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A palavra "ética" vem do grego ethos e significa aquilo que pertence ao "bom costume", "costume superior", ou "portador de [[carácter|caráter]]". Princípios universais, ações que acreditamos e não mudam independentemente do lugar onde estamos.
 
Diferencia-se da [[moralidade|moral]] pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a '''ética''', ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela [[razão]].<ref>Gilles Deleuze, ''Espinosa: Filosofia Prática'', p.23-35. Editora Escuta</ref><ref name="EticaDHNET">{{citar web|url=http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/textos/oque_e_etica.html|título=O que é Ética|acessodata=11 de abril de 2008}}</ref>
 
Na [[filosofia clássica]], a ética não se resumia à moral (entendida como "costume", ou "hábito", do [[língua latina|latim]] ''mos, mores''), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor [[estilo de vida]], tanto na [[vida privada]] quanto em [[Vida social|público]]. A ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que não eram abrangidos na [[Filosofia natural|física]], [[metafísica]], [[estética]], na [[lógica]], na [[dialética]] e nem na [[retórica]]. Assim, a ética abrangia os campos que atualmente são denominados [[antropologia]], [[psicologia]], [[sociologia]], [[economia]], [[pedagogia]], às vezes [[política]], e até mesmo [[educação física]] e [[dietética]], em suma, campos direta ou indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão clássica da ética pode ser encontrado na obra [[Ética demonstrada à maneira dos geômetras|Ética]], de [[Spinoza]].
 
Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à [[revolução industrial]], a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia, particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas"<ref name="EthicsCornell">{{citar web|url=http://topics.law.cornell.edu/wex/Ethics|publicado=Cornell University of Law School|título=Ethics: an overview|língua2=en|acessodata=11 de abril de 2008}}</ref> e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus [[dilema]]s mais comuns. Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal.
 
A ética também não deve ser confundida com a [[lei]], embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.
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=== Termo ===
Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos hábitos da espécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Um campo de estudos assim seria obviamente muito vasto para poder ser investigado por qualquer [[ciência]] ou filosofia particular. Além disso, porções desse campo já são ocupadas pela [[história]], pela [[antropologia]] e por algumas ciências naturais particulares (como, por exemplo, a [[fisiologia]], a [[anatomia]] e a [[biologia]]),se considerarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos humanos normais e elementos de seu caráter. No entanto, a ética, propriamente dita, restringe-se ao campo particular do caráter e da conduta humana à medida que esses estão relacionados a certos princípios – comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmente caracterizam a própria conduta e a de outras pessoas empregando adjetivos como "bom", "mau", "certo" e "errado". A ética investiga justamente o significado e escopo desses adjetivos tanto em relação à conduta humana como em seu sentido fundamental e absoluto.<ref name="EB">[[s:en:1911 Encyclopædia Britannica/Ethics|Ethics]], in ''[[Encyclopaedia Britannica|The Encyclopaedia Britannica]]'': a dictionary of arts, sciences, literature and general information. [[Encyclopædia Britannica (edição de 1911)|11.ª ed]]. New York, 1911. pp. 808-845.</ref>
 
=== Outras definições ===
Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisa por várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de "boas" ou "más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E os experimentos em questões morais (sem considerar as consequências práticas inconvenientes que provavelmente propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética, pois a consciência moral seria instantaneamente chamada para a elaboração do experimento e para fornecer o tema de que trata o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência. A filosofia é um processo de reflexão sobre os pressupostos subjacentes ao pensamento irrefletido. Na lógica e na [[metafísica]] ela investiga, respectivamente, os próprios processos de raciocínio e as concepções de [[causa]], [[substância]], [[espaço]] e [[tempo]] que a consciência científica ordinária não tematiza nem critica. No campo da ética, a filosofia investiga a [[consciência moral]], que desde sempre pronuncia juízos morais sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as [[instituições]] e formas de vida social que ela mesma ajudou a criar.<ref name="EB">[[s:en:1911 Encyclopædia Britannica/Ethics|Ethics]], in ''[[Encyclopaedia Britannica|The Encyclopaedia Britannica]]'': a dictionary of arts, sciences, literature and general information. [[Encyclopædia Britannica (edição de 1911)|11.ª ed]]. New York, 1911. pp. 808-845.</ref>
 
Quando começa a especulação ética, concepções como as de [[dever]], [[responsabilidade]] e [[vontade]] – tomadas como objetos últimos de aprovação e desaprovação moral – já estão dadas e já se encontram há muito tempo em operação. A filosofia moral, em certo sentido, não acrescenta nada a essas concepções, embora as apresente sob uma luz mais clara. Os problemas da consciência moral, no instante em que essa pela primeira vez se torna reflexiva, não se apresentam, estritamente falando, como problemas filosóficos.<ref name="EB"/>
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O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um problema que recebe uma resposta mais clara e definitiva à medida que os indivíduos se tornam mais aptos a aplicar, no curso de suas experiências morais, aqueles princípios da consciência moral que, desde o princípio, já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há um sentido em que se pode dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades inerentes à natureza da própria moralidade, embora permaneça verdade que as questões que a ética procura responder não são questões com as quais a própria consciência moral jamais tenha se confrontado.<ref name="EB"/>
 
O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas morais que pareçam semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas desconsideram, quando agem imoralmente, os preceitos e princípios implícitos da consciência moral produzirão certamente, cedo ou tarde, o desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em dúvida a autoridade da consciência moral e a validade de seus princípios; ou de, por outro lado, justificar juízos morais particulares, seja por uma análise dos princípios morais envolvidos no juízo e por uma demonstração de sua aceitação universal, seja por alguma tentativa de provar que se chega ao juízo moral particular por um processo de inferência a partir de alguma concepção universal do Supremo Bem ou do Fim Último do qual se podem deduzir todos os deveres ou virtudes particulares.<ref name="EB"/>
 
Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação contra as instituições morais e os códigos de ética existentes; tal argumentação pode se originar da atividade espontânea da própria consciência moral. Mas quando essa argumentação torna-se uma tentativa de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essa tentativa começa a ser, com efeito, um esforço de tornar a moralidade uma disciplina científica – e especialmente quando a tentativa é vista, tal como deve ser vista afinal, como fadada ao fracasso (dado que a consciência moral supera todos os padrões de moralidade e realiza-se inteiramente nos juízos particulares), pode-se dizer então que tem início a ética como um processo de reflexão sobre a natureza da consciência moral.<ref name="EB"/>