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O '''Parque Güell''' ({{lang-ca|''Parc Güell''}}, {{lang-es|''Parque Güell''}}, embora a grafia original fosse {{lang-en|''Park Güell''}}) é um grande [[área verde urbana|parque urbano]] com elementos [[arquitetura|arquitetónicos]] situado no [[Gràcia (distrito)|distrito de Gràcia]] da cidade de [[Barcelona]], na vertente virada para o [[Mar Mediterrâneo]] do Monte Carmelo, não muito longe do [[Tibidabo]]. Originalmente destinado a ser uma [[urbanização]], foi concebido pelo arquiteto [[Antoni Gaudí]], expoente máximo do [[modernismo catalão]], por encomenda do empresário [[Eusebi Güell]].<ref name=Xavier>{{citar web|url=http://www.bcn.es/publicacions/b_mm/ebmm58/bmm58_qc47.htm|titulo=El Parc Güell o la especificidad de Gaudí|autor=Güell, Xavier|obra=Barcelona: metròpolis mediterrània|ano=2002|mes=janeiro|publicado=Ajuntament de Barcelona|língua3=es|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref> Construído entre 1900 e 1914, revelou-se um fracasso comercial e foi vendido ao [[Município de Barcelona]] em 1922, tendo sido inaugurado como parque público em 1926.<ref name=CMC>{{citar web|url=http://www.casamuseugaudi.org/docs_instit/casa_a.php|titulo=La Casa|publicado=Casa-Museu Gaudí|língua3=ca|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref> Em 1969 foi nomeado [[Bem de Interesse Cultural (Espanha)|Monumento Histórico Artístico de Espanha]], e em 1984 foi classificado pela [[Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura|UNESCO]] como [[Património Mundial|Património da Humanidade]], incluído no sítio [[Obras de Antoni Gaudí]].<ref name=CMP>{{citar web|url=http://www.casamuseugaudi.org/docs_instit/parkguell.php|titulo=Park Güell|publicado=Casa-Museu Gaudí|língua3=ca|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref> No recinto do parque, numa casa onde Gaudí morou durante quase vinte anos, funciona desde 1963 a [[Parque Güell#Casa-Museu Gaudí|Casa-Museu Gaudí]], cujo [[:wikt:acervo|acervo]] inclui objetos pessoais e obras de Gaudí e de alguns dos seus colaboradores.<ref name=CMV>{{citar web|url=http://www.casamuseugaudi.org/docs_instit/vvjardi.php|titulo=Visita Virtual|publicado=Casa-Museu Gaudí|língua3=ca|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref>
 
O parque foi concebido por Güell e Gaudí como um conjunto estruturado onde, dentro de um incomparável quadro de beleza natural, se situariam habitações de luxo, com todos os progressos tecnológicos da época e acabamentos de grande qualidade artística.<ref name=Xavier/> Não se sabe ao certo o que Güell e Gaudí pretendiam alcançar, visto que não restam registos a esse respeito, mas parece óbvio que o parque se destinava a um grupo seleto e não ao público em geral, e que está recheado de referências a ideias, fantasias e ideais que eram importantes para ambos,<ref>{{citar web|url=http://www.sola-sole.com/bgaudi.pdf|titulo=The Best of Gaudí|autor=Zimmermann, Robert|ano=2002|mes=abril|formato=pdf|língua3=en|acessodata=1 de janeiro de 2012|arquivourl=http://web.archive.org/web/20070702205603/http://www.sola-sole.com/bgaudi.pdf|arquivodata=2 de julho de 2007}} p. 29</ref> como o [[Nacionalismo catalão|catalanismo político]] e a [[Catolicismo|religião católica]], em todo caso com um certo caráter misterioso devido ao gosto da época por enigmas e adivinhas.<ref name=CGNP7>Giordano e Palmisano, ''La guia completa del Park Güell'', p. 7</ref>
 
O Parque Güell é um reflexo da plenitude artística de Gaudí; pertence à sua etapa naturalista ([[década de 1900]]), período no qual o arquiteto catalão aperfeiçoou o seu estilo pessoal, inspirando-se nas formas orgânicas da natureza e pondo em prática uma série de novas soluções estruturais originadas na sua análise da [[superfície regrada|geometria regrada]]. A isso acrescentou uma grande liberdade criativa e uma imaginativa criação ornamental; partindo de um certo [[Barroco|barroquismo]], as suas obras adquirem grande riqueza estrutural, de formas e volumes desprovidos de rigidez racionalista ou de qualquer premissa clássica.<ref>Bergós i Massó, ''Gaudí, l'home i l'obra'', p. 60</ref> No entanto, embora contenha vários elementos característicos da fase final da carreira de Gaudí, como a preferência por colunas inclinadas e o uso do [[trencadís]], o parque apresenta uma mistura de elementos de diferentes estilos (românico, barroco, dórico, pré-romano, etc.) que remete para as suas primeiras obras.<ref name=Zimmermann32>Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 32</ref> Uma das características mais marcantes do Parque Güell é o contraste entre as texturas e cores dos diferentes materiais de construção (cerâmica brilhante e multicolorida versus pedra rústica castanha), tão apreciado pelos arquitetos do [[modernismo catalão]].<ref name=Zimmermann32/>
 
== História ==
[[Ficheiro:Eusebi Güell (1915).jpg|thumb|esquerda|upright=0.73|[[Eusebi Güell]] (1915).]]
O parque deve o seu nome a Eusebi Güell, conde de Güell, um rico empresário catalão membro de uma influente família [[burguesia|burguesa]] de Barcelona, que foi quem idealizou construir uma urbanização de luxo na encosta de um monte nas imediações da cidade de Barcelona, então conhecido como ''Montanha Pelada'' (atualmente denominado Monte Carmelo).<ref name=Xavier/><ref name="CMC">{{citar web|url=http://www.casamuseugaudi.org/docs_instit/casa_a.php|titulo=La Casa|acessodata=1 de janeiro de 2012|publicado=Casa-Museu Gaudí|língua3=ca}}</ref> Para o efeito, Güell adquiriu as duas [[fazenda]]s adjacentes que o ocupavam, ''Can Muntaner de Dalt'' (1899) e ''Can Coll i Pujol'' (1902),<ref name=CMC/><ref>Van Hensbergen, ''Antoni Gaudí'', p. 183</ref> a primeira das quais era propriedade de [[Salvador de Samà]]<ref name=Xavier/> ([[alcaide]] de Barcelona entre 1905-1906 e 1910-1911).<ref>''Gran Enciclopèdia Catalana'', verbete sobre ''Salvador de Samà i de Torrents''</ref> Güell residiu entre 1906 e 1918 (data da sua morte) na grande casa de campo pertencente a uma das fazendas, a ''Casa Larrard'' (anteriormente ''Casa Muntaner de Dalt''), situada no recinto do parque, que Gaudí remodelou entre 1906 e 1922.<ref>Crippa, ''Antoni Gaudí, 1852-1926: de la naturaleza a la arquitectura'', p. 53</ref>
 
O local escolhido por Güell para a urbanização era desafogado, calmo e com vista sobre a cidade e o mar, e a distância ao centro de Barcelona assegurava uma considerável privacidade e distanciamento da agitação e da poluição características das jovens cidades industriais.<ref>Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 29-30</ref> O conde tinha experiência com a organização laboral britânica, como se verificou no seu projeto de [[colônia (comunidade)|colónia]] operária, a ''[[Colónia Güell]]'' em [[Santa Coloma de Cervelló]],<ref name=BiN173>Bassegoda i Nonell, ''Gaudí o espacio, luz y equilibrio'', p. 173</ref> e tinha em mente um projeto ao estilo das [[Cidade Jardim (teoria)|cidades jardim]] concebidas por [[Ebenezer Howard]] (o que também fica manifesto na grafia inicial ''Park Güell'').<ref name=Xavier/><ref name=Zimmermann30>Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 30</ref> Para as zonas ajardinadas, Güell inspirou-se igualmente nos ''[[Jardins de la Fontaine]]'' da cidade de [[Nîmes]], onde viveu na sua juventude.<ref>Giordano e Palmisano, ''La guia completa del Park Güell'', p. 5</ref>
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Os trabalhos iniciaram-se em 1900,<ref name=CMC/><ref name=Huertas>{{citar web|url=http://www.bcn.es/publicacions/b_mm/ebmm58/bmm58_qc75.htm|titulo=Los clientes del arquitecto|autor=Huertas, J. M.|obra=Barcelona: metròpolis mediterrània|ano=2002|mes=janeiro|publicado=Ajuntament de Barcelona|língua3=es|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref> mas apesar das vantagens e preços razoáveis oferecidos o projeto foi um fracasso comercial. Não se sabem ao certo os motivos que levaram a isso, mas existem numerosas teorias. Uma das mais frequentemente apontada é que os barceloneses teriam considerado que a área, então pouco urbanizada e sem transportes públicos, ficava demasiado longe do centro de Barcelona; no entanto, isso não impediu o bairro de classe alta de ''La Salud'', adjacente ao Parque Güell, de prosperar.<ref name=Zimmermann30/> Outra teoria apresentada é que o conde Güell era [[maçonaria|maçom]] e pretendia estabelecer uma [[Loja Maçônica|Loja Maçónica]], o que teria reduzido drasticamente o número de potenciais compradores; no entanto, se isso for verdade (não existem provas de que Güell fosse maçom), é intrigante que nenhum maçom tenha aproveitado a oportunidade.<ref name=Zimmermann30/> Uma terceira teoria defende que o Parque Güell era demasiado abertamente catalanista e que isso afastara potenciais compradores numa época em que a burguesia catalã receava uma revolução dos trabalhadores e queria manter-se nas boas graças do governo central em [[Madrid]] e do seu protetor exército.<ref name=Zimmermann30/> Mas existem ainda outras possibilidades; a perspetiva de viver com o conde Güell numa comunidade fechada em que este estabelecia as regras pode não ter agradado a muitos dos seus amigos e conhecidos, e é possível que após Gaudí ter concluído a construção dos pavilhões da entrada (1903), alguns potenciais compradores (ou as suas esposas) tenham decidido que não queriam viver numa comunidade cuja entrada parecia algo tirado de um [[contos de fadas|conto de fadas]].<ref name=Zimmermann31>Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 31</ref>
 
Das 60 parcelas triangulares com {{fmtn|1000}}&ndash;{{fmtn|1200|m<sup>2</sup>}} para construção de moradias (ocupando cerca de {{P%|35}} da área total do parque),<ref name=Xavier/> somente foram vendidas duas; uma delas é ''la Torre Rosa'', construída para servir como casa-modelo da urbanização e onde o arquiteto residiu entre 1906 e 1925, desenhada por Francesc Berenguer (1904); a outra é a ''Casa Trias'', propriedade do advogado Martí Trias i Domènech, amigo de Güell e Gaudí, obra do arquiteto [[Juli Batllevell]] (1906).<ref name=CMC/><ref>Giordano e Palmisano, ''La guia completa del Park Güell'', p. 37</ref> Güell, Gaudí e Trias mudaram-se para o Parque Güell no mesmo ano (1906) e davam-se bem, embora Gaudí evitasse visitar o advogado nos feriados, pois a casa deste era frequentemente visitada nessas ocasiões por uma boa amiga da família Trias, Pepita Moreu, que fora o amor frustrado de Gaudí na [[década de 1880]].<ref name="Zimmermann32">Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 32</ref>
 
[[Ficheiro:Casa Martí Trias i Domènech.jpg|thumb|esquerda|upright=1.25|''Casa Trias'', obra de [[Juli Batllevell]].]]
Quando percebeu que o seu projeto era um fracasso, Güell decidiu abrir o parque de forma limitada, permitindo ao público em geral passear livremente no seu interior mediante o pagamento de uma pequena taxa de admissão<ref name=Zimmermann32/><ref name=BiN68>Bassegoda i Nonell, ''Los jardines de Gaudí'', p. 68</ref> e acolhendo grandes eventos sociais,<ref name=Zimmermann32/><ref name=BiN70>Bassegoda i Nonell, ''Los jardines de Gaudí'', p. 70</ref> como por exemplo o ''Primeiro Congresso Internacional da Língua Catalã'' (1906) e um grande evento de angariação de fundos para ajudar as vítimas das mais recentes [[enchente|cheias]] ocorridas na [[Catalunha]] (1907).<ref name=Zimmermann40>Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 40</ref> As obras continuaram nas zonas comuns da urbanização até serem paralisadas em 1914, após o início da [[Primeira Guerra Mundial]].<ref name=CMC/> Após a morte do conde Güell (1918), os seus herdeiros venderam o parque ao Município de Barcelona em 1922 para o converter em público,<ref name=CMC/><ref name=Huertas/> tendo este sido inaugurado como parque público em abril de 1926.<ref name=CMC/>
 
Em 1969, o Parque Güell foi nomeado Monumento Histórico Artístico de Espanha,<ref name="CMP">{{citar web|url=http://www.casamuseugaudi.org/docs_instit/parkguell.php|titulo=Park Güell|acessodata=1 de janeiro de 2012|publicado=Casa-Museu Gaudí|língua3=ca}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.mcu.es/patrimonio/CE/BienesCulturales.html|titulo=Bienes culturales protegidos|publicado=Ministério da Cultura de Espanha|língua3=es|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref> e em 1984 foi classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, incluído no sítio ''Obras de Antoni Gaudí''.<ref name=CMP/><ref>{{citar web|url=http://whc.unesco.org/archive/repcom84.htm#320|titulo=Relatório da 8ª Sessão do Comité do Património da Humanidade da UNESCO|data=1984-11-02|publicado=UNESCO|língua3=en|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref> Entre 1987 e 1994 foi levado a cabo um restauro do parque, a cargo de Elies Torres i Tur e Josep Antoni Martínez i Lapeña, com a colaboração do arquiteto e historiador [[Joan Bassegoda]].<ref>Crippa, ''Antoni Gaudí, 1852-1926: de la naturaleza a la arquitectura'', p. 54</ref> Continua pendente um projeto de qualificação da encosta norte do monte – que não foi incluída no projeto de Gaudí –, especialmente a zona da ''Fonte de San Salvador de Horta'' e do ''Castillo d'en Frey'', uma mansão senhorial construída na [[década de 1920]] e derrubada na [[década de 1960]], da qual somente restam vestígios das muralhas.<ref name=FNV76>Navés i Viñas, Jardins i Parcs, ''Gaudí. Hàbitat, natura i cosmos'', p. 76</ref>{{limpar}}
 
== Descrição ==
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== Simbolismo ==
[[Ficheiro:Parc Güell (12), July 2009.JPG|thumb|esquerda|upright=0.8|Cruz de quatro braços do pavilhão menor da entrada.]]
O Parque Güell foi concebido como um conjunto impregnado de um forte simbolismo, no qual os estudiosos afirmam ver o mais variado tipo de referências devido à complexa [[iconografia]] aplicada por Gaudí ao conjunto do projeto urbanístico, referências essas que vão desde o [[nacionalismo catalão|catalanismo político]] à [[catolicismo|religião católica]], passando pela [[mitologia]], [[história]] ou [[alquimia]]. Em concreto, alguns estudiosos afirmam ver no parque referências à [[maçonaria]], o que é pouco provável face às profundas crenças religiosas tanto de Güell quanto de Gaudí, e em todo o caso nunca foi comprovado que qualquer um deles pertencesse à maçonaria.<ref name="CGNP7">Giordano e Palmisano, ''La guia completa del Park Güell'', p. 7</ref><ref>Zimmermann, ''The Best of Gaudí'', ''op. cit.'', p. 30, 36</ref> Outra interpretação habitualmente defendida é de que o parque pretende ser uma reconstrução da [[Catalunha]] e que os seus vários elementos são referências à sua história, cultura, arquitetura e geografia,<ref name=Zimmermann36/> sobretudo a escadaria monumental, onde estarão representados os [[Países Catalães]].<ref>Giordano e Palmisano, ''La guia completa del Park Güell'', p. 18</ref> A mitologia é também uma fonte de inspiração frequentemente apontada, e está na origem de uma interessante teoria defendida por estudiosos como o arquiteto e historiador [[Joan Bassegoda]],<ref name=IAAP/> segundo a qual Güell pretendia recriar simbolicamente o [[Delfos#O Templo de Apolo e os Tesouros das cidades|Templo de Apolo]] em [[Delfos]] nos elementos centrais do parque.<ref name=Zimmermann35/><ref>Carandell, ''Park Güell: Utopia de Gaudí'', p. 91</ref> Um argumento a favor desta teoria é o facto de anos antes este ter usado um dos [[doze trabalhos de Hércules]] como tema para a intervenção efetuada por Gaudí nos ''[[Pavilhões Güell]]'',<ref name=IAAP/><ref name=Zimmermann35/> e sabe-se que na ''Casa Larrard'' existiam diversas [[tapeçaria]]s retratando cenas da mitologia grega.<ref name=Zimmermann35/>
 
[[Ficheiro:Reptil Parc Guell Barcelona.jpg|thumb|upright=1.25|''El Drac''.]]