Constâncio II: diferenças entre revisões

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Constâncio II nasceu a 7 de agosto de 317 em [[Sirmio]] na [[Panónia]], segundo filho do imperador romano Constantino&nbsp;I e de Fausta, e recebeu o nome de seu avô paterno, o [[imperador]] [[tetrarquia|tetrárquico]] [[Constâncio Cloro]]. Constantino e Fausta tiveram outros dois filhos, [[Constantino II]] e [[Constante I]], e duas filhas, [[Constantina (filha de Constantino)|Constantina]] e [[Helena (esposa de Juliano)|Helena]].<ref>{{citar livro|título = The Cambridge Ancient History - Volume XIII The Late Empire 337-425|sobrenome = Cameron|nome = Averil|edição = |local = |editora = Cambridge University Press|ano = 1925|página = 11-32|isbn = 0-521-30200-5.}}</ref>
 
A 13 de Novembro<ref name=":0">''AE''&nbsp;1937, 119. Anche la data dell'8 novembre è stata proposta (Lendering).</ref> de 324, na [[Nicomédia]], Constâncio foi elevado à categoria de [[César (título)|César]], com a idade de sete anos; dois anos depois, realizou o seu primeiro consulado, juntamente com seu pai. Quando Constantino II foi enviado por seu pai para lutar na fronteira do [[Danúbio]], em [[332]], Constâncio foi enviado para governar a [[Gália]]; o irmão mais velho obteve uma vitória sobre os [[Godos]] que também permitiu a Constâncio reivindicar o título de Germânico Máximo (a prática de assumir títulos obtidos de colegas governantes, de origem tetrárquica, permitiu-lhe obter o título de Sarmático Máximo após a vitória de Constante sobre [[Sármatas]] em 338).<ref name=livius>Lendering</ref>
 
Em 335, com a elevação a césar do neto [[Dalmácio (césar)|Dalmácio]] (filho do meio-irmão [[Flávio Dalmácio|Dalmácio]]), Constantino&nbsp;I delineou aquela que deveria ter sido a divisão do [[Império romanoRomano]] após a própria morte: para os quatro imperadores - Constantino II, Constante I, Dalmácio e Constâncio II - foram atribuídas quatro porções do império, respectivamente a província correspondente à [[Prefeitura pretoriana da Gália|prefeitura da Gália]], [[Prefeitura pretoriana da Itália e África|Itália e África]], a Grécia, e por fim, a Constâncio, o [[Prefeitura pretoriana do Oriente|Oriente]].<ref name=livius />
 
Em [[336]], na altura da celebração da ''tricenalia''tricenália de Constantino, Constâncio desposou em [[Constantinopla]] a filha de [[Júlio Constâncio]], meio irmão de Constantino, e de [[Gala (esposa de Júlio Constâncio)|Gala]], reforçando assim a legitimidade por parentesco, bem como a tomada da [[dinastia constantiniana]] do Império.<ref name=livius />
 
=== Situação do império no início do reinado de Constâncio ===
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=== Ascensão ao trono ===
Constantino I morreu a 22 de maio de [[337]], quando preparava uma campanha militar contra os [[Império Sassânida|sassânidas]]: não nomeou o seu sucessor, mas a situação viu o poder repartido entre os seus [[césar|césares]]. Constâncio, que estava comprometido na [[Mesopotâmia]] setentrional a supervisionar a construção de fortificações fronteiriças,{{HarvRef|name=b12|Bury|1925|p=12}} apressou-se a voltar a [[Constantinopla]], onde organizou e presenciou a cerimónia fúnebre do pai: com este gesto reforçou o seu direito como sucessor e obteve o apoio do exército, componente fundamental da política de Constantino.<ref>''Chronicon paschale'', p. 533, 5-17;''Passio Artemii'', 8 (8.12-19);Giovanni Zonara,&nbsp;xiii.4, 25-28.</ref>
 
Durante o verão de 337, houve um massacre por mãos do exército, dos membros masculinos da [[dinastia Constantiniana]] e de outros representantes de grande relevo do estado: apenas os três filhos de Constantino e dois de seus netos crianças ([[Constâncio Galo|Galo]] e [[Juliano (imperador)|Juliano]], filhos do meio-irmão [[Júlio Constâncio]]) foram poupados.<ref>{{harvnb|Giuliano|270 C (3.5-8, p. 215)}}. In particolare furono uccisi i fratellastri di Costantino I, [[Giulio Costanzo]], [[Nepoziano]] e [[Flavio Dalmazio (console 333)|Dalmazio]], alcuni loro figli, come [[Flavio Dalmazio (cesare)|Dalmazio Cesare]] e [[Annibaliano]], e alcuni funzionari, come [[Optato]] e [[Ablabio]].</ref> As razões por trás deste massacre não são claras: de acordo com Eutrópio Constâncio não estava entre os seus promotores, mas não estava tão certo deste se opôr a ela e perdoar os assassinos;{{HarvRef|name=eut9||Eutropio|x.9}} [[Zósimo]] afirma que Constâncio foi o organizador do massacre.<ref name="B">{{citar livro|nome = Zosimo|sobrenome = |título = Ἱστορία νέα (Storia nuova)}}</ref> Em setembro do mesmo ano, os restantes três césares (Dalmácio tinha sido vítima da purga) reuniram-se em [[Sirmio]] na [[Panónia]], onde a 9 de setembro foram aclamados imperadores pelo exército, e dividiram o império: Constâncio viu reconhecida a soberania do Oriente.<ref name=eut9 />
 
A divisão de poder entre os três irmãos não durou muito tempo: Constantino II morreu em [[340]], enquanto ele tentava derrubar Constante, e Constâncio ganhava os [[Balcãs]]; Constante foi derrubado em 350 pelo usurpador [[Magnêncio]], e Constâncio torna-se o único imperador.<ref name=eut9 />
 
=== Confronto com os Sassânidas ({{nwrap||338-|350)}} ===
 
[[Imagem: Shapurii.jpg|thumb| Moeda dedo [[Sapor IIsassânida]], governante dos [[SassânidasSapor II]] ({{nwrap|r.|309-|379)}}, um contemporâneo de Constâncio: todo o reino de Constâncio foi caracterizado por hostilidade de alta e baixa intensidade com os vizinhos de Leste, com os dois soberanos que obtiveram vitórias e derrotas, sem nunca dar o golpe decisivo.]]
 
Depois de ser proclamado imperador, Constâncio foi para [[Antioquia]], na [[Síria]], a cidade que foi a [[capital]] durante os últimos anos como [[César (título)|César]], onde ele poderia lidar melhor com a fundamental fronteira leste do que se permanecesse na capital imperial de [[Constantinopla]]. Aqui, manteve-se de 338 para 350.{{HarvRef|name=bury11|Bury|1925|p=11}}
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Durante todo o tempo de seu reinado Constâncio II esteve envolvido em guerras romano-persianas contra o rei sassânida [[Sapor II]]. Se antes de morrer [[Constantino I]] pretendia resolver de uma vez por todas o problema da fronteira oriental, tocou a Constâncio resolver este problema, obtendo resultados variáveis. Havia dois principais pontos de colisão entre os dois grandes impérios: a fronteira leste, com a contenção da província da Mesopotâmia, e o controle do reino da Armênia, que estava entre as órbitas das duas potências vizinhas.<ref name=bury11 />
 
Constâncio primeiro enfrentou o problema da Arménia. Após a morte de [[Tirídates III]], fiel aliado dos Romanos em todo o seu longo reinado, os seus sucessores foram influenciados pelo partido pró-persa e o país tinha entrado na esfera de influência dos [[sassânidas]]. Constâncio foi capaz de ganhar a lealdade do soberano [[Ársaces II da Armênia|Ársaces II]] (''Arshak'') e da aristocracia arménia através dos canais diplomáticos, já em [[341]], graças aos dons prodigaliprodigais concedidos à classe dominante do país, que ficou sob influência romana para todos os anos 340.<ref name=b12 /><ref>Ársaces aceitou pagar um tributo anual ao Império; em troca Constâncio concedia-lhe para esposa Olímpia (entre 350 e e 360), filha do prefeito [[Ablavio]] (condenado à morte por Constâncio com uma acusação falsa por ter sido um apoiante do bispo [[credo niceno|niceno]] de [[Alessandria d'Egitto]] [[Atanasio di Alessandria|Atanasio]]), precedentemente amigo de [[Costante I]] ([[William Smith (lessicografo)|William Smith]], ''s.v. Arsaces II'' in ''[[Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology]]'', volume 1, Boston 1849, p. 363).</ref>
 
O conflito na Mesopotâmia era totalmente militar, mas Constâncio fez, neste caso, uma escolha original, pelo menos de acordo com a estratégia romana consolidada: em vez de escolher a opção da maciça campanha militar destinada a atacar o coração do Estado inimigo, como previa fazer Constantino e como havia mais tarde feito [[Juliano (imperador)|Juliano]], Constâncio preferiu contar com uma linha de fortificações de fronteira dispostas em profundidade, girando em cima delas para conter ataques sassânidas; Por isso, era uma guerra defensiva, em que foram evitadas, tanto quanto possíveis manobras em campo aberto com o exército para concluir. Essa escolha, embora muito eficaz e barata em termos de mobilização de tropas, não era certa para atender a expectativa de vitórias decisivas que existiam no mundo romano;<ref>É significativo o fato que em 340 alguns datarem o [[ItinerariumItinerário AlexandriAlexandrino]], uma ópera dedicada a Constâncio e celebrante da vitória de [[Alexandre Magno]] contra os [[Persas]], mas originalmente também contém a descrição da campanha oriental de [[Trajano]] contra os Partas{{Harvnb|Bury|1925|p=14}}</ref> entre os principais episódios da guerra havia algumas vitórias obtidas por seu General, o que lhe permitiu se orgulhar em 338 do título de Pérsico e em 343 do de ''Adiabênico Máximo''<ref name=":0" />, os dois cercos incorridos pela fortaleza de Nísibis ([[Nusaybin]]) (346 e 350, após o cerco do verão de 337) e o único confronto militar de grande escala, a batalha do Singara (344 ou 348), teve lugar perto de outra fortaleza de fronteira, em que a vitória de Constâncio foi diminuída pela falta de disciplina das tropas.{{sfn|Bury|1925|p=13}}
 
Quando em 350 se deu a rebelião de [[Magnêncio]] no Ocidente, Constâncio estava em Antioquia, mas as suas forças estavam ocupadas a defender Nísibis do terceiro cerco sassânida. Apesar da ameaça representada por Magnêncio, Constâncio deu prioridade à fronteira oriental e esperou que Sapor se retirasse, após quatro meses, antes de voltar ao Ocidente para enfrentar o usurpador. No entanto, o proposto ataque sassânida para 351 não aconteceu, enquanto Sapor estava ocupado a sufocar a revolta do povo do [[Afeganistão]].{{sfn|Bury|1925|p=14}}
 
=== Usurpação de Magnêncio ({{nwrap||350-|353)}} ===
[[Imagem:Double Centenionalis Magnentius-XR-s4017.jpg|thumb|leftesquerda|Moeda cunhada de [[Magnêncio]], o usurpador que derrubou Constante&nbsp;I (350), reinou sobre a [[Britânia (província romana)|Britânia]], [[Gália]] e [[Hispânia]], apenas para ser derrotado por Constâncio&nbsp;II (353).]]
 
A 18 de janeiro de 350, o [[augusto (título)|augusto]] do Ocidente, {{lknb|Constante|I}}, foi derrubado e morto por um de seus generais, Flávio Magnêncio, que se proclamou imperador em [[Autun]] e foi reconhecido na [[Britânia (província romana)|Britânia]], [[Gália]] e [[Hispânia]]. Constâncio estava na época ocupado na fronteira oriental, a lutar contra a ofensiva sassânida sobre Nísibis, e decidiu não sair imediatamente para defrontar diretamente o usurpador.{{HarvRef|name=z722|Giovanni Zonara|xiii.7.22}}
 
[[Imagem:Maiorina-Vetranio-siscia RIC 281.jpg|thumb|[[Vetrânio]] proclamou-se imperador em março de [[350]], oscilou entre Constâncio e outro usurpador Magnêncio, mas foi enfim deposto por Constâncio em dezembro daquele mesmo ano.]]
 
A 1º de março do mesmo ano, o [[Mestre dos soldados]] [[Vetrânio]] proclamou-se imperador, por sua vez, por instigação de [[Constantina (filha de Constantino)|Constantina]] (irmã de Constante e Constâncio); este foi reconhecido imperador pelas tropas do Danúbio. Constâncio reconheceu Vetrânio como seu colega, enviando-lhe o diadema imperial e o dinheiro, enquanto, provavelmente, tentava comprometer Magnêncio opondo-lhe outro usurpador; o jogo era muito perigoso, prevendo-se um jogador adicional: Vetrânio, na verdade, vacilou na sua lealdade para com Constâncio quando Magnêncio lhe propôs uma aliança.<ref name=z722 />
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Para consertar as coisas no Oriente, Constâncio dirige-se com o exército do Ocidente. Em Heracleia Síntica na [[Trácia]], reuniu os embaixadores de Magnêncio, os quais lhe ofereceram o reconhecimento como colega e o selo de uma aliança com um casamento duplo, de Magnêncio com Constantina e de Constâncio com a filha de Magnêncio; a alternativa era a guerra civil. Constâncio prendeu como rebeldes todos os embaixadores menos um, que enviou a Magnêncio com a sua resposta negativa indignada. De seguida, foi para Sérdica ([[Sófia]], [[Bulgária]]), onde encontrou Vetrânio e seu exército.<ref name=z722 /> A reunião era para ser o reconhecimento da existência de dois imperadores legítimos, mas transformou-se na deposição do usurpador antigo. Constâncio construiu uma plataforma na planície, na qual subiu com Vetrânio e, antes que os exércitos aliados, começou um discurso no qual ele disse que um filho do grande [[Constantino]] era digno de reger o império sozinho: com os gritos de aclamação das tropas, Vetrânio percebeu que tinha sido enganado, tirou a coroa da cabeça e, ajoelhou-se e reconhece Constâncio único imperador (25 de Dezembro de 350).{{sfn|Bury|1925|p=16}}
 
[[Imagem: Solidus-Constantius Gallus-thessalonica RIC 149.jpg|thumb|esquerda|[[Constâncio Galo]] era primo e cunhado de Constâncio, foi proclamado [[César (título)|César]] do Oriente (351) e esposo de [[Constantina (filha de Constantino)|Constantina]], irmã de Constâncio, mas foi depois deposto e executado (354).]]
 
A deposição de Vetrânio teve lugar em nome da proclamação dos direitos dinásticos de Constâncio: enquanto o filho de Constantino&nbsp;I, Constâncio alegou ter direito ao reino. Como parte desta política dinástica deve ser considerada também a eleição de [[César (título)|César]] do Oriente, a 15 de março de 351 em Sírmio, de um outro membro da [[dinastia constantiniana]], primo e cunhado de Constâncio, [[Constâncio Galo|Galo]]. Com a expectativa de ser comprometido, no Ocidente contra Magnêncio, Constâncio queria deixar uma forte presença no Oriente, e então ele virou-se para o único parente adulto restante para afirmar o interesse na situação da fronteira com os [[sassânidas]]; querendo enfatizar os laços familiares e dinástica com Galo, o César recebeu o nome de Constâncio,<ref>Teofane Confessore [[s:la:Chronographia (Theophanes) - AM 5842|AM 5842]]</ref>, foi nomeado [[cônsul]] com o imperador nos anos 352, 353 e 354, e desposou [[Constantina (filha de Constantino)|Constantina]], irmã de Constâncio. O confronto tornou-se ainda propaganda: a guerra civil tornou-se uma "guerra santa" contra o assassino de Constante, apareceram sinais divinos (uma cruz no céu de Jerusalém, a 7 de maio de 351) em favor de Constâncio.<ref>''[[Roman Imperial Coinage]]'', VIII, 282B, 282D, 282G, 282E.</ref>{{sfn|Bury|1925|p=17}}
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O ano de 353 viu o fim da aventura de Magnêncio. A propaganda dinástica de Constâncio teve o seu auge quando o César de Magnêncio, [[Decêncio]], retornando com o seu exército de uma derrota contra os [[Alamanos]],<ref name=":3">{{citar web|URL = https://it.wikipedia.org/wiki/Ammiano_Marcellino|título = Ammiano Marcellino|data = |acessadoem = |autor = |publicado = |Volume = xvi. 12.5.}}</ref> tinha negado o acesso a [[Tréveris]],<ref name=":3" /> cidade que devia a sua prosperidade ao ser escolhida como a capital pelos [[Dinastia constantiniana|constantinianos]], e que nesta ocasião abandonou o usurpador. Magnêncio foi forçado a lutar na Batalha de Monte Seleuco, onde foi derrotado; suicidou-se em Lyon a 10 de agosto e a sua cabeça foi levada pela cidade para mostrar a sua derrota.<ref name=":3" /> Constâncio passou em [[Arles]] o inverno, comemorando simultaneamente a derrota do usurpador e o trigésimo aniversário da sua eleição como César.{{sfn|Bury|1925|p=22}}
 
=== Queda e morte de Galo ({{nwrap||353-|354)}} ===
[[Imagem:Constantius II - solidus - antioch RIC viii 025.jpg|thumb|esquerda|Moeda[[Soldo (moeda)|Soldo]] de Constâncio II, em celebração do seu décimo quinto ano de reinado.]]
 
Em [[354]] Constâncio ordenou a morte do [[César (título)|césar]] do Oriente [[Constâncio Galo]], cuja conduta estava em desgraça devida em parte ao seu governo e em parte a maquinações de algum alto funcionário da corte de Constâncio.
 
Alguns funcionários, que queriam derrubar Galo para obter ganhos pessoais - Dinâmio, Picêncio, Caio Ceiônio Rúfio Volusiano Lampádio, o [[mestre da cavalaria]] Arbício e [[prepósito do cubículo sagrado]] Eusébio -, Constâncio convencido de que [[Ursicino (general)|Ursicino]] queria causar um motim contra Galo com o objectivo de colocar o seu filho no trono: aconselharam então o Imperador a dividir o Cesar pelo seu mestre da cavalaria antes de intervir contra Galo.<ref name=":3" />
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Na primavera de 354, enquanto esta aquartelado em [[Milão]] após uma campanha bem sucedida contra os [[Alamanos]], Constâncio chama Ursicino à corte, com a desculpa de ter que organizar uma campanha contra os [[sassânidas]], e substituiu-o por um homem de confiança. Ao mesmo tempo, consciente dos processos ordenados por Galo, ele decide dispensar o prefeito pretoriano do Oeste Vulcácio Rufino, que era tio de Galo e meio-irmão de sua mãe Gala, e substitui-o por alguém mais confiável, um dos conspiradores contra Galo.<ref name=":4" />
 
[[Imagem:Viaggio e arresto di Costanzo Gallo.png|thumb|upright=1.4|Viagem de [[Constâncio Galo]] de [[Mediolano]], paragem em Petóvio e morte em [[Pula (Croácia)|Pula]].]]
 
Constâncio chamou agora o primo e a irmã a Mediolano: Galo mandou á frente a esposa, esperando que esta pudesse interceder por ele ao seu irmão, mas [[Constantina (filha de Constantino)|Constantina]] morre de febre durante a viagem, em Ceno Galicano na [[Bitínia]]. Galo, com medo, queria ficar em [[Antioquia]], mas foi convencido a viajar para Mediolano pelo tribuno dos escutários (''tribunus scutariorum'') [[Escudilo]], que revelou que Constâncio tinha intenção de eleva-lo ao posto de augusto em antecipação de futuras campanhas nas províncias do norte. O Cesar, então, dirige-se a [[Constantinopla]], onde entra como um advento (a entrada cerimonial do soberano na província ou na cidade); aqui ele organiza corridas de bigas e é coroado o campeão,num ato aparentemente pertencente às prerrogativas imperiais,visto que Constâncio, com a notícia, fiquei chocado. Galo tinha de fato o apoio das tropas:algumas legiões de Tebas, aquarteladas na [[Trácia]] para o inverno, aconselharam-no a permanecer sob sua proteção e a não se mover da região. Constâncio teve o cuidado de enviar alguns oficiais a seu primo, que na verdade, teve a tarefa de controlar os movimentos, e ordenou-lhe que retira-se as guarnições do caminho que Galo haveria de seguir, de modo a tornar impossível que este apelasse aos soldados.<ref name=":3" />
 
Galo foi forçado a deixar o seu exército em [[Adrianópolis]], e a marchar para [[Ptuj]], onde algumas tropas de elite lideradas por [[Barbácio]], um dos conspiradores contra ele, e Apodémio cercaram a casa onde ele estava: Barbácio prendeu-o, privou-o da insígnia imperial vestindo-o como um simples soldado, e garantindo a sua segurança, mandou-o sob a guarda de [[Pula (Croácia)|Pola]]. As alegações contra Galo - realizadas pela grande camareiro Eusébio, pelo notário [[Pentádio (notário)|Pentádio]] e pelo tribuno da guarda [[Malobaldo|Malobaudo]] - em causa os julgamentos por traição estabelecidos em Antioquia e a morte de [[Domiciano]] e Môncio Magno. Galo pensou culpar pela condenação à morte morte a sua falecida esposa, Constantina, mas Constâncio estava irritado pelo julgamento e ordenou a execução de seu primo, enviando Sereniano para lhe comunicar, juntamente com Pentádio e Apodemo, a sentença de morte.<ref name=":3" />
 
=== Campanha contra os Alamanos e usurpação de Silvano ({{nwrap||354-|355)}} ===
[[Imagem:Missorium Kerch.jpg|thumb|leftesquerda|Constâncio[[Missório II,de retratadoKerch]] sobreretratando discoConstâncio de Kerch,II ladeado por um soldatosoldado cujo escudo está decorado com o monograma de Cristo e da Vitória com coroa de louro e ramo de palmeira.]]
 
[[354]] foi caracterizado pela campanha de Constâncio contra os [[alamanos]] que haviam saqueado os territórios romanos sem que [[Magnêncio]] nem [[Decêncio]] fossem capazes de combatê-los. Constâncio avançou para norte para combater com os [[Brísgavos]],<ref name=":3" /> a mais meridional das tribos Alamanas. O imperador foi capaz de subjugar as tribos bárbaras e, depois de assinar um tratado com o rei [[Gundomado]] e [[Vadomário]], voltando para o inverno em ''[[Mediolano]]''. No ano seguinte, em [[355]], foram os Lenziensilencienses a perturbar os súbditos do império: desta vez Constâncio não entrou em campo em pessoa, mas enviou o próprio [[mestre da cavalaria]] (''magister equitum'') Arbécio para erradicar esta ameaça, coisa que o general fez derrotando as tribos germânicas no [[Lago de Constança]],<ref name=":3" /> e ganhando o título de ''Alamannicus maximus''.<ref name=":5">''CIL'' III, 3705</ref>
 
Uma outra ameaça ao reinado de Constâncio foi a usurpação de [[Silvano (usurpador)|Cláudio Silvano]], o general de [[Magnêncio]] que foi aprovado pelo imperador e que Constâncio tinha premiado com a atribuição do grau de [[mestre dos soldados]] (''magister militum'') e enviado para a [[Gália]]. A Gália tinha sido sempre, desde os dias de [[Constâncio Cloro]] (o avô de Constâncio II), um [[César (título)|César]] ou [[Augusto (título)|Augusto]] residente no seu território: ela permitia ao Estado Romano uma reacção imediata às frequentes incursões dos bárbaros, dando aos gauleses uma maior sensação de segurança. Neste contexto, deve ser vista como tendo apoiando a usurpação de Magnêncio (após a morte de [[Constantino II]], o governante era [[Constante I]], que viveu principalmente em Itália) e o posteriormente abandonado em favor do imperador legítimo Constâncio. O imperador, no entanto, estabeleceu a sua capital em Mediolano (Milão), longe da Gália, criando insatisfação entre as tropas gaulesas que permitiram a rebelião do seu mestre dos soldados.<ref name=":5" />
 
Silvano era de fato a vítima das intrigas da corte de Constâncio: de acordo com Amiano, o [[prefeito pretoriano]] Volusiano Lampádio e o [[prepósito do cubículo sagrado]] Eusébio usaram uma esponja para alterar uma carta enviada por Silvano a alguns dos seus amigos em Roma,<ref name=":3" /> de modo a que a carta corrupta sugerisse que Silvano estava tentando ganhar apoio na cidade em vista a um golpe de Estado. Silvano estava contra todos os funcionários de Constâncio, à parte generais francos Malarico e [[Malobaldo|Malobaudo]]: os cortesões Apodêmio e Dinâmio compuseram mesmo novas cartas falsas. Constâncio levou a julgamento Silvano, mas os seus aliados foram capazes de defendê-lo contra acusações infundadas. Silvano no entanto, não sabendo o sucesso de seus amigos, pensou para defender-se do perigo de ser condenado aceitar a aclamação como imperador pelas tropas gaulesas, a 11 de agosto de 355 em Colonia Agripina (moderna [[Colónia]], Alemanha).<ref>David C. Nutt (1973). ''Silvanus and the Emperor Constantius II''. Antichton '''7''' (9): pp. 80-89.</ref>
 
Constâncio reagiu imediatamente à notícia da revolta com a convocação de um consistório noturno no seu palácio de Mediolano O seu plano era, mais uma vez, numa ação diplomática em vez de militar: um grupo de funcionários iria viajar para Colónia com uma carta do imperador, na qual era comunicado a Silvano sua promoção a outra posição e sua convocação a Mediolano. Dos funcionários do grupo faziam parte alguns leais a Constâncio, incluindo Apodêmio, enquanto [[Ursicino (alamano)|Ursicino]] estava na época ainda preso sob suspeita de envolvimento na queda de [[Constâncio Galo]], para liderar a missão, e também receber a comissão para substituir Silvano no comando das tropas gaulesas. Amiano, que participou da missão como um assistente de Ursicino, disse que seu comandante recebeu a ordem de Constâncio de fingir que o imperador ainda não estava ciente da usurpação, e, se não fosse bem sucedido nesta intenção, Constâncio ordenava-lhe que organiza-se a captura de Silvano: Ursicino enganou Silvano e subornou os guardas, que o levaram a partir da igreja onde ele estava orando, e mataram-o.<ref name=":3" /> Apesar dos panegíricos elogiarem a magnanimidade de Constâncio com os colaboradores de Silvano e o fato de o imperador perder o filho do usurpador, Amiano diz como Constâncio condenou à morte muitos dos seus apoiantes mestre dos soldados.{{sfn|Bury|1925|pp=27-28}}
 
===César Juliano e vicenália ({{nwrap||355-|357}} ===
[[Imagem:JulianusII-antioch(360-363)-CNG.jpg|thumb|upright|leftesquerda|[[Juliano (imperador)|Juliano]] era primo de Constâncio II, que o nomeou césar do Ocidente em 355.]]
 
A revolta de [[Silvano (usurpador)|Claudio Silvano]], embora de curta duração, foi um sinal de insatisfação dos gauleses que Constâncio compreendeu bem: sempre na óptica da sua política dinástica, não tendo tido filhos de seus dois casamentos, Constâncio pensou em seguida, elevar ao posto de [[César (título)|César]] Ocidental o primo [[Juliano (imperador)|Juliano]], irmão de [[Constâncio Galo|Galo]]. A cerimónia teve lugar na capital ocidental de Constâncio, [[Mediolano]], a 6 de novembro de [[355]]: além de receber os símbolos de seu posto, juliano casou com a segunda irmã de Constâncio, [[Helena (esposa de Juliano)|Helena]] foi nomeado cônsul em [[356]], juntamente com o Imperador. Cauterizado pela experiência com Galo, Constâncio limitou o alcance de ações do colega, que na verdade nunca tinha mostrado nenhum interesse em política ou guerra, concedendo um tribunal e um contingente militar limitado, em seguida, confiando o controlo eficaz das tropas em geral de sua escolha e da administração civil a seu [[prefeito do pretório]]. No entanto, a colaboração com Juliano foi bem-sucedida, e os dois organizaram um duplo ataque tendo em vista recapturar as partes da Gália caídas em mãos inimigas (356): Juliano liderou o ataque principal, enquanto Constâncio ordenou um ataque contra os [[Alamanos]], depondo então o seu general Marcelo que havia apoiado Juliano (julho-agosto de 357).{{sfn|Bury|1925|p=29}} Também em 356 Constâncio II estabeleceu um escritório em [[Constantinopla]], onde foram copiados os clássicos da literatura.; a biblioteca foi financiada diretamente pelo imperador. <ref>[[Vasiliki Limberis]], ''Divine Heiress: The Virgin Mary and the Creation of Christian Constantinople'', London; New York, Routledge, 1994, p. 65. ISBN 0-415-09677-4</ref>
 
[[Imagem:Constantius II - solidus - antioch RIC viii 165.jpg|thumb|MoedaSoldo de Constâncio que celebra a ''vicenalia''.vicenália]]
 
Em 357 Constâncio comemorou o seu ''vicenália'' (vinte anos de reinado) com a sua primeira e única visita à antiga capital de seu império, [[Roma]]. O imperador chegou à cidade em abril de 357, com toda a sua corte, com a esposa [[Eusébia (imperatriz)|Eusébia]] e a irmã Helena. Ele fez uma entrada triunfal na cidade, entre as asas de [[catafractário]], imóvel na sua carruagem dourada. A Cidade Eterna teve um efeito significativo sobre ele, que admirou as construções da antiga capital, dos templos ao [[Anfiteatro Flaviano]], do [[Panteão]] ao [[Fórum de Trajano]], permanecendo espantado pela sua estátua equestre.O seu espanto transformou nesta visita a atitude de soberano absoluto, que nas províncias chamava a si mesmo ''[[Dominus]] Noster'' ("Nosso Senhor") e vivia separado de seus súbditos, como um [[príncipe (Roma Antiga)|príncipe]]: o tributo na verdade foi para os [[senadores]] que iam à audiência, na [[Cúria]] , assistiu aos jogos organizados para satisfazer o povo romano, dos quais admirava a ''libertas'' e a variedade de origens, concordando em não impor a sua vontade nas corridas, mas deixando estas correrem o seu próprio curso. Do ponto de vista político, a visita a Roma permitiu que o imperador soldar os laços com a aristocracia senatorial romana, que tinha na sua consciência o apoio, ainda que limitado, a [[Magnêncio]]: a memória de sua visita, que terminou a 29 de maio - o imperador foi forçado a sair por causa das notícias do motim de Quados, Suevos e Sármatas no Danúbio Sul - Constâncio fez transportar de [[Alexandria]] do [[EgiptoDiocese do Egito|Egito]] e erigir no [[Circo Máximo]] o [[Obelisco Lateranense|obelisco agora na frente]] da [[basílica de São João de Latrão]], cuja base celebrava mais uma vez a sua vitória sobre o tirano Magnêncio.<ref>{{CIL|6|1163}}</ref> <ref>Ammiano Marcellino xvi.10</ref>{{sfn|Bury|1925|pp=30-32}}
 
=== Inimigos externos e internos; morte de Constâncio ({{nwrap||357-|361)}} ===
[[Imagem:147 Constantius II.jpg|thumb|leftesquerda|upright|Constâncio augusto numa moeda.]]
 
Para lidar com a ameaça das tribos bárbaras que viviam além do [[Rio Danúbio|Danúbio]] , Constâncio teve que suportar no local com o seu exército: depois de deixar [[Roma]] no final de maio de [[357]] recolheu-se em [[Mediolano]] , daqui para a Ilíria (onde substituiu Marcelo por Severo, como desejado por [[Juliano (imperador)|Juliano]], que entretanto retirou o empregado [[Salústio]]), de seguida, de volta a Mediolano no início de dezembro e, finalmente, a [[Sirmio]] , onde colocou um tribunal.{{HarvRef|name=b32|Bury|1925|p=32}}
 
Ao longo do ano, as províncias do Danúbio tinham sofrido assaltos e saques dos bárbaros: os [[suevos]] haviam devastado a [[Récia]], os [[Quados]] foram penetrando em Valeria, enquanto os [[Sármatas]] invadiram [[Mésia]] e [[Panônia|Panónia]]. A escolha de Constâncio foi a de evitar um ataque em grande escala, mas dosear a opção militar com a diplomata. Após o equinócio de primavera de [[358]], o imperador atravessou o [[Danúbio]] com o exército, defrontando os [[Sármatas]] e Quados em pequenos grupos e forçando-os pela força e diplomacia a aceitar acordos de paz, garantindo pelo envio de reféns e obtendo em troca a devolução dos prisioneiros romanos. Para mitigar os perigos de Sármatas, Constâncio afastou os Limigantes, uma tribo formada por ex-escravos Sármatas rebelados contar os antigos patrões, enviando-os para longe do Danúbio, enquanto colocava Zizais, um jovem príncipe leal a ele, sobre o trono dos Sármatas permanecendo perto da fronteira fluvial. Então voltou aos quartéis de inverno em Sirmio, onde foi aclamado pelo exército e aceite pela segunda vez o título de Sarmático Máximo (''Sarmaticus maximus''). No ano seguinte, Constâncio recebe a notícia de que no Oriente {{lknb|Sapor|II}} retomou as hostilidades, numa campanha que levou à conquista sassânida da fortaleza de fronteira de [[Diarbaquir|Amida]] em outubro; O imperador, no entanto, só foi capaz de deixar a região do Danúbio após a queda da cidade, em que combateu contra os Limigantes. Esta população, de fato, não respeitou os acordos celebrados no ano anterior e que incluíam a sua alocação à distância do território romano.<ref name=b32 />
 
Em [[360]], Sapor tomou as fortalezas orientais de [[Singara]] e Bezabde; Constâncio, obrigado a retomar as hostilidades com os Sassânidas, exige ao César Juliano algumas das suas tropas, também, a fim de se certificar de que ele não poderia projetar a usurpação, mas as tropas gaulesas rebelaram-se contra a ideia de serem enviadas para o leste e proclamaram ''[[Augusto (título)|augusto]]'' Juliano, que tinha dado fortes evidências de capacidades militares defendendo a Gália de várias tentativas de invasão: foi o início de uma nova guerra civil. Constâncio decidiu que a guerra contra os Sassânidas tinha precedência sobre a rebelião de Juliano, e na primavera de 360 começou a sua campanha oriental, ocupando [[Edessa (Mesopotâmia)|Edessa]] e cercando Bezabde; Mas o ataque falhou e Constâncio decidiu retirar-se para o inverno em [[Antioquia|Antioquia da Síria]].{{sfn|Clinton|1853|p=121}}
 
Em [[361]], em [[Antioquia]], Constâncio casou com [[Faustina (esposa de Constâncio II)|Faustina]], que nomeou então [[Augusta (título)|augusta]], de quem teria a filha ansiada, [[Flávia Máxima Constância|Flávia Máxima Faustina Constança]], nascida postumamente. Naquele ano, o imperador inicialmente dispara a campanha sassânida, movendo-se sobre Edessa e de lá sobre [[Hierápolis]], mas, de seguida tomou a estrada para Antioquia, movendo-se ao encontro de Juliano, que com o seu exército estava avançando em direção a leste. O confronto fratricida entre os dois últimos membros da dinastia de Constantino não aconteceu, no entanto: na Festa de Tarso no outono, a 03 de novembro Constâncio morre de febre enquanto ainda estava na Ásia, em Mopsucrenas.{{sfn|Clinton|1853|p=122}}.
 
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