Filosofia helenística: diferenças entre revisões
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{{História da filosofia ocidental}}
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A '''filosofia helenística''' estende-se, em um primeiro momento, da morte de [[Alexandre, o grande|Alexandre]] ({{AC|323
== Filosofia de uma nova época ==
A partir do processo histórico que se formava desde o
A princípio, as correntes que compõem a filosofia helenística compartilham uma oposição intensa à [[filosofia clássica]], [[Platão|platônica]] e [[Aristóteles|aristotélica]], mesmo possuindo em suas bases pontos fortemente clássicos. Destacam-se as ideias de que [[ética]] e [[física]], sobretudo para [[Estoicismo|estóicos]] e [[Epicurismo|epicuristas]], apoiavam uma à outra, sendo indivisíveis para que seu conhecimento fosse perfeito; um forte [[materialismo]], recusando-se à [[Transcendência (filosofia)|transcendência]] - forte, por exemplo, no pensamento aristotélico, embora este materialismo não se aplique exatamente a todas as correntes (como a dos [[Neoplatonismo|neoplatônicos]]); as formas sistemáticas que tornam as correntes filosóficas em [[doutrina|doutrinas]], firmes em suas verdades, sendo que estas articulam os saberes da física, da ética e da [[lógica]];<ref>"(...)cada sistema apresenta-se como conjunto articulado de verdades, constituindo uma totalidade coerente e autossuficiente. Daí, pouco a pouco, o ensino das doutrinas tende a ser mais importante do que novas investigações que, embora realizadas continuamente, são consideradas acréscimos ao corpo doutrinário e não refutações ou inovações." (Chauí, 2010, p. 16)</ref> a noção de que cabia ao estudo da filosofia a função de estabelecer caminhos (condutas) capazes de conduzir à [[felicidade]], a chamada "medicina da alma".<ref>"Assim, malgrado as diferenças, pode-se, finalmente, apontar como traço comum às escolas helenísticas o ''racionalismo ético'' ou a convicção de que é possível definir regras [[Razão|racionais]] universais para a conduta humana cuja exemplaridade é oferecida pela figura do filósofo como sábio ou homem virtuoso que não se deixa corromper pela boa fortuna nem abater-se pelo infortúnio, capaz de ensinar aos outros o caminho da vida feliz, fazendo da filosofia uma sabedoria de vida." (Chauí, 2010, p. 17)</ref>
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== Escolas helenísticas ==
=== Ceticismo ===
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O ceticismo caracterizou-se como uma corrente de pensamento que surgiu primeiramente com [[Pirro de Élis]], contemporâneo de [[Alexandre, o grande|Alexandre]]. Denominada de [[pirronismo]], é a primeira filosofia cética e é considerada a mais radical.<ref>Abbagnano, 2014, p. 891</ref> Tem como uma de suas características principais o natural impedimento do [[dogmatismo]], uma vez que é ideal ao filósofo abster-se de juízo, ou seja, manter um constante estado de dúvida para com verdades possíveis, impedindo-as de serem naturalizadas, ou até mesmo possíveis em sua existência.<ref>Chauí, 2010, p. 57-59</ref> Além disso, o filósofo cético, especialmente o que estiver diretamente ligado ao Pirronismo, deveria ter outras três qualidades: ser “incapaz de falar”, com isso incapaz de sentenciar uma “verdade”; ser desprendido de paixões, assim não sendo guiado, e retirado de sua serenidade por ilusões dos sentidos; e por fim ser sereno, livre da confusão do mundo. Este último conceito, porém, exige uma explicação melhor: a indiferença (1ª qualidade) e a insensibilidade (2ª qualidade) garantiriam um estado de tranquilidade mental sem a necessidade de constantes formulações intelectuais e afetivas e, assim sendo, o filósofo manteria sua felicidade, consciente da ausência de respostas e livre da constante tensão que seria a busca pela verdade.<ref>Chauí, 2010, p. 59-60</ref>
[[Pirro]] fez parte da expedição de Alexandre pela Ásia e entrou em contato com correntes de pensamento orientais. Uma possível influência dos [[Gimnosofistas|gimnosofistas]] indianos permitiu o desenvolvimento da filosofia de Pirro, mas este também articulou saberes provenientes de correntes do pensamento [[Escola megárica|megárico]], [[Cinismo|cínico]] e [[Demócrito|democriteano]]. Aqui a ''ataraxía'', essa serenidade ideal do filósofo, estabelece-se graças ao vazio interior de representações enquanto se mantém e aceita a dúvida, conceito permitido pela influência oriental.<ref>Chauí, 2010, p. 53-54</ref> Sobre as origens, também se considera o pensamento megárico como o precursor ocidental mais antigo,<ref>Abbagnano, 2014, p. 152</ref> aqui sempre considerando que é de vital importância a ideia de que não se possa arbitrar entre verdade ou falsidade em determinado questionamento. Os megáricos já refletiam sobre isso: vê-se aqui um exemplo do enraizamento das filosofias helenísticas em filosofias anteriores, mesmo que sejam conflitantes e opostas, uma vez que sejam filosofias de contextos diferenciados.
Outros filósofos continuaram o pensamento cético, embora alguns destes tenham considerado o ceticismo de forma diferente, como os da chamada terceira [[Academia]], que teve como representante inicial [[Carnéades|Carnéades de Cirene]] no
==== Representantes ====
*[[Pirro de Élis|Pirro]] (ca.
*[[Tímon (filósofo)|Tímon]] (ca.
*[[Arcesilau|Arcesilau]] (ca.
*[[Carnéades|Carnéades]] (ca.
*[[Enesidemo|Enesidemo]] (
*[[Agripa (filósofo)|Agripa]] (
*[[Sexto Empírico|Sexto Empírico]] (ca.
=== Epicurismo ===
[[
O epicurismo surge como uma doutrina diferenciada, em um contexto em que a filosofia costumava preocupar-se com os aspectos subjetivos e mais abstratos. [[Epicuro]] rejeita qualquer conhecimento que provenha de algo transcendente aos sentidos e afirma que a felicidade está ao alcance do homem através dessa filosofia voltada à verdade, distanciada do divino e ligada a uma noção mecânica do universo. Epicuro teria nascido em meio à [[História de Atenas|cultura ateniense]] - assim, sua filosofia pode ser entendida como essencialmente grega.<ref>Petit, 1987, p. 93</ref> Existiriam no epicurismo três características básicas: um [[atomismo]] descendente de [[Demócrito]], que permitiria a Epicuro explicar que o universo era formulado em princípio pela [[matéria]] (além de uma outra realidade, invisível, intangível) e que a alma seria mortal; a crença na indiferença dos deuses, posto que existiriam mas, uma vez que teriam atingido a felicidade, não viveriam com o propósito de dar forma ou reger o universo; e uma noção fixa acerca dos sentidos, considerando-os verdadeiros caminhos para a compreensão da verdade e o alcance do bem, sendo o bem aqui entendido por prazer.<ref>Abbagnano, 2014, p. 390</ref> Esse prazer seria, em última instância, a ausência de perturbação, ou seja, a ''ataraxía''. A verdade traduzida por aquilo que estava ao alcance do homem seria, então, o caminho para a felicidade e para a liberdade.
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==== Representantes ====
*[[Epicuro]] (ca.
*[[Metrodoro de Lâmpsaco (o jovem)|Metrodoro de Lâmpsaco]] (ca
*[[Colotes]] (ca.
*[[Hermarco (filósofo)|Hermarco]] (ca.
*[[Leontina (filósofa)|Leontina]] (
*[[Carneisco]] (
*[[Rabírio (epicurista)|Rabírio]] (
*[[Zenão de Sídon|Zenão]] (ca.
*[[Filodemo de Gadara|Filodemo]] (ca.
*[[Lucrécio]] (ca.
=== Estoicismo ===
[[
O estoicismo também se formou com influências das correntes de pensamento anteriores. Uma de suas máximas era algo já defendido pelo megáricos, que era a negação, ou ao menos a contestação, à noção de uma multiplicidade universal ou de constantes mudanças no cosmos.<ref>Abbagnano, 2014, p. 758</ref> Com essa simples característica, nota-se a famosa distinção entre estoicismo e epicurismo,<ref>Chauí, 2010, p. 113</ref> na medida em que o primeiro lida com uma ideia de universo e de divindade totalmente ligada a uma unidade (seria o mundo, um só, por exemplo, e o divino, uma força imanente na natureza, da qual seriamos parcelas menores<ref>Chauí, 2010, p. 115</ref>), enquanto que o segundo dedica-se à crença das constantes transformações dos átomos e da multiplicidade de mundos<ref>Chauí, 2010, p. 99</ref>.
O estoicismo teve como grande característica a capacidade de se adequar aos contextos em que se encaixava, sobrevivendo durante cinco séculos<ref>Chauí, 2010, p. 118</ref> e tornando-se a corrente filosófica mais influente e duradoura do período helenístico<ref>Chauí, 2010, p. 116</ref>. Dessa longa duração e da pouca importância dada a uma ortodoxia dogmática,<ref>Chauí, 2010, p. 117</ref> surgiu uma variedade de doutrinas dentro da filosofia
[[Zenão de Cítio|Zenão de Cítio]], fundador da [[Estoicismo|escola do pórtico]], nasceu em [[Chipre|Chipre]], onde havia forte influência grega à época.<ref>Chauí, 2010, p. 119</ref> Em Atenas, como [[meteco]] [[Fenícia|fenício]], Zenão não tinha direito à cidadania ateniense. Impossibilitado de comprar uma residência, ele ensinava sob um [[pórtico]], e assim a filosofia
Outras características primordiais do estoicismo são as seguintes: a existência de uma teoria dos [[Signo linguístico|signos]], antecedente à [[Semiótica|semiologia]] atual; a ideia de que, como o animal seria guiado por instinto, o homem seria guiado por razão; um claro cosmopolitismo; e a busca e o elogio do equilíbrio em relação às paixões dos sentidos.<ref>Abbagnano, 2014, p. 438</ref> Além de tudo isso, o princípio do ''[[Logos|logos]]'' é muito importante para a filosofia
O estoicismo influenciou importantes líderes políticos, como [[Tibério Graco]] e [[Cleômenes III]] de [[Esparta]].<ref>Petit, 1987, p. 93</ref> No entanto, essa escola filosófica não se manteve estática, idêntica à filosofia desenvolvida por Zenão, tal como no caso do epicurismo. No
==== Representantes ====
*[[Zenão de Cítio|Zenão]] (ca.
*[[Cleantes de Assos|Cleantes]] (ca.
*[[Crisipo de Solis|Crisipo]] (ca.
*[[Diógenes da Babilônia|Diógenes]] (ca.
*[[Panécio de Rodes|Panécio]] (ca.
*[[Posidônio]] (ca.
*[[Marco Pórcio Catão Uticense|Catão]] (ca.
*[[Sêneca]] (ca.
*[[Epiteto]] (ca.
*[[Marco Aurélio]] (ca.
=== Cinismo ===
[[
O [[cinismo]] (do grego ''κυνικός'', canino) era uma seita [[ascética]] de filósofos começando com [[Antístenes]] no
Para os cínicos, o objetivo da vida era a [[Eudaimonia]], lucidez (ἁτυφια) e liberdade. Assim, os principais defeitos humanos são vistos como a ignorância, arrogância, insensatez, [[hubris]] e vaidade.<ref>Navia, Luis E. Classical Cynicism: A Critical Study. pg 140.</ref>
Apenas no
==== Representantes ====
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=== Escola peripatética ===
[[
A [[Escola peripatética]] ou '''''Peripatoi''''' (do grego περιπατητικός, que caminha), fundada por [[Aristóteles]], permaneceu existindo ao longo da época helenística.<ref>Chauí, 2010, p. 14</ref> Aristóteles morreu um ano após Alexandre e a direção do [[Liceu]] ficou a cargo de [[Teofrasto]].<ref>Chauí, 2010, p. 81</ref> O pensamento aristotélico se manteve como base fundamental, embora novas tendências na noção de [[Universalismo|universalidade]] tenham se estabelecido.<ref>FERGUSON, John. Cosmópolis. In: ''A Herança do Helenismo''. Lisboa: Verbo, 1973, p. 35</ref> Chegando ao
Para os ''peripatos'' o modo de obter a felicidade estava em encontrar a moderação (média) entre dois extremos (ausência e excesso). Assim, para uma vida de virtudes era importante um equilíbrio entre razão, hábitos e natureza. <ref>"Peripatetic philosophy" entry in Lieber, Wigglesworth & Bradford 1832, p. 22</ref>
==== Representantes ====
*[[Teofrasto]] (ca.
*[[Estratão de Lâmpsaco|Estratão]] (ca.
*[[Andrônico de Rodes|Andrônico]] (
*[[Alexandre de Afrodísias]] (
=== Neopitagorismo ===
[[
O [[neopitagorismo]] surgiu no
Considera-se também que, em seus textos, os representantes de tal doutrina teriam características que futuramente passaram a ser comuns ao [[neoplatonismo]], que surgiria posteriormente.<ref>Abbagnano, 2014, p. 826</ref>
==== Representantes ====
*[[Públio Nigídio Fígulo]] (ca.
*[[Apolônio de Tiana]] (
*[[Nicômaco de Gerasa]] (ca.
=== Platonismo ===
[[
[[Platonismo]] é o nome dado à filosofia mantida e desenvolvido pelos seguidores de [[Platão]]. O conceito central foi a [[teoria das formas]]: o [[Transcendência (filosofia)|transcendente]], possui [[arquétipo]]s perfeitos, dos quais objetos no mundo cotidiano são cópias imperfeitas. A forma mais elevada foi a [[Forma do Bem]], a fonte do ser, que só pode ser conhecida pela [[razão]].
No
==== Representantes ====
*[[Espeusipo]] (
*[[Xenócrates]] (
*[[Arcesilaus]] (
*[[Carneades]] (
*[[Antíoco de Ascalão]] (
*[[Plutarco]] (
=== Ecletismo ===
[[
O [[ecletismo]] ( do grego ''eklektikos'', eleger) foi uma abordagem da filosofia que, ao invés de ter suas próprias doutrinas rígidas, selecionava dentre as convicções filosóficas existentes, aquelas doutrinas que pareciam mais razoáveis para cada caso.<ref>Eduard Zeller, Outlines of the History of Greek Philosophy, 13th Edition</ref>
Buscaram fazer um consenso entre as diversas outras escolas filosóficas. Alguns filósofos de outras escolas podem ser considerados ecléticos. Esse é o caso dos estoicos [[
O sistema eclético, característico de culturas cosmopolitas como Roma, não se restringiu a filosofia, avançando pelas artes, ciências, religiões e política.
=== Representantes ===
*[[
*[[Cícero]] (106-{{AC|43
*[[Sêneca, o jovem]] ({{AC|4
==Ver também==
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