Gargântua e Pantagruel: diferenças entre revisões

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'''''O Quinto Livro de Pantagruel''''' (em francês, ''Le cinquième-livre de Pantagruel''; com o título original de ''Le cinquiesme et dernier livre des faicts et dicts héroïques du bon Pantagruel''<ref name=Boulenger1033 />), foi publicado postumamente em cerca de 1564, e narra as novas jornadas de Pantagruel e seus amigos. Numa ilha, o grupo encontra pássaros vivendo na mesma [[Hierarquia católica|hierarquia da Igreja Católica]]. Noutra, o povo é tão obeso que costumeiramente se corta a pele para fazer com que a gordura vaze. Na próxima ilha, eles são aprisionados pelos temíveis Gatos-Forrados, e só são capazes de escapar respondendo a uma charada. Mais além, encontram uma ilha de advogados que se alimentam de processos judiciais prolongados. No Reino dos Chorões, eles sem saber assistem a uma partida de xadrez com peças humanas ao lado da milagreira e prolixa Rainha Quintessência. Passando pela abadia das sexualmente prolíficas Semicolcheias, pelos elefantes e pela Ilha de Cetim, eles chegam aos domínios da escuridão. Conduzidos por um guia da Terra das Lanternas, eles vão pelas profundezas da terra até o Oráculo de Bacbuc. Depois de muito admirar a arquitetura e as muitas cerimônias religiosas, eles chegam à própria garrafa sagrada. Ela profere uma única palavra: "bebei". Após beber o texto líquido de um livro de interpretação, Panurgo conclui que o vinho lhe inspira à ação correta, e imediatamente promete se casar tão rapidamente e tão frequentemente quanto possível.
 
Embora algumas partes do livro 5 sejam verdadeiramente dignas de Rabelais, a atribuição do último volume a ele é discutível. O livro cinco não foi publicado até nove anos após a morte de Rabelais e inclui muito material que é claramente emprestado (como de [[Luciano de Samósata|Luciano]]: ''História verdadeira''; e de Francisco Colono: ''[[Hypnerotomachia Poliphili|Sonho de Polífilo]]''<ref>Marcel Francon, "Francesco Colonna's 'Poliphili Hypnerotomachia' and Rabelais", ''The Modern Language Review'', Vol. 50, No. 1 (January 1955), pp. 52–55</ref> ) ou de menor qualidade do que os livros anteriores. Nas notas à sua tradução de Gargântua e Pantagruel , Donald M. Frame propõe que o livro 5 pode ter sido formado a partir de material inacabado que uma editora mais tarde teria remendado num livro. Esta interpretação foi comprovada principalmente por Mireille Huchon em "''Rabelais Grammairien''"<ref>"Rabelais grammairien. De l'histoire du texte aux problèmes d'authenticité", Mirelle Huchon, in Etudes Rabelaisiennes XVI, Geneva, 1981</ref>, o primeiro livro a fornecer uma análise gramatical rigorosa do assunto.
 
== Temas ==
Pantagruel e Gargântua não são ogros cruéis, mas sim gigantes bondosos e glutões. Este gigantismo lhes permite descrever cenas de festas burlescas. A infinita gula dos gigantes abre as portas a numerosos episódios cômicos. Assim, por exemplo, o primeiro grito de Gargântua ao nascer é: "A beber, a beber!". O recurso aos gigantes permite também alterar a percepção normal da realidade; sob esta ótica, a obra de Rabelais se escreve no estilo grotesco, que pertence à cultura popular e carnavalesca.
 
As últimas intenções de Rabelais são enigmáticas. No "Aviso ao leitor" de ''Gargântua'', diz querer antes de tudo fazer rir. Depois, no "Prólogo", com uma comparação aos [[Sileno|silenos]] de [[Sócrates]], sugere uma intenção séria e um sentido mais profundo oculto atrás do aspecto grotesco e fantástico. Na segunda metade do prólogo, porém, critica os comentaristas que buscam sentidos ocultos nas obras. Conclui-se que Rabelais quer deixar o leitor perplexo e procura a ambiguidade para perturbá-lo.
 
==Análise==