Caio Júlio Civil: diferenças entre revisões

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O resultado destas adesões foi uma nova revolta na [[Gália]]. [[Herdônio Flaco]] foi assassinado em [[70]] pelos seus próprios homens, e as forças romanas ao completo foram induzidas por dois comandantes auxiliares gauleses, [[Júlio Clássico]] e [[Júlio Tutor]], à defecção de Roma e a unirem-se ao exército de Civil. Praticamente toda a Gália se declarou independente. A profetisa germana [[Veleda (profetisa)|Veleda]] predisse o sucesso completo de Civil e a consequente queda do [[Império Romano]]. Mas nasceram disputas no seio das tribos que fizeram impossível qualquer colaboração futura. Vespasiano, após triunfar na guerra civil que seguiu à morte de [[Nero]], exigiu a Júlio Civil que depusesse as armas, e frente da sua negativa iniciou uma série de medidas drásticas destinadas a acabar com a revolta.
 
A chegada de [[Quinto Petílio Cerial]] com um poderoso exército intimidou os gauleses e as tropas amotinadas, que se submeteram de novo a Roma. O próprio Civil foi derrotado em [[Augusta Treverorodos Tréveros]] ([[TrierTréveris]], Trèves) e Castra Vetera, e obrigado a retirar-se para a ilha dos batavos. Finalmente, chegou a um acordo com Cerial, pelo qual as suas compatriotas receberam certas vantagens sociais, e retomaram as relações de amizade com Roma. Nenhuma fonte menciona a Civil depois desta data.
 
==Fundo==
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===Vida temporã===
 
Cláudio Civil<ref>[[Tácito]], ''Histórias'' [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text.jsp?doc=Perseus:abo:phi,1351,004:1:59 1.59] chama Civil "julho", assim como outros autores ([[Plutarco]] ''Erot.'' 25, p. 770: onde, porém, provavelmente refere a [[Júlio Tutor]], [[Frontino]] ''Estratagemas'' 4.3.15.)<br />{{Quote|Durante a guerra empreendida sob proteção do Imperador César Domiciano Augusto Germânico e começada por Júlio Civil na Gália, a muito rica cidade dos LingonesLíngones, que se rebelara contra Civil, temeu ser saqueada pelo próximo exército de César. Mas quando, ao contrário desta expetativa, os habitantes permaneceram ilesos e não perderam nenhuma propriedade, voltaram à sua lealdade, e contribuíram com 70.000 homens armados.|Frontino, ''Estratagemas'' 4.3.15}}</ref> e o seu irmão [[Júlio Paulo]] provinham da família real batávia, e conseguíram certos méritos que os elevavam no plano pessoal. Pelo seu [[nome]], é provável que Civil ou algum dos seus antepassados varões fosse nomeado cidadão romano (e portanto, a sua tribo vassala de Roma) na época de [[Augusto]] (r. {{AC|27|x}}-{{DC|14|x}}) ou de [[Calígula]] (r. 37-41). Sob um falso cargo de traição, o legado de Nero [[Fóntio Capito]], executou Júlio Paulo em [[67]] ou [[68]], e enviou a Civil encadeado para Roma. Ali foi escutado e absolto por [[Galba]]. Posteriormente, foi designado [[prefeito]] de uma [[coorte]] de ''auxília'', mas caiu sob suspeita de novo sob o comando de [[Vitélio]], quem exigia que fosse castigado.<ref>Tácito, ''Histórias'' [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text.jsp?doc=Perseus:abo:phi,1351,004:1:59 1.59]</ref>
 
===Apoio a Vespasiano===
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Após a vitória, Civil enviou mensageiros às duas Germânias e às províncias galas, induzindo os seus habitantes a rebelarem-se e criar um novo reino independente. [[Herdônio Flaco]], governador das Germânias, que avivara secretamente os primeiros esforços de Civil, ordenou agora ao seu legado [[Múmio Luperco]] que marchara contra o inimigo. Quando Civil apresentou batalha, a ala batávia do exército de Luperco desertou imediatamente. O restante dos auxiliares fugiram, e os legionários viram-se forçados a retirarem-se para ''Vetera Castra'', a grande cidade-acampamento que Augusto fundara na margem esquerda do Reno como quartel geral das operações contra Germânia. Aproximadamente por estas datas, algumas das coortes veteranas de batavos e cananefates, que marchavam para a [[Itália]] por ordem de Vitélio, amotinaram-se ao chegarem os mensageiros de Civil. No seu retorno, derrotaram as forças de [[Herênio Galo]] que acampavam em [[Bona]]. Civil encontrava-se agora no comando de um exército completo mas, resistindo a se enfrentar diretamente ao poder romano, fez com que os seus seguidores jurassem fidelidade a Vespasiano, e mandou missivas às duas legiões refugiadas em [[Vetera Castra]] para que fizessem o próprio.<ref>Tácito, ''Histórias'' [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text.jsp?doc=Perseus%3Atext%3A1999.02.0080%3Abook%3D4%3Achapter%3D19 4.19]</ref>
 
Airado frente da sua recusa, chamou às armas a nação completa dos [[batavos]], a que acompanharam os [[Brúcteros]] e [[Téncteros]] e enviou mensageiros ao interior de Germania para mobilizar as suas gentes. Os legados romanos Múmio Luperco e [[Numício Rufo]], enquanto isso, reforçaram as fortificações de Vetera Castra. Civil marchou desde ambas as margens do Reno, baixando o mesmo rio com os barcos capturados aos romanos, e assediou a cidade, após um infrutuosa tentativa de capturá-la pelas armas. As operações de Herdônio Flaco viram-se atrasadas pela sua própria debilidade, a sua ansiedade por servir a Vespasiano e a desconfiança dos seus homens. Finalmente, foi obrigado a ceder o comando a [[Dílio Vocula]]. Civil, entretanto, tendo reunido grandes forças procedentes de Germânia, procedeu a acossar as tribos galas a oeste do [[rio Mosa|Mosa]], atingindo mesmo a costa, para socavar a sua fidelidade a Roma. Os seus esforços dirigiam-se nomeadamente para os [[TrevirosTréveros]] e os [[Úbios]]. Os Úbios mostraram-se especialmente tenazes, sofrendo o castigo de Civil em consequência. Posteriormente, intensificou o sítio de Vetera Castra, tentando tomá-la de novo pelas armas. Fracassou de novo, e viu-se obrigado a tentar persuadir os soldados assediados.
 
Estes fatos tiveram lugar em finais de [[69]], antes da [[batalha de Cremona]], que decidiu a vitória de Vespasiano sobre Vitélio. Quando as novas desta batalha chegaram ao exército romano do Reno, [[Alpino Montano]] acudiu a Civil para pedir que depusesse as armas, pois o seu objetivo era cumprido. O único resultado desta missão foi que Civil sementou a discórdia na mente do emissário. Civil enviou então as suas coortes veteranas e a elite dos germanos a enfrentar VoculaVócula, sob o comando de [[Júlio Máximo]] e [[Cláudio Víctor]], o filho da sua irmã. Após capturarem na sua marcha os quartéis de uma ala auxiliar, caíram sobre as forças de VoculaVócula em [[Asciburgo]]. O acampamento romano salvou-se graças a uma ajuda inesperada. Tácito culpa a Civil de não enviar uma força bem grande, e a VoculaVócula de renunciar a aproveitar-se da vitória. Civil tentou então render as tropas de Vetera Castra, fingindo que derrotara VoculaVócula, mas um dos romanos cativos após o confronto gritou revelando a verdade. Tácito acredita este fato afirmando que o réu foi apunhalado até a morte pelos Germanos nesse mesmo lugar. Pouco depois, VoculaVócula marchou a aliviar o assédio de Vetera Castra, derrotando Civil, mas renunciando de novo a aproveitar a sua vitória, provavelmente devido às ordens. Civil obrigou posteriormente os romanos a se retirarem para [[Gelduba]], após cortar as suas linhas de fornecimento, e dali para {{ilc|Novésio||Novesium}}, enquanto retomava o assédio a Vetera Castra e conquistava Gelduba. Os romanos, paralisados por dissensões internas, sofreram uma nova derrota por parte de Civil, mas alguns de eles, no comando de VoculaVócula, recuperaram [[Moguntiaco]].
 
===Rebelião aberta===
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A princípios do seguinte ano ([[70]]) a guerra adotou um caráter mais dinâmico. As notícias da morte de Vitélio exasperaram os soldados romanos, animaram os rebeldes, e socavaram a fidelidade dos [[Gauleses]], enquanto circulava o rumor de que os quartéis de Inverno das legiões de [[Mésia]] e [[Panônia]] foram assediados pelos [[Dácios]] e os [[Sármatas]], mas nomeadamente o incêndio da [[Colina Capitolina]], que foi visto como um preságio da prematura queda do Império Romano.
 
Civil, incapaz de manter qualquer tipo de dissimulo após a morte de Vitélio, retomou a guerra com energias não divididas, e a ele uniram-se as forças de VoculaVócula ao completo, induzidas por dois comandantes auxiliares gauleses: [[Júlio Clássico]] e [[Júlio Tutor]]. As legiões assediadas em Vetera Castra não puderam resistir por mais tempo e renderam-se a Civil, pronunciando um juramento em favor do "império dos gauleses". Mas, enquanto se afastavam, foram emboscadas e assassinadas pelos Germanos, provavelmente sem a conivência de Civil.
 
O líder germano, cumprido o seu juramento de inimizade a Roma, afeitou então a sua barba, que deixara crescer sem trava desde que começara o conflito.<ref>Tácito, ''Germania'' 31</ref> Nenhum dos batavos adotou o juramento para o ''império dos gauleses'', pois pensavam que, uma vez derrotados os Romanos, seriam capazes de acabar com os seus aliados celtas. Civil e Clássico destruíram posteriormente todos os acampamentos de Inverno romanos, exceto os de Moguntiaco e [[Vindonisa]]. Os germanos exigiram a destruição de [[Colônia Agripina]], mas a gratitude de Civil - cujo filho mantivera-se seguro desde o começo da guerra - fez com que se desouvissem as suas demandas.
 
Vários estados vizinhos declararam a sua lealdade a Civil, quem se enfrentou ao seu velho inimigo [[Cláudio Labeu]], no comando de uma força irregular composta por {{ilc|Betásios||Betasii}}, [[Tungros]] e [[Nervos]]. O próprio Civil decidiu a vitória num ato de coragem, ganhando de imediato a aliança dos Tungros e o restante de tribos. Sua tentativa, porém, de unir toda a Gália à revolta, falhou: os TrevirosTréveros e os [[LingonesLíngones]] foram os únicos povos que se uniram à rebelião.
 
===Derrota e rendição===
 
Os informes destes eventos foram transmitidos a Roma, e com o tempo, [[Muciano]] enviou um imenso exército ao Reno, no comando de [[Quinto Petílio Cerial]] e [[Ânio Galo]]. Os insurgentes encontravam-se divididos internamente, e Civil enfrentava-se aos [[Belgas]] visando a destruir a Cláudio Labeu. Clássico gozava em silêncio o seu novo império, enquanto Tutor desatendia o vital trabalho que tinha assinado, de guardar o Reno superior e os passos dos [[Alpes]]. Cerial teve portanto poucos problemas para derrotar os TrevirosTréveros e recuperar a sua capital. Enquanto descansava ali, recebeu uma carta de Civil e de Clássico, informando de que Vespasiano morrera, e oferecendo-lhe o império dos gauleses. Civil desejava aguardar a receber reforços de para além do Reno, mas prevaleceu a opinião de Clássico e Tutor, e foi travada uma batalha sobre o [[rio Mosela|Mosela]]. Nela os romanos, embora a princípio estivessem perto da derrota, conseguiram uma vitória completa, destruindo o acampamento inimigo no processo. Colônia optou então pela defecção aos romanos, mas Civil e Clássico resistiram valentemente até o final. Os Cananefates destruíram a maior parte da frota fluvial romana, e derrotaram um corpo dos Nervos, quem, após submeterem-se a Fábio Prisco - o legado romano - decidiram atacar os seus antigos aliados. Após reforçar o seu exército com tropas germânicas, Civil acampou em Vetera Castra, para onde se dirigiu Cerial no comando de novas forças. A batalha livrou-se pronto, e Cerial conseguiu a vitória graças à traição de um batavo, mas como os romanos não dispunham de frota, os germanos escaparam através do Reno. Ali Civil recebeu reforços dos [[Chaucios]] e, após um último esforço junto a [[Verax]], Clássico e Tutor, de defender a ilha dos batavos, foi de novo derrotado e obrigado a retirar-se através do Reno.
 
Cerial então enviou emissários para exigir privadamente a paz aos batavos, oferecendo o perdão a Civil. Este não teve outra alternativa que se render após parlamentar com o romano numa ponte sobre o [[Waal]]. O relato de Tácito acaba abruptamente após o começo da entrevista.<ref>Tácito, ''Histórias'' 4.12-37-Z1, 54-Z1-79-Z1, 5.14-Z2-26-Z1.<br />[[Flávio Josefo]] ''Guerra dos Judeus'', 7.4.2<br />[[Dião Cássio]]</ref>