Eduardo Afonso Viana: diferenças entre revisões

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Regressa a Portugal depois da eclosão da [[Primeira Guerra Mundial]]. Entre 1915 e 1916 reside em [[Vila do Conde]] e mantém uma relação de grande proximidade com o casal [[Robert Delaunay]] e [[Sonia Delaunay]], que se havia fixado nessa localidade, contactando também com Amadeo de Souza-Cardoso, então a residir em Manhufe, perto de Amarante. Em 1919 participa na [[Exposições de Humoristas e Modernistas|III Exposição dos Modernistas]], Porto; em 1920 e 1921 realiza exposições individuais no Porto e em Lisboa; em 1923 expõe de novo individualmente e é convidado, com [[Mily Possoz]] e [[Almada Negreiros]], a participar na exposição ''[[Independentes|Cinco Independentes]]'' – grupo constituido por [[Dordio Gomes]], [[Henrique Franco]], [[Alfredo Miguéis]], [[Francisco Franco]] e [[Diogo de Macedo]] –, na [[Sociedade Nacional de Belas Artes|SNBA]], Lisboa.<ref>Viana, Eduardo – '''Exposição retrospetiva da obra do pintor Eduardo Viana'''. Lisboa: S.N.I., 1968</ref>
 
Colabora artisticamente na revista [[Contemporânea (revista)|Contemporânea]] (1915-1926)<ref>{{citar web|URL=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/CONTEMPORANEA/Contemporanea.htm |título=Contemporânea|autor=|data=|publicado=|acessodata=23-11-2013}}</ref>. Em 1925 organiza o ''I Salão de Outono'', SNBA, exposição importante no quadro da afirmação do [[modernismo em Portugal]] e que reuniu, entre os trinta nomes apresentados, "''o mais interessante de toda uma geração''"<ref>Almeida, Bernardo Pinto – '''Pintura Portuguesa no Século XX'''. Porto: Lello & Irmãos Editores, 1993. ISBN: 972-48-1655-9</ref>. Nessa exposição apresenta 8 trabalhos de sua autoria, entre os quais as telas para o café «[[Café A Brasileira (Lisboa)|A Brasileira]]». Nesse mesmo ano regressa a Paris, mudando-se para a Bélgica cinco anos mais tarde. Regressa definitivamente a Portugal em 1940 devido à intensificação da [[2ª Guerra Mundial]].<ref>Viana, Eduardo – '''Exposição retrospetiva da obra do pintor Eduardo Viana'''. Lisboa: S.N.I., 1968</ref>
 
A parte final da sua carreira corresponde a um tempo de consagração. A partir de 1935 participa na I, VI, VIII, XI, XII e XIV [[Exposições de Arte Moderna do S.P.N./S.N.I.]], vencendo o Prémio [[Columbano Bordalo Pinheiro|Columbano]] em 1941 e 1948. Em 1957 vence o Grande Prémio de Pintura na I [[Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian]], Lisboa. Em 1965 é-lhe atribuído o Prémio Nacional de Arte, do [[Secretariado Nacional de Informação|SNI]].<ref>Viana, Eduardo – '''Exposição retrospetiva da obra do pintor Eduardo Viana'''. Lisboa: S.N.I., 1968</ref>
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[[Ficheiro:Eduardo Viana, Revolta das bonecas, 1916, óleo sobre tela, 114 x 132 cm.jpg|thumb|left|260px|''A revolta; A revolta das bonecas'', 1916, óleo sobre tela, 114 x 132 cm]]
Os primeiros trabalhos da maturidade de Eduardo Viana situam-se "''numa charneira entre vagas sugestões de cariz oitocentista e um sentido pré-construtivo característico da transição do século''"<ref>Lapa, Pedro. In: A.A.V.V. – '''Museu do Chiado: Arte Portuguesa 1850-1950'''. Lisboa: Instituto Português de Museus, 1994, p. 212. ISBN: 972-8137-02-8</ref>, fundindo valores herdados do naturalismo (ou mesmo das tendências simbolistas) com opções mais tipicamente [[Cézanne|cezannianas]].
 
Embora estivesse em Paris no momento em que ocorreram as grandes ruturas na arte do século XX, "''o Modernismo nas suas atitudes mais vanguardistas não foi nunca uma prática orientadora da pintura de Eduardo Viana''". O momento em que deliberadamente procurou vias formais consonantes com essas vanguardas ocorreu, paradoxalmente, após o regresso a Portugal em 1915. Nesse ano Viana fixa-se em Vila do Conde, e a proximidade com Sónia e Robert Delaunay impulsiona a sua obra em novas direções. Data desta época a sua única colagem conhecida (''La petite'', 1916, col. [[Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão|CAM/FCG]]), cujas opções o colocam em sintonia com a arte formalmente mais inovadora da época.
 
Assimilando empiricamente as teorias cromáticas do casal Delaunay, onde são privilegiados os [[A lei do contraste simultâneo das cores|contrastes simultâneos]], ''A revolta das bonecas'', 1916, será talvez o "''exemplo extremo e mais bem conseguido dessa fase em que os valores oitocentistas são globalmente ultrapassados. A sugestão de profundidade da pintura tradicional desaparece em virtude de uma consciente ocupação da superfície da tela onde os círculos [[Orfismo (movimento artístico)|órficos]] funcionam mais como elementos da composição do que elementos dinâmicos de decomposição tímbrica da luz''"<ref>Lapa, Pedro. In: A.A.V.V. – '''Museu do Chiado: Arte Portuguesa 1850-1950'''. Lisboa: Instituto Português de Museus, 1994, p. 212. ISBN: 972-8137-02-8</ref>. Os círculos irão surgir de novo, agora associados a um sentido descritivo, em ''Rapaz das Louças'', 1919, que encerra a aventura vanguardista de Viana; já não apenas elementos formais, os discos transformaram-se em objetos identificáveis, como "''o alguidar com a boca virada para o espectador, que o modelo sustenta debaixo do braço direito, bem como outros que enchem o cenário da composição, por detrás da figura''", e que multiplicam os reflexos da luz solar, gerando "''formas geométricas concêntricas – «discos» desta maneira naturalisticamente justificados''"<ref>FRANÇA, José Augusto - '''A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961''' [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 145.</ref>.
 
[[Ficheiro:Eduardo Viana, Nu, 1925, óleo sobre tela, 96 x 146 cm.jpg|thumb|270px|''Nu'', 1925, óleo sobre tela, 96 x 146 cm]]
A partir da década de 1920 a pintura de Viana estabiliza-se temática e formalmente, em abordagens à paisagem, ao modelo nu e à natureza morta que poderão talvez associar-se aos ideais de Regresso à Ordem que inspiraram sectores importantes da cultura internacional entre as duas guerras. Vemo-lo ser "''atraído por uma espécie de brutalidade flamenga que nas obras de [[Constant Permeke|Permeke]] (de quem consta ter sido amigo) encontra expressão sólida'' […]. ''Entre o fauvismo parisiense, a exigência da pintura clássica, Cézanne e a garantia de integridade da arte de Permeke, a criação de Viana tem o seu lugar, sensual, lógica e voluntariosa como é''"<ref>França, José Augusto - '''A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961''' [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 150.</ref>.
 
Trabalhando de forma lenta, refletida, o pintor detém-se sobre cada tema, "''explorando-o como um gozo sensual isento de sentimentalismo''"<ref>França, José Augusto - '''A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961''' [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 148.</ref>, como acontece nos quadros de nus da década de 1920, "''que oferecem o significado maior da sua arte essencialmente sensual e que nenhuma comparação sofrem com obras eventualmente naturalistas da pintura portuguesa anterior''"<ref>França, José Augusto – Os Anos 20. In: Pernes, Fernando (coordenação) – Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Campo de Letras; Fundação de Serralves, 1999. ISBN: 972-610-212-x</ref>; o mesmo irá acontecer com a longa sequência de naturezas mortas a que se dedica nas décadas finais, realizadas sem pressa <ref>"''As obras que ficaram inacabadas no ateliê do pintor , à sua morte, em 67, demonstram bem esse desejo guloso dum prolongado convívio com a pintura fazendo-se''". França, José Augusto - '''A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961''' [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 150</ref>, onde os objetos, "''cuidadosamente compostos, guitarras, mesas, cadeiras, mantas, toalhas,'' […] ''frutos''", são banhados "''numa atmosfera de carnalidade gostosamente explorada''"<ref>França, José Augusto - '''A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961''' [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 148, 150.</ref>,
 
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