Não-violência: diferenças entre revisões

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[[Imagem:StopEssaisManif.jpg|thumbnail|direita|Manifestação não violenta contra os [[Teste de arma nuclear|testes nucleares]], em [[Paris]], em 1995]]
 
'''Não violência''' (do [[sânscrito]] '' ahimṣā'', "não violência", "ausência de desejo de ferir ou matar") é a prática pessoal de não causar sofrimento a si próprio ou a outros seres sob qualquer circunstância. Ela surgiu da crença de que ferir pessoas, animais ou o [[meio ambiente]] não é necessário para se conseguir vantagens. Se refere a uma filosofia geral de abstenção da [[violência]], tendo, como base, princípios religiosos, espirituais e morais.<ref>SHARP, G. ''Sharp's Dictionary of Power and Struggle: Language of Civil Resistance in Conflicts''. New York. Oxford University Press. 2012.</ref>
'''Não violência''' é um termo que se refere a uma série de conceitos sobre [[moral]]idade, [[poder]] e conflitos que rejeitam completamente o uso da violência nos esforços para a conquista de objetivos sociais e políticos. Geralmente usado como sinônimo de [[pacifismo]], a partir do meio do [[século XX]] passou a ser aplicado também a confrontos sociais que não usem violência, bem como movimentos políticos e filosóficos que tenham aderido aos mesmos conceitos.
 
[[Mahavira]] (599-527 a.C.), o 24º ''[[tirthankara]]'' do [[jainismo]], introduziu o conceito de "não violência" para o mundo, aplicando-o em sua própria vida. Ele ensinava que, para se obter o [[nirvana]], era necessário se abster da violência.
O termo é comumente associado à [[Movimento de independência da Índia|luta pela independência da Índia]], liderada por [[Mahatma Gandhi]], e à [[Movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos|luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos]], liderada por [[Martin Luther King]]. O movimento ocorrido na Índia foi fortemente influenciado pelos princípios da [[jainismo|religião jainista]], pelas ideias de [[desobediência civil]] de [[Henry David Thoreau]] e do [[anarquismo cristão]] de [[Liev Tolstói|Leon Tolstói]]. O exemplo indiano inspirou uma série de ações que ocorreram nas décadas seguintes.
 
O conceito também possui elementos [[Ativismo|ativistas]], como quando é usado como instrumento de [[mudança social]]. Neste sentido, o termo é, comumente, associado à [[Movimento de independência da Índia|luta pela independência da Índia]], liderada por [[Mahatma Gandhi]], e à [[Movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos|luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos]], liderada por [[Martin Luther King Jr.]]. O movimento ocorrido na Índia foi fortemente influenciado pelos princípios da [[jainismo|religião jainista]], pelas ideias de [[desobediência civil]] de [[Henry David Thoreau]] e do [[anarquismo cristão]] de [[Liev Tolstói|Leon Tolstói]]. O exemplo indiano inspirou uma série de ações que ocorreram nas décadas seguintes. Na [[década de 1960]], a campanha não violenta de [[Cesar Chavez]] lutou contra o tratamento infligido aos trabalhadores rurais da [[Califórnia]].<ref>BURSTEIN, S. M. e SHEK, R. ''World History Ancient Civilizations''. HOLT, RINHART e WINSTON. 2005.</ref> A não violência também inspirou a [[Revolução de Veludo]] na [[Checoslováquia]], em 1989. Mais recentemente, a campanha não violenta de [[Leymah Gbowee]] e das mulheres da Libéria conseguiu interromper uma [[guerra civil]] que já durava catorze anos.<ref>GRAHAM, C. ''Peacebuilding alum talks practical app of nonviolence''. Augusta Free Press. 26 de outubro de 2009.</ref>
 
Embora a não violência seja, frequentemente, confundida com passividade e [[pacifismo]], tal associação é rejeitada pelos ativistas adeptos da não violência.<ref>ACKERMAN, P e DUVALL, J. ''A Force More Powerful: A Century of Non-Violent Conflict'' Palgrave Macmillan. 2001.</ref> Não violência é a ausência de violência e se refere à opção de se causar pouco ou nenhum dano, enquanto que passividade significa não fazer nada. A não violência pode ser passiva em alguns casos, e ativa em outros. Uma mesma pessoa pode, contraditoriamente, defender a não violência em alguns casos e ser violenta em outras situações. Por exemploː opositores ao [[aborto]] ou à alimentação carnívora podem, eventualmente, matar um realizador de abortos ou atacar um [[abatedouro]] de animais, o que as classificaria como pessoas violentas.<ref>ROBERTS, A. ''Civil Resistance and Power Politics: The Experience of Non-violent Action from Gandhi to the Present''. Oxford University Press. 2009. pp. 3,13-20.</ref>
{{quote|A não violência é uma arma poderosa e justa. Realmente, é uma arma única na história, que corta sem ferir e enobrece quem a usa.|Martin Luther King Jr., no discurso de recebimento do prêmio [[Nobel da Paz]] de 1964}}
== A não violência ativa ==
 
Como o termo se tornou muito abrangente, às vezes ele é visto como sinônimo de [[pacifismo]], ou associado à passividade. Para desfazer mal-entendidos, alguns grupos preferiram adotar o termo ''Não Violência Ativa'', reforçando a posição de que é possível uma ação não violenta. Outra denominação, menos conhecida, é ''Firmeza Permanente''<ref>[http://www.espiral.fau.usp.br/arquivos-BD-NW/Perus/academicos/Da%20n%C3%A3o%20viol%C3%AAncia%20ativa%20ou%20firmeza%20permanente%20a%20educa%C3%A7%C3%A3o%20para%20a%20paz.pdf ''Da Não-Violência Ativa ou Firmeza-Permanente à Educação para a Paz'', por Roberto Zwetsch.]</ref>.
 
Jean Gooss e Hildegar Goss-Mayr<ref>Fragoso, Antônio, Barbé, Domingos, Câmara, Hélder, Jesus, Mário Carvalho de, Pinto, João Breno, Lepargneur, Hubert, Kunz, Alfredo, Arns, Cardeal Dom Paulo Evaristo, ande Secretariado de Justiça e Não- Violência. A Firmeza- Permanente: A força da não- violência. 2nd ed. São Paulo: Loyola-Vega, 1977.</ref><ref>Deats, Richard (2009), Marked for Life: The Story of Hildegard Goss-Mayr, Hyde park, NY: New City Press.</ref>, casal de [[missionário]]s da [http://en.wikipedia.org/wiki/International_Fellowship_of_Reconciliation Sociedade Internacional de Reconciliação (IFOR)], ajudaram a difundir o termo na [[América Latina]], influenciando na sua adoção por grupos que fundaram o [[Servicio Paz y Justicia en América Latina|Serviço Paz e Justiça na América Latina]] (SERPAJ-AL), o Secretariado de Justiça e Não Violência no Brasil etc.
 
O termo também é de uso corrente no pensamento de [[Mario Rodrigues Luis Cobos|Silo]], fundador do [[Movimento Humanista]].
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A maioria dos adeptos da não violência fizeram esta opção por aspectos religiosos, éticos ou estratégicos. Nos dois primeiros casos, ela é usada como princípio de integridade e respeito à condição humana. No último, trata-se tão só de uma questão circunstancial, em que essa prática se faz útil. Contudo, podemos encontrar estes três aspectos coexistindo em um mesmo movimento de não violência.
 
O [[Anarquismo|anarquista]] britânico Nicolas Walter (1934-2000) observou que a não violência "corre subterraneamente no pensamento [[Política|político]] [[Ocidente|ocidental]] sem nunca desaparecer".<ref>WALTER, N. ''Non-Violent Resistance: Men Against War''. Reimpresso em ''Damned Fools in Utopia''. David Goodway. PM Press. 2010. pp. 37-78.</ref> Nicolas também observou que o [[Discurso da Servidão Voluntária]] (1576) de [[Étienne de La Boétie]] e o ''The Masque of Anarchy'' (1819) de [[Percy Bysshe Shelley]] defendem a resistência à [[tirania]] através de meios não violentos.<ref>WALTER, N. ''Non-Violent Resistance: Men Against War''. Reimpresso em ''Damned Fools in Utopia''. David Goodway. PM Press. 2010. pp. 37-78.</ref> Em 1838, [[William Lloyd Garrison]] ajudou a fundar a "Sociedade da Não Resistência da Nova Inglaterra", que se dedicava a lutar pela igualdade racial e [[Igualdade de género|de gênero]] utilizando-se de meios não violentos.<ref>WALTER, N. ''Non-Violent Resistance: Men Against War''. Reimpresso em ''Damned Fools in Utopia''. David Goodway. PM Press. 2010. pp. 37-78.</ref>
 
No mundo atual, a não violência vem sendo amplamente usada em movimentos pelo trabalho, pela paz, pelo [[meio ambiente]] e pelos [[direitos das mulheres]]. Outra maneira de usar a tática de não violência é visando a direcionar a [[opinião pública]] (principalmente a internacional) contra [[Regime político|regimes políticos]] extremamente [[Repressão política|repressivos]], expondo, ao mundo, os excessos cometidos contra manifestações de cunho pacífico. Teoricamente, isto faria com que a [[comunidade internacional]] passasse a pressionar os dirigentes desses regimes.
 
{{quote|Em 1989, treze nações totalizando 1 695 000 000 de pessoas experimentaram [[Revolução não violenta|revoluções não violentas]] que superaram as mais radicais expectativas... Se nós acrescentarmos todas as nações que tiveram revoluções não violentas ao longo do século (Filipinas, África do Sul, Índia... o número de pessoas chega a 3 337 400 000, 65 por cento da humanidadeǃ Tudo isso, desafiando o dito popular de que a não violência não funciona no 'mundo real'.|Walter Wink, [[Teologia|teólogo]] cristão<ref>IVES, S. ''No Fear''. 19 de outubro de 2001. Palo Alto College.</ref>}}
O estudioso da não violência Gene Sharp, em seu livro ''The Politics of Nonviolent Action'', sugere que a completa ausência de estudos sobre o tema no meio acadêmico de [[história]] pode ser reflexo do fato de que as técnicas que visam a conquistas sociais não são do interesse da [[elite]]. Ela acreditaria muito mais nos armamentos e no poder do dinheiro do que na capacidade de mobilização de uma comunidade.
 
O pensador [[Mario Rodrigues Luis Cobos]] passou toda sua vida organizando um [[Movimento Humanista]], buscando aplicar os princípios da Não Violência Ativa para solucionar conflitos sociais da atualidade.
 
Já no campo ético-religioso, a não violência está, muitas vezes, relacionada ao respeito a todos os seres [[Senciência|sencientes]] e mesmo aos [[Biocentrismo|seres não sencientes]]. O que, muitas vezes, relaciona-se com a luta pelos [[direitos dos animais]] e o [[vegetarianismo]]. O texto clássico indiano Tirukkuṛaḷ fala da ética da não violência nos versos 311-320 do capítulo 32 do livro 1, discute compaixão no capítulo 25 (versos 241-250), vegetarianismo no capítulo 26 (versos 251-260) e não matar no capítulo 33 (versos 321-330).<ref>POPE, G. U. ''Thirukkural English Translation and Commentary'' (PDF). W.H. Allen, & Co. 1886. p. 160.</ref>
== Como funciona a não violência ==
 
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Numa percepção não violenta, uma releitura de "o fim justifica os meios" seria: ''os meios justificam o fim'', ou seja, ''o fim é o resultado dos meios''.
== Métodos ==
=== Atos de protesto ===
São ações [[Símbolo|simbólicas]] realizadas por um grupo de pessoas para mostrar seu apoio ou contrariedade em relação a algo. O objetivo do ato é atrair a atenção pública para o tema, influenciar um grupo particular de pessoas ou facilitar uma futura ação não violenta. A mensagem pode ser direcionada ao público, aos oponentes ou às pessoas afetadas pelo tema. Este tipo de ação inclui [[discurso]]s, [[Petição|petições]], [[arte]], passeatas, reuniões públicas etc.<ref>SHARP, G. ''Waging Nonviolent Struggle''. Extending Horizon Books. 2005. pp. 50–65.</ref>
{{Commons|Category:Nonviolence}}
== Ver também ==