71
edições
[[Imagem:Gardner-Philomena and Procne.jpg|thumb|350px|center|Filomena e Procne]][3] PARMÊNIDES DE ELEIA é considerado, de maneira geral, o mais importante e
influente dos filósofos pré-socráticos. 1 Com sua rejeição
compromisso com o monismo, Parmênides lançou um desafio que mudou a natureza
personagem do Sofista, refere-se a ele como o “pai Parmênides” e sugere que uma
reavaliação de suas teses poderia ser considerada como
(241d3). A interpretação atualmente dominante de Parmênides (pelo menos entre os
filósofos de língua inglesa) vê a filosofia pré-socrática anterior a Parmênides como um
conjunto de tentativas de fazer aquilo que Parmênides afirma não poder ser feito, ao
passo que o pensamento pré-socrático posterior seria composto de uma série de
esforços no sentido de salvar a investigação acerca da natureza da rejeição
parmenidiana da mudança e de seu monismo. Frequentemente se argumenta que, se
Parmênides estiver correto, então a filosofia e a ciência (como os primeiros
da Grécia a entendiam) são impossíveis. Porém,
Parmênides, os pré-socráticos
cosmológicos para explicar o mundo conforme testemunhado pela experiência
sensível. Se estes pensadores realmente entenderam Parmênides e se sua influência era
As descrições até agora predominantes a respeito do pensamento pré-socrático
importante das visões destes pensadores. Pois, apesar de serem muito diferentes entre
si, as principais respostas que foram dadas a Parmênides – o atomismo, o pluralismo e
a teoria platônica das formas – compartilham uma característica comum: todas elas
postulam, para explicar o mundo
pluralidade numérica de entidades fundamentais sem,
argumento que a justifique. Mas se o monismo numérico resulta dos argumentos de
Parmênides sobre o-que-é e se do monismo e dos argumentos a respeito da mudança
resulta que a ciência é impossível, então as teorias pluralistas não podem derrubar ou
1 Sigo a convenção de se referir aos primeiros filósofos gregos como pré-socráticos, embora muitas das
referir a este grupo.
evitar as conclusões de Parmênides simplesmente postulando sem justificativa a
pluralidade de entidades básicas, como eles parecem fazer. O silêncio geral sobre o
monismo numérico entre os pré-socráticos
primeiros filósofos gregos não eram exatamente tímidos quanto a dar voz a
discordâncias (ver, por exemplo, Heráclito B40, B42, B129 e o próprio Parmênides
de suas entidades básicas, nenhum dos dois argumenta contra o monismo ou a favor
do pluralismo numérico. Antes, eles assumem que a uma pluralidade de entidades
básicas é metafisicamente aceitável.2
filosofia pré-socrática, sugere que pluralistas e atomistas evitam a questão de
Parmênides. Ao mesmo tempo, a maior parte das interpretações do pensamento présocrático
considera o silêncio relativo ao monismo de Parmênides como um aspecto
menor dessas teorias.3 Mas se os argumentos de Parmênides resultam em monismo,
eles não podem ser simplesmente ignorados, nem se pode adotar o restante de seu
sistema de modo legítimo ao abraçar o pluralismo. A visão de que Parmênides era um
monista é normalmente baseada na interpretação existencial do “é” em Parmênides.
Neste sentido, quando Parmênides afirma que somente o caminho “do que é” é um
caminho aceitável de investigação, seu objeto deve ser tomado como o que quer
possa ser pensado ou estudado, de modo que sua afirmação será: o que quer que possa
ser legitimamente investigado existe. Além disso, estes argumentos têm o intuito de
demonstrar que somente uma coisa como esta existe.4
Este livro oferece uma abordagem alternativa a respeito das teses de Parmênides e
de sua influência sobre o pensamento pré-socrático
pluralismo e o atomismo, no período imediatamente precedente à teoria das formas
de Platão. Ele desafia o que se fixou como explicação
2 A pluralidade é presumida até Diógenes de Apolônia, o qual acredito ter sido influenciado pelo
V, seção 4.
3 Ver, por exemplo, as discussões em volumes
KRS ou Guthrie, HGP, vol. II. A questão é descartada normalmente pela afirmação de que os
argumentos de Parmênides em favor do monismo numérico são fracos (embora nem sempre seja claro
em que ponto os comentadores pensam que está sua fraqueza) e assim podem ser tranquilamente
ignorados pelos pré-socráticos posteriores.
4 Ver, por exemplo, o influente “Eleatic Questions” de Owen.
desenvolvimento do pluralismo (nas teorias de Empédocles e Anaxágoras) e do
atomismo (adotado por Leucipo e Demócrito). Esta interpretação alternativa
Parmênides firmemente no seio da tradição da investigação acerca da natureza no
No decorrer do livro, irei apresentar argumentos contra a interpretação mais
prevalecente do monismo parmenidiano e a explicação usual do
Ao invés disso, defenderei que o objeto da investigação de Parmênides é o que é ser a
natureza genuína de algo, ligando-o assim às pesquisas sobre a natureza de seus
predecessores filosóficos. Deste ponto de vista, o
único item. Este é o tipo de monismo que tem sido tradicionalmente atribuído a
Parmênides e (corretamente) a Melisso. O monismo
que cada coisa que é só pode ser uma única coisa e deve ser isso de um modo
particularmente forte. Para ser uma entidade genuína, algo que seja metafisicamente
básico, uma coisa precisa ser uma unidade
(mounogenes
5 Mourelatos (em Route ) e Barnes (“Eleatic One”) também questionaram a visão predominante de que
Mourelatos enfatiza o antidualismo de Parmênides.
6 Deste modo, a falha por parte de pensadores pré-socráticos
pluralistas, enquanto trabalhando em um arcabouço parmenidiano e enfatizando a realidade e unidade
desenvolvimento do pluralismo (nas teorias de Empédocles e Anaxágoras) e do
atomismo (adotado por Leucipo e Demócrito). Esta interpretação alternativa insere
Parmênides firmemente no seio da tradição da investigação acerca da natureza no
pensamento pré-socrático, sustentando que ele estava interessado no mesmo tipo de
problema que tinha ocupado seus predecessores (muito embora sua preocupação
tenha assumido uma forma diferente). Além disso, esta abordagem explica como as
doutrinas metafísicas e cosmológicas de Parmênides tiveram influência decisiva sobre
seus sucessores e também como elas foram usadas e modificadas pelos eleatas
posteriores, Zenão e Melisso.
No decorrer do livro, irei apresentar argumentos contra a interpretação mais
prevalecente do monismo parmenidiano e a explicação usual do “é” de Parmênides.
Ao invés disso, defenderei que o objeto da investigação de Parmênides é o que é ser a
natureza genuína de algo, ligando-o assim às pesquisas sobre a natureza de seus
predecessores filosóficos. Deste ponto de vista, o “é” que interessa a Parmênides é mais
um “é” predicacional de um tipo particularmente forte do que um “é” existencial.
Admito que Parmênides seja um monista, mas nego que ele seja um monista
numérico. Antes, [5] afirmo que Parmênides está comprometido com o que eu chamo
de monismo predicacional5 O monismo numérico afirma que existe somente uma
única coisa: uma lista completa de todas as entidades do universo teria apenas um
único item. Este é o tipo de monismo que tem sido tradicionalmente atribuído a
Parmênides e (corretamente) a Melisso. O monismo predicacional é a afirmação de
que cada coisa que é só pode ser uma única coisa e deve ser isso de um modo
particularmente forte. Para ser uma entidade genuína, algo que seja metafisicamente
básico, uma coisa precisa ser uma unidade predicacional, um ser de um único tipo
(mounogenes, como diz Parmênides em B8.4), com um único modo de dizer o que
ele é, mas não é necessariamente o caso que exista somente uma única coisa desse tipo.
O que é necessariamente o caso é que a coisa ela mesma deve ser um todo unificado.
Se ela é, digamos, F (o que quer seja F), ela deve ser total, somente e completamente
F. No monismo predicacional, uma pluralidade numérica de tais seres-unos (como
poderíamos denominá-los) é possível.6 A interpretação do “é” de Parmênides se torna
5 Mourelatos (em Route ) e Barnes (“Eleatic One”) também questionaram a visão predominante de que
Parmênides é um monista numérico; Barnes nega qualquer tipo de monismo em Parmênides, enquanto
Mourelatos enfatiza o antidualismo de Parmênides.
6 Deste modo, a falha por parte de pensadores pré-socráticos posteriores em defender suas teorias
pluralistas, enquanto trabalhando em um arcabouço parmenidiano e enfatizando a realidade e unidade
relevante aqui, pois eu defendo que ser para Parmênides é ser a natureza de uma coisa,
I e II.
Entre os estudos sobre Parmênides, uma questão complicada diz respeito a prover
uma interpretação apropriada da segunda parte do seu poema, a Doxa. Segundo a
interpretação
propósito disso, considerando particularmente o fato de ele ter anunciado que a
No capítulo III, eu ofereço uma interpretação diferente da Doxa, movendo seu
apresentada nesta seção do poema. Parmênides rejeita candidatos dualistas para as
conseguem atender aos critérios do-que-é expostos nos argumentos de B8, mais
especificamente o requisito do monismo
predicacional de suas entidades básicas, é evidência para a minha visão de que é possível haver uma
pluralidade numérica de entidades em que cada uma é predicativamente uma.
7 Usando uma terminologia posterior, poderíamos dizer que Parmênides está procurando por uma
9 Ver, por exemplo, Long em “Principles.”
Doxa são inaceitáveis como entidades genuínas. Não obstante, no relato enganoso da
deusa, eles se misturam e se separam para formar os céus e para explicar os diversos
fenômenos que nos são
uma cosmologia é inaceitável, nem que, como descrição da experiência sensível, ela
sustento que a cosmologia modelo de Parmênides, baseada em um conjunto de
realidades básicas que se misturam e se separam,
que vieram depois dele quanto seus argumentos a respeito do-que-é.
Diante da interpretação de Parmênides que eu defendo, a visão
a história da exploração da natureza de entidades básicas teoréticas, sua relação com o
mundo da experiência
desse mundo. Os pluralistas (Empédocles e Anaxágoras) e os atomistas (Leucipo e
Demócrito) aceitam as conclusões de Parmênides de que o-que-é tem uma natureza
preocupam em afirmar a unidade imutável e a homogeneidade dos elementos
fundamentais – os chrēmata
e Ódio) para Empédocles –, Anaxágoras e Empédocles não veem necessidade de
argumentar em favor de uma pluralidade original. Pelo contrário, eles se concentram
na questão sobre se a separação e a mistura destes elementos
aparentes no mundo sensível. Seu silêncio sobre o tema do monismo, sua preocupação
em estabelecer a natureza e o caráter das entidades básicas e seu interesse em explicar
o mundo conforme o
interpretação de [7] Parmênides que eu defendo. O capítulo IV é uma exploração da
critérios de Parmênides para o-que-é. Como Parmênides, os cosmólogos présocráticos
real, mas que, não obstante, o mundo fenomênico pode ser objeto de uma explicação
racional. Melisso, porém, o último dos três eleatas, apresenta objeções contra todas as
teorias pluralistas, em primeiro lugar, dizendo que o pluralismo em si seria
incompatível com a explicação correta do-que-é e, em segundo lugar, que, de todo
modo, as teorias pluralistas não conseguiriam explicar o mundo
por nossos sentidos. Nestes argumentos Melisso avança para além de Parmênides.10
O livro se conclui (no capítulo VI) com duas breves discussões a respeito de Filolau
e Diógenes de Apolônia, terminando com uma
do monismo de Parmênides no desenvolvimento dos aspectos metafísico e
10 Os três eleatas, ao mesmo tempo em que compartilham certas premissas básicas, diferem de modo
ou iam além daquilo com que o próprio Parmênides estava comprometido.
epistemológico da teoria das formas de Platão. A teoria das formas é vista com
frequência como uma teoria original, notadamente diferente das teorias filosóficas
daqueles que (exceto Sócrates) precederam Platão. Eu sugiro que há uma forte
influência eleática nas teses de Platão desde o início nos primeiros diálogos e que os
argumentos de Parmênides sobre o-que-é estão [8] por trás de algumas das mais
notáveis e importantes porções da teoria platônica, especialmente a autopredicação e
a participação. Deste modo, o próprio sistema platônico seria parte do legado de
Parmênides.
O tema deste livro é a base filosófica das teorias de Parmênides e a importância de
suas ideias para o pensamento pré-socrático posterior. Embora eu discuta cosmologia,
minha investigação não está voltada propriamente para a cosmologia pré-socrática.
Por isso, eu não examino as várias versões dos turbilhões cósmicos ou a composição
das estrelas e dos planetas, nem discuto as muitas teorias pré-socráticas sobre a
formação da terra ou sobre os seres que nela habitam. Além disso, passo muito
rapidamente sobre outros aspectos das teorias destes pensadores. Empédocles e
Demócrito, por exemplo, tinham ideias interessantes a respeito de como os seres
humanos devem viver. Estas questões são importantes e interessantes por si só, mas
elas não são o assunto deste livro. Nele, estou explorando como os argumentos
metafísicos de Parmênides afetaram o curso do pensamento pré-socrático, como ele
critica as teorias anteriores a respeito do que há e como estas críticas ajudaram a moldar
o arcabouço metafísico aceito por aqueles que vieram depois dele. Por causa do caráter
fundamental dos argumentos e posições de Parmênides, há ainda outros aspectos das
teorias pré-socráticas que são indiretamente afetados por eles. O fato de eu não os
discutir não significa que eu esteja sugerindo que eles seriam irrelevantes para a
compreensão da natureza da filosofia pré-socrática ou que eles seriam detalhes sem
importância que não vale a pena examinar. Uma vez que o tema deste livro é o efeito
direto dos argumentos metateóricos de Parmênides sobre os princípios que moldam
os fundamentos do pensamento pré-socrático a respeito do que existe, não terei muito
a dizer sobre os detalhes dos aspectos cosmológicos ou outros aspectos das teorias que
discuto. A história que eu conto pode, em certos aspectos, ser semelhante a relatos
tradicionais da influência de Parmênides, mas há uma diferença importante na ênfase.
Isto porque eu vejo os pré-socráticos posteriores como aceitando a influência dos
argumentos de Parmênides ao invés tentarem evitá-los e de serem marcadamente
influenciados tanto pela via da Alētheia quanto pela via da Doxa do poema de
Parmênides.
contornar o monismo numérico de Parmênides. Eles não estão tentando evitar certos
argumentos de Parmênides, mas, pelo contrário, procuram se dedicar a uma
cosmologia racional, uma pesquisa pela natureza das coisas que leva em conta as
intuições e os argumentos metafísicos de Parmênides.
Antes de me voltar para estes temas nos capítulos seguintes, irei agora considerar
algumas questões que são preliminares para os argumentos que formam a parte
principal deste livro. Começo por examinar uma
tem sido amplamente aceita, explorando algumas das deficiências que eu
nesta visão da importância de Parmênides para o pensamento pré-socrático
Depois eu me volto para o
século V. Por fim, concluo com alguns breves comentários sobre Parmênides B1 – a
primeira e introdutória seção de seu poema filosófico. [9]
1. A INTERPRETAÇÃO
A maior parte das discussões em língua inglesa sobre Parmênides foram influenciadas
pensamento pré-socrático. A visão de Owen (ou as várias versões e adaptações dela)
se tornaram a interpretação
11 Na maior parte dos textos sobre Parmênides em língua inglesa assume que a descrição de Owen (ou
n. 27.
12 Não estou sugerindo que eu possa provar que aquilo que eu chamo de
demais visões baseadas
torna mais compreensível a história da filosofia pré-socrática. A natureza fragmentária da evidência
o menor número possível de preconcepções sobre este material. É impossível ler a filosofia pré-socrática
Qualquer explicação do pensamento de Parmênides deve levar em conta a natureza
estaria dizendo que o que quer que seja objeto de estudo existe.16 Diferentemente de
como os próprios pré-socráticos fizeram. Qualquer interpretação é filtrada por meio de atitudes
filosóficas contemporâneas e colorida pelo conhecimento do que “aconteceu depois” (como evidencia
o próprio nome “pré-socráticos”). Mas isto não me parece significar que nós não possamos ter base
[10] do esti em “Notes”), Gallop (Parmenides ) e McKirahan. Ver também cap. I, n. 9. Em sua obra
existencial em “Eleatic” continua influente. O’Brien rejeita boa parte da interpretação de Owen, mas
ele também opta por uma leitura existencial de esti (ver o que ele diz em “Le Poème de Parménide”).
15 As duas citações ocorrem na p. 163 do vol. I de PP de Barnes.
operadores modais da segunda metade das linhas B2.3 e B2.5. De acordo com Barnes, a afirmação de
Owen, Barnes não pensa que Parmênides estivesse comprometido com o monismo
precederam Parmênides buscavam explicações para os fenômenos físicos do mundo
kosmos quanto das características físicas, astronômicas e meteorológicas dele. A julgar
pelas evidências que sobreviveram, não havia preocupação ou interesse em questões
do tipo “significado, referência e existência”18 que a [11] visão de Owen e de Barnes
atribui a Parmênides. Owen nega especificamente que o alvo de Parmênides fosse
alguma das teorias cosmológicas de seus predecessores (ou os pressupostos embutidos
nessas teorias). Barnes assume uma posição semelhante. Ambos assumem que o alvo
de Parmênides seja a pressuposição de que se possa falar sobre as coisas ou estudá-las
quando elas não existem. Owen afirma que as pessoas comuns que pensam que
algumas coisas não existem ou que existem aqui e não lá são aqueles que tomam o
Parmênides é neutra em relação a (2a) “Se uma coisa é estudada, ela tem a propriedade de existir
necessariamente” e (2b) “É necessariamente verdadeiro que qualquer coisa estudada existe” (PP, vol. I,
das teses filosóficas de seus predecessores. Além disso, se levarmos em conta a
interpretação
sentiam livres para ignorar partes de seu argumento, Parmênides deve parecer
irrelevante para o desenvolvimento futuro da filosofia pré-socrática. Owen não
explica como as teorias pré-socráticas
ao mesmo tempo continuar a fazer cosmologia e se engajar em pesquisa. De acordo
com Barnes, um filósofo que realmente compreendeu Parmênides não mais se
envolveria com
os fenômenos que a ciência tenta compreender e explicar são ficções de nossos
sentidos enganosos. O cientista tem pouco ou nada para investigar – que ele se volte
para a poesia ou para a jardinagem.
posteriores foram claramente influenciados pelos argumentos de Parmênides (a
evidência para esta afirmação será examinada nos capítulos IV e V). A questão é qual
é a natureza desta influência. Na interpretação
tais como os pluralistas e os atomistas, não conseguindo ver a futilidade de se dedicar
à investigação cosmológica, tentam responder a Parmênides aceitando que
e deixar-de-ser não são reais. Não obstante, eles ainda tentam dar uma explicação
racional para a mudança no mundo sensível, insistindo que uma pluralidade de coisas
19 Owen, “Eleatic,” pp. 14-15; Barnes, PP, vol. I, pp. 165-170.
21 Barnes, PP, vol. II, p. 3.
imutáveis subjaz e [12] explica o mundo.
não dão qualquer atenção aos problemas de referência e significado, não fornecendo
nenhuma evidência de que tenham reconhecido essas questões como preocupações
de Parmênides. Portanto, ou eles entenderam Parmênides muito mal ou suas respostas
foram muito frágeis.23 Neste registro, a primeira resposta genuína a Parmênides viria
no Sofista de Platão e esta é a visão da relação entre Platão e o eleatismo aceita pela
maior parte dos comentadores. Além disso, em interpretações como as de Owen e
Barnes, o papel da seção da Doxa do poema de Parmênides fica inexplicado. Owen
diz que o ponto da Doxa é inteiramente dialético. Barnes afirma que a Doxa é
completamente falsa. 24 E, no entanto, (segundo o que nos permitem dizer as
evidências) a Doxa ocupava uma porção significativa do poema de Parmênides e
parece ter influenciado os pensadores pré-socráticos posteriores. Como explicar isso?
Da visão de Owen e Barnes de que a Doxa é inteiramente falsa e tem propósito
dialético, não é possível extrair nenhuma resposta para esta pergunta. Nem há uma
22 Pluralidade não é um problema para Barnes, que duvida que Parmênides fosse um monista numérico.
Mas o pluralismo pré-socrático
usual é afirmar, como faz Schofield em KRS ou Inwood em Empedocles , que os argumentos de
frágil e pouco convincente,” e vol. II, p. 3, onde Barnes reconhece que há “muitas coisas de interesse e
de influência permanente” nos sistemas pré-socráticos
“respostas genuínas à metafísica eleática” elas são “tentativas obstinadas de seguir uma profissão fora de
um capítulo chamado “O Reavivamento Jônico” sugere que essa é sua visão.) Kirk e Raven (em KR, p.
319) forneceram uma visão diferente sobre as lições que os pensadores pré-socráticos
tiveram que aprender com Parmênides. De acordo com eles, cada um dos sistemas que se seguiram a
ele “era, à sua maneira, uma resposta deliberada a Parmênides.” Segundo KR, Parmênides “parecia ...
ter estabelecido de uma vez por todas” quatro princípios que todos os cosmólogos deveriam adotar
(pelo menos até que Platão revelasse “as falácias sobre as quais eles se baseavam”). Esses quatro princípios
eram que “Ser ... não deve surgir do Não-Ser,” que o vazio é impossível, que a “pluralidade não pode
descrição tem sido bastante influente – estes princípios foram certa vez recitados para mim de cor por
alguém que discordava da minha descrição do pensamento pré-socrático
ela é acertadamente refutada na segunda edição de The Presocratic Philosophers (KRS), onde, numa
introdução mais nuançada daqueles filósofos que constituem “A Resposta Jônica,” é afirmado que
24 Owen, “Eleatic,” p. 9; Barnes, PP, vol. I, pp. 156-157.
explicação adequada para esta influência na visão alternativa mais amplamente aceita,
de que a Doxa (como um dualismo de princípios opostos) representa a melhor
explicação falsa que os mortais poderiam dar.25 Nestas interpretações da Doxa, os
filósofos que vêm depois de Parmênides [13] não o teriam compreendido, na medida
em que se dedicaram à cosmologia e endossaram uma pluralidade de entidades básicas
e porque aceitaram os aspectos da Doxa como modelo de uma cosmologia aceitável.26
Segundo a interpretação
compreensão de Parmênides por parte dos pensadores pré-socráticos
sucederam, ou temos que afirmar que eles se sentiram livres para ignorar seus
argumentos enquanto aceitavam algumas de suas premissas sobre o-que-é.27 Embora
25 Esta é a interpretação sugerida por Long em “Principles.” Eu discuto várias explicações sobre a Doxa
era um monista. Porém, como a passagem citada anteriormente demonstra, Barnes claramente entende
que os pré-socráticos
Parmênides seriam compatíveis com a prática da investigação da natureza.
diferença no mundo fenomênico é fadada ao fracasso. Tarán interpreta os pensadores pré-socráticos
fenomênica, apelando para coisas básicas reais que podem ser rearranjadas. Esta proposta de
reconciliação deve fracassar porque (1) ela assume, falsamente, que mais de uma coisa existe e (2) ela
ignora o argumento de Parmênides de que o mundo da mudança fenomênica não é real. Na visão de
Tarán, então, todos os predecessores de Parmênides são refutados, assim como seus sucessores que
tentam explicar o mundo sensível. Esta descrição compartilha com a interpretação de Owen e Barnes
os problemas de não explicar o propósito da Doxa e de dar sentido para as respostas posteriores a
Parmênides. Como Barnes, Tarán deve sustentar que os pré-socráticos
Parmênides, pois eles tentaram fazer exatamente o que (na interpretação de Tarán) seus argumentos
vetavam. Além disso, a explicação de Tarán tem dificuldade com a aceitação parcial dos argumentos
de Parmênides que ele pensa encontrar nas teorias posteriores. Pois, em sua interpretação, o pluralismo
dessas teorias é um problema duplo. Primeiro, Tarán afirma que Parmênides teria defendido que o Ser
é único (ele encontra a afirmação da unicidade em B8.34-41), de modo que a simples pressuposição da
pluralidade pelas teorias pluralistas seria inconsistente com os argumentos de Parmênides. Segundo,
para Tarán, a unicidade do Ser é parte da prova de que o mundo sensível é uma ilusão. Deste modo,
nesta visão, ao mesmo tempo em que aceitam os argumentos contra a geração e a corrupção (que são
parte da prova de que somente o Ser pode ser), os pluralistas (e os atomistas) demonstram sua
incompreensão de Parmênides ao tentar explicar uma ilusão apelando para uma pluralidade impossível.
O fato de aceitarem alguns dos argumentos de Parmênides demonstra que os pré-socráticos
o entenderam em alguma medida e tomaram suas ideias de modo sério, mas sua insistência em
seja possível que esta descrição seja uma representação precisa da história da filosofia
pré-socrática posterior, eu prefiro adotar uma visão mais favorável aos sucessores de
Parmênides. Creio que a interpretação de Parmênides oferecida neste livro permite
[14] isso.28 As dificuldades que eu levanto não provam que as interpretações que eu
continuar se dedicando à investigação da natureza (sem refutar as afirmações de Parmênides de que tal
investigação é impossível) ilustra como o seu entendimento era somente parcial. Os sucessores présocráticos
de Parmênides não só não entenderam a força de seus argumentos em favor do monismo,
mas também falharam em perceber a falsidade da Doxa e, pelo contrário, tomaram erroneamente a
inclusão dela em seu poema como uma sugestão de que a investigação cosmológica era tanto possível
quanto aceitável. Para uma crítica da posição de Tarán de que o objeto de investigação de Parmênides
seria o Ser, ver Robinson, “Ascertainment of the Real,” p. 628, que argumenta que o entendimento por
parte de Tarán de einai como “Ser” (e sua tradução de to eon como “Ser”) “não tem paralelo linguístico.”
28 A versão de Coxon do lugar de Parmênides na história do pensamento pré-socrático é mais ampla
cita Burnet com bom efeito contra esta explicação na p. 398), bem como sua explicação da Doxa (ver
cap. III). Além disso, também para Coxon, os pensadores pré-socráticos
como não tendo apreciado completamente a força dos argumentos de Parmênides, pois eles não
discuti são falsas. Parmênides pode ter sido um inovador historicamente independente
e um pensador muito à frente de seu tempo. Os pensadores pré-socráticos posteriores
podem não ter compreendido a força de seus argumentos ou terem se sentido livres
para ignorá-los. Entretanto, penso que uma interpretação que acomoda mais
seguramente as teses de Parmênides na história da filosofia pré-socrática e que não
atribui aos pensadores pré-socráticos que o sucederam uma incompreensão
fundamental dos argumentos de Parmênides ou uma aceitação incompleta de suas
doutrinas é tanto desejável quanto possível.29 Neste livro, eu defendo uma explicação
alternativa de Parmênides [15] e da história do pensamento pré-socrático posterior.
Rejeitando a tese de que o esti de Parmênides é existencial, eu defendo que o interesse
de Parmênides é explorar a natureza de entidades metafísicas básicas em uma
explicação do mundo conforme o testemunho dos sentidos, um interesse em que a
Doxa tem um importante papel. Em minha visão, Parmênides está engajado em uma
análise metafísica da possibilidade do tipo de investigação da natureza a que se
dedicaram seus predecessores e suas conclusões são de grande interesse e importância
para os filósofos que vieram depois dele. Sua obra se encontra, assim, firmemente
assentada na tradição do pensamento filosófico e da investigação pré-socrática. Uma
vez que, como eu afirmo, Parmênides não era um monista numérico (embora ele
tenha sido, sim, um monista de outro tipo, adotando o que eu chamo de monismo
predicacional), o pluralismo das teorias posteriores não é uma dificuldade que precisa
ser superada ou explicada. Com efeito, eu considero este pluralismo como evidência
da minha explicação de Parmênides, junto com a preocupação que os pré-socráticos
que o sucederam têm em mostrar que suas substâncias básicas são entidades genuínas
que atendem aos critérios parmenidianos. Além disso, eu defendo que há uma lição
argumentam contra suas conclusões, mas simplesmente afirmam, diante delas, que explicações racionais
sobre o mundo sensível poderiam ser dadas.
29 Pode ser sugerido que a afirmação do pluralismo numérico diante de um argumento sobre o-que-é
conclusões, se possível.
positiva a ser extraída da Doxa. Embora seja enganosa, ela serve como modelo para
uma explicação bem-sucedida do mundo testemunhado pelos sentidos. Todos estes
aspectos de interpretação se combinam e permitem uma explicação das teses de
Parmênides e de seu papel na história do pensamento pré-socrático que reconhece
tanto sua imensa importância para a filosofia pré-socrática (e platônica), quanto o vê
como parte da tradição pré-socrática, alguém que está ciente de seus predecessores e
os critica, além de colocar importantes problemas filosóficos para seus sucessores.
2. CRONOLOGIA
esclarecedor pensar nele como trabalhando dentro de uma tradição de teses sobre o
que existe e sobre como podemos entender o mundo conforme
sentidos.
Parmênides, serão relatados no decorrer do poema. Eles e sua influência sobre o
pensamento pré-socrático
57 Sobre a conexão entre ser de modo confiável e o qualificar-se como uma verdade bem persuasiva,
|
edições