Correntes do anarquismo: diferenças entre revisões

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Apesar de terem em comum os mesmos [[Princípios do anarquismo|princípios]], as posições dos anarquistas em relação a certas questões não constituem um todo homogêneo, e o anarquismo têm sido marcado por diversos [[Debates no anarquismo|debates e divergências]].{{Sfn|Corrêa|2012|p=159}} As divergências existentes entre os anarquistas constituíram as bases para uma reflexão acerca do estabelecimento de '''correntes do anarquismo'''.{{Sfn|Corrêa|2012|p=186}} Entretanto, as diferenciações entre as correntes anarquistas foram estabelecidas de acordo com diferentes critérios pelos autores,{{Sfn|Bonomo|2007|p=178}} não havendo nenhum consenso definido no estabelecimento das correntes anarquistas.{{Sfn|Corrêa|2012|p=187}} Entretanto, novos estudiosos do anarquismo têm percebido a centralidade e a relevância dos debates anarquistas acerca da estratégia, que historicamente dividiram os anarquistas, e a partir deles, estabeleceram duas correntes do anarquismo: [[anarquismo insurrecionário]] e [[Anarquismo social|anarquismo social ou de massas]].{{Sfn|Corrêa|2012|p=194-195}}
 
==TentativasPrimeiras anteriorestentativas de estabelecer as correntes do anarquismo==
 
[[Max Nettlau]] sustentou que haveriam quatro correntes no anarquismo: coletivismo, comunismo, individualismo — todas definidas a partir da perspectiva de distribuição dos frutos do trabalho na sociedade futura; a primeira, de acordo com o trabalho realizado, a segunda, de acordo com as necessidades, a terceira, a partir de um isolamento relativo e de trocas equivalentes — e sindicalismo revolucionário, definida pela estratégia adotada pelos anarquistas para intervenção social e para a organização da sociedade futura.{{Sfn|Nettlau|2008|p=184}}
 
[[George Woodcock]] considerava haver as seguintes correntes: anarcoindividualismo, definida pela rebeldia individual e fundamentada na obra de [[Stirner]] e [[Godwin]]; mutualismo, definida pela associação comunitária e produtiva em cooperativas econômicas e fundamentada na obra de [[Proudhon]]; coletivismo, anarcocomunismo e anarcossindicalismo, definidas da mesma maneira que fez Nettlau, levando em conta que, para Woodcock, sindicalismo revolucionário e anarcossindicalismo são sinônimos; e anarquismo pacifista, definida pelo princípio da não violência e fundamentada na obra de [[Tolstói]].{{Sfn|Woodcock|2002|p=19-22}}
 
[[Daniel Guérin]] considerou duas correntes, o anarquismo individualista e o anarquismo social, ainda que negando possíveis contradições entre essas correntes.{{Sfn|Guérin|1968|p=12}} [[Peter Marshall (historiador)|Peter Marshall]], assim como Guérin, afirmou que as diferenças fundamentais entre os anarquistas se expressão nas correntes do anarquismo individualista e do anarquismo social; para ele, os primeiros "veem o perigo da cooperação obrigatória e preocupam-se que uma sociedade coletivista possa conduzir à tirana do grupo", enquanto os segundos "preocupam-se que uma sociedade de individualistas possa tornar-se atomizada e que o espírito de competição possa acabar com o apoio mútuo e a solidariedade geral".{{Sfn|Marshall|2010|p=6-9}}
 
Iain McKay, autor de ''[[An Anarchist FAQ]]'', discutiu de maneira bastante aprofundada os debates anarquistas e chegou em algumas correntes fundamentais. Para ele, assim como para Guérin e Marshall, haveria uma divisão fundamental entre anarquismo individualista, representado por autores como Stirner e [[Benjamin Tucker|Tucker]], e o anarquismo social, representado por autores como Bakunin e Kropotkin.{{Sfn|McKay|2008|p=58-77}} Para McKay, haveria basicamente duas diferenças entre esses "dois tipos de anarquismo": aquelas relativas à estratégia — com os primeiros priorizando a educação e a propaganda e os segundos priorizando as intervenções econômicas e políticas na busca por uma revolução — e aquelas relativas à economia da uma possível sociedade futura baseada nos princípios libertários — com os primeiros defendendo um mercado anticapitalista e os segundos um socialismo sem mercado —; podendo ser definidas, dentro do anarquismo social, algumas correntes internas, como o mutualismo, coletivismo, comunismo e sindicalismo, todas definidas de acordo com Nettlau e Woodcock.{{Sfn|McKay|2008|p=58-77}} O autor ainda aponta outras correntes: o anarquismo verde, com foco nas preocupações ambientais; o anarcoprimitivismo, baseado na obra de [[John Zerzan]]; o anarquismo pacifista, definido da mesma forma que Woodcock, e identificado de certa maneira com o anarquismo religioso; o anarcafeminismo, definido pela prática de mulheres feministas que atuam entre os movimentos anarquistas para sustentar a bandeira das lutas de gênero; o anarquismo cultural, que prioriza a intervenção social por meio das artes, da música, da literatura, do teatro e da educação em relação às intervenções políticas e econômicas; e por fim o anarquismo sem adjetivos, definido a partir das propostas de um modelo flexível de organização anarquista.{{Sfn|McKay|2008|p=58-77}}
 
De modo geral, esses autores e muitos outros estudiosos do anarquismo, em suas tentativas de estabelecer as corrente as anarquistas, utilizaram como critérios a distribuição dos produtos do trabalho em uma sociedade baseada em princípios libertários, subsidiando uma distinção entre coletivistas e comunistas; as estratégias de luta, sendo o caráter das intervenções anarquista o elemento que constituiria as bases para o estabelecimento das correntes anarcossindicalista, sindicalista revolucionária, cultural, pacífica ou violenta; e critérios de ordem político-filosófica, como as posições em relação ao espiritualismo ou à religião, além de critérios como a posição em relação às lutas ecológicas, de gênero e a defesa da liberdade individual.{{Sfn|Côrrea|2012|p=190}}
 
===Críticas===
 
Tais abordagens, porém, vêm sendo criticadas por novos estudiosos do anarquismo, que argumentam que as tentativas de se estabelecer correntes do anarquismo foi forjado por meio de uma "história vista de cima" e tomou em conta um conjunto de pensadores muito restrito, sendo que vários deles, tais como Godwin, Stirner, Tolstói e Tucker, não seriam anarquistas.{{Sfn|Côrrea|2012|p=190}} Esses autores sustentam as discussões obre a distribuição dos produtos do trabalho e nem critérios de ordem político-filosófica não dariam conta dos principais e mais relevantes debates anarquistas para fornecer as bases de uma definição das correntes anarquistas, já que não haveriam grandes divergências entre os anarquistas nesses debates;{{Sfn|Côrrea|2012|p=193}} para eles, os debates de maior relevância e que historicamente dividiram os anarquistas foram aqueles acerca da estratégia, e que portanto, tais debates poderiam ser úteis para definir devidamente as diferenças entre os anarquistas, divididos entre anarquistas insurrecionários e anarquistas sociais ou de massas.{{Sfn|Côrrea|2012|p=194-195}}
 
==Anarquismo insurrecionário==
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O anarquismo social ou de massas, entretanto, teria duas subdivisões de ordem estratégica em relação às abordagens sindicais e antissindicais.{{Sfn|Schmidt|van der Walt|2009|p=171}} Dentre as abordagens sindicais, estão as posições anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionárias; entre as abordagens antissindicalistas, estão as posições que defendem as mobilizações de massa pelos locais de moradia.{{Sfn|Corrêa|2012|p=198}}
 
==Tentativas anteriores de estabelecer as correntes do anarquismo==
 
[[Max Nettlau]] sustentou que haveriam quatro correntes no anarquismo: coletivismo, comunismo, individualismo — todas definidas a partir da perspectiva de distribuição dos frutos do trabalho na sociedade futura; a primeira, de acordo com o trabalho realizado, a segunda, de acordo com as necessidades, a terceira, a partir de um isolamento relativo e de trocas equivalentes — e sindicalismo revolucionário, definida pela estratégia adotada pelos anarquistas para intervenção social e para a organização da sociedade futura.{{Sfn|Nettlau|2008|p=184}}
 
[[George Woodcock]] considerava haver as seguintes correntes: anarcoindividualismo, definida pela rebeldia individual e fundamentada na obra de [[Stirner]] e [[Godwin]]; mutualismo, definida pela associação comunitária e produtiva em cooperativas econômicas e fundamentada na obra de [[Proudhon]]; coletivismo, anarcocomunismo e anarcossindicalismo, definidas da mesma maneira que fez Nettlau, levando em conta que, para Woodcock, sindicalismo revolucionário e anarcossindicalismo são sinônimos; e anarquismo pacifista, definida pelo princípio da não violência e fundamentada na obra de [[Tolstói]].{{Sfn|Woodcock|2002|p=19-22}}
 
[[Daniel Guérin]] considerou duas correntes, o anarquismo individualista e o anarquismo social, ainda que negando possíveis contradições entre essas correntes.{{Sfn|Guérin|1968|p=12}} [[Peter Marshall (historiador)|Peter Marshall]], assim como Guérin, afirmou que as diferenças fundamentais entre os anarquistas se expressão nas correntes do anarquismo individualista e do anarquismo social; para ele, os primeiros "veem o perigo da cooperação obrigatória e preocupam-se que uma sociedade coletivista possa conduzir à tirana do grupo", enquanto os segundos "preocupam-se que uma sociedade de individualistas possa tornar-se atomizada e que o espírito de competição possa acabar com o apoio mútuo e a solidariedade geral".{{Sfn|Marshall|2010|p=6-9}}
 
Iain McKay, autor de ''[[An Anarchist FAQ]]'', discutiu de maneira bastante aprofundada os debates anarquistas e chegou em algumas correntes fundamentais. Para ele, assim como para Guérin e Marshall, haveria uma divisão fundamental entre anarquismo individualista, representado por autores como Stirner e [[Benjamin Tucker|Tucker]], e o anarquismo social, representado por autores como Bakunin e Kropotkin.{{Sfn|McKay|2008|p=58-77}} Para McKay, haveria basicamente duas diferenças entre esses "dois tipos de anarquismo": aquelas relativas à estratégia — com os primeiros priorizando a educação e a propaganda e os segundos priorizando as intervenções econômicas e políticas na busca por uma revolução — e aquelas relativas à economia da uma possível sociedade futura baseada nos princípios libertários — com os primeiros defendendo um mercado anticapitalista e os segundos um socialismo sem mercado —; podendo ser definidas, dentro do anarquismo social, algumas correntes internas, como o mutualismo, coletivismo, comunismo e sindicalismo, todas definidas de acordo com Nettlau e Woodcock.{{Sfn|McKay|2008|p=58-77}} O autor ainda aponta outras correntes: o anarquismo verde, com foco nas preocupações ambientais; o anarcoprimitivismo, baseado na obra de [[John Zerzan]]; o anarquismo pacifista, definido da mesma forma que Woodcock, e identificado de certa maneira com o anarquismo religioso; o anarcafeminismo, definido pela prática de mulheres feministas que atuam entre os movimentos anarquistas para sustentar a bandeira das lutas de gênero; o anarquismo cultural, que prioriza a intervenção social por meio das artes, da música, da literatura, do teatro e da educação em relação às intervenções políticas e econômicas; e por fim o anarquismo sem adjetivos, definido a partir das propostas de um modelo flexível de organização anarquista.{{Sfn|McKay|2008|p=58-77}}
 
De modo geral, esses autores e muitos outros estudiosos do anarquismo, em suas tentativas de estabelecer as corrente as anarquistas, utilizaram como critérios a distribuição dos produtos do trabalho em uma sociedade baseada em princípios libertários, subsidiando uma distinção entre coletivistas e comunistas; as estratégias de luta, sendo o caráter das intervenções anarquista o elemento que constituiria as bases para o estabelecimento das correntes anarcossindicalista, sindicalista revolucionária, cultural, pacífica ou violenta; e critérios de ordem político-filosófica, como as posições em relação ao espiritualismo ou à religião, além de critérios como a posição em relação às lutas ecológicas, de gênero e a defesa da liberdade individual.{{Sfn|Côrrea|2012|p=190}}
 
===Críticas===
 
Tais abordagens, porém, vêm sendo criticadas por novos estudiosos do anarquismo, que argumentam que as tentativas de se estabelecer correntes do anarquismo foi forjado por meio de uma "história vista de cima" e tomou em conta um conjunto de pensadores muito restrito, sendo que vários deles, tais como Godwin, Stirner, Tolstói e Tucker, não seriam anarquistas.{{Sfn|Côrrea|2012|p=190}} Esses autores sustentam as discussões obre a distribuição dos produtos do trabalho e nem critérios de ordem político-filosófica não dariam conta dos principais e mais relevantes debates anarquistas para fornecer as bases de uma definição das correntes anarquistas, já que não haveriam grandes divergências entre os anarquistas nesses debates;{{Sfn|Côrrea|2012|p=193}} para eles, os debates de maior relevância e que historicamente dividiram os anarquistas foram aqueles acerca da estratégia, e que portanto, tais debates poderiam ser úteis para definir devidamente as diferenças entre os anarquistas, divididos entre anarquistas insurrecionários e anarquistas sociais ou de massas.{{Sfn|Côrrea|2012|p=194-195}}
 
==Ver também==