Amor: diferenças entre revisões

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Dos tempos primitivos até à Idade Média eram os pais quem cuidavam dos casamentos dos filhos, como um negócio; o casamento tinha bases que eram mais importantes que o amor, e o sentimento era reservado para as relações adulterinas.<ref name=casamar/>
 
A [[Revolução Francesa]] foi um divisor de águas na visão ocidental do casamento, celebrando o rompimento com a sacralização do ritual pela [[Igreja Católica|Igreja]]; até ali, não apenas no Ocidente, se distinguia amor de casamento (textos judaicos e gregos declaram que a função do matrimônio era a procriação, o amor era desnecessário).<ref name=casamar/> Quem primeiro expressou a ideia do afeto integrando o matrimônio foi o pastor anglicano [[Thomas Malthus]]; segundo ele, a amizade, companheirismo e afeto são os principais motes do casamento, e não a procriação.<ref name=casamar/>
 
As maiores mudanças, contudo, ocorrem com a modernidade, em que a valorização do amor individual presente na ideologia burguesa, leva ao predomínio do amor-paixão com erotismo na relação conjugal - criando uma emboscada já que isto resultou em criação de expectativas e conflitos decorrentes de suas frustrações.<ref name=casamar/>
 
====Ética amorosa ====
 
Uma [[ética]] do amor envolve questões morais que se adequam ao sentimento, bem como as formas que ele pode ou não tomar, abordando questionamentos como: será aceitável, eticamente, amar um objeto, ou a si mesmo? Amar a si mesmo ou a outro é um dever? O amor desleal é moralmente aceitável, ou lícito (ou seja, é errado, mas desculpável)? O amor só pode envolver aqueles com quem a pessoa tenha um relacionamento significativo? O amor deve transcender ao desejo sexual ou à aparência física? - indo além para as questões que envolvem a própria ética do sexo, aquelas que lidam com a adequação da atividade sexual, da reprodução, das atividades hétero e homossexuais, etc.<ref name=iep>{{citar web|URL=http://www.iep.utm.edu/love/|título=Love|autor=Alexander Moseley |data=s/d |publicado=IEP - Internet Encyclopedia of Philosophy |acessodata=9/1/2015}}</ref>
 
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==Simbologia e mítica ==
 
A compreensão dos símbolos que cria sempre fascinou o homem, e por meio da sua análise pode-se então responder sobre a origem de sua própria existência, conhecendo os antigos costumes, as crenças religiosas, a medicina alternativa e a comunicação.<ref name=fada>{{citar web|URL=http://educonse.com.br/2011/cdroom/eixo%209/PDF/Microsoft%20Word%20-%20O%20ENCANTAMENTO%20DA%20MAca.pdf |título=O Encantamento da Maçã: um olhar sobre o conto de fadas da Branca de Neve |autor=Ane Rose de Jesus Santos Maciel, Giovana Scareli |data=2011 |publicado=Educonse |acessodata=13/4/2015}}</ref> Neste sentido, o símbolo surge como algo que vem para elucidar, por analogia, aquilo que ainda está desconhecido ou para antever o que ainda não ocorreu - e não como o disfarce de algo que já se conhece.<ref name=fada/>
 
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[[Imagem:Pommes d amour.jpg|miniaturadaimagem|[[Maçã do amor|maçãs do amor]], doce feito com a fruta]]
 
Na [[mitologia grega]] a maçã torna-se o [[pomo da discórdia]]: a deusa [[Éris]] nela inscrevera a dedicatória - "à mais bela" - e lançou no banquete dos deuses entre as deusas. [[Hera]], [[Afrodite]] e [[Atena]] brigaram pela posse do pomo. [[Zeus]] não querendo privilegiar nenhuma deixa a decisão com [[Páris]] no episódio conhecido como [[Julgamento de Páris]] que é um prelúdio para [[Guerra de Troia]]<ref> Kerenyi, Karl. Os heróis dos gregos, VII: "o prelúdio da Guerra de TróiaTroia", pp 308ff, 1959. Ir para cima ↑</ref>: Afrodite promete a Páris o amor da mais bela das mulheres, [[Helena (mitologia)|Helena de Esparta]]. Páris escolhe Afrodite como deusa mais bela, ao invés de aceitar o poder prometido por Hera ou a sabedoria prometida por Atena. A moral do conto é que o homem sempre escolhe o amor.<ref> Pausânias, ''Description of Greece'', 5.19.5</ref>
 
Embora haja outros frutos, como a [[uva]] ou o [[figo]], que representem a alegoria do [[pecado original]] citado na Bíblia, foi a [[maçã]] quem, a partir do {{séc|XII}} assumiu o papel principal de representar a transgressão vivida por [[Adão e Eva]], o motivo de sua expulsão do Éden.<ref name=maca>{{citar web|URL=http://www.raco.cat/index.php/Mirabilia/article/viewFile/283726/371655|título=Significados medievais da maçã: fruto proibido, fonte do conhecimento, ilha paradisíaca |autor=Adriana Zierer |data=dez/2001 |publicado=Mirabilia 01, ISSN 1676-5818 |acessodata=13/4/2015 }}</ref>
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[[Imagem:Paris Bordone (A Pair of Lovers) Daphnis and Chloe 1540s.png|thumb|220px|De um deus cósmico, o mito de [[Eros (mitologia)|Eros]] ([[Cupido]] para os romanos) evoluiu para um menino travesso.<br><small>[[Paris Bordone]], [[National Gallery (Londres)|National Gallery]].</small>]]
 
Ausente na obra de [[Homero]], apenas com [[Hesíodo]] que o deus surge, em meados do {{-séc|VIII}}, com grande destaque em sua obra; [[Eros (mitologia)|Eros]] era objeto de adoração em [[Téspias]], na [[Beócia]], terra natal do poeta - embora somente como elemento de fecundidade para o gado e no casamento.<ref name=abril/> É em Hesíodo, portanto, que seu mito adquire universalidade, traduzido na sua obra ''[[Teogonia]]'': dando encadeamento onde tudo teve uma origem, o poeta explica que no princípio tudo era o [[Caos (mitologia)|Caos]] e em seguida surgiram os [[deuses primordiais]], [[Gaia (mitologia)|Terra]] e a Procriação - "criador de toda a vida".<ref>{{citar web|título=Eros Protogenos|url=http://www.theoi.com/Protogenos/Eros.html|publicado=Theoi|acessodata=24 de Maio de 2016}}</ref><ref name=abril>{{citar livro|autor=Victor Civita (editor) |título=Enciclopédia Mitologia (vol. I) |subtítulo=Capítulo II: Divindades Primordiais - Eros. |editora=Abril Cultural |ano=São Paulo, 1973 |página=33-48}}</ref>
 
A partir da Procriação - Eros -, Hesíodo pode finalmente traçar uma [[genealogia]] das [[Mitologia Grega|divindades gregas]] de forma sistemática, e não mais um universo de mitos separados. Eros, a Procriação, é a força de atração que viria a unir imortais e mortais entre si e uns com os outros; este caráter que o poeta lhe dá - de elemento de ligação - perpassa por toda a ''Teogonia'', e como tal surgirá na obra de vários filósofos.<ref name=abril/>
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[[Imagem:Platón Academia de Atenas.png|thumb|esquerda|[[Platão]] foi o filósofo grego que mais se ocupou do amor]]
 
Influenciado por Hesíodo, [[Parmênides de Eleia|Parmênides]] ({{-séc|VI}}), no seu poema ''Sobre a Natureza'', coloca Eros como intermediário capaz de unir elementos conflitantes como Luz e Noite, no fundamento do universo.<ref name=abril/> Também [[Empédocles]], falando da força de atração a que Hesíodo nomeia de ''Amor'', dá-lhe grande importância; o universo é fruto de duas grandes forças que agem sobre os quatro elementos primordiais (água, ar, terra e fogo): de um lado atua a ''Philia'', o Amor, que aproxima os diferentes e, do outro, ''Neikos'', o Ódio, que aproxima os iguais (fogo de fogo, terra de terra, e assim por diante); agindo com isonomia, essas forças deixam o universo em permanente tensão, uma força compensando a outra, de tal forma que o universo apresenta ciclos em que num dado momento ''Philia'' exerce domínio e, reagindo, ''Neikos'' se desenvolve até atingir por sua vez o ápice e provocar a reação da força oposta, e assim sucessivamente. Foi [[Platão]], contudo, o filósofo grego que mais dedicou-se ao Amor, a tal ponto que este se constitui mesmo no centro da construção de seu pensamento. Em ''[[O Banquete]]'', ele apresenta a "''ascese erótica''" como um dos caminhos em que a pessoa possa ascender ao plano das ideias - o mundo verdadeiro do qual o plano material seria uma mera imitação. Ali a figura de Eros conduz a alma a contemplar a beleza partindo da beleza física até atingir a contemplação de todo o belo.<ref name=abril/>
Foi [[Platão]], contudo, o filósofo grego que mais dedicou-se ao Amor, a tal ponto que este se constitui mesmo no centro da construção de seu pensamento. Em ''[[O Banquete]]'', ele apresenta a "''ascese erótica''" como um dos caminhos em que a pessoa possa ascender ao plano das ideias - o mundo verdadeiro do qual o plano material seria uma mera imitação. Ali a figura de Eros conduz a alma a contemplar a beleza partindo da beleza física até atingir a contemplação de todo o belo.<ref name=abril/>
 
É neste diálogo que Platão apresenta a origem de Eros, em narrativa onde [[Sócrates]] o dá como sendo filho de [[Pênia]] - a Pobreza, e de [[Poro (mitologia)|Poros]] - o Recurso, gerado no dia em que o [[Deuses olímpicos|Olimpo]] comemorava o nascimento da deusa da Beleza - [[Afrodite]], de quem o amor por isto seria eterno companheiro. E, herdando as características da mãe (a penúria) e do pai (a riqueza), terá sempre caráter duplo: a carência permanente e índole andarilha maternas, e a coragem e energia paternas que o tornam caçador esperto em sua busca do Belo e do Bom - e não apenas, será mortal e imortal, ora nascendo, enriquecendo e finalmente minguando e desaparecendo, para depois renascer. Da mãe o Amor não herdou sabedoria, senão a sede pelo conhecimento: Eros ama a Sabedoria.<ref name=abril/> Também ali Platão coloca [[Aristófanes]], célebre [[Comédia|comediante]], a engendrar a teoria de que na criação todos os seres humanos tinham formas duplicadas (com duas cabeças, quatro braços, etc.) mas, como castigo por haverem desafiado os deuses, foram separados e sofriam à busca de sua outra metade, levando então [[Zeus]] a criar Eros, que permitia aos homens encontrarem sua metade e, assim, amenizarem seu sofrimento.<ref name=amart/>
 
===Idade médiaMédia ===
{{AP|Amor cortês}}
[[Imagem:Amantes in Abadia Sto Domingo de Silos.png|miniaturadaimagem|Amantes -<small>Detalhe de pintura no teto do claustro do [[Mosteiro de Santo Domingo de Silos]]</small>]]