Ponto (região): diferenças entre revisões

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|estabelecido_data =
|sede_tipo =Capitais históricas
|sede =[[AmasyaAmásia|Amaseia]], [[Niksar|Neocesareia]], [[Sinope (Turquia)|Sinope]], [[Trebizonda]]
|líder_título =Principais grupos étnicos
|líder_nome =[[gregos pônticos]], [[lazes]], [[hemichis]], {{ilc|chepnis|Çepniler|Chepni (povo)|Chepni}} e [[turcos]]
}}
O '''Ponto''' ou '({{langx|la|''Pontus'''}} ({{langx|el|Πόντος||Pontos}}; "mar"){{Harvy|lid|Liddell & Scott|1940|loc=πόντος}} é uma designação histórica para a região na costa [[Sul|meridional]] do [[mar Negro]], que atualmente se situa no nordeste da [[Turquia]]. O nome foi dado à região na [[Antiguidade]] pelos [[Grécia Antiga|Gregos]] que [[Colonização|colonizaram]] a área, e deriva do nome grego para o mar Negro: {{lang|el|Πόντος Εύξεινος}}, ''PontosPonto Euxeinos''Euxino ("mar hospitaleiro"),{{HarvRef|Slater|1969|loc=Εὔξεινος}} ou simplesmente ''Pontos''.
 
Não existindo nome específico para a região a oriente do [[Rio Kızılırmak|rio Hális]], era usada a designação de "país {{lang|el|εν Πόντοι}}", transl: ''en Pontoi'', no PontosPonto [EuxeinosEuxino], o que acabou por dar origem a "Ponto", um termo cujo registo mais antigo se encontra na [[Anábase]] de [[Xenofonte]] ({{séc|IV a.C.}}). A extensão da região variou ao longo da história, mas geralmente ia desde as fronteiras da [[Cólquida]] (a [[Geórgia]] da atualidade) até ao interior da [[Paflagónia]], com áreas variáveis entre esses dois extremos. Existiram diversos [[País|estados]] e [[província]]s com o nome de Ponto ou suas variantes, fundadas nos períodos [[Período helenístico|helenístico]], [[Roma Antiga|romano]] e [[Império Bizantino|bizantino]]. O Ponto é também o local onde viviam as lendárias [[Amazonas (mitologia)|Amazonas]] da [[mitologia grega]]. O nome [[AmasyaAmásia]] (Amaseia), supostamente derivado do nome de AmasisAmásis, uma rainha das amazonas, é não só o nome duma cidade que ainda existe atualmente, mas também uma designação grega para todo o Ponto.
 
Na atualidade, o Ponto corresponde ''[[grosso modo]]'' à [[Regiões da Turquia|região]] estatíticaestatística e geográfica turca do [[Região do Mar Negro|Mar Negro]] (Karadeniz).
 
==História==
===Habitantes mitológicos===
Segundo a mitologia grega, o Ponto era o país das Amazonas, uma [[tribo]] de mulheres guerreiras, embora algumas também vivessem na [[Táurida]] ([[Crimeia]]), outra região importante onde viviam muitos [[gregos pônticos]]. Ponto tornou-se a área de residência das Amazonas, que ali fundaram um reino. O nome de AmasyaAmásia tem origem numa mulher amazona lendária.
 
===Habitantes primitivos===
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===Colonização grega===
[[Imagem:Sinop-tarihi-resim.jpg|thumb|esquerda|Postal antigo de [[Sinope (Turquia)|SinopSinope]], sucessora do que talvez tenha sido a primeira colónia grega no Ponto]]
 
As primeiras viagens de mercadores gregos e aventureiros à região pôntica ocorreram provavelmente ''[[circa]]'' {{AC|1000|x}}, mas os primeiros assentamentos só se tornariam mais permanentes e cidades sólidas cerca dos séculos VIII e {{AC|VII|x}}, como demonstram os achados [[Arqueologia|arqueológicos]]. Estes dados são coerentes com a data de fundação de {{AC|731|x}} relatada por [[Eusébio de Cesareia]] para [[Sinope (Turquia)|SinopSinope]], talvez a mais antiga das colónia gregas do que depois se chamaria o Ponto.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=39-40}} As narrativas épicas relacionadas com as viagens de [[Jasão]] e os [[Argonautas]] à [[Cólquida]], as histórias de [[Héracles]] navegando no mar Negro e as andanças de [[Odisseu]] na terra dos [[Cimérios]], bem como o [[mito]] de [[Zeus]] aprisionando [[Prometeu]] nas montanhas do [[Cáucaso]] como punição por ele querer ser mais que os deuses, podem ser entendidas como reflexos de contactos passados entre colonos gregos primitivos e povos locais, provavelmente caucasianosscaucasianos. A descrição mais antiga que se conhece do Ponto é, porém, a de [[Cílax de Carianda]], que descreveu os povoados gregos da região no {{séc|VII a.C.}}{{HarvRef|Hewsen|2009|p=39}}
 
===Expansão do Império Persa===
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[[Imagem:Xenophon.jpg|thumb|upright|O general e historiador ateniense [[Xenofonte]] passou pelo Ponto em 401 ou {{AC|400|x}}]]
-->
Cerca do século VI ou {{AC|V|x}}, o Ponto tinha-se oficialmente tornado uma parte do [[Império Aqueménida]], o que provavelmente significava que as colónias gregas locais pagavam [[tributo]] aos persas. Quando o comandante [[Atenas Antiga|ateniense]] [[Xenofonte]] passou pelo Ponto cerca de um século depois, em 401 ou {{AC|400|x}}, não encontrou lá quaisquer persas.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=40}} A região saiu do domínio persa quando o [[Reino da Capadócia]] se separou do Império Aqueménida, tomando-se o Ponto uma das suas províncias. Subsequentemente, o Ponto separou-se do Reino da Capadócia com [[Mitrídates I do Ponto|Mitrídates I KtistesCtistes]] ("ktistesCtistes", {{lang|el|Κτίστης}}, significa "o fundador" ou "o construtor" em grego) em {{AC|302|x}} e tornou-se independente.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=41}} Como a maior parte do reino que Mitrídates acabaria por estabelecer fazia parte da imensa região da [[Capadócia]], que primitivamente se estendia desdes as fronteiras da [[Cilícia]], a sul, até ao Euxino (mar Negro), o Reino do Ponto como um todo começou por se chamar {{NT|Cappadocia towards the Pontus|"Capadócia em direção ao Ponto"}}, mas depois simplesmente "Ponto", passando a chamar-se Capadócia apenas à metade sul da região que antes tinha esse nome.
 
===Reino do Ponto===
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[[Imagem:1stMithritadicwar89BC-pt.svg|upright=1.2|thumb|Mapa político do [[Levante (Mediterrâneo)|Levante]] em {{AC|89|x}}, com o [[Reino do Ponto]] de [[Mitrídates VI do Ponto|Mitrídates VI, o Grande]] a amarelo esverdeado]]
 
O Reino do Ponto estendeu-se geralmente a leste do rio Hális. A dinastia persa que fundaria o reino tinha governado a cidade grega de [[Cio (cidade)|Cio]], na [[Mísia]]. O primeiro membro conhecido dessa dinastia foi {{Lknb|Ariobarzanes|I||de Cio}} (ou da [[Frígia]]) e o último governante que teve a sua capital em Cio foi {{Lknb|Mitrídates|II||de Cio}}. O filho deste, tornar-se-ia Mitrídates I KtistesCtistes do Ponto.
 
Durante o período atribulado que se seguiu à morte de [[Alexandre, o Grande]], Mitrídates KtistesCtistes esteve durante algum tempo ao serviço de [[Antígono Monoftalmo]], um dos [[diádocos]] (sucessores de Alexandre) e logrou aproveitar-se das conturbações políticas desses tempos incertos para fundar o Reino do Ponto, que seria governado pelos seus descendentes, quase todos ostentando o mesmo nome, até {{AC|64|x}} A dinastia persa dos Mitrídates conseguiu assim sobreviver e prosperar no [[Período helenístico|mundo helenístico]] quando o Império Persa já tinha caído.
 
O reino atingiu o seu zénite durante o reinado de {{Lknb|Mitrídates|VI|do Ponto}} (Mitrídates Eupátor ou Mitrídates, o Grande) {{nwrap|r.|120|65 a.C.}}, que durante muitos anos esteve em guerra com os [[República Romana|romanos]]. Durante o seu governo, o reino incluía não só a Capadócia Pôntica, mas também as regiões costeiras desde a Bitínia, a ocidente, até à [[Cólquida]], parte do interior da [[Paflagónia]] e a [[Arménia Inferior]]. Não obstante governar a Arménia Inferior (ou Pequena Arménia), Mitrídates VI era aliado do [[Reino da Armênia (Antiguidade)|rei arménio]] da Grande Arménia [[Tigranes, o Grande]], com quem casou a sua filha Cleópatra.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=41-42}} Contudo, os romanos acabariam por derrotar Mitrídates e o seu genro Tigranes durante a [[Terceira Guerra Mitridática]], o que levou a que o Ponto ficasse sob o domínio romano.{{HarvRef|name=hew37x|Hewsen|2009|p=37-66}}
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|event_start = [[Reformas de Diocleciano]]
|year_end = Séc. VII
|event_end = Adoção do [[sistema dos themata|sistema dos ''themata'temático']]
|year_event1 = 536
|event1 = Reforma de [[Justiniano I]] [[#Província bizantina e thematema|altera significativamente]] o formato das províncias.
|p1=Ponto Gálata
|p2=Ponto Polemoníaco (antiga província)
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|s1=Thema Armeníaco
}}
Após um [[raide]] dos [[godos]] a [[Trebizonda]], o imperador [[Diocleciano]] {{nwrap|r.|285|305}} decidiu dividir a área em províncias mais pequenas com governos mais localizados.<ref name=hew37x /> Para isto, ele promoveu uma [[Reforma de Diocleciano|reorganização do sistema provincial]] em {{ca.|295}} e os três distritos pônticos passaram a ser pequenas províncias integradas na ''[[Diocese do Ponto|]] (''Dioecesis Pontica]]'' ([[Diocese romana|Diocese]] do Ponto):<ref name=hew43 />
 
* '''Helenoponto'''. Chamado inicialmente de ''Galatia Pontus'' ("Ponto da Galácia") e também de '''Diosponto''' (''Diospontus''), foi rebatizada "Helenoponto" (''Helenopontus'') por [[Constantino]] , o Grande {{nwrap|r.|306|337}} em honra da [[Helena de Constantinopla|sua mãe]]. A capital era [[Amiso]] e incluía também as cidades de [[Sinope (Turquia)|Sinope]], [[Amaseia]], Andres, [[Ibora]] e [[Zela]] (Zile).
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NotaNT|
1=Não confundir com [[Sida (cidade)|Sida]], na [[Panfília]], na costa do [[Mediterrâneo]].
}} e incluindo as cidades de [[Neocesareia]], [[Argirópolis]], [[Comana do Ponto]] e [[Giresun|CerasoCéraso]].
 
* '''Ponto Capadócio''' (''Cappadocia Pontus'' - "Ponto da Capadócia"), com capital em [[Trapezo]] e incluindo os pequenos portos de ''[[Atenas (Ponto)|AthanaeAtenas]]'' (Pazar) e [[Rizeu]]; estendia-se até à Cólquida.
 
===Província bizantina e ''thema''tema===
[[Imagem:Asia Minor ca 842 AD-pt.svg|thumb|upright=1.2|Mapa da Ásia Menor em 842]]
 
O imperador bizantino {{Lknb|[[Justiniano|I}}]] voltou a reorganizar a região em 536:
* Ponto Polemoníaco foi dissolvida, com a parte ocidental (Polemônio e Neocesareia) passando a fazer parte de [[Helenoponto]], Comana passando a fazer parte da nova província da {{lknb|Arménia|II}} e o resto (Trapezo e Céraso) juntou-se à nova província da {{lknb|Arménia|I Magna}}, cuja capital era [[Justinianopólis]].<ref name=hew43 />
* Zela deixou de fazer parte de Helenoponto e foi integrada na Arménia&nbsp;II e o seu governador provincial foi relegado para o posto de ''moderador''.
* A [[província Honória]] passou a integrar a [[província da Paflagônia|Paflagónia]], que passou a ser governada por um ''[[pretor]]''.
 
Nos primeiros tempos do [[Império Bizantino]], Trebizonda tornou-se um centro de cultura e ciência. No {{séc|VII}}, um indivíduo de nome Tichico foi de [[Constantinopla]] para lá estabelecer uma escola. Um dos seus alunos foi o académico arménio [[Anania de Chirac]].{{HarvRef|name=hew47|Hewsen|2009|p=47}}
 
Quando foram criados os ''[[themaTema (distrito bizantino)|temas]]ta'', no {{séc|VII}}, o Ponto passou a fazer parte do [[ThemaTema Armeníaco]]. No século seguinte, a parte ocidental (Paflagónia) passou a integrar o [[ThemaTema Bucelário]]. Estes dois grandes ''themata''temas foram depois gradualmente divididos noutros mais pequenos, pelo que no final do {{séc|X}} o Ponto estava dividido nos ''themata''temas da [[ThemaTema de Coloneia|Coloneia]] e da [[ThemaTema da Cáldia|Cáldia]], este último governado pela [[família Gabras]] (ou Gabrades).<ref name=hew47 /> Depois do {{séc|VIII}}, a área viveu um período de prosperidade, que só terminou com a conquista [[Império Seljúcida|seljúcida]] da Ásia Menor nas décadas de 1070 e 1080. Tendo voltado ao domínio bizantino durante o reinado de {{Lknb|Aleixo|I||Comneno}}, o Ponto foi governado por governantes que na prática eram semi-autónomos, como os Gabras de Trebizonda.
 
===Império de Trebizonda===
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{{Artigo principal|Império de Trebizonda}}
 
Após a [[Cerco de Constantinopla (1204)|conquista de Constantinopla]] pela [[Quarta Cruzada]] em 1204, o Ponto manteve-se independente como Império de Trebizonda sob os [[Dinastia Comneno|comnenosComnenos]]. Graças à situação geográfica remota e a uma diplomacia hábil, esse império logrou sobreviver até ser conquistado pelos [[Império Otomano|otomanos]] em 1461, nove anos depois da [[queda de Constantinopla]].{{HarvRef|Hewsen|2009|p=49}} A habilidade diplomática passou por ter-se tornado um estado [[Vassalagem|vassalo]] em várias ocasiões, tanto da [[Geórgia]] como de vários líderes túrquicos do interior. O Império de Trebizonda foi um centro de cultura sob o reinado da dinastia Comnena.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=48}}
 
===Vilaiete otomano===
[[Imagem:Christians in the Black Sea region (1896).JPG|thumb|upright=1.2|Mapa das populações cristãs no vilaiete de Trebizonda e suas vizinhanças em 1896]]
 
Com o domínio otomano que foi iniciado com a queda do Império de Trebizonda, parte dos gregos pônticos da região converteram-se ao [[islão]] através do sistema do ''[[Devşirme]]'', duma forma mais ou menos forçada, principalmente a partir do {{séc|XVII}}. Mas ao mesmo tempo, também houve alguns gregos que habitavam em vales que se converteram de livre vontade, nomeadamente os do {{ilc|vale de Of||Of (Turquia)|Of (Trebizonda)}}, e grande parte dos gregos pônticos cristãos manteve-se na região e em áreas vizinhas, que iam até ao Cáucaso [[Rússia|russo]], até à década de 1920, quando constituíam cerca de 25% da população. Em partes da Geórgia e da [[Arménia]] viveram gregos pônticos até à década de 1990, preservando os seus costumes e [[grego pôntico|dialeto do grego]]. Um dos grupos de gregos islamizados eram os chamados ''kromli'', dos quais se suspeitava terem permanecido cristãos secretamente; viviam nas aldeias de Krom, Imera, Livadia, Prdi, AlitinosAlitino, Mokhora e Ligosti, entre outras e o seu número ascendia a 12 a 15 mil.{{HarvRef|Hewsen|2009|p=54}}
 
Durante os últimos anos do Império Otomano foi proposta a criação da "República do Ponto" e da "Federação Pôntico-Arménia", que não se chegaram a concretizar-se. Segundo algumas fontes, a intenção da criação desse ou desses estados independentes esteve na origem do que ficou conhecido por [[genocídio grego]], que alegadamente teria ocorrido ao mesmo tempo do [[genocídio arménio]], durante a [[Primeira Guerra Mundial]] (meados da década de 1910) e no qual teria sido mortas entre 300 e 400 mil pessoas, na sua maioria naturais do Ponto. A existência de tal massacre, da sua classificação como genocídio e do número de vítimas são temas controversos.