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A '''Ístria''' (''Istra'' em [[língua croata|croata]] e [[língua eslovena|esloveno]]; ''Istria'' em [[língua italiana|italiano]] e ''Istrien'' em [[língua alemã|alemão]]) é a maior península no [[mar Adriático]] (cerca de 3.600 km²), situada entre o [[golfo de Trieste]], os [[Alpes Dináricos]] e o [[golfo
A costa ocidental da Ístria tem 242,5 km e com as ilhas 327,5 km. A costa oriental tem 202,6 km e com as ilhas alcança 212,4 km. O comprimento total da costa é de 445,1 km (a costa recortada corresponde ao dobro da rede de estradas litorâneas. A costa da Ístria eslovena tem cerca de 50 km.
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=== Território ===
A península tem uma forma triangular e no interior é limitada pelo vale do [[rio Rosandra]], do vale de [[
A Ístria branca, dominada por rochas calcáreas e de morfologia montanhosa, eleva-se até 1396 m com o [[monte Maggiore (Croácia)|monte Maggiore]] e extende-se na zona setentrional e oriental, as mais escassamente povoadas. É a paisagem típica da [[Cicceria]].
A Ístria amarela (ou cinza), leva seu nome da cor do seu terreno, rico de rochas sedimentares como a argila, areia e calcário. ocupa a zona central da região e se estende do [[golfo de Trieste]] ao [[
A Ístria vermelha, que apresenta um estrato de terra vermelha apoiado sobre rochas calcáreas, é um planalto que se extende da zona meridional e ocidental (as mais densamente povoadas) até atingir a costa.
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=== República de Veneza ===
{{Imagem dupla|right|Joan Blaeu, Atlas Maior - Venedig.png|312|Italia 1796.png|190|Mapa dos domínios venezianos no século XVI
A área costeira e as cidades da Ístria passaram à influência [[República de Veneza|veneziana]] no {{séc|IX}}. Em 15 de fevereiro de 1267, [[Poreč]] (''Parenzo'') foi formalmente incorporada ao estado veneziano.<ref>John Mason Neale, [https://books.google.com/books?id=-4ImAAAAMAAJ&pg=PA76 ''Notes Ecclesiological & Picturesque on Dalmatia, Croatia, Istria, Styria, with a visit to Montenegro''], pg. 76, J.T. Hayes - London (1861)</ref>
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Entre os séculos XIV e XVI, numerosos pastores [[romenos]] refugiaram-se na Ístria durante as invasões otomanas e (misturandos-se com os locais ladinos, segundo Antonio Ive)<ref>Antonio Ive, ''I dialetti ladino-veneti dell'Istria''</ref> formaram uma população de [[língua istrorromena]], ainda presente em [[Seiane]] e nos vales em torno do [[monte Maior]] de Ístria, nas proximidades de [[Rijeka]] (Fiume).
Durante os primeiros séculos da época moderna, e em particular no século XVII, a região foi devastada por guerra e pestilência, perdendo grande parte da sua própria população.
=== Monarquia de Habsburgo (1797–1805) ===
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==== Período habsbúrgico ====
[[Imagem:Istria (ethnic).JPG|thumb|Mapa etnográfico da Ístria e do
[[Imagem:Litorale austriaco 1897.jpg|thumb|Litoral Austríaco em 1897]]
Em 1814, a ístria retornou ao domínio do [[Império Austríaco]]. Em 1825, foi constituída a península istriana, unindo o território anteriormente [[República de Veneza|veneziano]] ao território anteriormente já austríaco, com o acréscimo das ilhas
Quando Veneza se rebelou em 1848, em algumas localidades da costa ocidental reapareceu um sentimento de pertencimento ao antigo poder dominante, unido a uma nova consciência nacional. A vigilância das autoridades foi reforçada, e em consequência a situação permaneceu relativamente calma.
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Importante foi a transferência de Veneza a [[Pula (Croácia)|Pula]] (''Pola''), da principal base da [[Marinha Imperial Austríaca]]. Tal decisão foi tomada em seguida à [[Primeira Guerra de Independência Italiana]] em 1848-1849.
Em poucos anos, Pula teve um grande desenvolvimento, passando de poucas centenas de habitantes a 30-40 mil no final do {{séc|XIX}}. Naquela época, a Ístria era habitada por [[italianos]], [[croatas]], [[eslovenos]] e grupos menores de [[valáquios]], [[istrorromenos]] e [[sérvios]]. Com a deliberação de 12 de novembro de 1866, o conselho de ministros do [[Império Austro-Húngaro]], sob pressão do imperador [[Francisco José I da Áustria|Francisco José I]], iniciou uma política de desitalianização da Ístria, "com energia e sem indulgência alguma", favorecendo o elemento [[Eslavos|eslavo]], por ele considerado mais maleável. A conivência entre a coroa imperial austríaca e o elemento eslavo é demonstrada nos anais da reunião do Conselho da Coroa na data de 12 de novembro de 1866 ("Medidas contra o elemento italiano em alguns territórios da Coroa"), quando o imperador Francisco José deu ordens taxativas a todas as autoridades centrais de agir sistematicamente para "opor-se de modo resoluto ao influxo do elemento italiano ainda presente em alguns ''Kronlander'' e de mirar à germanização ou eslavização, conforme as
Segundo o censo austríaco de 1910, sobre um total de {{Fmtn|404309}} habitantes na Ístria, havia a seguinte distribuição<ref>''I censimenti della popolazione dell'Istria, con Fiume e Trieste, e di alcune città della Dalmazia tra il 1850 e il 1936'' di Guerrino Perselli</ref>:
* 168.116 (41,6%) falavam [[Língua servo-croata|serbo-croata]]{{Nota de rodapé|Os censos austríacos não faziam
* 147.416 (36,5%) falavam [[Língua italiana|italiano]] ([[Língua vêneta|istrovêneta]] e [[Língua istriota|istriota]] na maior parte) prevalentemente concentrados ao longo da costa ocidental e em algumas cidadezinhas do interior
* 55.365 (13,7%) falavam [[Língua eslovena|esloveno]] prevalentemente concentrados na zona rural norte ocidental
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Esses dados referem-se a todo o marquesado da Ístria, que administrativamente compreendia também áreas não pertencentes à penínsulas – entre as quais as ilhas de [[Cres]] (''Cherso'') e [[Lošinj]] (''Lussino'') – cuja população tinha ligeira maioria [[Croatas|croata]], com prevalência italiana em [[Mali Lošinj]] (''Lussinpiccolo''), naquele tempo uma das mais dinâmicas cidades de toda a costa adriática oriental) e a ilha de [[Krk]] (''[[Veglia]]'') – ou localidades [[Carso|cársicas]] no confim setentrional, cujo pertencimento à Ístria não era de aceitação geral como [[Podgrad]] (''Castelnuovo d'Istria''), habitada prevalentemente por [[eslovenos]]. Por essa razão, os dados foram criticados por historiadores e linguistas italianos como [[Matteo Bartoli]]. Outra crítica que é feita ao censo de 1910 refere-se à nacionalidade dos funcionários designados a efetuar a coleta e que, sendo empregados comunais tinham a possibilidade de maipular os resultados do censo.{{Nota de rodapé|Portanto nas comunas com administração italiana (cerca de 70% das comunas istrianas)<ref>''Istria. Storia, cultura, arte'' di Dario Alberi, 2ª ed., Trieste 2001, p. 103</ref>, o número de italianos podia ser sobreavaliado, assim como nas comunas com administração eslava (30% das comunas istrianas), podia ser aquele de eslovenos ou de croatas.<ref>''Irredentismo adriatico'' di Angelo Vivante, Firenze 1912, p. 158-164; ''Autour de Trieste'' di Carlo Schiffrer, 1946, p. 16-17)</ref>}}
Segundo o historiador esloveno Darko Darovec ''alcança-se em Ístria uma série de disputas ligadas à manipulação política por parte italiana''.<ref>''Rassegna di storia istriana'' di Darko Darovec, Biblioteca Annales, Koper/Capodistria, 1993, versão online: http://razor.arnes.si/~mkralj/istra-history/i-index.html)</ref>
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Em seguida à vitória italiana na [[Primeira Guerra Mundial]] com o [[Tratado de Saint-Germain-en-Laye]] (1919) e o [[Tratado de Rapallo (1920)]], a Ístria torna-se parte do [[Reino de Itália (1861-1946)|Reino de Itália]].
O censo de 1921 derrubou os resultados da pesquisa austríaca de 1910, seja quando refere-se à Veneza Júlia no conjunto, seja pela Ístria em particular, indicando na região uma maioria de população culturalmente italiana. Segundo o censo daquele ano, a população istriana pertencente ao grupo linguístico italiano era composta de {{Fmtn|199942}} pessoas (58,2% do total). Seguia-se o grupo croata, predominante segundo os dados do censo anterior, com {{Fmtn|90262}} falantes (26,3%), e o esloveno com {{Fmtn|47489}} (13,8%). As restantes {{Fmtn|5708}} pessoas (1,7%) estavam classificadas como "outros".<ref>Guerrino Perselli, ''I censimenti della popolazione dell'Istria, con Fiume e Trieste, e di alcune città della Dalmazia tra il 1850 e il 1936'', Trieste-Rovigno, Unione Italiana-Università Popolare di Trieste, 1993, p. 469</ref>
O historiador [[Carlo Schiffrer]] retificou os resultados do censo de 1921 {{Esclarecer|com base em que?}} como se pode evidenciar na tabela reproduzida em seguida. Com as retificações de Schiffrer, a etnia italiana na Ístria continuava a ter uma predominância numérica sobre o grupo nacional de origem eslava, mas menos acentuada em relação à aquela resultante dos dados do censo de 1921.
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=== Ocupação alemã ===
[[Imagem:Paul Hausser.jpg|thumb|upright=0.7|esquerda|General [[Paul Hausser]]]]
Em seguida ao [[Armistício de Cassibile]], desde 2 de
A ocupação teve início na noite de 2 de outubro de 1943, sob o comando do general [[SS]] [[Paul Hausser]], comandante da ''2. Panzerkorps-SS'' que executou a Operação Nubifragio, com a qual os alemães assumiram o controle militar da Zona de Operações do Litoral Adriático. Os alemães penetraram na Ístria com três colunas, precedidas de fortes bombardeamentos aéreos, alcançando em poucos dias todas as principais localidades. Os destacamentos partisans foram derrotados ou obrigados a fugir. A operação iniciada nos primeiros dias de outubro, concluiu-se em 9 de outubro com a conquista de [[Rovinj]] (''Rovigno'').
{{Imagem dupla|right|Litorale Adriatico.svg|180|1945-05-01GerWW2BattlefrontAtlas.jpg|220|Zona de operações do Litoral Adriático (setembro 1943 – maio 1945|Mapa militar americano que representa a situação dos frontes europeus em 1º de maio de 1945}}
A administração civil foi confiada ao supremo comissário [[Friedrich Rainer]]. Realizou-se assim o projeto de [[Adolf Hitler]], [[Heinrich Himmler]], e [[Joseph Goebbels]] de ocupar militarmente e depois da guerra concluída anexar todos os vastos territórios que já estiveram sob domínio do [[Império Austro-Húngaro]].
O comandante militar da região, [[Ludwig Kübler]], travou uma luta cruel e sem quartel ao movimento partisan comandado por [[Josip Broz Tito]], através do uso de forças armadas colaboracionistas italianas (além de forças eslovenas, croatas, sérvias e russas). No Litoral Adriático, operaram de fato várias formações entre as quais dois destacamentos regulares do exército da [[República Social Italiana]] (''Battaglione Bersaglieri Mussolini'' e ''Reggimento Alpini Tagliamento''), a ''Milizia Difesa Territoriale'' (o novo nome desejado por Rainer para a Guarda Nacional Republicana na OZAK), as brigadas negras, a Ispetoria Especial de Pública Segurança para a Veneza Júlia (da qual fez parte a famigerada Banda Collotti), a Guarda Cívica, os batalhões italianos voluntários de polícia, a polícia alemã e váriso destacamentos de colaboracionistas eslovenos, croatas, sérvios e russos-cossacos do Cáucaso.
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