Claude Lévi-Strauss: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m clean up, typos fixed: idéia → ideia (2), Tres → Três utilizando AWB
Linha 18:
|assinatura =[[Imagem:Signature levistrauss.jpg|150px]]
}}
'''Claude Lévi-Strauss''' ([[Cidade de Bruxelas|Bruxelas]], {{dtlink|lang=br|28|11|1908}} — [[Paris]], {{dtlink|lang=br|30|10|2009}}) foi um [[Antropologia|antropólogo]], [[professor]] e [[Filosofia|filósofo]] [[Bélgica|belga]]. É considerado fundador da [[antropologia estruturalista]], em meados da [[década de 1950]], e um dos grandes intelectuais do [[século XX]], porém suas ideias são muito diferentes do pensamento da época em que viveu, rompem com a idéiaideia de que indíos são somente indíos, não concordava com a divisão em civilizados e selvagens ou a divisão em superiores e inferiores, além do possuir um maior pensar ambientalista radical, por mais que sua teoria seja interpretada com base aos olhares de intelectuais com o pensamento marxista pós-[[Guerra Fria]] do [[Século XXI]], idéiasideias assim só apareceram a partir do final da [[Década de 1960]] com o aparecimento da contracultura marxista cultural e ambientalista radical, embora as obras de Lévi-Strauss vejam os índios do Cerrado de forma "eurocêntrica" ou "colonialista" em certo ponto.<ref>http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/cientistas-explicam-a-importancia-das-ideias-de-claude-levi-strauss-bz51x3s4ja3c9d3pnuzuqdm4u</ref><ref>http://seer.ufrgs.br/iluminuras/article/view/9105</ref><ref>http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2015-10/historia-hoje-saiba-mais-sobre-levi-strauss-expoente-da-antropologia</ref>
 
Professor honorário do [[Collège de France]], ali ocupou a cátedra de [[antropologia social]] de 1959 a 1982. Foi também membro da [[Academia Francesa]] - o primeiro a atingir os 100 anos de idade.
Linha 24:
Desde seus primeiros trabalhos sobre os [[povos indígenas do Brasil|índios do Brasil Central]], que estudou em campo, no período de 1935 a 1939, e a publicação de sua tese ''[[As estruturas elementares do parentesco]]'', em 1949, publicou uma extensa obra, reconhecida internacionalmente.
 
Dedicou uma tetralogia, as ''[[Mitológicas (tetralogia de Lévi-Strauss)|Mitológicas]]'', ao estudo dos [[mito]]s, mas publicou também obras que escapam do enquadramento estrito dos estudos acadêmicos - dentre as quais o famoso ''[[Tristes Trópicos]]'', publicado em 1955, que o tornou conhecido e apreciado por um vasto círculo de leitores.
 
== Biografia ==
Linha 30:
 
=== Primeiros Anos ===
Claude Lévi-Strauss nasceu em [[Bruxelas]], de uma família judia de origem [[Alsácia|alsaciana]], das cercanias de [[Estrasburgo]]. Mas, à época do seu nascimento, seu pai, Raymond Lévi-Strauss - um pintor retratista, que acabou arruinado pelo advento da [[fotografia]] - tinha um contrato a cumprir na cidade e sua mulher, Emma, estava prestes a dar à luz. Assim, o pequeno Claude ali passou as primeiras semanas de vida.
 
O avô materno, com quem ele viveu durante a [[Primeira Guerra Mundial]], era o [[rabino]] da [[sinagoga]] de [[Versailles]]. Seu bisavô, Isaac Strauss, era regente de orquestra na corte - à época de [[Luís Filipe]] e depois, sob [[Napoleão III]].<ref>[http://www.lexpress.fr/informations/archive-claude-levi-strauss-un-anarchiste-de-droite_714140.html ''Un anarchiste de droite''], ''[[L'Express]]'', 17 de outubro de 1986.</ref>
 
=== Vida escolar e política ===
Depois de concluir a escola primária em Versalhes, instala-se em [[Paris]] para prosseguir seus estudos secundários - primeiro no tradicional ''Lycée Janson-de-Sailly'' e depois no ''Lycée Condorcet'', um dos melhores colégios de Paris.<ref>[http://www.academie-francaise.fr/immortels/discours_reponses/caillois.html Discurso de recepção de Claude Lévi-Strauss na Academia Francesa, 1974].</ref>
 
No final dos seus estudos secundários, encontra um jovem [[Socialismo|socialista]] filiado a um partido belga e se liga à [[esquerda]], familiarizando-se rapidamente com a literatura política que até então lhe era desconhecida, incluindo [[Karl Marx|Marx]]. Torna-se militante da [[Seção Francesa da Internacional Operária|S.F.I.O.]], encarregado de coordenar o grupo de estudos socialistas, tornando-se depois Secretário Geral dos Estudantes Socialistas.
Linha 50:
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no [[Rio Tibagi]], porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi ([[Kaingang|caingangues]]) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens" (Lévi-Strauss 1957:160-161).
 
Porém, ao final do primeiro ano escolar (1935/1936), ao visitar os [[Kadiweu|cadiuéus]] na fronteira com o [[Paraguai]] e os [[Bororo|bororosbororo]]s no centro de [[Mato Grosso]], rendendo-lhe sua primeira exposição em [[Paris]] nas férias de (1936/1937), o que foi fundamental para a entrada de Lévi-Strauss no meio etnológico francês, conforme admite ele próprio:<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131998000100004#top15 Lévi-Strauss no Brasil: a formação do etnólogo], por Fernanda Peixoto. ''Mana'' vol.4 n.1 Rio de Janeiro, Abril de 1998.</ref>
"Eu precisava fazer minhas provas de etnologia, porque não tinha formação alguma. Graças à expedição de 1936, consegui créditos do [[Museu do Homem]] e da Pesquisa Científica, ou do que acabaria se chamando assim. Com esse dinheiro, organizei a expedição nambiquara."
 
Em 1938, foi realizada uma expedição até os [[Nambikwara|nambiquaras]] no Mato Grosso, com financiamento francês e brasileiro, que deveria durar um ano. No entanto, durou apenas seis meses - de maio a novembro do mesmo ano. Além do casal Lévi-Strauss, participaram o médico e etnólogo francês [[Jean Vellard]] e o antropólogo brasileiro [[Luiz de Castro Faria]], que aponta os problemas que a missão enfrentou com os órgãos públicos brasileiros, por contar com o patrocínio de [[Paul Rivet]], ligado ao [[Partido Socialista (França)|Partido Socialista francês]], e que se tornara ''persona non grata'' no Brasil porque supostamente teria difamado o país na França.<ref>FARIA, Luis de Castro. 1984. ''A Antropologia no Brasil: Depoimento sem Compromisso de um Militante em Recesso''. ''Anuário Antropológico'' 82. Brasília: Tempo Brasileiro. pp. 229, ''apud'' Fernanda Peixoto, op. cit.</ref> Já [[Luis Grupioni]] aponta as resistências existentes no [[SPI]] quanto à segurança da missão e a relutância de Lévi-Strauss em aceitar um fiscal do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas: "Mais que a possível simpatia socialista identificada aos membros da expedição, era a perspectiva de fiscalização e controle de uma expedição estrangeira, o que teria impedido a concessão da licença." <ref>GRUPIONI, Luis D.B. ''Coleções e expedições vigiadas. Os etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil'', São Paulo, Hucitec/ANPOCS, 1998.</ref>
 
Em 1938, foi realizada uma expedição até os [[Nambikwara|nambiquaras]] no Mato Grosso, com financiamento francês e brasileiro, que deveria durar um ano. No entanto, durou apenas seis meses - de maio a novembro do mesmo ano. Além do casal Lévi-Strauss, participaram o médico e etnólogo francês [[Jean Vellard]] e o antropólogo brasileiro [[Luiz de Castro Faria]], que aponta os problemas que a missão enfrentou com os órgãos públicos brasileiros, por contar com o patrocínio de [[Paul Rivet]], ligado ao [[Partido Socialista (França)|Partido Socialista francês]], e que se tornara ''persona non grata'' no Brasil porque supostamente teria difamado o país na França.<ref>FARIA, Luis de Castro. 1984. ''A Antropologia no Brasil: Depoimento sem Compromisso de um Militante em Recesso''. ''Anuário Antropológico'' 82. Brasília: Tempo Brasileiro. pp. 229, ''apud'' Fernanda Peixoto, op. cit.</ref> Já [[Luis Grupioni]] aponta as resistências existentes no [[SPI]] quanto à segurança da missão e a relutância de Lévi-Strauss em aceitar um fiscal do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas: "Mais que a possível simpatia socialista identificada aos membros da expedição, era a perspectiva de fiscalização e controle de uma expedição estrangeira, o que teria impedido a concessão da licença." <ref>GRUPIONI, Luis D.B. ''Coleções e expedições vigiadas. Os etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil'', São Paulo, Hucitec/ANPOCS, 1998.</ref>
 
O período que passou no Brasil foi fundamental em sua carreira e no seu crescimento profissional, além de ter despertado em Strauss sua vocação etnológica. Disse: ''"Um ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo estavam satisfeitas"''(1957).
 
=== Retorno à França ===
Após três anos no Brasil, Lévi-Strauss voltou à [[França]], reconhecido no meio etnológico. Diz ele, em ''Tristes Trópicos'': ''"Um ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo estavam satisfeitas."''<ref>LÉVI-STRAUSS, Claude. ''Tristes Trópicos''. São Paulo: Anhembi, 1957:261.</ref>
 
Seu livro ''[[As estruturas elementares do parentesco]]'' foi publicado em 1949 e, instantaneamente, consagrou-se como um dos mais importantes estudos de [[família]] já publicados. O título é uma [[paráfrase]] ao título do livro de [[Émile Durkheim]], ''As formas elementares da vida religiosa''.
Linha 71 ⟶ 70:
 
=== Últimos anos ===
Apesar de aposentado, Lévi-Strauss continuava a publicar ocasionalmente volumes de meditações sobre artes, música e poesia, bem como reminiscências de seu passado.
 
Claude Lévi-Strauss morreu em 30 de outubro de 2009,<ref>{{Citar web|url=http://www.publico.pt/Cultura/morreu-claude-levistrauss_1408137 |título=Morreu Claude Lévi-Strauss |autor=Público.pt }}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.france-info.com/sciences-recherche-2009-11-03-l-ethnologue-claude-levi-strauss-est-mort-364504-29-32.html |título=L’ethnologue Claude Levi-Strauss est mort |autor=France-info.com}}</ref> poucas semanas antes da data em que faria 101 anos.<ref name="NYTobit">{{cite news|url=http://www.nytimes.com/2009/11/04/world/europe/04levistrauss.html?em|title=Claude Lévi-Strauss dies at 100|last=Rothstein|first=Edward|date=3 Nov. 2009|work=The New York Times|accessdate=4 Nov. 2009}}</ref> A morte só foi anunciada quatro dias depois.<ref name="NYTobit"/>
 
O presidente da França [[Nicolas Sarkozy]] o definiu como "um dos maiores etnólogos de todos os tempos".<ref name="BBC">{{cite web |url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/8340936.stm|title=Anthropologist Levi-Strauss dies|date=03-11-2009|publisher=[[BBC]]}}</ref> [[Bernard Kouchner]], o ministro de Assuntos Exteriores francês, afirmou que Lévi-Strauss "quebrou com uma visão etnocêntrica da história e humanidade […] Em um tempo em que tentamos dar sentido a ideia de globalização, construir um mundo mais justo e humano, eu gostaria que o eco universal de Claude Lévi-Strauss ressonasse mais forte".<ref name="euro">{{cite web|url=http://www.euronews.net/2009/11/03/death-of-french-anthropologist-claude-levi-strauss/|title=Death of French anthropologist Claude Levi-Strauss |date=3 Nov. 2009 |accessdate=3 Nov. 2009 |publisher=[[Euronews]]}}</ref> O jornal ''[[The Daily Telegraph]]'' afirmou no obituário do antropológo que Lévi-Strauss foi "uma das influências pós-guerra dominantes na vida intelectual francesa e o principal expoente do [[Estruturalismo]] nas [[Ciências sociais]]".<ref name="Telegraph">{{cite web|url=http://www.telegraph.co.uk/news/obituaries/science-obituaries/6496558/Claude-Levi-Strauss.html |title=Claude Lévi-Strauss |date=3-11-2009|publisher=''[[The Daily Telegraph]]''}}</ref> A secretária permanente da ''Académie Française'' [[Hélène Carrère d'Encausse]] disse: "Ele era um pensador, um filósofo […] Nós nunca encontraremos outro como ele".<ref name="Guardian">{{cite web|author=Lizzy Davies|url=http://www.guardian.co.uk/science/2009/nov/03/claude-levi-strauss-dies|title=French anthropologist Claude Lévi-Strauss dies aged 100|date=03-11-2009 |publisher=''[[The Guardian]]''}}</ref>
Linha 148 ⟶ 147:
* [[A origem das maneiras à mesa]] - 1968.
* [[O Homem Nu (Lévi-Strauss)|O Homem Nu]] - 1971.
* ''La Voie des masques'' (O Caminho das Máscaras), 2 vol., Genève, Skira, 1975; nova edição aumentada com «Trois Excursions» (TresTrês excursões), Plon, 1979.
* ''Le Regard éloigné'' (Olhar distanciado), Paris, Plon, 1983.
* ''Antropologia e Mito: Palestras'' - 1984.
Linha 157 ⟶ 156:
* ''Saudades do Brasil'', Paris, Plon, 1994. {{ISBN|2-259-18088-4}}
* ''Le Père Noël supplicié'' (Papai Noel supliciado), Pin-Balma, Sables, 1994. {{ISBN|2-907530-22-4}}
* Tayne
 
==Ligações externas==
Linha 163 ⟶ 162:
*[http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowEspeciais!destaque.action?destaque.idEspeciais=865 Especial Estadão - 100 anos de Lévi-Strauss]
*[http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u642.jhtm Uol Educação - Biografia]
* Claude Lévi-Strauss e as ''Mitológicas'' -- Um—Um projeto interdisciplinar na Internet (também em breve em Português, Francês e Inglês): [http://www.mitologicas.eu www.mitologicas.eu]
*[http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142009000300019&script=sci_arttext Artigo sobre a vida e a obra de Lévi Strauss, de Philippe Descola]
*[http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77011999000100002&script=sci_arttext Entrevista de Lévi Strauss]
Linha 176 ⟶ 175:
}}
{{Termina caixa}}
 
 
{{Medalha de Ouro CNRS}}
Linha 182 ⟶ 180:
{{Portal3|Antropologia|Filosofia|História}}
 
{{DEFAULTSORT:Levi Strauss, Claude}}
{{Commonscat}}
 
{{DEFAULTSORT:Levi Strauss, Claude}}
[[Categoria:Antropólogos da França]]
[[Categoria:Etnólogos da França]]