Mistérios dionisíacos: diferenças entre revisões

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[[File:Dionísio e os Sátiros.jpg|thumb|Paris, Museu do Louvre.]]
Os '''mistérios dionisíacos''' ou '''cultos dionisíacos''' eram ritos religiosos dedicados ao deus grego Dionísio, ou [[Dioniso]]. Destacavam-se por serem cultos que contradiziam e ultrapassavam a ordem social e humana convencional, ao contrário das adorações a outros deuses, que cumpriam o papel de reforçar e sacralizar os valores da cidade grega. <ref>(VERNANT, 2006, p.77)</ref>
Nos rituais a Dionísio[[Dioniso]] o devoto experienciava a [[alteridade]], o contato com a figura do '''Outro''', encontrando dentro de si, através do transe, uma expressão que divergia da experiência cotidiana e ordinária. <ref>(BITTENCOURT, 2010)</ref> Na experiência [[dionisíaca]], o aspecto dual – o masculino e o feminino, o selvagem e o civilizado etc – que confere racionalidade e coerência à realidade consensual se desfaz, os opostos fundem-se, e assim também o homem funde-se aos deuses e à natureza.<ref>(VERNANT, 2006. p. 77)</ref>
 
 
Nos rituais a Dionísio o devoto experienciava a [[alteridade]], o contato com a figura do '''Outro''', encontrando dentro de si, através do transe, uma expressão que divergia da experiência cotidiana e ordinária. <ref>(BITTENCOURT, 2010)</ref> Na experiência [[dionisíaca]], o aspecto dual – o masculino e o feminino, o selvagem e o civilizado etc – que confere racionalidade e coerência à realidade consensual se desfaz, os opostos fundem-se, e assim também o homem funde-se aos deuses e à natureza.<ref>(VERNANT, 2006. p. 77)</ref>
== Dionísio e o transe ==
Dionísio[[Dioniso]], conhecido como o deus delirante, era o deus da loucura, do [[vinho]], do delírio. ''“Uma antiga denominação e interpretação para um estado excepcional da alma é éntheos: o deus dentro de si”'' <ref>(BURKERT, 1993, p. 225)</ref>. Era exatamente esse o objetivo dos '''rituais dionisíacos''', a loucura como experiência divina, realização e fim em si mesma. <ref>(BURKERT, 1993, p. 227)</ref> É como se acontecesse a fusão do deus e do '''adorador'''. Bacchos é utilizado como nome do '''adorador''' e nome alternativo do deus, é uma palavra de origem [[semita]] que significa chorar. <ref>(BURKERT, 1993, p. 320)</ref>
 
== Nascimento de DionísoDioniso ==
[[Zeus]] se apaixona por [[Sêmele]], princesa de [[Tebas]], e coloca um filho em seu ventre. [[Hera]], esposa de [[Zeus]], fica furiosa e resolve se vingar. Disfarçou-se e foi ao encontro de [[Sêmele]], ainda grávida, e a convenceu a pedir a [[Zeus]] que lhe mostrasse todo o seu esplendor. Não podendo recusar o pedido da amada, [[Zeus]] aparece em uma carruagem de raios e trovões, [[Sêmele]], por ser mortal, não suportou a visão de [[Zeus]] e do clarão que o envolvia e morreu fulminada.<ref>{{Citar web|url=http://eventosmitologiagrega.blogspot.com//2010/07/dioniso-ou-%20dionisio-baco.html|titulo=Mitologia Grega|acessodata=2016-06-21}}</ref>
Enquanto [[Sêmele]] estava sendo devorada pelo fogo, [[Zeus]] salva o bebê prematuro do ventre de sua mãe.<ref>(BURKERT, 1993, p. 245)</ref> Ele costura a criança em sua coxa e no final da gestação entrega o pequeno Dionísio[[Dioniso]] a [[Hermes]], para que ficasse protegido de [[Hera]], sendo criado pelas [[ninfas]] '''Nisíades''', que moravam no '''Monte Nisa'''.<ref>{{Citar web|url=http://www.theoi.com/Olympios/DionysosMyths.html#Birth|titulo=STORIES OF DIONYSUS 1 : Greek mythology|acessodata=2016-06-21|obra=www.theoi.com}}</ref>
 
Enquanto [[Sêmele]] estava sendo devorada pelo fogo, [[Zeus]] salva o bebê prematuro do ventre de sua mãe.<ref>(BURKERT, 1993, p. 245)</ref> Ele costura a criança em sua coxa e no final da gestação entrega o pequeno Dionísio a [[Hermes]], para que ficasse protegido de [[Hera]], sendo criado pelas [[ninfas]] '''Nisíades''', que moravam no '''Monte Nisa'''.<ref>{{Citar web|url=http://www.theoi.com/Olympios/DionysosMyths.html#Birth|titulo=STORIES OF DIONYSUS 1 : Greek mythology|acessodata=2016-06-21|obra=www.theoi.com}}</ref>
 
== Festas ==
Diferentes [[festas]] e [[rituais]] eram realizados em homenagem ao deus [[Dioniso]].
Os mais antigos eram as '''Leneias''', festivais que ocorriam anualmente em [[Atenas]] no inicio do inverno. Havia concursos dramáticos de tragédia e comédia. A '''Festa das Anterésias''', também conhecidas como as '''Velhas Dionísias'''<ref>(BURKERT, 1993, p. 319)</ref> eram realizadas na região jônico-ática. Durante a festa, contava-se a história de [[Dioniso]] e [[Ariadne]], filha do rei [[Minos]], de [[Creta]], que casou-se com o deus.<ref>(BURKERT, 1993, p. 322)</ref> A esposa do rei, a basílinna, era oferecida como mulher a Dionísio[[Dioniso]]. Essa união amorosa ocorria no Bucólion.<ref>(BURKERT, 1993, p. 224)</ref> Esse casamento sagrado era rodeado de rituais sombrios. A festa ocorria no mês antestérion e também era conhecida como '''A Festa Das Flores''', pois tinha relação com a primavera, a fertilidade e o rejuvenescimento da natureza. <ref>{{Citar web|url=https://sites.google.com/site/dionysionbr/artigos/festas-em-honra-de-dionisio|titulo=Festas em honra de Dionísio - Santuário de Dionísio|acessodata=2016-06-21|obra=sites.google.com}}</ref>
As '''Dionísias Rurais''' ocorriam na metade do inverno e serviam como rituais de fertilidade. Ocorriam sacrifícios de bodes e uma procissão fálica<ref>(BURKERT, 1993, p. 321)</ref> com danças e cantos. Os participantes cobriam o rosto com máscaras ou se vestiam de animais.<ref>{{Citar web|url=https://sites.google.com/site/dionysionbr/artigos/festas-em-honra-de-dionisio|titulo=Festas em honra de Dionísio - Santuário de Dionísio|acessodata=2016-06-21|obra=sites.google.com}}</ref>
As '''Dionísias Urbanas''', também conhecidas como Grandes Dionísias, foram introduzidas na sociedade ateniense por '''Psistrato''' em [[534 a.C.]], ocorriam na primavera e duravam 6 dias. No primeiro dia havia uma procissão com a imagem de Dionísio[[Dioniso]], sacrifícios de touros e porcos. Havia também uma procissão mais desorganizada, com musica, dança e muita bebedeira. Nos dias seguintes ocorriam as competições (''agon'') entre os poetas e no ultimo dia havia premiações.<ref>{{Citar web|url=http://ta-hiera.blogspot.com//2010/03/as-%20grandes-dionisias.html|titulo=Ta-Hiera|acessodata=2016-06-21}}</ref>
Todas essas festas e rituais tinham em comum a embriaguez e o sacrifício de um animal que podia ser ora o bode, ora o touro. Além destas festividades estatais, pequenos grupos também faziam suas próprias festas. Cultos secretos e mistérios foram surgindo e se desenvolvendo.<ref>(BURKERT, 1993, p. 321)</ref>
 
Os mais antigos eram as '''Leneias''', festivais que ocorriam anualmente em [[Atenas]] no inicio do inverno. Havia concursos dramáticos de tragédia e comédia.<ref>{{Citar web|url=http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0934|titulo=Lenéias @ greciantiga.org|acessodata=2016-06-21|obra=greciantiga.org}}</ref>
 
A '''Festa das Anterésias''', também conhecidas como as '''Velhas Dionísias'''<ref>(BURKERT, 1993, p. 319)</ref> eram realizadas na região jônico-ática. Durante a festa, contava-se a história de [[Dioniso]] e [[Ariadne]], filha do rei [[Minos]], de [[Creta]], que casou-se com o deus.<ref>(BURKERT, 1993, p. 322)</ref> A esposa do rei, a basílinna, era oferecida como mulher a Dionísio. Essa união amorosa ocorria no Bucólion.<ref>(BURKERT, 1993, p. 224)</ref> Esse casamento sagrado era rodeado de rituais sombrios. A festa ocorria no mês antestérion e também era conhecida como '''A Festa Das Flores''', pois tinha relação com a primavera, a fertilidade e o rejuvenescimento da natureza. <ref>{{Citar web|url=https://sites.google.com/site/dionysionbr/artigos/festas-em-honra-de-dionisio|titulo=Festas em honra de Dionísio - Santuário de Dionísio|acessodata=2016-06-21|obra=sites.google.com}}</ref>
 
As '''Dionísias Rurais''' ocorriam na metade do inverno e serviam como rituais de fertilidade. Ocorriam sacrifícios de bodes e uma procissão fálica<ref>(BURKERT, 1993, p. 321)</ref> com danças e cantos. Os participantes cobriam o rosto com máscaras ou se vestiam de animais.<ref>{{Citar web|url=https://sites.google.com/site/dionysionbr/artigos/festas-em-honra-de-dionisio|titulo=Festas em honra de Dionísio - Santuário de Dionísio|acessodata=2016-06-21|obra=sites.google.com}}</ref>
 
As '''Dionísias Urbanas''', também conhecidas como Grandes Dionísias, foram introduzidas na sociedade ateniense por '''Psistrato''' em [[534 a.C.]], ocorriam na primavera e duravam 6 dias. No primeiro dia havia uma procissão com a imagem de Dionísio, sacrifícios de touros e porcos. Havia também uma procissão mais desorganizada, com musica, dança e muita bebedeira. Nos dias seguintes ocorriam as competições (''agon'') entre os poetas e no ultimo dia havia premiações.<ref>{{Citar web|url=http://ta-hiera.blogspot.com//2010/03/as-%20grandes-dionisias.html|titulo=Ta-Hiera|acessodata=2016-06-21}}</ref>
 
Todas essas festas e rituais tinham em comum a embriaguez e o sacrifício de um animal que podia ser ora o bode, ora o touro. Além destas festividades estatais, pequenos grupos também faziam suas próprias festas. Cultos secretos e mistérios foram surgindo e se desenvolvendo.<ref>(BURKERT, 1993, p. 321)</ref>
== Evolução do Dionisismo ==
Dionísio[[Dioniso]] foi incorporado tardiamente na cultura [[grega]]. O surgimento dos '''cultos dionisíacos''' parecem datar do [[século VIII a.C.]], época em que iniciou-se o comércio com a [[Trácia]] e, por conseguinte, o contato com a tribo trácia selvagem dos Satrae, os primeiros adoradores de Dionísio[[Dioniso]] de que se tem notícia.<ref>(BELLOTTO, 1996, p. 136.)</ref>
À medida que o ''dionisismo'' tornou-se popular, e considerando que tal prática se mostrava ameaçadora à religião cívica, foi preciso que a cidade grega o reconhecesse como seu, dando-lhe lugar nos cultos públicos, celebrando-o oficialmente. Assim, os cultos tornar-se-iam institucionalizados, as transes, controladas e organizadas. Dessa forma, surge o [[teatro]] como uma forma de ilusão, em cena, da experiência de alteridade e de êxtase.<ref>(VERNANT, 2006, p. 79-80.)</ref>
 
== Mulheres e o Dionisismo ==
À medida que o ''dionisismo'' tornou-se popular, e considerando que tal prática se mostrava ameaçadora à religião cívica, foi preciso que a cidade grega o reconhecesse como seu, dando-lhe lugar nos cultos públicos, celebrando-o oficialmente. Assim, os cultos tornar-se-iam institucionalizados, as transes, controladas e organizadas. Dessa forma, surge o [[teatro]] como uma forma de ilusão, em cena, da experiência de alteridade e de êxtase.<ref>(VERNANT, 2006, p. 79-80.)</ref>
Na ''[[Teogonia]]'' de [[Hesíodo]], a [[Noite]] é uma [[divindade]] feminina que surgiu do [[Caos]]. No imaginário grego, portanto, a [[noite]] tem uma relação com as mulheres e o feminino e significa um momento de reencontro com o [[caos]]. Além disso, a noite tem também outro significado associado às mulheres, apesar de que não exclusivamente, de contato com o divino, com o indizível, com os mistérios. Nesse contexto se inseriam os '''rituais dionisíacos''', que eram geralmente femininos e de caráter noturno.<ref>(GUÍA, 2009-2010, p. 45.)</ref>
Em [[Atenas]], principalmente durante o [[século VI a.C.]], quando o poder político abria-se aos [[demos]] e estabelecia-se as definições de cidadão, controlava-se de forma mais rigorosa o comportamento das mulheres – cujo papel social envolvia o cuidado do lar e do núcleo familiar –, mas, ao mesmo tempo, houve uma abertura aos mistérios dionisíacos para as mulheres. Nos '''cultos dionisíacos''', as mulheres, que na sociedade grega se encontravam em segundo plano frente à autoridade masculina, invertiam essa ordem estabelecida através da libertação dos laços sociais pela loucura e, também, através da adoração da força criadora da natureza, considerada ela mesma uma espécie de grande mãe cósmica.<ref>(BITTENCOURT, 2010.)</ref>
 
== Mulheres e o Dionisismo ==
Na ''[[Teogonia]]'' de [[Hesíodo]], a [[Noite]] é uma [[divindade]] feminina que surgiu do [[Caos]]. No imaginário grego, portanto, a [[noite]] tem uma relação com as mulheres e o feminino e significa um momento de reencontro com o [[caos]]. Além disso, a noite tem também outro significado associado às mulheres, apesar de que não exclusivamente, de contato com o divino, com o indizível, com os mistérios. Nesse contexto se inseriam os '''rituais dionisíacos''', que eram geralmente femininos e de caráter noturno.<ref>(GUÍA, 2009-2010, p. 45.)</ref>
 
Em [[Atenas]], principalmente durante o [[século VI a.C.]], quando o poder político abria-se aos [[demos]] e estabelecia-se as definições de cidadão, controlava-se de forma mais rigorosa o comportamento das mulheres – cujo papel social envolvia o cuidado do lar e do núcleo familiar –, mas, ao mesmo tempo, houve uma abertura aos mistérios dionisíacos para as mulheres. Nos '''cultos dionisíacos''', as mulheres, que na sociedade grega se encontravam em segundo plano frente à autoridade masculina, invertiam essa ordem estabelecida através da libertação dos laços sociais pela loucura e, também, através da adoração da força criadora da natureza, considerada ela mesma uma espécie de grande mãe cósmica.<ref>(BITTENCOURT, 2010.)</ref>
 
== Ver também ==