Emirado de Bari: diferenças entre revisões

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O '''Emirado de Bari''' foi um estado [[sarracenos|sarraceno]] ([[emirado]]) de curta duração centrado na cidade de [[Bari]], no sul de [[Itália]], que existiu entre 847 e 871. Foi o episódio mais longo da [[história do islamismo no sul da Itália]].
 
==AntecendentesAntecedentes e primeiros anos==
Bari começou por ser alvo de assaltos de [[pirata]]s [[Piratas da Barbária|berberes]] e [[árabes]] no final de 840 ou início de 841, chegando a ser ocupada brevemente.{{HarvRef|Kreutz|1996|p=25}} Segundo o historiador [[Persas|persa]] do {{séc|IX}} [[al-Baladhuri]], Bari foi conquistada ao [[Império Bizantino]] por {{ilc|Kalfun||Kalfün|Khalfun}}, um ''[[{{ilc|mirva||mirwah]]''}}, — possivelmente um [[Berberes|berber]], servo ou escravo fugido — do emirado [[Aglábidas|aglábida]] de [[Ifríquia]] ([[África]]) ou dos territórios muçulmanos da [[Sicília]]. A conquista foi vista como pouco importante pelos contemporâneos muçulmanos, tendo sido levada a cabo por uma figura menor sem o apoio de qualquer outro estado muçulmano. Apesar disso, o sucessor de Kalfun, {{ilc|Mufarrag ibn Sallam||Mufarrag}}, enviou pedidos ao [[califa]] [[Abássidas|abássida]] [[al-Mutawakkil]] em [[Bagdade]] e ao seu governador provincial do [[Egito]] para que lhe fosse atribuído o título de [[uale]] (''wali''; governador de uma província do [[califado]]), o qual acabaria por ser concedido ao seu sucessor.{{HarvRef|Kreutz|1996|p=38}} Mufarrag aumentou a influência muçulmana e expandiu o território do emirado.
 
==Reinado de Sawdan==
O terceiro e último emir de Bari foi [[Sawdan]], que subiu ao poder cerca de 857, depois do assassinato do seu antecessor Mufarrag. Sawdan invadiu as terras do principado [[Lombardos|lombardo]] de [[Ducado de Benevento|Benevento]], forçando o príncipe {{ilc|Adelgiso de Benevento||Adelchis de Benevento}} a pagar-lhe tributo. Em 864, o emirado foi finalmente reconhecido oficialmente pelo califado, Em meados da década de 860, o monge [[Francos|franco]] [[Bernardo, o Sábio]] e dois acompanhantes pararam em Bari quando iam a [[Jerusalém]] em [[peregrinação]]. O seu pedido a Sawdan por cartas de [[salvo-conduto]] para todo o caminho através do [[Egito]] e da [[Terra Santa]] foi atendido. Segundo o ''[[Itinerário de Bernardo]]'' (''Itinerarium Bernardi''), o relato da peregrinação de Bernardo, o ''civitatem sarracenorum'' (cidade sarracena) tinha pertencido aos "beneventanos".{{HarvRef|name=Kreutz39|Kreutz|1996|p=39}}
 
A obra [[Língua hebraica|hebraica]] ''[[Crónica de Ahimaaz]]'' conta que Sawdan, o último emir de Bari, governou a cidade de forma sensata e civilizada, e tinha boas relações com o académico [[Judeus|judeu]] Abu Aaron. No entanto, as crónicas monásticas cristãs apresentam o emir como ''"nequissimus ac sceleratissimus"'' (intratável e perverso).<ref name=Kreutz39 /> É sabido que que os assaltos muçulmanos a cristãos (e também a judeus) não cessaram durante o reino de Sawdan. Há evidências de que na região a cultura florescia nesse tempo, e Giosuè Musca sugere que o emirado foi muito benéfico para a economia local{{HarvRef|name=Drew135|Drew|1965|p=135}}{{HarvRef|name=Kreug761|Kreuger|1966|p=761}} e durante a sua vigência floresceram o tráfico de escravos (o que escandalizava alguns eclesiáticos piedosos como Bernardo)<ref name=Kreutz39 /> e o comércio de [[vinho]] e [[cerâmica]].<ref name=Drew135 /><ref name=Kreug761 /> No reinado de Sawdan, a cidade de Bari foi embelezada com uma mesquita, palácios e outras obras públicas.
 
Em 859, {{Lknb|Lamberto|I|de Espoleto}}, [[Ducado de Espoleto|duque de Espoleto]] juntou-se a Gerardo, conde dos [[Marsos (italiotas)|Marsos]], Maielpoto, ''[[gastaldgastaldo]]'' de [[Telese Terme|Telese]], e WandelbertVandelberto, ''gastald''gastaldo de [[Bojano]], para impedir Sawdan de reentrar em Bari depois de uma campanha contra [[Cápua]] e a [[Terra di Lavoro]]. Apesar da batalha que se seguiu ter sido sangrenta, Sawdan conseguiu voltar à sua capital.{{Carece de fontes|data=novembro de 2011}}
 
O emirado de Bari durou o tempo suficiente para estabelecer relações com os seus vizinhos cristãos. Segundo o ''{{ilc|Crónica de Salerno||Chronicon Salernitanum||Chronicum Salernitanum|CrónicaCrônica de Salerno}}'' (''CrónicaChronicon de SalernoSalernitanum''), o emirado enviou embaixadores (''legati'') a [[Salerno]], os quais ficaram hospedados no palácio episcopal, apesar do desagrado do bispo.<ref name=Kreutz39 /> Bari também serviu de refúgio a pelo menos um exilado político, um rival do [[Sacro Império Romano-Germânico|sacro imperador romano]] {{Lknb|Luís|II|da Germânia}}, que fugiu da sua terra natal, Espoleto, durante uma revolta. Em 865, Luís, talvez pressionado pela Igreja, sempre desconfortável com um estado muçulmano em Itália, emitiu umaum {{ilc|capitulariumcapitulário||capitularium|capitular}} ([[decreto]]) ordenando aos soldados do norte de Itália que se concentrassem em [[Lucera]] na primavera de 866 para lançarem um assalto a Bari. As fontes contemporâneas são omissas sobre esta força ter chegado a marchar sobre Bari, mas no verão desse ano o imperador visitou a [[Campânia]] na companhia da sua imperatriz [[Engelberga]], tendo sido pressionado veementemente pelos príncipes lombardo Adelgiso de Benevento, {{ilc|Guaifério de Salerno||Gaiferos de Salerno|Guaifer de Salerno}} e {{Lknb|Landolfo|II||de Cápua}} para atacar novamente Bari.{{HarvRef|Kreutz|1996|p=40}}
 
==Queda==
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NotaNT|
1=A captura de Matera e Oria são referidas nas crónicas dos monges [[Erchemperto]] e [[Lupo Protoespatário]].<ref name=Kreutz172 />
}} A conquista destas duas cidades pode ter dificultado severamente as comunicações entre Bari e [[Tarento]], o outro estado muçulmano no sul de Itália. Luís colocou uma guarnição em [[Canosa di Puglia|Canosa]], na fronteira entre Benevento e Bari, mas retirou-se para Benevento em março de 868.<ref name=Kreutz41 /> É provável que tenha sido nesta altura que Luís entrou em negociações com o novo [[Império Bizantino|imperador bizantino]] {{Lknblknb|Basílio|I, o Macedônio}} {{nwrap|r.|867|886}}. Essas negociações aparentemente envolviam o acordo do casamento de uma filha de Luís com o filho mais velho de Basílio I, Symbatios[[Constantino (filho de Basílio I)|Constantino]], em troca de assistência naval por parte dos bizantinos na tomada de Bari. OA ''ChroniconCrónica Salernitanumde Salerno'' é inconsistente no que se refere a quem tomou a iniciativa de tais negociações, pois começa por relatar que foi Luís, mas depois refere que foi Basílio I.{{HarvRef|Kreutz|1996|p=42}}
 
O ataque conjunto de Luís e da [[marinha bizantina]] foi acordado para o final do verão de 869 e Luís permaneceu em Benevento a planear as operações pelo menos até junho. A armada bizantina, composta de 400 navios (a crer nos ''[[{{ilc|Anais Bertinianos||Annales Bertiniani]]}}'') e comandada por [[Nicetas Orifa]] chegou com expetativa de que Luís entregasse a mão da sua filha imediatamente,{{HarvRef|Kreutz|1996|p=42}} mas ele recusou-se a fazê-lo, não se sabe porque razão, mas talvez porque Nicetas se recusou a reconhecer o seu título imperial, chamando-lhe apenas "rei".{{HarvRef|name=Jenk187|Jenkins|1987|p=187}} Luís refere-se posteriormente numa carta ao "comportamento insultuoso" do almirante bizantino. No entanto, também é possível que Luís tenha agido assim por causa da frota bizantina ter chegado muito tarde, já no final do outono,{{HarvRef|Kreutz|1996|p=44}} quando as tropas de Luís se encontravam dispersas nos quartéis de inverno. A armada bizantina retirou-se sem chegar a participar no cerco.<ref name=Jenk187 />
 
Em 870, os muçulmanos de Bari intensificaram os seus [[raide]]s, chegando a devastar a [[península de Gargano]], incluindo o {{ilc|[[Santuário dedo Sant'Angelo||SantuárioMonte de São Miguel Arcanjo|Santuário de Gargano}}]]. O imperador Luís respondeu atacando o interior dos territórios muçulmanos na [[Apúlia]] e [[Calábria]], mas evitando as povoações maiores, como [[Bari]] e [[Tarento]]. Ao que parece, algumas cidades foram libertas do controlo muçulmano e todos os bandos muçulmanos encontrados foram esmagados. Provavelmente encorajado por estas vitórias, Luís atacou Bari com uma força terrestre de lombardos e francos apoiada por uma frota [[Croácia|croata]] de [[esclavenos]]. Em fevereiro de 871, a [[cidadela]] foi tomada e Sawdan foi capturado e levado para Benevento em cadeias.{{HarvRef|Kreutz|1996|p=45}} O relato que se encontra na obra ''[[DeSobre Administrandoa Administração ImperioImperial]]'' do imperador bizantino [[Constantino VII{{lknb|Constantino&nbsp;|VII Porfirogénito]]}} {{nwrap|r.|913|959}} sobre o papel determinante dos bizantinos na queda da cidade é provavelmente uma invenção.{{HarvRef|Kreutz|1996|p=173}}
 
{{Refbegin|sec=Notas e referências}}