Rosa de Lima: diferenças entre revisões

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'''Rosa de Lima''' ([[Lima]], [[30 de abril|30 de agosto]] de [[1586]] - ''id.'', [[24 de agosto]] de [[1617]]), foi uma [[Cristianismo místico|mística]] da [[Ordem dos Pregadores|Ordem Terceira Dominicana]] canonizada pelo [[Papa Clemente X]] em [[1671]]. Santa Rosa é a primeira santa nativa da [[América]] e padroeira do [[Peru]].
 
== Vida ==
Nascida em Lima no ano de 1586, era descendente de conquistadores espanhóis. Seu nome de batismo era '''Isabel Flores y Oliva''', mas a extraordinária beleza da criança motivou a mudança do nome de Isabel para Rosa, ao que ela acrescentou o de Santa Maria. Seus pais eram Gaspar de Flores, espanhol arcabuz do Vice-Rei e Maria Oliva, limenha. Era a terceira dos onze filhos do casal.
Rosa de Lima é uma das santas
mais veneradas do mundo, principalmente na América, por ter sido a primeira
mulher a ser elevada às honras dos altares no Novo Mundo.
 
Seus pais antes ricos tornaram-se pobres devido ao insucesso numa empresa de mineração e ela cresceu na pobreza, trabalhando na terra e na costura até altas horas da noite para ajudar no sustento da família. Cultivava as rosas de seus próprio jardim e as vendia no mercado e por isso é tida como patrona das floristas. Diz-se que tangia graciosa a [[viola]] e a [[harpa]] e tinha voz doce e melodiosa. Além de muito bela, Rosa era tida como a moça mais virtuosa e prendada de Lima.
Santa Rosa nasceu em Lima,
capital do Vice Reino do Peru, às 04 horas da tarde do dia 30 de abril de 1586.
Era a quarta dos onze filhos do espanhol D. Gaspar Flores, que era Arcabuz do
Vice-Rei e de sua esposa Maria Oliva, limenha. A menina foi batizada pelo Padre
António Polanco na capela de São Sebastião, no domingo de Pentecostes, dia25 de
maio de 1586, com o nome de Isabel Flores Y Oliva, em homenagem à avó materna,
Da. Isabel Herrera, que vivia na mesma casa. Viveu num tempo de grande riqueza
e prosperidade da América, uma vez que para Lima, chamada de ''“Cidade dos Reis”'', confluíam mercadorias
finas e riquezas, bem a gosto da aristocracia de Espanha, que convivia
explorando o trabalho dos indígenas Incas e dos escravos negros e construía o Vice
Reino à semelhança e requinte das cidades espanholas.
 
Foi pretendida pelos jovens mais ricos e distintos de Lima e arredores, mas a todos rejeitou, por amar a Cristo como esposo. Em idade de casar, fez o voto de castidade e tomou o hábito da Ordem Terceira Dominicana, após lutar contra o desejo contrário dos pais. Construiu uma cela estreita e pobre no fundo do quintal da casa dos pais e começou a ter vida religiosa, penitenciando seu corpo com [[jejuns]] e [[cilícios]] dolorosos e conta-se que utilizava muitas vezes um aro de prata guarnecido com fincos, semelhante a uma coroa de espinhos. Foi extremamente bondosa e caridosa para com todos, especialmente para com os índios e negros, aos quais prestava os serviços mais humildes em caso de doença.
Um aparente milagre explica a
mudança do nome de Isabel para Rosa, como ela ficou eternizada na história.
Conta-se que certa manhã, enquanto algumas meninas brincavam perto do cesto
onde ela repousava, uma delas, querendo ver se dormia, descobriu seu rosto e o
viu iluminado por uma luz sobrenatural, belo e transfigurado como uma rosa. Chamada
às pressas para contemplar o prodígio, Da. Maria Oliva ficou tão encantada que
tomou a pequena criança nos braços e disse: ''“De
agora em diante não se ouvirá mais de meus lábios outro nome que não seja Rosa!”.''
 
Segundo os relatos de seus biógrafos e dos amigos que a acompanharam, dentre eles seu confessor Frei Juan de Lorenzana, por sua piedade e devoção Santa Rosa recebeu de Deus o dom dos milagres. Era constantemente visitada pela [[Virgem Maria]] e pelo Menino [[Jesus]], que quis repousar certa vez entre seus braços e a coroou com uma grinalda de rosas, que se tornou seu símbolo. Também é afirmado que tinha constantemente junto a si seu [[Anjo da Guarda]], com quem conversava. Ainda em vida lhe foram atribuídos muitos favores; milagres de curas, conversões, propiciação das chuvas e até mesmo o impedimento da invasão de Lima pelos piratas holandeses em [[1615]].
O elogio da mãe pareceu uma profecia, pois a menina cresceu em beleza e graça, muito vivaz e precoce. Desde muito pequena interessava-se pelas histórias de santos que sua avó contava aos netos. Amava ternamente o Menino Jesus e a Virgem Maria, a quem dedicava tudo o
que fazia. Era também muito devota do apóstolo São Bartolomeu e de Santa
Catarina de Siena, que tomou como exemplo de vida e patrona. Seu dia se dividia
entre os afazeres domésticos, os momentos de oração e à prática constante da caridade. Diz-se que Rosa já fazia orações profundas com apenas cinco anos. O
fato é que, dona de uma inteligência notável, conta-se que aprendeu
praticamente sozinha a ler e escrever (uma lenda piedosa fala que o próprio
Menino Jesus vinha ensiná-la todos os dias), embora os modernos biógrafos acreditem
que ela teve o auxílio da irmã mais velha, Bernardina. Também tangia com
graciosidade a harpa e a viola e diziam que tinha a voz bela e harmoniosa, com
a qual sempre cantava louvores a Deus. Além disso, costurava e bordava com
esmero. Acredita-se que Rosa tivesse sangue índio, pelo lado materno.
 
Apesar de agraciada com experiências místicas fora do comum, nunca lhe faltou a cruz, a fim de que compartilhasse dos sofrimentos do Divino Mestre: sofrimentos provindos de duras incompreensões e perseguições e, nos últimos anos de vida, de sofrimentos físicos, agudas dores devidas à prolongada doença que a levou à morte em 24 de agosto de 1617, aos 31 anos de idade. Suas últimas palavras foram " Jesus está comigo!" Seu sepultamento foi apoteótico e pranteado por todo o Vice Reino do Peru e seu túmulo tornou-se palco de milagres, bem como também os lugares onde viveu e trabalhou pela causa da Igreja. Foi a primeira santa canonizada da América e proclamada padroeira da [[América Latina]]. Conta-se que o Papa Clemente relutava em elevá-la aos altares, mas foi convencido após presenciar uma milagrosa chuva de pétalas de rosa que caiu sobre ele, vinda do céu e que atribuiu a Santa Rosa de Lima.
Uma marca da infância de Santa
Rosa de Lima foi a forte pressão emocional que sofria por causa da disputa
entre a mãe e a avó por causa do seu nome. Por um lado, Dª. Maria Oliva, que
insistia no nome Rosa; de outro, sua avó Dª. Isabel, que não concordava com
isso e tentava incutir na cabeça da neta que o apelido “Rosa” não era um nome
cristão. A pobre menina vivia atormentada por esta contenda familiar: não
queria desobedecer a mãe, nem tampouco magoar a avó. Triste, foi à procura de
seu confessor, Frei Juan de Lorenzana, que amorosamente lhe explicou que não
temesse, pois Rosa era um nome abençoado, falando-lhe da existência de Santa
Rosa de Viterbo (1233-1252), virgem terciária franciscana, na glória dos santos
católicos e instando-lhe sempre a respeitar a vontade de sua mãe. A partir daí,
feliz e aliviada, Rosa aceitou o nome, com o qual se tornaria conhecida, anos
mais tarde, em todo o mundo.
 
Dela disse o [[Papa Bento XVI|Cardeal Ratzinger]]: ''De certa forma, essa mulher é uma personificação da Igreja da América Latina: imersa em sofrimentos, desprovida de meios materiais e de um poder significativos, mas tomada pelo íntimo ardor causado pela proximidade de Jesus Cristo''. ([[Homilia]] no Santuário de Santa Rosa de Lima, Peru, em [[19 de julho]] de [[1986]]).
Os biógrafos atestam que a
família Flores y Oliva vivia em pobreza e os filhos, desde muito pequenos, ajudavam
os pais nas tarefas domésticas. Por volta de 1596, D. Gaspar recebeu a licença
para gerenciar uma mina de prata em Quives, lugarejo distante sessenta
quilômetros de Lima. A família se mudou para lá. Foi durante a estada em Quives
que Rosa e Bernardina foram crismadas pelo sábio e piedoso Bispo de Lima, D.
Turíbio de Mongrovejo (canonizado mais tarde como São Turíbio de Lima), quando
este passou por ali, em missão. Confirmada com o nome “Rosa”, acrescentou-lhe o
nome “de Santa Maria”, em homenagem à Mãe de Jesus. A família permaneceu no
lugarejo, até que um acontecimento triste veio por fim à empreitada: Bernardina,
a filha mais velha, faleceu repentinamente de uma doença fatal, o que deixou a
todos muito abalados. Rosa ficou profundamente triste e contou que, ao rezar,
viu a alma de sua irmã subindo ao céu, cercada de anjos, o que a consolou
profundamente e alicerçou nela a devoção ao Anjo da Guarda.
 
Com a morte de Bernardina, a
família voltou à Lima. Ali Rosa cresceu, tornando-se uma belíssima moça. Trabalhava
intensamente, por vezes costurando e bordando até altas horas para ajudar na
economia familiar. No quintal de sua casa havia um horto e ali ela plantou um
roseiral, cujas flores cultivava para vender no mercado de Lima. Também tecia guirlandas
de flores de papel para adornar os altares das igrejas e as capelas de Lima. De
todo modo, este jardim era tido como o local preferido da jovem, onde ela orava
a Deus e meditava as realidades celestes e esteve para sempre ligado à sua memória.
 
O sonho de Rosa era tornar-se
religiosa, mas a mãe, que não gostava de sua excessiva piedade, entrava em
constantes atritos com ela. Vendo-a tão bela e prendada, planejava casá-la com
um rico e nobre fidalgo da aristocracia de Lima, que pudesse representar um
alívio para a penúria da família. Mas diante da obstinada recusa da filha,
passou a castigá-la com ofensas e agressões, que a jovem suportava com brandura,
humildade e paciência.  
 
Com a permissão do pai, recebeu o
hábito marrom da ordem terciária de São Francisco. Mas esta ainda não era a
vontade de Deus. Numa manhã, enquanto estava no jardim, em companhia de algumas
amigas que testemunharam o fato, uma pombinha branca desceu do céu e pousou sobre
o peito de Rosa, desenhando algo como um “coração de açúcar” em seu peito. De outra
feita, também apareceu uma borboleta de asas brancas e negras, que a jovem
prontamente entendeu como uma mensagem divina para vestir o hábito das
Terciárias Dominicanas, que era alvinegro. Na época de Rosa, existiam cinco
conventos femininos em Lima, dentre os quais o Monastério de Santa Clara, das
Monjas Clarissas. Rosa quis fugir de casa para ingressar no convento, com a
ajuda de seu irmão Hernando, mais próximo e querido. Mas os cronistas contam
que ao rezar diante da imagem da Virgem do Rosário, na Igreja de São Domingos,
Rosa ficou rígida e fixa no local como se fosse uma estátua, compreendendo de
vez que Deus não a queria na Ordem Franciscana, mas sim na Ordem Dominicana e
só recobrou os movimentos após aceitar a vontade de Deus.
 
Depois de tantas preces e
sofrimentos, graças ao auxílio de seus confessores dominicanos, principalmente
Frei Juan de Lorenzana e Frei Luís de Bilbao, Rosa finalmente recebeu o hábito
das Terciárias Dominicanas, com a idade de 20 anos, no dia 10 de agosto de
1606, na Igreja de São Domingos. A partir de então, passou a viver na sua
própria casa, auxiliando nas tarefas domésticas e zelando pelos pobres e pelo
culto divino. Sua piedade era tanta, que muitos passaram a chama-la de ''“Eremita de Lima”''. Dois outros
importantes santos limenhos, São Martin de Porres (ou de Lima) e São Juan
Massias, foram seus contemporâneos e a santa certamente os conheceu e tratou
com eles. Sua vida na sociedade era bastante ativa e ela passou a auxiliar no
hospital cuidando dos leprosos, escravos e pobres, na sua maioria índios. Numa situação
de calamidade que assolou Lima certa época, Rosa, a contragosto da mãe,
transformou alguns cômodos da própria casa num hospital. Os índios e escravos a
amavam e as crianças a cercavam para que cantasse e brincasse com eles,
falando-lhes das coisas do céu.
 
A relação de imenso amor que a
santa tinha para com o Menino Jesus e a Virgem Maria são uma marca notável de
sua espiritualidade, o que a aproxima muito do ideal da ''“infância espiritual”'' praticada por Santa Teresinha do Menino Jesus,
que viveu no séc. XIX. Rosa tinha uma imagem do Menino Jesus, a quem chamava carinhosamente
de ''“Meu Doutorzinho”''. Relatos contam
que ela colocava a imagem do Menino Jesus sobre os doentes e os exortava a pedirem
a sua bênção e muitos se viam curados. E todas as manhãs, dizia que a Santa
Virgem Maria, em pessoa, vinha despertá-la para as tarefas do dia.
 
Com a ajuda de seu fiel irmão
Hernando, Rosa construiu uma pequena ermida de tijolos num canto do jardim,
substituindo uma antiga que havia feito na adolescência com pedras e paus. Ali
Rosa se retirava por longas horas, em estado de oração e meditação. Segundo sua
amiga Catalina de Santa Maria, a santa havia feito um acordo com os mosquitos
que infestavam o lugar e eles não a picavam de forma alguma.
 
Poucas pessoas, além de seus confessores
e familiares, partilharam de uma grande intimidade com Rosa. Ela tinha apenas
quatro amigas íntimas: a jovem Terciária Dominicana Catalina de Santa Maria (a
mais próxima de todas), a religiosa Catarina de Jesus, a jovem Luisa Daza e a
dama Dª. Maria Eufêmia de Pareja. Soma-se a elas a criada de sua casa, Mariana
de Oliva e Dr. Juan Del Castillo, médico que cuidou dela nos últimos anos de
sua vida.
 
Um aspecto interessante da
espiritualidade de Santa Rosa é a sua semelhança com o ideal franciscano. A
santa vivia na humildade, estava sempre sorridente, gostava de cantar louvores
a Deus, estava pronta para ajudar a todos e tinha grande amor à natureza. O que
muitos não sabem é que, após vestir o hábito dos Dominicanos, ela sempre trouxe
por baixo das vestes, seu primeiro hábito de terciária Franciscana. Acerca das suas
relações de Rosa com a natureza, a beata Catalina de Santa Maria reportou dois
fatos que ela presenciou e que a deixaram maravilhada.
 
O primeiro deles era o passarinho
que sempre vinha cantar com Rosa no jardim, ao que ela dizia ''“Passarinho rouxinol, louvemos ao Senhor. Louva
você ao teu Criador e eu louvarei ao meu Salvador!”'' E o passarinho trinava
seu canto, alternando com o suave cantar da jovem. Depois de alguns minutos,
Rosa se despedia e ele voava. ''“Bendito
seja Deus, que se foi meu passarinho!”'' – exclamava alegre.
 
Catalina também relatou que uma
vez, logo ao amanhecer, depois de ter pernoitado na casa de Rosa, ao entrar com
ela no jardim, ouviu a amiga dizer: ''“Natureza
tão bela, vamos todos louvar ao Senhor! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.”''
E com espanto viu as árvores e plantas se agitarem, curvando seus galhos até o
chão, demonstrando que compreendiam a santa e com ela louvavam a Deus, junto das
borboletas e dos passarinhos que cantavam mais alto, voando de um lado para o
outro. Eram demonstrações da grande comunhão que a santa tinha para com a
natureza, a exemplo de São Francisco de Assis. Rosa, mesmo na maior doença ou
provação, nunca deixava de sorrir.
 
Como sabia ler e escrever, Rosa,
mesmo não possuindo conhecimentos teológicos profundos, foi fértil na escrita e
na leitura de livros cristãos. Registrou suas experiências místicas num
caderno, que infelizmente se perdeu em 1622, restando apenas três documentos
escritos. Gostava de compor poesias e canções e era fecunda na oratória, com sua
grande simplicidade. Acerca de suas experiências, Rosa sempre foi questionada
pela Inquisição, cujo Tribunal se instalara em Lima, mas o Dr. Juan Castillo
soube defende-la e nada foi provado.
 
Embora fosse bela e estivesse com
as faces sempre coradas, aparentando estar muito saudável, isto não era
verdade. Pois o excesso de jejuns e penitências que a santa se auto impunha
foram minando sua saúde, pouco a pouco. Sua mãe, Dª. Oliva, sempre a repreendeu
por causa disso, mas em vão. Parecia pressentir a grave doença que um dia
levaria a santa à morte. Ao que parece, Rosa praticava tais austeridades com a
permissão de seus confessores, conforme o costume da época, mas com o tempo
eles mesmos tiveram de refrear-lhe este ímpeto, para que não viesse a morrer,
também atendendo aos aflitos pedidos de sua mãe.
 
As pessoas que lhe eram mais
íntimas, principalmente a beata Catalina de Santa Maria e a criada Mariana relataram,
no processo de beatificação, algumas das rigorosas penitências que ela
praticava: não se alimentava, exceto com pedaços de pão, água, ervas amargas,
cascas de frutas e alguns gomos de laranja; dormia poucas horas por noite e o
fazia sobre uma cama com cacos de telhas e madeiras, extremamente incômoda; se
penitenciava com cilícios e carregando uma pesada cruz pelo jardim em honra da
paixão de Cristo. Dentre as penitências, havia duas que impressionavam pela dor
que provocavam: a coroa com fincos e o cinto de penitência.
 
A coroa constava de um aro de
prata guarnecido com pontas e fincos pontiagudos, que a santa trazia por baixo
da touca. Trazia-a tão escondida sob o hábito que somente após um acidente
doméstico ela foi descoberta e somente depois de sua morte, foi reencontrada. O
cinto de penitência a santa o trazia preso à cintura e provocava grande dor e
desconforto. Narra a sua amiga Catarina de Jesus que uma noite, Rosa sentia fortes
dores de coluna e sentiu a necessidade de tirar o cinto para que não viesse a
sofrer mais. Porém, a chave não estava com ela: estava com um de seus
confessores, a quem a santa havia pedido que guardasse, para que não sentisse a
tentação de tirá-lo. O certo é que, depois de um tempo, Rosa, aliviada, mostrou
a amiga o cinto, ensanguentado, que havia conseguido abrir, sem dar maiores
explicações. O episódio do cinto deu asas à tradição, que dizia que a santa o
havia trancado e jogado a chave no poço de sua casa, poço este que é visto como
milagroso e até hoje recebe milhares de cartas com pedidos e agradecimentos dos
seus devotos de todo o mundo.
 
No ano de 1615, Lima se viu em
perigo com a ameaça de corsários holandeses que, liderados pelo pirata Jorge
Spilbergen, ameaçava entrar na cidade e saqueá-la, matando e escravizando seus
habitantes. O pânico instalou-se pelas ruas e o desespero tomou conta de todos.
Mas a intrépida Irmã Rosa entrou na Igreja de São Domingos, e ajoelhando-se
diante da imagem de Nossa Senhora do Rosário, de quem era devota, pediu-lhe que
salvasse a cidade. Depois exortou ao povo que se unisse a ela em oração para
alcançar a libertação de Lima e muitos a seguiram, dentre eles os religiosos,
senhoras de posição, pobres, índios e até escravos. Os anais da história dizem
que um vento soprou inexplicavelmente mudando a sorte dos espanhóis na batalha
em alto mar, o que lhes permitiu destruir a frota dos navios piratas. Por causa
disso, Santa Rosa foi declarada patrona e salvadora de Lima e do Peru.
 
Acontece que nos seus últimos
três anos de vida, sua saúde piorou drasticamente. A família de Rosa, que
sempre viveu em carência de recursos, não tinha como cuidar dela, mas a
providência divina não a esqueceu. Um piedoso e rico casal de fidalgos
espanhóis, Dom Gonzalo de la Maza e sua esposa Dª. Maria de Uzatégui, que
haviam conhecido Rosa e se encantado com ela, quiseram levá-la para sua própria
casa, a fim de que se restabelecesse, no que D. Gaspar e Dª. Maria Oliva
prontamente concordaram com a transferência.
 
Na casa dos Maza-Uzatégui, Rosa
foi acolhida com grande carinho e se tornou modelo de piedosa conduta para
Andrea e Micaela, as duas filhas menores do casal. Ali, eventos sobrenaturais
se manifestaram, enchendo de admiração a família. Um deles foi o conhecido milagre
do ''Ecce Homo''. Numa noite, após o
jantar, verificou-se uma milagrosa sudação num quadro de Jesus, que
impressionou a todos, incluindo vários vizinhos e amigos que acorreram para ver
o fenômeno. Atribuíram a misteriosa sudação à intercessão de Rosa, que em sua
oração havia pedido a Jesus que se manifestasse naquele lugar, abençoando-o.
 
Rosa tratava a todos com grande
delicadeza e impressionava por sua modéstia e humildade. Foi ali que se tornou
grande amiga de Dª. Maria Eufêmia de Pareja e da jovem Luisa Daza, que
partilharam da sua amizade. Também Frei Pedro de Loaiza, um padre jesuíta,
tornou-se seu confessor na época, e Rosa ficou muito feliz. Seus pais e irmãos
iam constantemente visitá-la e Dª. Maria Oliva estava sempre junto da filha.
Rosa também se referia carinhosamente a D. Gonzalo e Dª. Maria de Uzatégui como
''“pai e mãe”''.
 
Naqueles dias, Rosa teve um sonho
no qual Jesus lhe aparecia e pedia que recolhesse dezenas de rosas que estavam
espalhadas pelo chão e que lhe fizesse uma coroa de flores. Ao entregar-lhe a
coroa, Jesus colocou-a sobre a cabeça da santa. Rosa entendeu o sonho como um
sinal de que Deus queria que ela reunisse jovens piedosas num convento, missão
que tomou para si. A partir de então mobilizou amigos e conhecidos para
ajudá-la na construção do Mosteiro de Santa Catarina de Siena, a quem decidiu
dedicar a obra. Mas depois de alguns meses, os planos começaram a dar errado. E
Rosa se frustrou, entristecendo-se muito, ao perceber que a construção do
convento não se concretizaria por suas mãos. Ela então previu que o convento
seria construído e que uma piedosa dama da aristocracia limenha, Dª. Lúcia
Guerra de La Daga, seria a futura construtora e abadessa, o que de fato
aconteceu algum tempo após a sua morte.
 
No Domingo de Ramos de 1617,
Rosa, já bastante doente, foi acompanhada da mãe Dª. Oliva, de Dª. Maria de
Uzatégi e outras piedosas pessoas, à Igreja de São Domingos e, por estar
debilitada, não acompanhou a procissão, ficando em oração aos pés da Virgem do
Rosário. E ali aconteceu o momento mais doce de toda a sua vida. Porque a
Virgem Maria e o Menino Jesus lhe apareceram em glória e o divino Redentor
disse: ''“Rosa de meu coração, seja minha
esposa!”'' Então, com grande alegria, Rosa respondeu: ''“Aqui tens, Senhor, a tua humilde escrava. Tua sou e Tua
serei".'' Em lembrança,
mandou fazer um lindo anel para usar como lembrança de sua união mística com o
Menino Jesus, que foi abençoado no domingo de Páscoa de 1617, por Frei Alonso
Velásquez.
 
Desde o mês de maio, a quem lhe
perguntava sobre seu futuro, Rosa dizia que esperava ansiosamente o dia de São
Bartolomeu, que, segundo ela, ''“seria o
dia de suas núpcias eternas”'', ou seja, o dia em que morreria e iria para o
céu.
 
Com o passar dos dias, chegou o
mês de agosto e a doença de Irmã Rosa piorou a cada dia. O Dr. Castillo, com
quem a jovem se entretinha em conversas santas durante muitas horas disse que
nada mais podia ser feito, a não ser orar. Rosa parecia sentir as dores da
crucificação e ficou paralisada de um lado do corpo. Depois de grande
sofrimento, já no dia 23 de agosto de 1617, Rosa se despediu de seus
familiares, amigos e até dos escravos que a atendiam na casa dos Maza, pedindo
perdão a todos. Rosa havia recebido a extrema unção e se confessado com Frei
Juan de Lorenzana. Permanecia calma e serena. Já passava da meia-noite, dia da
festa do apóstolo São Bartolomeu, quando exclamou: ''“Jesus, Jesus, Jesus está comigo!”'' E dizendo isso, entregou a alma
a Deus. Os muitos presentes viram, impressionados, que o rosto da jovem ficara
belíssimo e iluminado no seu sono eterno. Tudo se cumpriu como a santa
profetizara. Para imortalizar isso, D. Gonzalo mandou chamar apressadamente o
talentoso pintor Angelino Medoro, para que a retratasse naquele último
instante. Foi o único retrato pintado da santa retratando sua beleza.
 
Procederam, então, ao funeral dos
despojos de Rosa. O que se viu foi apoteótico, pois toda a multidão acorreu
para se despedir daquela a quem todos já chamavam de santa em vida. Em turnos,
os membros do clero e das ordens religiosas da cidade, do Cabildo e da nobreza
de Lima se revezaram para carregar o precioso corpo até a Igreja de São
Domingos. A multidão avançava sobre o caixão, para conseguir relíquias da
futura santa e por várias vezes precisou-se trocar o hábito e a grinalda de
rosas com a qual a adornaram. Por fim, conseguiram entrar na Igreja, onde seria
rezada a santa missa fúnebre, mas nem mesmo ali o povo respeitou o corpo. Colocado
longe do acesso do povo, na sacristia, precisou ficar sob escolta durante toda
a noite pelos religiosos. Consta que até um noviço, fingindo beijar os pés da
santa, arrancou-lhe com os dentes um dos dedos do pé, para guardar de relíquia.
Tais atos insanos marcaram os funerais apoteóticos de Santa Rosa. De todo modo,
devido ao alvoroço causado pela grande multidão que queria se despedir da santa,
os frades só conseguiram sepultá-la no dia seguinte, na capela interna onde se
enterravam os religiosos dominicanos, conforme o pedido da própria Rosa de que
ali fosse sepultada.
 
Desde então o túmulo de Santa
Rosa tornou-se palco de muitos milagres, obtidos por sua intercessão. Rosa de
Santa Maria foi beatificada pelo Papa Clemente IX no dia 12 de março de 1668, após
a conclusão dos processos Ordinário e Apostólico, que contou com centenas de
testemunhos.
 
O processo de canonização foi
endossado até mesmo pelo próprio Rei da Espanha e sua mãe. Por fim, Santa Rosa
foi canonizada pelo Papa Clemente X no dia 12 de abril de 1671. Verificou-se
uma certa relutância por parte do Pontífice em canonizar uma mulher latino-americana,
limenha, pobre e provavelmente de sangue mestiço. Diz a tradição que uma
milagrosa chuva de pétalas de rosas caída em seu jardim de inverno o fez mudar
de ideia, vendo naquele sinal a manifestação da vontade de Deus.
 
No ano de 1669, Santa Rosa de
Lima foi declarada Padroeira do Peru e suas relíquias foram transladadas para o
altar dos santos peruanos erguido na Basílica de São Domingos, onde atualmente
repousa, cercada das relíquias de São Martin de Porres e de São Juan Massias. A
casa onde nasceu e viveu, o Palacete dos Maza-Uzatégui e o Mosteiro de Santa
Catarina de Siena testemunham sua presença viva na fé do povo peruano.
 
O Monastério foi construído por
Dª. Lúcia Guerra de La Daga, exatamente como a santa previra e foi inaugurado
no dia 10 de fevereiro de 1624, com missa celebrada por Frei Luís de Bilbao,
que a sagrou primeira Abadessa. Aí, sua mãe, Dª. Maria de Oliva, faleceu em
1644, tendo professado como monja em 1628, após a morte de D. Gaspar de Flores.
A própria Rosa também havia profetizado que sua mãe ali professaria como
religiosa, o que de fato aconteceu.
 
Rosa Flores y Oliva foi elevada a
honra dos altares como Santa Rosa de Lima e sua festa litúrgica foi colocada no
dia 23 de agosto, véspera do dia de São Bartolomeu, embora no Peru ela seja
comemorada no dia 30 de agosto. Foi declarada Padroeira da América ao lado de
Nossa Senhora de Guadalupe. Ainda hoje Santa Rosa de Lima segue sendo conhecida
como a mais famosa peruana de todos os tempos, pela força de seu exemplo e heroísmo
de sua vida.
 
 Dela disse o [[Papa Bento XVI|Cardeal Ratzinger]]: ''De certa forma, essa mulher é uma personificação da Igreja da América Latina: imersa em sofrimentos, desprovida de meios materiais e de um poder significativos, mas tomada pelo íntimo ardor causado pela proximidade de Jesus Cristo''. ([[Homilia]] no Santuário de Santa Rosa de Lima, Peru, em [[19 de julho]] de [[1986]]).
 
No [[Brasil]], alguns municípios - como [[Iretama]] e [[Nova Santa Rosa]], no estado do Paraná,em [[Santa Rosa de Lima (Santa Catarina)|Santa Rosa de Lima]] em Santa Catarina, em Santa Rosa da Serra e Iturama no estado de Minas Gerais e na cidadezinha de Cabeceiras em Goiás - a adotam como Padroeira.