTEIN2">Doberstein, Arnoldo Walter. ''Estatuários, catolicismo e gauchismo''. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002</ref> [[Affonso Hebert]], cuja obra mais notória é a [[Biblioteca Pública do Estado (Porto Alegre)|Biblioteca Pública do Estado]],<ref name="KIEFER3">Kiefer, Marcelo. [http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6051/000524184.pdf?sequence=1 ''Cidade : memória e contemporaneidade: ênfase: Porto Alegre - 1990 / 2004.''] Porto Alegre: UFRGS, 2006</ref> e por fim o francês Maurice Gras, autor de apenas um projeto na cidade, mas de grande relevância, o [[Palácio Piratini]], sede atual do Governo do Estado e residência oficial do governador.<ref name="FRANCO"/> Alguns exemplares em especial também poderiam ser citados por serem raros ou destacados em seu tipo, como a [[Farmácia Carvalho]] e a [[Casa Godoy]], entre os poucos exemplares do ''Art Nouveau'' em seu estado puro; a [[Confeitaria Rocco]], com seus [[atlante]]s monumentais; o [[Prédios históricos do Comando Militar do Sul|antigo Quartel General do Exército]], de influência mourisca e medieval; os palacetes [[Solar Palmeiro|Palmeiro]] e [[Palacete Argentina|Argentina]], residências típicas da elite de grande suntuosidade; o [[Santander Cultural|Banco da Província]], verdadeiramente palaciano, com ricos vitrais e decoração. O conjunto remanescente na [[Travessa dos Venezianos]], por outro lado, é bom exemplo do Ecletismo simplificado, adaptado às classes de baixa renda.<ref name="MACEDO"/><ref name="FRANCO"/>
Como representantes da arquitetura industrial estão a [[Usina do Gasômetro]], a já citada Cervejaria Bopp, o [[Moinho Rio-Grandense]] e diversos outros prédios do antigo Distrito Industrial.<ref name="MACEDO"/><ref name="FRANCO"/><ref>Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre [http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/historico_usina_gasometro_1.pdf ''Usina do Gasômetro'']. Memorial descritivo</ref> Merece nota o complexo do [[Cais Mauá]], projetado por Ahrons, uma vasta obra pública que custou várias décadas de trabalho, e representa um dos maiores esforços do governo e da sociedade gaúcha, no início do
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A geração seguinte foi mais adepta da ''[[Art Déco]]'', variavelmente considerada a última derivação eclética ou a primeira etapa do [[Modernismo]], onde se destacaram [[Fernando Corona]], [[Armando Boni]] e [[Joseph Franz Seraph Lutzenberger|Joseph Lutzenberger]]. A estética ''Déco'' abandona o decorativismo pesado do Ecletismo tardio em busca de soluções com ornamentação reduzida e mais integrada à funcionalidade e estrutura dos espaços, o que, junto com avanços na técnica construtiva, possibilitou o início do processo de verticalização da cidade. Suas obras refletem essa síntese nova, uma nova visão de progresso e de beleza ligados à simplicidade, racionalidade, praticidade e autenticidade estrutural, idéias que seriam levadas a uma radicalização com os modernistas. A presença ''Déco'' foi detectada entre os anos 1920-30, antecedendo o Modernismo na cidade em cerca de 10 anos.<ref name="BAPTISTA">Baptista, Maria Teresa Paes Barreto. [http://caioba.pucrs.br/fo/ojs/index.php/graduacao/article/viewFile/4180/3175 ''José Lutzenberger no Rio Grande do Sul: Arquitetura, Ensino e Pintura (1920-1951)'']. Porto Alegre: PUC, 2007</ref> Corona iniciou como escultor, aluno de Friedrichs, mas logo aventurou-se na arquitetura, com bons resultados. Foi dele a adaptação do exterior de um projeto de Wiederspahn para o [[Banco da Província]], atualmente o Santander Cultural, e mais o projeto da [[Galeria Chaves (Porto Alegre)|Galeria Chaves]] e do [[Instituto de Educação General Flores da Cunha|Instituto de Educação Flores da Cunha]].<ref>Corona, Fernando. "100 Anos de Formas Plásticas e seus Autores". In ''Enciclopédia Rio-Grandense''. Porto Alegre, 1965</ref> Boni criou o edifício da [[Livraria do Globo]], a [[Concha Acústica do antigo Auditório Araújo Vianna]] e o [[Cemitério São Miguel e Almas]], o primeiro [[cemitério]] vertical da [[América Latina]], além de várias outras obras públicas e privadas, como a [[Casa Boni|sua própria residência]]. E Lutzenberger veio da Alemanha para trabalhar na construtora Weis & Cia, projetando prédios importantes, tais como a [[Igreja São José (Porto Alegre)|Igreja São José]], o [[Palácio do Comércio]] e o [[Instituto Pão dos Pobres]].<ref name="BAPTISTA"/> As obras dos três criadores foram saudadas pelos seus contemporâneos como marcos da arquitetura mais moderna e arrojada, e permanecem entre os mais significativos exemplares da arte edificatória na cidade no período entre-guerras, sendo várias delas tombadas pelo poder público.<ref name="BAPTISTA"/><ref>{{Citar web |url=http://www.federasul.com.br/institucional/institucional.asp |título=Palácio do Comércio na Página da FEDERASUL |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>▼
▲A geração seguinte foi mais adepta da ''[[Art Déco]]'', variavelmente considerada a última derivação eclética ou a primeira etapa do [[Modernismo]], onde se destacaram [[Fernando Corona]], [[Armando Boni]] e [[Joseph Franz Seraph Lutzenberger|Joseph Lutzenberger]]. A estética ''Déco'' abandona o decorativismo pesado do Ecletismo tardio em busca de soluções com ornamentação reduzida e mais integrada à funcionalidade e estrutura dos espaços, o que, junto com avanços na técnica construtiva, possibilitou o início do processo de verticalização da cidade. Suas obras refletem essa síntese nova, uma nova visão de progresso e de beleza ligados à simplicidade, racionalidade, praticidade e autenticidade estrutural,
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== Modernismo ==
De acordo com Davit Eskinazi, foi só a partir de meados da década de 1930, mais precisamente por ocasião da [[Exposição do Centenário da Farroupilha]] em 1935, que começaram a surgir no cenário urbano de Porto Alegre os primeiros exemplares de uma arquitetura claramente [[modernismo|moderna]]:
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:: ''"Conciliando a arquitetura efêmera de seus pavilhões com alguns elementos permanentes do futuro Parque Farroupilha construídos na mesma oportunidade, a Exposição do Centenário apresentou-se como o principal símbolo da modernidade possível e desejável para o Estado, em um período de profundas transformações para a sociedade brasileira. Amplamente apoiada em recursos tecnológicos, como a deslumbrante iluminação noturna dos espaços e pavilhões do evento, e conduzida por uma bem informada retórica déco, a Exposição articulou um notável conjunto arquitetônico e urbanístico que sintetizou uma visão de modernidade comprometida com a tradição neoclássica, provocando um impacto visual sem precedentes sobre seus contemporâneos.... Embora efêmera, a arquitetura produzida para a comemoração do Centenário Farroupilha constitui um testemunho consistente das origens de um possível "caminho riograndense para a arquitetura moderna", percorrido através de um conhecimento inspirado e bem informado, tanto das manifestações proto-racionalistas do "novecentos", como, por exemplo, o movimento da "[[Secessão]]" austríaca, quanto das correntes não ortodoxas da arquitetura moderna, como os movimentos [[expressionista]] e [[futurista]] das primeiras décadas do
Nos anos 1930 o antigo ''Plano Geral de Melhoramentos'' já estava obsoleto, e a cidade exigia uma nova organização. Edvaldo Paiva e Ubatuba de Faria, funcionários do município, e [[Arnaldo Gladosch]], contratado no Rio, esboçaram alguns ensaios de reorganização da malha urbana central de acordo com os princípios modernos, mas nenhum se implantou em plenitude. Paralelamente foi ideado outro modelo para a expansão periférica e horizontal da cidade. Vários bairros ou loteamentos residenciais surgidos principalmente nos anos 1930 e 1940 propuseram uma interpretação local do protótipo da "cidade-jardim", com um traçado orgânico, construções isoladas em baixa escala e densa vegetação, cujos melhores exemplos são a [[Vila Jardim]], a [[Vila Assunção]] e a [[Vila Conceição (Porto Alegre)|Vila Conceição]].<ref name="BELLO"/>
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Uma década depois tudo que um dia fora tradição em arquitetura parecia ter desaparecido, e a vanguarda já trabalhava apenas com formas geométricas essenciais, despojadas de todo artifício decorativo. De 1946 é um dos primeiros prédios erguidos em Porto Alegre na estética tipicamente [[Arquitetura moderna|modernista]], o Colégio Venezuela, de [[Demétrio Ribeiro]], retendo apenas traços residuais da arquitetura tradicional.<ref name="ALMEIDA">Almeida, Guilherme Essvein de. ''Arquitetura Moderna em Porto Alegre: do arcaísmo ao barroco''. Jornada de Pesquisa e Extensão, 2008. ULBRA/Santa Maria</ref> Na mesma época começou a atuar na cidade [[Edgar Albuquerque Graeff|Edgar Graeff]], formado na [[Faculdade Nacional de Arquitetura]] da [[Universidade do Brasil]], tendo tido um contato de primeira mão com os pioneiros do Modernismo no Brasil. Seu trabalho induziu uma adoção mais ou menos geral de elementos derivados da obra de [[Lúcio Costa]], [[Oscar Niemeyer]] e outros expoentes da escola carioca, que era por sua vez uma derivação da escola de [[Le Corbusier]].<ref name="GOLDMAN">Goldman, Carlos Henrique. ''A casa moderna em Porto Alegre''. UFRGS, 2004</ref> Segundo Carlos Goldman,
:: ''"Na década de 1940 Edgar Graeff contribuiu para a evolução desta arquitetura.... O impacto de residências como a projetada para Edvaldo P. Paiva foi um marco divisor no campo das
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Outro nome de relevo, chegado à mesma altura e com a mesma formação foi [[Carlos Alberto de Holanda Mendonça]], deixando grande número de trabalhos em menos de uma década de atividade, alguns de grande porte.<ref>Luccas, Luís Henrique Haas. [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp370.asp ''A escola carioca e a arquitetura moderna em Porto Alegre'']. Portal Vitruvius, Texto Especial 370 – junho 2006</ref> Em 1948 criou-se o departamento estadual do [[Instituto de Arquitetos do Brasil]], abrindo um novo fórum de debates especializados,<ref>IAB-RS. [http://www.iab-rs.org.br/noticia.php?id=203 ''Os 60 Anos do IAB-RS''].
Chegando aos anos 1950 o Modernismo já estava coroado pela oficialidade. Construções emblemáticas como o [[Palácio Farroupilha]], assinado por Gregório Zolko e Wolfgang Schoedon, para sede da
A rápida expansão populacional começava a obrigar os urbanistas a encontrarem soluções habitacionais em grande escala. Dentre as iniciativas para solucionar o problema se destaca a construção do [[Vila do IAPI|Conjunto Residencial do Passo D'Areia]], um dos empreendimentos mais bem sucedidos de todos quantos foram executados à época, e que veio a ser declarado recentemente Patrimônio Cultural do município.<ref name="BELLO"/><ref>Degani, José Lourenço. ''Tradição e modernidade no ciclo dos IAPs, o conjunto residencial do Passo D'Areia e os projetos modernistas no contexto da habitação popular dos anos 1940 no Brasil''. UFRGS, 2004</ref> No fim da década foi implantado enfim o primeiro ''Plano Diretor'' de Porto Alegre, composto por Edvaldo Paiva e Demétrio Ribeiro com base na ''[[Carta de Atenas]]'', e que se amparou por uma legislação específica (Lei 2046/59). Para Helton Bello com este Plano se acentuou a verticalização da cidade, fazendo Porto Alegre
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:: ''"conhecer o maior crescimento edilício de sua história, o que alterou significativamente a morfologia urbana.... Os princípios básicos do Modernismo passaram a compor um instrumento legal através de parâmetros para a estruturação da cidade. Tais padrões consistiam na racionalização das atividades, das vias e na instituição de índices urbanísticos (densidade, potencial construtivo do lote, recuos e altura predial), que foram sendo aplicados segundo o crescimento das áreas urbanizadas"''.<ref name="BELLO"/>
Como efeito do [[desenvolvimentismo]] de [[Juscelino Kubitschek]] e com o acréscimo de um sentimento ufanista gerado pelo ''[[Milagre Brasileiro]]'' depois do [[golpe militar de 64]], o Modernismo da escola carioca perdeu gradualmente espaço para uma variante [[Brutalismo|brutalista]] originária em [[São Paulo]], que em torno de 1970 já era a tendência dominante em todo o país. Ela oferecia um apelo plástico vigoroso e monumental num modelo conveniente para o volume e a dimensão das oportunidades oferecidas pelo ''Milagre Brasileiro'', quando o [[PIB]] do país crescia numa média vertiginosa de 11,2% ao ano e a ditadura militar recrudescia.<ref name="LUCCAS">Luccas, Luís Henrique Haas. [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq101/arq101_00.asp ''Arquitetura contemporânea no Brasil: da crise dos anos setenta ao presente promissor'']. Arquitextos, Portal Vituvius</ref>
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A verticalização se acelerou e foram construídos na periferia extensos conjuntos habitacionais financiados pelo [[Banco Nacional da Habitação]]. No centro a administração pública realizou intervenções dramáticas, como a construção da Elevada da Conceição, mas a abordagem tecnicista dos projetos desconsiderava aspectos elementares de paisagismo urbano e favorecia a descaracterização do centro histórico, desaparecendo inúmeros edifícios ecléticos, alguns de grande valor, e os derradeiros remanescentes da arquitetura colonial, tanto residencial como pública. Em face do desrespeito oficial para com o passado, alguns intelectuais começaram a protestar contra tantas demolições, lançando as sementes para a formação de uma consciência preservacionista que lentamente iria ganhar corpo entre os portoalegrenses. E como uma ironia a evidenciar as contradições do programa ufanista do governo, nesse período começaram a aparecer [[favela]]s no entorno, e a cidade foi isolada do lago Guaíba e do porto que lhe deu o nome com a construção de um extenso muro para prevenção de enchentes.<ref name="BELLO"/>
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== Contemporaneidade ==
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O ''Plano'' de 1979 não foi inteiramente bem-sucedido em sua aplicação. Estabelecendo novos índices construtivos, as mudanças deram origem a uma série de atritos entre moradores das zonas residenciais e deles com o poder público e com agentes imobiliários, pela autorização de espigões em áreas de predominância térrea, rompendo o tecido residencial de alguns bairros tradicionais por edifícios de até 20 pavimentos. A polêmica levou a uma nova reformulação da legislação nos anos 1980. Foi então que se entendeu definitivamente que seria necessária uma aliança mutuamente compreensiva não só entre arquitetura e [[urbanismo]] para um crescimento geral harmonioso, sendo preciso atrair outras áreas do saber para a discussão e imaginar soluções mais dinâmicas, realistas e adaptáveis ao perfil cada vez mais fluente da sociedade, desenvolvendo-se planos estratégicos fundamentados nos eixos de estruturação e mobilidade urbana, nas formas de uso do solo privado, na qualificação ambiental, na promoção econômica e em uma série de critérios mais atualizados de planejamento, e levando em conta aspectos de memória coletiva, identidade cultural e convívio humano. O êxito das propostas nesse sentido, que se sucederam à medida que os anos passavam, incluindo novas revisões do ''Plano Diretor'', tem-se revelado muito controverso, com avanços e recuos. Ainda existem zonas de ocupação polêmica, a especulação imobiliária continua a pressionar o poder público e influenciar decisões, e permanecem sérios problemas de habitação popular a serem resolvidos.<ref name="KIEFER3"/><ref name="KIEFER2">Kiefer, Flávio. [http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq037/arq037_00.asp ''Plano Diretor e Identidade Cultural em Porto Alegre'']. Arquitextos, Portal Vitruvius</ref
Paralelamente, com a criação em 1981 da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural, pouco depois vinculada à Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, iniciou-se um processo de estudo e resgate dos bens culturais de propriedade do Município de especial interesse histórico, social e arquitetônico, sistematizando os tombamentos municipais, que haviam iniciado poucos anos antes, em 1979. Essa atuação foi fortalecida pela instalação do escritório regional do [[IPHAN]], cuidando dos interesses nacionais na área de patrimônio histórico em todo o estado, e da Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, antecessora do [[IPHAE]], ambas em 1979, instituições que vêm realizando na cidade vários tombamentos e ações de preservação em nível federal e estadual.<ref>Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. [http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?reg=8&p_secao=87 ''Tombamentos'']</ref><ref>Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. [http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=87 ''Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural'']</ref><ref>[http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12746&sigla=Institucional&retorno=detalheInstitucional 12ª Superintendência Regional - Rio Grande do Sul]. Página do IPHAN</ref><ref>[http://www.iphae.rs.gov.br/Main.php?do=HistoricoAc&item=25 Histórico do IPHAE]</ref> Também se reconheceu a existência do "[[Centro Histórico de Porto Alegre|centro histórico]]", propondo-se medidas de conservação e desenvolvimento sustentável, o mesmo ocorrendo com outras áreas já estabilizadas como os bairros da "cidade-jardim" e zonas de especial interesse cultural.<ref name="BELLO"/> Nasceu então uma nova consciência para com os prédios antigos e as áreas verdes, e com isso se salvaram muitas edificações seculares que estavam na lista de demolições.<ref name="KIEFER2"/> O caso da [[Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim (Porto Alegre)|Capela do Bonfim]] é exemplar nesse sentido. Depois de muitos anos de abandono e degradação, incendiou no que se suspeitou ser um fogo criminoso. Nele perderam-se elementos importantes como o altar-mor entalhado, e sob o pretexto de estar muito arruinada quase foi demolida, mas a sociedade reagiu, e toda a polêmica subsequente contribuiu para um marcar na consciência de todos, cidadãos e poder público, o valor da memória, da arte, da história e de seus testemunhos materiais. A Capela acabou sendo tombada e restaurada em 1983.<ref>''Cadernos de Restauro II: Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim''. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1989</ref>
Entretanto, a atuação das instâncias oficiais de preservação do patrimônio histórico ainda é frequentemente tolhida por interesses particulares contrários, pela morosidade dos processos de tombamento e por uma crônica insuficiência de verbas. Assim, ainda que os trabalhos nesse sentido tenham avançado bastante, com a intensificação das ações municipais e o recente arrolamento de mais de 130 imóveis do centro histórico pelo [[Programa Monumenta]], do [[Ministério da Cultura (Brasil)|Ministério da Cultura]], é preocupante que os poderes públicos tenham tardado tanto para proteger prédios da importância da Igreja da Conceição e do complexo Catedral-Cúria (tombados em 2007 e 2009 respectivamente), que imóveis já protegidos ainda sejam demolidos à revelia da lei e que um bom número de outros edifícios históricos ainda não receba qualquer cuidado oficial <ref name="KIEFER3"/><ref>[http://www.mp.rs.gov.br/memorial/clips/id13722.htm ''Um patrimônio para se ter orgulho'']. Clipping Cultural do Memorial do Ministério Público, 26/03/2008</ref><ref>[http://www2.portoalegre.rs.gov.br/cs/default.php?reg=104224&p_secao=3&di=2009-03-11\ ''Catedral e Cúria são tombadas pelo município'']. Prefeitura Municipal, Agência POA Multimídia, 11/03/2009</ref><ref>[http://www2.portoalegre.rs.gov.br/cs/default.php?reg=83114&p_secao=3&di=2007-11-30 ''Igreja Nossa Senhora da Conceição é patrimônio da capital'']. Prefeitura Municipal, Agência POA Multimídia, 30/11/2007</ref><ref>[http://www.agenciachasque.com.br/ler04.php?idsecao=5ee6faf36e6244674fe4169a86bab576&&idtitulo=0c83fe2452ed6b7fa45da494617e354d ''RS: Novas denúncias contra "espigão" em Porto Alegre'']. Chasque Agência de Notícias, 08/10/08</ref>
Em termos estéticos nesses últimos decênios se verificou o declínio da escola modernista e sua substituição pelos valores do [[Pós-Modernismo]], fazendo a releitura de estilos históricos e criando um novo senso de ecletismo, liberdade e democracia formal. Os exemplos mais paradigmáticos dessa tendência são os ''[[shopping center]]s'' que nos últimos anos têm controversamente pontuado a paisagem, muitos deles com soluções formais ousadas, decoração extravagante e um espírito ''high-tech'', mas cujo gosto e pertinência para a paisagem às vezes são postos sob suspeita. Alguns críticos se recusam a reconhecer uma arquitetura realmente viva no presente em Porto Alegre, não encontram mais obras que possam se erguer em referências culturais e marcos urbanos, e denunciam uma crise de identidade na produção local. Mas para outros o alto nível do debate sobre arquitetura, que atrai personalidades internacionais, o sucesso de projetos de revitalização de áreas e estruturas antigas por arquitetos locais, como foi o Centro Comercial Nova Olaria, e a atuação na cidade de projetistas estrangeiros de renome, como [[Álvaro Siza]], responsável pelo prédio da [[Fundação Iberê Camargo]], considerado uma obra-prima, bastam para indicar que a arquitetura de Porto Alegre mantém um apreciável dinamismo e está integrada ao que se passa no restante do mundo.<ref name="KIEFER3"/><ref name="ENTREVISTA">[http://www.aplauso.com.br/site/portal/anteriores.asp?campo=541&secao_id=50 "Porto Alegre, cidade brega?"] Entrevista com Henrique Rocha, Carlos Eduardo Comas, Carlos Maximiliano Fayet, Pedro Gabriel e Sérgio Marques. In: ''Revista Aplauso'', 27/03/2006; (99)</ref
Em anos recentes a administração pública tem empreendido grandes obras de renovação de infraestrutura, em termos de mobilidade urbana, urbanismo de espaços públicos, áreas verdes, e outras, e têm se tornado notórias as obras realizadas em função da [[Copa do Mundo de 2014]]. Porém, ao mesmo tempo em que as instâncias oficiais fazem grande propaganda dessa atividade, apontando para alegados benefícios sociais, ambientais e culturais, as críticas se avolumam, denúncias de erros técnicos, irregularidades diversas, corrupção e violações de [[direitos humanos]] se multiplicam, e setores influentes da população alegam que não estão sendo ouvidos, desencadeando muitos protestos, até de rua, que acabaram às vezes em violência.<ref>Floresta, Cleide. [http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/197/o-futuro-aponta-para-o-centro-181294-1.aspx "O futuro aponta para o centro"]. In: ''AU'', 2010; (197)</ref><ref>Prestes, Felipe. "Cem primeiros dias de Fortunati em Porto Alegre têm obras e protestos como marcas". ''Sul21'', 10/04/2013</ref><ref>"Pessoas não utilizam as árvores no Gasômetro, diz Fortunati". ''Correio do Povo'', 07/02/2013</ref><ref>"Manifestantes queimam boneco com a cara de Fortunati durante noite de protestos em Porto Alegre". ''Zero Hora'', 01/08/2013</ref><ref>Cassol, Daniel. "De Copa em Copa". In: ''Revista Adusp'', 2013, 55:18-29</ref><ref>"Remoção para obras da Copa preocupa especialistas em Porto Alegre". Portal 2014, 17/03/2011</ref><ref>Mombach, Hiltor. "Resposta de Fortunati". ''Correio do Povo'', 15/08/2011</ref><ref>Ministério Público Federal. ''Ata da Audiência Pública sobre o impacto do Megaevento Copa do Mundo 2014 no direito à moradia'', 25/05/2010</ref><ref>"Moradores da rua Anita denunciam Prefeitura de Porto Alegre ao Ministério Público". Ecoagência, 05/07/2013</ref><ref>Ilha, Flávio. "Porto Alegre anuncia projeto de redução da tarifa um dia após protestos violentos". ''Notícias UOL'', 18/06/2013</ref> Com todos os avanços reais que possam ter havido, o déficit habitacional continua importante. De acordo com o [[IBGE]], 192.885 pessoas ainda viviam em 2010 nas 108 favelas da cidade, sem acesso a serviços essenciais.<ref>[http://observapoa.com.br/default.php?reg=337&p_secao=17 "Conhecendo as favelas de Porto Alegre"]. Observatório da Cidade de Porto Alegre, 13/11/2013
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Ficheiro:Favelas-portoalegre.jpg|Bolsão de favela na entrada da cidade.
Ficheiro:Conjuntohabitacional-portoa.jpg|Conjunto habitacional popular da Vila dos Papeleiros, onde há poucos anos havia uma favela.
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{{commonscat|Architecture of Porto Alegre|Arquitetura de Porto Alegre}}
* [[Cultura de Porto Alegre]]
* [[Arquitetura do Brasil]]
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{{Referências|col=3|scroll=s}}
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