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Adicionei fatos sobre a história da epilepsia, desde a antiguidade até os dias modernos. Separei em diferentes tópicos quanto a cada área. Adicionei 2 imagens pertinentes ao assunto (ou no mínimo curiosidade).
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No Brasil a prevalência é de cerca de 1,2%, o que representa atualmente quase 2 milhões de pessoas.<ref>RAUL MARINO JR; ARTHUR CUKIERT; EUNICE PINHO. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA EPILEPSIA EM SÃO PAULO. http://www.scielo.br/pdf/anp/v44n3/04.pdf</ref>
 
== História da Epilepsia ==
[[Ficheiro:Valentine-Epilepsy.jpg|miniaturadaimagem|282x282px|Figura retratando São Valentim, um dos diversos padroeiros da epilepsia.]]
 
=== Antiguidade ===
Os primeiros relatos de epilepsia são encontrados nos textos da [[Ayurveda|medicina ayurvédica]], originária na Índia, desenvolvida entre 4500 e 1500 anos a.C. A citação mais antiga de epilepsia conhecida é dentro da [[Charaka Samhita]] (400 anos a.C.), sob o nome de "apasmara", que significa perda de consciência, perda de memória ou distúrbio do intelecto. No texto, já se referenciava sintomas, classificações, diagnósticos e tratamentos<ref>{{Citar web|url=http://easyayurveda.com/2015/09/19/charaka-apasmara-chikitsa-chapter/|titulo=Charaka - Apasmara Chikitsa - 10th chapter - ayurvedic home remedies, healthy lifestyle, health tips|acessodata=2016-06-20}}</ref>.
 
No [[Papiro Ebers|papiro de Ebers]], um papiro egípcio de medicina herbal datado de 1550 anos a.C., a epilepsia era relacionada com um "obstáculo no lado direito do organismo", recomendando tratar-se com uma mistura de plantas deixadas ao ar livre por uma noite.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=253QHewpg_QC|titulo=Tratamiento de la epilepsia|ultimo=Ortega|primeiro=Francisco Villarejo|data=1998-01-01|editora=Ediciones Díaz de Santos|isbn=9788479783259|lingua=es}}</ref> No [[Código de Hamurabi|código de Hammurabi]], consta legislações referentes ao comércio de escravos considerados com defeito, em que se inclui a epilepsia<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.co.uk/books?id=Tu-MYstDdvoC&pg=PA135&lpg=PA135&dq=hammurabi+benu+epilepsy&source=bl&ots=RowRttX-oW&sig=FD5ITHI0iNenYc7nCIoQ3ykWFXY&hl=en&sa=X&ved=0ahUKEwj5xffosLbNAhVKC5AKHSdLDNEQ6AEIHjAA#v=onepage&q=hammurabi%2520epilepsy&f=false|titulo=Epilepsy in Babylonia|ultimo=Stol|primeiro=Marten|data=1993-01-01|editora=BRILL|isbn=9072371631|lingua=en}}</ref>.
 
Na [[Grécia Antiga]], a epilepsia era uma doença controversa. Associavam-na com possessão espiritual, mas também com genialidade e divindade, sendo atribuída a ela o nome "doença sagrada"<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Magiorkinis|primeiro=Emmanouil|coautores=Kalliopi|data=2010-01-01|titulo=Hallmarks in the history of epilepsy: epilepsy in antiquity|jornal=Epilepsy & Behavior: E&B|volume=17|numero=1|paginas=103–108|issn=1525-5069|pmid=19963440|doi=10.1016/j.yebeh.2009.10.023|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19963440}}</ref>. A excessão a tal visão era a escola de [[Hipócrates]] (500 a.C.), que rejeitava a noção de que a epilepsia fosse causada por espíritos e de natureza divina. Hipócrates determinou que sua origem não era sagrada, e sim cerebral. A sua hipótese era de que a epilepsia era determinada enquanto ainda no útero, caso a mãe seja uma pessoa "fleumática"<ref>{{Citar livro|url=https://en.wikisource.org/wiki/On_the_Sacred_Disease|titulo=On the Sacred Disease|ultimo=Hippocrates}}</ref>. Ao invés de se referir à epilepsia como a ''doença sagrada'', [[Hipócrates]] utilizava o termo ''grande doença'', dando origem ao termo moderno ''grand mal'', usado para [[Convulsão|crises convulsivas]] tônico-clônicas <ref name=":0" />. A visão de Hipócrates sobre epilepsia como um distúrbio cerebral só retornaria nos séculos 18 e 19.
 
=== Idade Média ===
Opiniões quanto a epilepsia durante a era Medieval (400-1400 a.D.) eram dominadas por simbolismo, demonologia e a crença religiosa herdada do período Greco-Romano. Assim como todas as outras ciências, a medicina era permeada com superstições. A visão da Igreja Católica guiava o público a crer que convulsões eram uma forma de possessão ou bruxaria, necessitando de rituais religiosos para sua cura. A epilepsia é descrita no [[Novo Testamento]] (Mateus, 17:14–18), em que um menino é levado pelo seu pai a [[Jesus|Jesus Cristo]] por apresentar episódios súbitos de perda de consciência, espasticidade, salivação e auto-lesões. Segundo as escrituras, [[Jesus|Jesus Cristo]] realiza a cura do menino, chamado de "lunático", através de expulsão demoníaca <ref>{{Citar web|url=http://www.gotquestions.org/epilepsy-Bible.html|titulo=Is epilepsy mentioned in the Bible?|acessodata=2016-06-20|obra=GotQuestions.org}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Budrys|primeiro=V.|data=2007-07-01|titulo=Neurology in Holy Scripture|jornal=European Journal of Neurology|volume=14|numero=7|paginas=e1–e6|issn=1468-1331|doi=10.1111/j.1468-1331.2007.01766.x|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1468-1331.2007.01766.x/abstract|idioma=en}}</ref>. O guia inquisicional "Malleus Malleficarum" designou a epilepsia como bruxaria e diversas pessoas morreram por conta disso<ref>{{citar web|url=http://nawrot.psych.ndsu.nodak.edu/courses/465Projects05/epilepsy/History.htm|titulo=History of Epilepsy|data=|acessodata=20/06/2016|obra=History of Epilepsy|publicado=|ultimo=Statler|primeiro=Seth}}</ref>.
 
Em 190 a.D., o médico romano Galeno, escreveu em uma carta a sua hipótese de fisiopatologia para epilepsia:<blockquote>"Quando um humor espesso fleumático se acumula nas cavidades corporais, afetando as raízes dos nervos e impedindo a livre passagem no pneuma psíquico, o fenômeno de epilepsia sucede.<ref>{{Citar web|url=https://archive.org/stream/39002086348654.med.yale.edu/39002086348654.med.yale.edu_djvu.txt|titulo=Full text of "Galen's "Advice for an epileptic boy""|acessodata=2016-06-20|obra=archive.org}}</ref>"</blockquote>Um dos principais escolares da medicina foi o médico iraniano [[Avicena|Avicenna]] (Ibn-Sinâ) de 980 a.D., autor do livro [[O Cânone da Medicina]], utilizado na educação médica europeia entre os séculos XII e XVIII. Avicenna definiu epilepsia como um transtorno convulsivo de início súbito com sintomas prodrômicos, como desconforto epigástrico, dor, depressão, parestesia em língua ou membros, fala incoerente e pesadelos<ref name=":1">{{Citar web|url=http://www.hektoeninternational.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1175|titulo=Hektoen International|acessodata=2016-06-20|obra=www.hektoeninternational.org}}</ref>. Também menciona o estado pós-ictal, em que percebia a recuperação da consciência dos pacientes, os quais queixavam-se de dor de cabeça, depressão, dores musculares, soluços e tremores. A etiologia da epilepsia também é bastante abordada, incluindo fatores endógenos (por exemplo, gravidez), exógenos (traumas ou infecções) e precipitantes (estresse psicológico ou físico)<ref name=":1" />.
 
=== Renascimento e Iluminismo ===
O período renascentista, retomando teorias hipocráticas, era focado nas possíveis causas naturais da epilepsia, rejeitando superstições religiosas. Até o final do século XVI, médicos começaram a considerar traumas encefálicos, uremia e sífilis como possíveis fatores etiológicos para convulsões. No entanto, sem o benefício da ciência moderna, os mecanismos subjacentes da epilepsia permaneciam ainda desconhecidos. Cientistas médicos notáveis, como Herman Boerhaave (1668-1738 a.D), enfatizavam a abordagem clínica e a identificação de fatores precipitantes de convulsões. O médico suíço Samuel-Auguste Tissot contribuiu com a identificação de crises de ausência, uma variante de convulsões epilépticas, e rechaçou as superstições de que a lua teria algum efeito sobre as convulsões, insistindo que estas teriam como base o cérebro e nervos motores. O médico escocês William Culen (1710–1790), diferenciou as crises epilépticas das não epilépticas<ref name=":1" />.
 
=== Período Moderno ===
[[Ficheiro:Machado de Assis Epilepsia.jpg|miniaturadaimagem|Machado de Assis sendo acudido no Rio de Janeiro após crise convulsiva.]]
Desde o final do século XIX, o entendimento sobre a epilepsia cresceu significativamente. Hospitais da Europa e nas Américas foram construídos especificamente para pacientes com epilepsia. Os principais participantes nessa revolução científica foram os escolares neurologistas franceses Maisonneuve (1745–1826), Calmeil (1798–1895) e Esquirol (1772–1840), o irlandês Robert Bentley Todd ([[paralisia de Todd]]) e o inglês John Hughlings Jackson ([[crise jacksoniana]]). Neste período a medicina focou na delineação da fisiopatologia da epilepsia e da localização topográfica das crises convulsivas<ref>{{Citar periódico|ultimo=Magiorkinis|primeiro=Emmanouil|coautores=Aristidis|data=2014-08-24|titulo=Highights in the History of Epilepsy: The Last 200 Years|jornal=Epilepsy Research and Treatment|volume=2014|paginas=1–13|issn=2090-1348|pmid=25210626|doi=10.1155/2014/582039|url=http://dx.doi.org/10.1155/2014/582039|idioma=en}}</ref>.
 
A prova científica de que a epilepsia se origina no cérebro veio do trabalho dos alemães Fritsch e Hitzig "''Uber die elektrische Erregbarkeit des Grosshirns''" (Sobre a Excitabilidade Elétrica do Cérebro), em que provocavam crises convulsivas a partir de estímulos elétricos sobre cérebros de cães<ref>{{Citar periódico|ultimo=Fritsch|primeiro=G.|coautores=E.|data=2009-06-01|titulo=Electric excitability of the cerebrum (Uber die elektrische Erregbarkeit des Grosshirns)|jornal=Epilepsy & Behavior: E&B|volume=15|numero=2|paginas=123–130|issn=1525-5069|pmid=19457461|doi=10.1016/j.yebeh.2009.03.001|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19457461}}</ref>.
 
Durante o século XX, a invenção do [[Eletroencefalografia|eletroencefalograma]] (EEG), o avanço da neurocirurgia, a descoberta de medicamentos antiepilépticos e a compreensão da mecanismos fisiopatológicos foram os avanços mais importantes na área de pesquisa em epilepsia. Os avanços mais recentes no campo incluem o desenvolvimento de métodos de imagem avançados, o desenvolvimento de microcirurgia e a pesquisa sobre conexão de fatores genéticos e crises epilépticas<ref name="magiorkinis_2010" />.
 
No Brasil, uma figura notável que portava epilepsia era o famoso escritor [[Machado de Assis]], que apesar de nunca ter sido diagnosticado clinicamente com epilepsia, seus biógrafos são unânimes quanto ao fato<ref>{{Citar web|url=http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/machado-de-assis-e-a-epilepsia/|titulo=Machado de Assis e a epilepsia – História sem Fim História sem Fim|acessodata=2016-06-20|obra=Superinteressante}}</ref>.
 
== Campanha internacional da OMS ==