Sant'Angelo (rione de Roma): diferenças entre revisões

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Na [[Idade Média]], o distrito passou a ser chamado de ''"Vinea Thedemari"'' e sua porção norte, ''"Calcaràrio"'', por causa dos [[forno de cal|fornos de cal]] (''"calcàre"'') que, por séculos, produziram [[cal viva]] queimando mármores obtidos nos monumentos do Fórum. Posteriormente, surgiu o nome ''Sant'Angelo'', uma referência a uma das mais importantes igrejas do rione, ''[[Sant'Angelo in Foro Piscium]]'' ("Santo Anjo no Mercado de Peixes"). Esta igrejas, erigida em 770 no interior do [[propileu]] do Pórtico de Otávia, foi muito importante durante a a Idade Média. Foi dali que, no domingo de [[Pentecostes]] de 1347, os romanos, liderados por [[Cola di Rienzo]], iniciaram seu ataque ao [[Capitólio (Roma)|Capitólio]] em sua fracassada tentativa de restaurar a [[República Romana]].
 
Por ser um quarteirão habitado principalmente por trabalhadores e operários, Sant'Angelo, como os riones vizinhos de [[Regola]] e [[Ripa (rione de Roma)|Ripa]], era sede de muitas [[guilda]]s. Perto de ''[[Santa Caterina dei Funari]]'' ("Santa Catarina dos Cordeiros"), trabalhavam os fabricantes de cordas (''"funari"'', os "cordeiros") e que é a única igreja de Roma cujo nome não vem do patrocínio de uma guilda e sim da proximidade dos trabalhadores em relação à igreja<ref>Pietrangeli.</ref>, que torciam suas cordas no pátio com pórticos de 60 metros de comprimento da [[Cripta de Balbo]]. Nas ''"Botteghe Oscure"'' ("Lojas Escuras")&mdash;o nome pelo qual as [[arcada]]s do Teatro de Balbo eram chamadas&mdash; se produzia cal enquanto os ferreiros e [[funileiro]]s tinham suas lojas nas arcadas do Teatro de Marcelo (o último funileiro trabalhou lá até o início das obras de restauração, em 1926). Finalmente, [[cardagem|cardeiros]] e [[tosquia]]dores trabalhavam perto da igreja ''[[San Valentino dei Mercanti]]'' (demolida logo depois de 1870)<ref>Pietrangeli, 66.</ref> e os peixeiros no Pórtico de Otávia, onde vendiam peixes em lajes de mármore que lhes eram alugadas por altos valores pelas famílias nobres romanas. Na parede perto do Pórtico ainda é hoje é possível ver uma cópia da placa de mármore (a original está nos [[Museus Capitolinos]]), cujo comprimento marca o tamanho máximo dos peixes que podiam ser vendidos inteiros no mercado: os maiores tinham que ter a cabeça cortada e ela era oferecida, obrigatoriamente, aos ''conservatori'', os conselheiros da Roma papal, que as utilizavam para preparar uma sopa<ref>Delli, 83.</ref>. A atividade mais típica no mercado era o leilão de peixes, conhecido como ''"cottio"'', realizado todas as noites depois das 2 a.m. Particularmente popular na cidade era o ''cottio'' de 23 de dezembro, quando muitos habitantes vinham tentar conseguir um bom peixe para o jantar da [[Véspera de Natal]] e muitos mais apenas para assistir: era o início das festas natalinas<ref>Zanazzo, 160.</ref>.
 
=== Renaissance: ''Serraglio delli Ebrei'' ===
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No século XVI, o Savelli construíram um belo palácio sobre o [[Teatro de Marcelo]], obra de [[Baldassarre Peruzzi]], que passou depois para os [[Orsini]]. Em paralelo, no lado norte do rione, outra poderosa família de Roma, os [[Mattei (Roma)|Mattei]], construíram quatro palácios: ''Mattei di Giove'' (obra-prima de [[Carlo Maderno]]), o ''Palazzo di Giacomo Mattei'' (obra de [[Nanni di Baccio Bigio]]), ''Mattei di Paganica'' e o ''Palazzo di Alessandro Mattei'' (moderno ''[[Palazzo Caetani]]'')<ref>Pietrangeli</ref>. Juntos, eles ocupavam um quarteirão inteiro, chamado de ''"Isola dei Mattei"''. Outras famílias nobres, como os [[Costaguti]], [[Santacroce]] e [[Serlupi]], também construíram suas residências na região no período.
 
Porém, no início do [[Renascimento]], um evento mudou completamente o destino do rione: a chegada dos [[judeus]]. Uma colônia judaica já existia em Roma desde o começo da era cristã, mas eles viviam principalmente no ''[[Transtiberim]]'', do outro lado do rio, perto do ''[[Porto di Ripa Grande]]''. Por causa do declínio do comércio fluvial, eles começaram a se mudar para a cidade no começo do século XV. Na época, havia {{formatnum|2000}} judeus em Roma: {{formatnum|1200}} em Sant'Angelo (onde perfaziam 80% da população), 350 em [[Regola]], 200 em [[Ripa (rione de Roma)|Ripa]] e os demais espalhados pela cidade<ref>Delli, 435.</ref>.
 
Em 14 de julho de 1555, o [[papa Paulo IV]], um dos maiores defensores da [[contrarreforma]], promulgou a [[bula papal|bula]] ''"[[Cum nimis absurdum]]"'' na qual revogou todos os direitos da comunidade judaica e a confinou num distrito murado{{Efn|O muro foi construído pelo arquiteto [[Giovanni Sallustio Peruzzi]] e o dinheiro necessário, 300 ''[[scudi]]'', foi pago pela comunidade judaica.}}, o [[Gueto de Roma]] (''Ghetto''). Os cristãos que eram proprietários das casas localizadas no Gueto podiam manter a propriedade, mas não podiam nem despejar os judeus e nem aumentar os aluguéis. Por volta de 1860, um grande apartamento na região era alugado por 30 ''scudi'' por mês, pois os valores não eram reajustados desde a época do [[papa Urbano VIII]]. O mesmo apartamento era alugado por 450 ''scudi'' no mercado livre<ref>Delli 96</ref>.
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Na década de 1920, Sant'Angelo foi novamente afetado pelas grandes obras de demolição iniciadas no centro de Roma pelo [[Fascismo na Itália|regime fascista]]. Em 1926, o quarteirão à volta do Teatro de Marcelo, que foi reformado, foi demolido. Muitas estruturas medievais típicas, desapareceram, revelando antigos templos romanos, como o [[Templo de Apolo Sosiano]] e o [[Templo de Belona (Roma)|Templo de Belona]]. Além disso, algumas residências medievais, como a "Casa dos Vallati" e o ''"Albergo della Catena"'', foram cuidadosamente restauradas depois que as diversas construções posteriores sobre elas puderam ser removidas. Na década de 1940, a ''Via delle Botteghe Oscure'' foi alargada, o que levou a uma nova série de demolições.
 
Depois das demolições do período fascista, as fronteiras históricas do rione, estabelecidas em 1743 pelo [[papa Bento XIV]], foram alteradas. Sant'Angelo se expandiu, incorporando pequenas e importantes porções dos distritos vizinhos de [[Campitelli]] e [[Ripa (rione de Roma)|Ripa]]: entre outros edifícios, as igrejas ''[[Santa Maria in Campitelli]]'' e ''[[San Gregorio della Divina Pietà]]'' passaram a fazer parte de Sant'Angelo.
 
Durante a ocupação [[nazistas|nazista]] de Roma durante a [[Segunda Guerra Mundial]], a comunidade judaica foi obrigada a pagar 50 kg de ouro para a [[SS]] para não ser deportada para os [[campo de concentração nazista|campos de concentração]] [[nazistas]]. Em 16 de outubro de 1943, apesar do pagamento, {{formatnum|2091}} judeus foram deportados e a maioria morreu na [[Alemanha nazista|Alemanha]]. Muitos outros foram mortos em 24 de março de 1944 no [[Massacre da Fossa Ardeatina]]<ref name="Pietrangeli, 44"/>.