Carlos III de Espanha: diferenças entre revisões

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== Legado imperial de Espanha ==
Em 1713, a [[Guerra deda Sucessão Espanhola]] (1701-1714) terminou com a assinatura do [[Tratado de Utrecht]], reduzindo o poder político e militar de Espanha, país que tinha sido governado pela [[Casa de Bourbon]] desde 1700. Segundo os termos do tratado, o Império Espanhol poderia ficar com os seus territórios na [[América Latina]], mas teria de ceder o sul dos [[Países Baixos]] à [[Monarquia de Habsburgo|Áustria]] dos Habsburgos, os reinos de [[Reino de Nápoles|Nápoles]] e da [[Reino da Sardenha|Sardenha]], o [[ducadoDucado de Milão]] e o [[Estado dos Presídios]]. Além disso, a [[Casa de Saboia]] recebeu o [[Reino da Sicília]] e o [[Reino da Grã-Bretanha]] recebeu a ilha de [[Maiorca]] e a fortaleza de [[Gibraltar]].
 
Em 1700, o pai de Carlos tornou-se rei de Espanha como [[Filipe V de Espanha|Filipe V]]. Durante o resto do seu reinado (1700-1746), Filipe tentou insistentemente recuperar os territórios perdidos. Em 1714, após a morte da sua primeira esposa, a princesa [[Maria Luísa de Saboia|Maria Luísa Gabriela de Saboia]], o cardeal [[Giulio Alberoni]] arranjou com sucesso o casamento de Filipe com a ambiciosa [[Isabel Farnésio]], sobrinho e enteada de [[Francisco Farnésio]], [[Lista dos duques de Parma e PiacenzaPlacência|duqueDuque de Parma]]. Isabel e Filipe casaram-se a 24 de dezembro de 1714; a nova rainha demonstrou rapidamente ser uma consorte dominante e influenciou o marido a nomear o cardeal Giulio Alberoni primeiro-ministro de Espanha em 1715.
 
Em 1716, Isabel deu à luz o infante Carlos de Espanha no [[Real Alcázar de Madrid]]. Carlos estava na quarta posição da linha de sucessão ao trono espanhol, depois dos seus meios-irmãos mais velhos: o infante Luís, príncipe das Astúrias (que reinou durante um breve período de tempo como [[Luís I de Espanha]] antes de morrer em 1724), o infante [[Filipe de Espanha|Filipe]] (que morreu em 1719) e Fernando (o futuro rei [[Fernando VI de Espanha|Fernando VI]]). Uma vez que o duque Francisco de Parma e a sua esposa não tinham filhos, Isabel esforçou-se por conseguir que o seu filho mais velho herdasse o [[Ducado de Parma e PiacenzaPlacência]]. Queria também que herdasse o [[Ducado da Toscana]], uma vez que o grão-duque da Toscana, [[João Gastão de Médici]], também não tinha filhos e era um primo afastado seu, uma vez que ambos partilhavam a mesma bisavó, [[Margherita de' Medici]], o que tornava Carlos um bom candidato ao título.
 
== Biografia ==
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O meio-irmão de Carlos, o infante Filipe Pedro, morreu a 29 de dezembro de 1719, colocando Carlos no terceiro lugar de sucessão, atrás de Luís e Fernando. Esta seria a sua posição, atrás dos dois meios-irmãos, até à morte de cada um deles. O seu segundo irmão, o infante [[Filipe I de Parma|Filipe de Espanha]], nasceu a 15 de março de 1720.
 
Desde 1721, o rei Filipe negociava com o [[Filipe II, Duque d'Orleães|duque de Orleães]], regente de França, três possíveis casamentos entre França e Espanha que melhorariam a tensa relação entre os dois reinos. O jovem [[Luís XV de França]] casaria com a infanta [[Mariana Vitória de Bourbon|Mariana Vitória]], na altura com três anos de idade, que se tornaria rainha de França, o meio-irmão de Carlos, Luís, casaria com a quarta filha do regente, a princesa [[Luísa Isabel de Orleães|Luísa Isabel]]. Carlos ficaria noivo da princesa [[Filipina Isabel d'Orléans|Filipina Isabel]], quinta filha do duque de Orleães.
 
Em 1726, Carlos conheceu Filipina Isabel pela primeira vez; Isabel Farnésio escreveu mais tarde ao regente e à sua esposa sobre este encontro:
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{{Quote2|''Acho-a a criança mais bonita e adorável do mundo. É muito divertido vê-la com o seu pequeno marido: como se acariciam e como já se amam. Têm muitos segredinhos para contar um ao outro e não se conseguem separar nem um segundo.''<ref>Williams, Hugh Noel, ''Unruly daughters; a romance of the house of Orléans'', 1913</ref>}}
 
De todas estas uniões, apenas Luís e Luísa Isabel se chegaram a casar. Isabel Farnésio procurou outras possíveis noivas para o seu filho mais velho, principalmente na Áustria, o principal rival pela influência na península italiana. Assim, propôs ao imperador [[Carlos VI, do Sacro ImperadorImpério Romano-Germânico|Carlos VI]] que o infante Carlos desposasse a arquiduquesa [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]], na altura com oito anos de idade, e que o seu segundo filho, o infante Filipe, ficasse com a arquiduquesa [[Maria Ana da Áustria (1718-1744)|Maria Ana]], na altura com sete anos de idade.
 
A aliança entre a Espanha e a Áustria foi assinada a 30 de abril de 1725, e incluía o apoio de Espanha na [[Sanção Pragmática]], um documento escrito pelo imperador Carlos em 1713 para garantir o apoio a Maria Teresa para que sucedesse ao trono dos Habsburgo. O imperador também renunciou às suas pretensões ao trono de Espanha e prometeu apoiar a Espanha nas suas tentativas de reconquistar [[Gibraltar]]. A [[Guerra Anglo-Espanhola (1727-17291727–1729)|Guerra Anglo-Espanhola]] que se seguiu deitou por terra as ambições de Isabel Farnésio e os planos de casamento foram abandonados quando se assinou o [[Tratado de Sevilha]] a 9 de novembro de 1729. No entanto, o mesmo tratado permitia que o infante Carlos ocupasse legitimamente Parma, Placência e a Toscana, mesmo se, para tal, tivesse de usar a força.
 
Após o Tratado de Sevilha, Filipe V ignorou os seus termos e formou uma aliança com a França e a Grã-Bretanha. António Farnésio, [[duqueDuque de Parma]], morreu a 26 de fevereiro de 1731 sem nomear um herdeiro, uma vez que se pensava que a sua viúva, [[Henriqueta d'Este]], estivesse grávida na altura. A duquesa foi examinada por muitos médicos sem que a gravidez se confirmasse. Assim, o Segundo Tratado de Viena de 22 de julho de 1731 reconheceu oficialmente o jovem infante Carlos como duque de Parma e Placência.
 
O ducado foi ocupado pelo conde Carlo Stampa que prestou serviço como tenente de Parma em nome do jovem Carlos. A partir de então, o infante passou a ser reconhecido como Dom Carlos de Espanha (ou Borboun), duque de Parma e Placência, infante de Espanha. Uma vez que ainda era menor de idade, a sua avó materna, a princesa [[Doroteia Sofia de Neuburgo|Doroteia Sofia de Neuburg]], foi nomeada regente.
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Carlos chegou a [[Península Itálica|Itália]] a 20 de outubro de 1731. Após uma cerimónia solene em Madrid, Carlos recebeu a ''épée d'or'' (espada de ouro) do seu pai; a espada tinha sido entregue a Filipe V pelo seu avô, o rei [[Luís XIV de França]], antes da sua partida para Espanha em 1700. Carlos partiu de Espanha e viajou por terra de [[Sevilha]] para [[Antibes]] seguindo depois para a [[Toscana]], tendo chegado a [[Livorno]] a 27 de dezembro de 1731. O seu primo, [[João Gastão de Médici]], grão-duque da Toscana foi nomeado seu co-tutor e, apesar de Carlos ser considerado herdeiro presumível de João Gastão, o grão-duque recebeu-o bem. A caminho de [[Florença]] a partir de [[Pisa]], Carlos adoeceu de [[varíola]]. Carlos entrou majestosamente em Florença, capital dos [[Médici]], a 9 de março de 1732, com uma comitiva de 250 pessoas. Ficou alojado com o seu anfitrião na residência ducal, o [[Palácio Pitti]].<ref>Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988, pp. 46–48.</ref>
 
João Gastão organizou uma grande festa em honra do santo patrono de Florença, São João Baptista, a 24 de junho. Durante esta festa, nomeou Carlos seu herdeiro, concedendo-lhe o título de príncipe-hereditárioherdeiro da Toscana. Carlos prestou homenagem ao senado de Florença, como era tradição entre os herdeiros do trono da Toscana. Quando o imperador Carlos VI soube da cerimónia, ficou furioso, uma vez que João Gastão não o tinha informado das suas intenções. Uma vez que Carlos se encontrava numa posição superior à de João Gastão, a nomeação do herdeiro deveria ter sido escolha sua. Apesar das celebrações, Isabel Farnésio pediu ao filho que se dirigisse para Parma, o que o seu filho cumpriu, sendo recebido com muita alegria na cidade em outubro de 1732. Em frente do palácio ducal de Parma estavam escritas as palavras "''Parma Resurget"'' ("Que Parma Governe"). Ao mesmo tempo, a peça ''La venuta di Ascanio'' foi escrita em Itália por Carlo Innocenzo Frugoni e seria mais tarde representada no Teatro Farnese na cidade.<ref>Harold Acton, ''I Borboni di Napoli'' (1734–1825), Florence, Giunti, 1997, p. 18.</ref><ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Napoli, Edizioni Agea, 1988, p. 48.</ref>
 
=== Personalidade e aparência ===
 
Quando chegou à [[península Itálica]], Carlos ainda não tinha dezassete anos de idade. Recebeu a educação rigorosa e estruturada dada a um infante espanhol. Era muito devoto e muitas vezes sentia-se intimidado pela sua mãe dominadora, com quem, segundo relatos da época, se parecia muito. Alvise Giovanni Mocenigo, [[Doge de Veneza]] e embaixador de Veneza e Nápoles declarou que:
 
{{quote2|''Recebeu uma educação afastada de todos os estudos e aplicações necessários para se poder governar sozinho (...)''.|<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Napoli, Edizioni Agea, 1988, p. 48.</ref>}}
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== Conquista de Nápoles e da Sicília ==
[[Imagem:El Futuro Carlos III de España a caballo en Gaeta.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''Carlos a cavalo em Gaeta'', <br><small>porPor [[Giovanni Luigi Rocco]]</small>]]
 
Em 1733, quando morreu o rei [[Augusto II da Polónia]], houve uma crise de sucessão na [[Polónia]]. A França apoiava um pretendente enquanto a Áustria e a Rússia preferiam outro. A França e os Saboia criaram uma aliança e conquistaram territórios à Áustria. A Espanha, que se tinha aliado a França em finais de 1733 através do chamado Pacto dos Bourbon, também entrou no conflito.
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A 27 de fevereiro, o rei Filipe expressou a sua intenção de conquistar o reino de Nápoles, afirmando que o libertaria da "violência excessiva exercida pelo vice-rei da Áustria em Nápoles, assim como a sua opressão e tirania".<ref>Gleijeses, Vittorio. Don Carlos Naples, Edizioni Agea, 1988. p. 49</ref> Carlos, que era agora conhecido como "Carlos I de Parma", seria o responsável. Carlos inspeccionou as tropas espanholas em [[Perúgia]] e marchou a caminho de Nápoles a 5 de março. O exército passou pelos [[Estados Pontifícios]], na altura governados pelo papa [[Clemente XII]].<ref>Acton, ''Harold. I Borboni di Napoli'' (1734–1825) Florence, Giunti, 1997 p. 20</ref>
 
Os austríacos, que já se encontravam a combater os franceses e os exércitos dos Saboia pela [[Lombardia]], tinham poucos recursos para se defenderem em Nápoles e estavam divididos em relação à melhor forma de combater os espanhóis. O sacro-imperador queria manter Nápoles, mas a maioria da nobreza napolitana estava contra ele e alguns chegaram mesmo a conspirar contra o vice-rei. Esperavam que Filipe desse o reino a Carlos, que teria mais possibilidades de viver e governar lá, e não entregar o poder a um vice-rei e obedecer a uma potência estrangeira. A 9 de março, os espanhóis conquistaram a [[Prócida]] e a [[Ísquia (ilha)|Ísquia]], duas ilhas na baía de Nápoles. Os espanhóis ladearam as posições defensivas dos austríacos, comandados pelo general [[Otto Ferdinand von Abensberg und Traun|Traun]], e forçaram-nos a retirar para [[Capua]]. Esta conquista permitiu que Carlos e as suas tropas avançassem para a cidade de Nápoles.
 
O vice-rei austríaco, Giulio Borromeo Visconti, e o comandante do seu exército, Carafa, deixaram algumas tropas a defender a fortaleza da cidade e retiraram-se para a [[Apúlia]]. Lá esperaram pela chegada de reforços em número suficiente para se defenderem contra os espanhóis. Os espanhóis entraram em Nápoles e cercaram as fortalezas controladas pelos austríacos. Durante este intervalo, Carlos foi elogiado pela nobreza local e uma delegação de oficiais eleitos da cidade ofereceu-lhe as chaves e o livro de privilégios da mesma.<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988. p. 50-53</ref>
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{{quote2|''Meu mui ilustre e amado filho. Por razões importantes e motivos poderosos e importantes, tinha resolvido que, caso as minhas forças reais, que enviei para Itália para fazer frente ao imperador, controlassem o reino de Nápoles, esse reino deveria ficar em sua posse, como se o tivesses conquistado com as suas próprias forças e, tendo Deus decidido olhar pela justa causa que me assiste, e providenciar-nos com a sua poderosa ajuda este mui feliz acontecimento: declaro que é de minha vontade que a referida conquista lhe pertença como a seu legítimo soberano na forma mais alargada que existe: e para que possais fazê-lo constatar onde e quando seja conveniente, foi meu desejo manifestá-lo através desta carta que assino com a minha própria mão e foi rectificada pelo meu Conselheiro e Secretário de Estado e Escritório.''}}
 
A carta começava com as palavras "''Para o rei de Nápoles, o Meu Filho e Meu Irmão''".<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988. p. 60</ref> Carlos foi único, uma vez que foi o primeiro rei de Nápoles que realmente viveu no seu território após um período de duzentos anos de vice-reis. No entanto, a resistência austríaca ainda não tinha sido completamente eliminada. O sacro-imperador enviou os seus reforços para Nápoles sob o comando do príncipe de Belmonte, que chegou a [[Bitonto]].
 
As tropas espanholas, lideradas pelo conde de Montemar atacou os austríacos a 25 de maio de 1734 em Bitonto, e conseguiu uma vitória decisiva. Belmonte foi feito prisioneiro depois de fugir para [[Bari]], enquanto as outras tropas austríacas conseguiram fugir por mar. Para celebrar a vitória, a cidade de Nápoles foi iluminada durante três noites e, a 30 de maio, o duque de Montemar, o comandante do exército de Carlos, recebeu o título de duque de Bitonto.<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988. p. 61-62</ref> Actualmente, existe um obelisco na cidade que celebra esta batalha.
 
Após a queda de [[ReggioRégio Calabriade Calábria]] a 20 de junho, Carlos também conquistou as cidades de [[Áquila (Itáliacomuna italiana)|L'AquilaÁquila]] (27 de junho) e [[Pescara]] (28 de julho). As últimas duas fortalezas foram [[Gaeta]] e [[Capua]]. O cerco de Gaeta, ao qual Carlos assistiu, terminou a 6 de agosto. Três semanas depois, o duque de Montemar deixou o território peninsular para se dirigir à [[Sicília]], chegando a [[Palermo]] no dia 2 de setembro de 1734, data em que deu início à conquista das fortalezas dos austríacos na ilha que terminou em inícios de 1735. Capua, o último forte austríaco no território de Nápoles, conseguiu aguentar-se sob as ordens de von Traun até 24 de novembro de 1734.
 
Em 1735, após se ter delineado o tratado que terminou a guerra, Carlos cedeu formalmente a cidade de Parma ao sacro-imperador em troca do seu reconhecimento como rei de Nápoles e da Sicília.
 
=== Relações com a Santa Sé ===
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Durante os seus primeiros anos de reinado, a corte de Nápoles envolveu-se numa disputa com a [[Santa Sé]]. O Reino de Nápoles era um condado antigo dos [[Estados Pontifícios]]. Por isso, o papa [[Clemente XII]] considerava-se o único com autoridade para investir o rei de Nápoles e não reconhecia Carlos de Bourbon como soberano legítimo. Através do núncio apostólico, o papa informou Carlos que não considerava a nomeação que tinha recebido da parte do pai válida. Em resposta, um comité liderado pelo advogado da Toscana, Bernardo Tanucci em Nápoles concluiu que a investidura do papa não era necessária, uma vez que a coroação de um rei não podia ser vista como um sacramento. Tanucci também implementou uma política que limitava substancialmente os privilégios do clero que não pagava impostos pelas suas vastas possessões e tinha a sua própria jurisdição. No entanto, o governo de Nápoles também procedeu por vezes de forma conciliatória para com a igreja proibindo, por exemplo, o regresso do historiador Pietro Giannonne que tinha sido exilado por não ser bem visto pela hierarquia eclesiástica. <ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988, p. 63-64.</ref>
 
A situação piorou quando, em 1735, alguns dias antes da coroação de Carlos, o papa preferiu aceitar as oferendas tradicionais do cavalo de [[Hackney]] do sacro-imperador em vez de as aceitar da parte de Carlos. O "Hackney" era uma égua branca e uma quantidade de dinheiro que o rei de Nápoles oferecia ao papa como forma de homenagem feudal todos os anos, no dia 29 de junho, festa de São Pedro e São Paulo. O motivo da escolha estava relacionado com o facto de Carlos ainda não ser reconhecido como governante do [[Reino de Nápoles]] através de um tratado de paz e, assim, o sacro-imperador continuava a ser tecnicamente rei de Nápoles. Além do mais, receber um Hackney do sacroSacro impérioImpério era algo comum, mas recebê-lo de um Bourbon era algo inédito. Assim, o papa considerou que a primeira opção era um gesto menos dramático e, ao fazê-lo, provou a ira de Carlos, que era muito religioso.
 
Entretanto, Carlos tinha chegado à Sicília. Apesar da conquista da ilha por parte dos Bourbon ainda não estar completa, foi coroado rei das [[Duas Sicílias]] a 3 de julho na antiga [[Catedral de Palermo]], depois de viajar por terra para Palmi e por mar de Palmi para Palermo. A coroação ultrapassou a autoridade do papa graças à legação apostólica da Sicília, um privilégio medieval que dava à ilha uma autonomia especial da igreja. Assim, o legado papal não esteve presente na cerimónia, tal como Carlos teria desejado.<ref>Vittorio Gleijeses, Don Carlos, Nápoles, Edizioni Agea, 1988, pp. 65–66</ref>
 
Em março de 1735, voltou a surgir discórdia entre Roma e Nápoles. Foi descoberto em Roma que os Bourbon tinham retido cidadãos romanos na cave do [[PalazzoPalácio FarneseFarnésio (Roma)|PalazzoPalácio FarneseFarnésio]], uma propriedade pessoal do rei Carlos. Os cidadãos tinham sido levados para lá para serem integrados noao recém-criado exército de Nápoles. Milhares de habitantes da cidade de [[Trastevere]] invadiram o palácio para os libertar. O motim acabou por se tornar numa pilhagem. Depois, a multidão dirigiu-se à embaixada de Espanha na [[Piazza di Spagna]]. Durante os confrontos que se seguiram, morreram vários soldados dos Bourbon, incluindo um oficial. Os distúrbios chegaram à cidade de [[Velletri]], onde a população atacou as tropas espanholas na estrada para Nápoles.
 
O episódio foi visto como uma afronta grave à corte de Bourbon. Como consequência, os embaixadores de Espanha e de Nápoles deixaram Roma enquanto os núncios apostólicos foram dispensados em Madrid e Nápoles. Vários regimentos de tropas dos Bourbon invadiram os Estados Pontifícios. A ameaça foi tal que alguns portões de Roma foram barricados e o número de guardas civis foi duplicado. Valletri foi ocupada e obrigada a pagar 8000 coroas pela ocupação. Ostia foi saqueada, enquanto Palestrina evitou o mesmo destino ao pagar um resgate de 16000 coroas.
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=== Escolha do nome ===
 
Carlos deveria ser recordado como ''Carlos VII de Nápoles'' (algumas fontes inclusivamente tratam-no desta forma), mas este número nunca foi utilizado oficialmente por ele. Era conhecido simplesmente como Carlos de Bourbon. O motivo pelo qual nunca foi utilizado qualquer número oficialmente deve-se ao facto de este desejar realçar o facto de ser o primeiro rei de Nápoles a viver realmente neste território e para marcar a separação entre ele e os governantes anteriores que tinham o mesmo nome, mais especificamente, o sacro-imperador [[Carlos VI, do Sacro ImperadorImpério Romano-Germânico|Carlos VI]].
 
Na Sicília, era conhecido por Carlos III da Sicília e de Jerusalém, preferindo o número III ao V. O povo da Sicília não tinha reconhecido o rei [[Carlos I da Sicília|Carlos I de Nápoles]] (Carlos de Anjou) como seu governante e rebelaram-se contra ele. O mesmo tinha acontecido com o sacro-imperador Carlos que também não era amado.
 
=== Paz com a Áustria e casamento ===
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Chegou-se a uma paz preliminar com a Áustria a 3 de outubro de 1735. No entanto, esta seria apenas definitiva três anos depois, com a assinatura do [[Tratado de Viena (1738)]] que concluiu a [[Guerra da Sucessão Polaca]].
 
Nápoles e a Sicília foram entregues pela Áustria a Carlos que, em troca, cedeu [[Parma]] e a [[Toscana]]. Carlos tinha herdado a Toscana em 1737, após a morte de Gian Gastone, mas este território passou para as mãos de [[Francisco IIII dedo LorenaSacro Império Romano-Germânico|Francisco Estêvão]], genro do sacro-[[imperador romano-germânico]] [[Carlos VI do Sacro Império Romano-Germânico|Carlos VI]], como compensação pela cedência do ducado de Lorena ao rei [[StanisławEstanislau I Leszczyński da Polônia|Estanislau I Leszczyński]], deposto após a guerra.
 
O tratado incluía também a transferência de todos os bens da [[Casa de Farnese]] para Nápoles. Carlos levou consigo a colecção de arte, os arquivos e a biblioteca do ducado, os canhões do forte e até uma escadaria de mármore do palácio ducal.<ref>Acton, Harold. ''I Borboni di Napoli (1734–1825)''' , Florença, Giunti, 1997</ref>
 
A mãe de Carlos, Isabel, voltou a procurar possíveis noivas para o filho, agora oficialmente reconhecido como rei de Nápoles e da Sicília. Era impossível conseguir uma arquiduquesa da Áustria para o cargo, por isso a rainha centrou as suas atenções na Polónia, escolhendo a princesa [[Maria Amália da Saxônia|Maria Amália da Saxónia]], filha do novo rei da Polónia, [[Augusto III da Polônia|Augusto III]] e da sua esposa austríaca, a arquiduquesa [[Maria Josefa da Áustria (1699-17571699–1757)|Maria Josefa da Áustria]]. Maria Josefa era sobrinha do sacro-imperador Carlos. O casamento foi visto como a única alternativa a um casamento austríaco.
 
Maria Amália tinha apenas treze anos de idade quando soube da proposta de casamento. A data para a união foi marcada para 31 de outubro de 1737. Maria Amália casou-se por procuração, em [[Dresden]], em maio de 1738, tendo o seu irmão [[Frederico Cristiano, Príncipe-Eleitor da Saxónia|Frederico Cristiano da SaxóniaSaxônia]] representado Carlos. Este casamento foi visto com agrado pela [[Santa Sé]] e terminou definitivamente com a discórdia entre os dois poderes.
 
O casal viu-se pela primeira vez a 19 de junho de 1738 em Portella, uma aldeia na fronteira do reino perto de [[Fondi]]. Na corte, as festividades duraram até dia 3 de julho. Como parte das festividades, Carlos criou a [[Ordem de São Januário]], a ordem de cavalaria mais prestigiada do reino. Mais tarde criou a [[Ordem de Carlos III|Ordem Carlos III]] em Espanha, a 19 de setembro de 1771.
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[[Imagem:Rosalba Carriera - Maria Theresa, Archduchess of Habsburg (1730) - Google Art Project.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''A arquiduquesa [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]]'', mais tarde imperatriz da Áustria, <small>por [[Rosalba Carriera]], [[Pinacoteca dos Mestres Antigos]]</small>]]
 
Foi assinado o tratado de paz entre Carlos e a Áustria em Viena, em 1740. Nesse ano, o sacro-imperador [[Carlos VI, do Sacro ImperadorImpério Romano-Germânico|Carlos VI]] faleceu, deixado os seus reinos da [[Reino da Boêmia|Boémia]] e da [[Reino da Hungria|Hungria]] (juntamente com muitas outras propriedades) à sua filha [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]]. O sacro-imperador tinha esperança de que muitos dos signatários da [[Pragmática Sanção]] não interferissem na linha de sucessão que tinha definido. No entanto, tal não aconteceu e rebentou a [[Guerra da Sucessão Austríaca]]. A França aliou-se à Espanha e à [[Reino da Prússia|Prússia]] contra Maria Teresa que tinha o apoio da Grã-Bretanha, governada pelo rei [[Jorge II da Grã-Bretanha|Jorge II]], e pelo [[Reino da Sardenha]], governado pelo rei [[Carlos Emanuel III da Sardenha]].
 
Carlos desejava manter-se neutro durante o conflito, mas o seu pai queria que ele participasse e reunisse tropas para ajudar a Espanha. Carlos conseguiu enviar {{Formatnum|10000}} soldados para o seu país natal, comandados pelo duque de Castropignano, mas estes viram-se forçados a retirar quando as forças britânicas, comandadas pelo comodoro William Martin ameaçaram bombardear o porto de Nápoles se não se afastassem do conflito.<ref>Luigi del Pozzo, [http://books.google.it/books?id=gpo3AAAAcAAJ Cronaca civile e militare delle Due Sicilie sotto la dinastia borbonica dall'anno 1734 in poi] , Nápoles, Stamperia Reale, 1857.</ref>
 
Após este incidente, Carlos voltou a insistir na ideia da neutralidade, uma decisão que foi mal recebida em França e pelo seu pai em Espanha. Os seus pais encorajaram-no a entrar em combate, tal como tinha feito o seu irmão, o infante [[Filipe I de Parma|Filipe]]. Após publicar uma proclamação a 25 de março de 1744 onde dava garantias aos seus súbditos, Carlos assumiu o comando de um exército contra os exércitos do austríaco príncipe Lobkowitz que estavam prestes a entrar na fronteira de Nápoles.
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Para se oporem ao pequeno mas poderoso partido pró-austríaco em Nápoles, foi criado um novo consílio sob o comando de Tanucci que resultou na detenção de mais de 800 pessoas. Em abril, Maria Teresa falou aos napolitanos através de uma proclamação na qual prometia perdões e outros benefícios aos que se insurgissem contra os "usurpadores", ou seja, os Bourbons.<ref>Giuseppe Coniglio, ''I Borboni di Napoli'', Milão, Corbaccio, 1999.</ref>
 
A participação de Nápoles e da Sicília no conflito levou, no dia 11 de agosto, à decisiva [[Batalha de Velletri]], onde as tropas napolitanas, comandadas por Carlos e pelo duque de Castropignano, e as tropas espanholas comandadas pelo conde de Pledges, derrotaram os austríacos de Lobkowitz, que se retiraram com pesadas perdas. A coragem demonstrada por Carlos levou o rei da Sardenha, seu inimigo, a escrever que "''revelou a constância valorizante do seu sangue e comportou-se de forma gloriosa''".<ref>Gaetano Falzone, Il regno di Carlo di Borbone in Sicilia. 1734–1759, Bologne, Pàtron Editore, 1964.</ref>
 
O vice-rei de Velletri garantiu que Carlos tinha o direito de conferir o título de duque de Parma ao seu irmão mais novo, o infante Filipe. Este direito foi reconhecido no [[Tratado de Aquisgrão (1748)|Tratado de Aquisgrão]], assinado em 1748, mas foi só no ano seguinte que o infante Filipe se tornou oficialmente duque de Parma, PiacenzaPlacência e Guastalla.
 
== Impacto do Reinado em Nápoles e na Sicília ==
[[Imagem:Campania Caserta2 tango7174.jpg|miniaturadaimagem|direita|[[Palácio de Caserta]], uma das obras de Carlos.]]
 
Em 1746, o rei [[Filipe V de Espanha]] faleceu aos sessenta-e-dois anos de idade. O trono de Espanha foi herdado pelo seu filho, o infante Fernando, que reinou como [[Fernando VI de Espanha]]. Fernando, que não tinha um bom relacionamento com a sua madrasta, forçou-a a deixar a corte espanhola. Esta atitude significava também que Isabel Farnese perdia a influência que tinha junto do seu filho por ser rainha de Espanha.
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Nesse mesmo ano, foi introduzida a [[Inquisição]] nos reinos de Carlos, trazida pelo cardeal [[Giuseppe Spinelli|Spinelli]]. Esta medida não foi bem recebida e levou à intervenção de Carlos.
 
Carlos deixou um legado duradouro no seu reino; construiu muitos edifícios e deu início a reformas no país. Em Nápoles e nas zonas circundantes é possível encontrar uma série de palácios construídos durante o seu reinado. Tendo como inspiração o [[Palácio de Versalhes]] e o [[Palácio Real de Madrid]] (que tinha já utilizado Versalhes como modelo), Carlos deu início à construção de um dos palácios mais luxuosos da Europa, o [[Reggia di Caserta|Palácio de Caserta]]. A ideia de construir o palácio surgiu em 1751, quando Carlos tinha vinte-e-cinco anos de idade. O local escolhido para a sua construção era uma cabana de caça, à semelhança de [[Versalhes]]. Carlos gostava do local porque lembrava [[Real Sitio de San Ildefonso (Espanha)|San Ildefonso]], o local onde se encontravam os palácios de La Granja e de San Ildefonso em Espanha. A construção de Caserta teve grande influência da sua esposa, a princesa Maria Amália da Saxónia, uma mulher muito culta. O local do palácio era também afastado no grande vulcão do [[monte Vesúvio]] que representava uma ameaça constante para a capital, assim como o mar. Foi o próprio rei que colocou a primeira pedra no local, entre grandes celebrações, no dia do seu vigésimo-sexto aniversário, a 20 de janeiro de 1752.
 
Outros edifícios construídos durante o seu reinado foram o [[Reggia di Portici|Palácio de Portici]], o [[Teatro San Carlo|Teatro di San Carlo]], construído apenas duzentos-e-setenta dias após o [[Museu de Capodimonte|Palácio de Capodimonte]]. Também renovou o [[Palácio Real de Nápoles]]. Juntamente com a sua esposa, Carlos mandou construir a Fábrica de Porcelana de [[Capodimonte]]. Também criou a Academia Ercolanesi e o [[Museu Arqueológico Nacional de Nápoles|Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles]] que ainda funciona nos dias de hoje.
 
Em Nápoles, Carlos deu início a uma série de reformas às quais daria continuação mais tarde em Espanha. O primeiro-ministro de Nápoles, Bernardo Tanucci, influenciou-o consideravelmente. Foi durante o seu reinado que as cidades romanas de [[Herculano]] (1738), [[Estábia]] e [[Pompeia]] (1748) foram redescobertas. O rei encorajou as escavações e era informado constantemente sobre novas descobertas, mesmo depois de se mudar para Espanha. Carlos também encorajou a formação de artesãos instruídos em Nápoles e na Sicília, após séculos de domínio estrangeiro. Carlos é reconhecido por ter recreadorecriado a "nação napolitana", ajudando a estabelecer um reino independente e soberano. Foi também o artesão de grandes reformas políticas administrativas, sociais e religiosas necessárias para o reino há muito tempo.
 
Carlos foi o rei mais popular que os napolitanos tiveram em muitos anos. Apoiava as necessidades das pessoas, independentemente da sua classe social, e foi celebrado como um monarca iluminado. Entre as suas iniciativas para ajudar o reino a sair da sua complicada situação económica, Carlos criou o "consílioconselho do comércio" que negociou com otomanos, suecos, franceses e holandeses. Também criou uma empresa de seguros e tomou medidas para proteger as florestas, tentando iniciar a extracção e exploração dos recursos naturais.
 
O reino de Nápoles manteve-se neutro durante a [[Guerra dos Sete Anos]] (1756-1763). O primeiro-ministro britânico, [[William Pitt, 1.º Conde de Chatham|William Pitt]], tinha o desejo de criar uma liga italiana, na qual Nápoles e a [[Sardenha]] lutariam juntos contra a Áustria, mas Carlos recusou participar. Esta escolha foi muito criticada pelo embaixador napolitano em Turim, Domenico Caraccioli, que escreveu:
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== Ascensão ao trono de Espanha ==
[[Imagem:Ferdinand IV at age nine.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''Infante [[Fernando I das Duas Sicílias|Fernando]]'', futuro rei das Duas Sicílias, aos 9nove anos de idade, <small>por [[Anton Raphael Mengs]], 1760, [[Museu do Prado]]</small>]]
 
Em finais de 1758, o meio-irmão de Carlos, o rei [[Fernando VI de Espanha|Fernando VI]], começou a manifestar os mesmos sintomas de depressão do pai. Fernando tinha perdido a sua amada esposa, a infanta [[Maria Bárbara de Bragança, Rainha de Espanha|Bárbara de Portugal]], em agosto de 1758 e entrou num período de luto profundo por ela. Nomeou Carlos seu herdeiro presumível a 10 de dezembro de 1758, antes de trocar Madrid por Villaviciosa de Odón, onde viria a falecer a 10 de agosto de 1759.
 
Nesta altura, Carlos foi proclamado rei de Espanha com o nome de Carlos III, respeitando o terceiro Tratado de Viena que definia que não seria possível juntar os territórios de Nápoles e da Sicília ao trono espanhol. Mais tarde, Carlos recebeu o título de ''Senhor das Duas Sicílias''. O [[Tratado de Aquisgrão (1748)|Tratado de Aquisgrão]], que Carlos não tinha rectificado, previa a eventualidade da sua subida ao trono de Espanha; assim, Nápoles e Sicília passariam para o seu irmão [[Filipe I de Parma|Filipe, duque de Parma]], sendo os seus territórios divididos entre a imperatriz [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]] ([[Parma]] e [[Guastalla]]) e o rei da Sardenha ([[Placência]]).
 
Determinado a manter os seus descendentes na corte de Nápoles, Carlos iniciou um período de negociações extensivas com Maria Teresa e, em 1758, os dois assinaram o quarto Tratado de Versalhes, no qual a Áustria renunciava formalmente aos ducados italianos. No entanto, [[Carlos Emanuel III da Sardenha]] continuou a desejar obter o território de Placência e ameaçou até ocupá-lo.
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Para defender o [[Ducado de Parma]] das ameaças de Carlos Emanuel, Carlos enviou tropas para as fronteiras dos [[Estados Pontifícios]]. Graças à mediação do rei Luís XV de França, Carlos Emanuel renunciou ás suas pretensões em Placência em troca de uma compensação financeira. Assim, Carlos garantiu a sucessão de um dos seus filhos, reduzindo as ambições de Carlos Emanuel na altura. Segundo Domenico Caracciolo, este foi um "''golpe fatal''" para as esperanças e desejos do rei da Sardenha".<ref> Franco Valsecchi, ''Il riformismo borbonico in Italia'', Roma, Bonacci, 1990</ref>
 
O filho mais velho de Carlos, o infante [[Filipe de Calábria|Filipe, duqueDuque dade Calábria]], tinha dificuldades de aprendizagem e, por isso, foi afastado da linha de sucessão de ambos os tronos. Acabaria por morrer em Portici, onde tinha nascido, em 1747. O título de [[príncipe das Astúrias]] foi atribuído a [[Carlos IV de Espanha|Carlos]], o seu segundo filho. O direito de sucessão a Nápoles e à Sicília foi dado ao seu terceiro filho, [[Fernando I das Duas Sicílias|Fernando]]. O jovem acabaria por ficar na Itália quando o seu pai e o resto da família partiram para Espanha. Carlos abdicou formalmente das coroas de Nápoles e da Sicília a 6 de outubro de 1759, a favor do seu filho Fernando. Carlos deixou a educação do filho ao encargo de um consílio de regência composto por oito membros. Este conselho governou os reinos até Fernando completar os dezasseis anos de idade.
 
Carlos e a sua esposa chegaram a [[Barcelona]] no dia 7 de outubro de 1759.
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[[Imagem:Departure of Charles III from Naples.jpg|miniaturadaimagem|direita|''Carlos III deixa Nápoles'']]
 
Ao contrário dos vinte anos produtivos que passou em Itália, a sua era em território espanhol não é vista com tanto entusiasmo. A política interna do país, assim como a sua relação com outros países foram completamente reformadas. Carlos representava um novo tipo de governante: o governante que tinha aderido ao [[absolutismo iluminado]], uma forma de monarquia absoluta na qual os monarcas incorporavam os princípios do [[iluminismo]], com especial destaque para a racionalidade, e os aplicavam nos seus territórios. Estes monarcas tendiam a permitir a tolerância religiosa, liberdade de expressão e de imprensa e o direito de deter propriedade privada. A maioria apoiou as artes, ciência e educação. Carlos partilhava estes ideais com outros monarcas, incluindo a imperatriz [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]], o seu filho [[José II, do Sacro ImperadorImpério Romano-Germânico|José]] e a imperatriz [[Catarina, a Grande|Catarina, a GrandeII da Rússia]].
 
Os princípios do iluminismo foram aplicados no seu reino em Nápoles e Carlos pretendia fazer o mesmo em Espanha, mas numa escala muito maior. Carlos levou a cabo a sua reforma com a ajuda do [[Leopoldo de Gregorio, Marquês de Esquilache|marquês de Esquilache]], do [[Pedro Pablo Abarca de Bolea, Conde de Aranda|conde de Aranda]], do [[Pedro Rodríguez de Campomanes|conde de Campomanes]], do [[José Moñino y Redondo|conde de Floridablanca]], de [[Ricardo Wall]] e do aristocrata de [[Génova]], [[Jerónimo Grimaldi, 1.º Duque de Grimaldi|Jerónimo Grimaldi]]. Graças a estes princípios, Carlos III decidiu proibir as touradas, uma prática que considerava brutal e pouco civilizada.
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A amizade tradicional com França deixava a impressão de que o poder da Grã-Bretanha acabaria por diminuir enquanto o de Espanha e França aumentaria cada vez mais. Esta aliança foi reforçada pelo [[Pacto de Família]], assinado a 15 de agosto de 1761 (também chamado de "Tratado de Paris"). Carlos preocupava-se profundamente que o sucesso da Grã-Bretanha na [[Guerra dos Sete Anos]] acabasse por destruir o equilíbrio de poder e que, em breve, os britânicos tentassem conquistar o [[Império Espanhol]], como tinham já feito com o francês.
 
Em inícios de 1762, a Espanha declarou guerra. Os seus principais objectivos eram invadir [[Portugal]] e capturar a [[Jamaica]], mas acabariam por falhar em ambos. A Grã-Bretanha e Portugal não só travaram o ataque de Espanha a Portugal, mas conseguiram também capturar as cidades de [[Havana]] e [[Manila]] aos espanhóis. Carlos III queria continuar a guerra no ano seguinte, mas os líderes franceses conseguiram convencê-lo a não o fazer. Através do [[Tratado de Paris (1763)|Tratado de Paris de 1763]], a Espanha cedeu a FloridaFlórida à Grã-Bretanha, em troca da devolução de Havana e Manila. Esta perda foi parcialmente recompensada com a aquisição de uma parte do [[Louisiana]], cedida pela França como compensação pelas perdas sofridas por Espanha na guerra.
 
Durante a [[Crise das Ilhas Malvinas de 1770]], a Espanha quase entrou em guerra com a Grã-Bretanha depois de expulsar uma guarnição britânica das [[Ilhas Malvinas]]. No entanto, Espanha foi forçada a voltar atrás quando a Marinha Real Britânica começou a mobilizar-se e a França recusou ajudar o seu aliado.
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As disputas territoriais permanentes com Portugal levaram à assinatura do [[Tratado de Santo Ildefonso (1777)|Tratado de Santo Ildefonso]] a 1 de outubro de 1777. Neste tratado, Espanha ficou com [[Colonia del Sacramento]], no actual território do [[Uruguai]], e com os [[Sete Povos das Missões]], no actual território do Brasil, mas não com as regiões ocidentais do Brasil, e também o [[Tratado de El Pardo (1778)|Tratado de El Pardo]], a 11 de março de 1778, no qual os espanhóis voltaram a afirmar que o Brasil português se estava a expandir para além da longitude oeste especificada no [[Tratado de Tordesilhas]]. Em troca, Portugal cedeu o actual território da Guiné Equatorial a Espanha.
 
A rivalidade com a Grã-Bretanha também o levou a apoiar os revolucionários americanos durante a [[Guerra da Independência dos Estados Unidos|Guerra da Independência]], apesar de Carlos ter reservas quanto ao exemplo que esse movimento poderia representar para as colónias espanholas. Durante a guerra, Espanha recuperou [[Minorca]] e o oeste da [[Florida]] durante campanhas militares, mas não conseguiu reconquistar Gibraltar. As operações militares espanholas no oeste da Florida e no Rio Mississippi ajudaram as Treze Colónias a assegurar as suas fronteiras a sul e a oeste dos pontos de ataque britânicos. A captura de [[Nassau (Bahamas)|Nassau]] e das [[Bahamas]] permitiu que a Espanha também recuperasse o este da Florida durante as negociações de paz. O [[Tratado de Paris (1783)|Tratado de Paris de 1783]] confirmou a reconquista dasda FloridasFlórida e de [[Minorca]] e restringiu os interesses comerciais britânicos na América Central.
 
=== Políticas ===
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== Nascimento de uma nação ==
[[Ficheiro:Flag of Spain (1785-1873 and 1875-1931).svg|miniaturadaimagem|direita|A bandeira de Espanha entre 1785 e 1931.]]
 
Durante o reinado de Carlos, a Espanha começou a ser reconhecida como uma nação única e não como uma série de reinos e territórios com um soberano em comum. Os seus esforços resultaram na criação do [[Hino nacional de Espanha|Hino Nacional]], de uma bandeira e de uma capital merecedora desse título, bem como da construção de uma rede de estradas coerente que convergia em Madrid. A 3 de setembro de 1770, Carlos III declarou que a Marcha Real deveria ser utilizada em cerimónias oficiais. Foi Carlos quem escolheu as cores da actual bandeira de Espanha, o vermelho e o amarelo. O rei apresentou a bandeira da marinha militar a 28 de maio de 1785. Até aí, as embarcações espanholas surgiam com a bandeira branca dos Bourbon e com o escudo do soberano. Esta foi substituída pela de Carlos devido à sua preocupação com o facto de a bandeira anterior ser demasiado parecida com as de outras nações.
 
O escudo utilizado por Carlos enquanto rei de Espanha fez parte da bandeira até 1931, ano em que o seu descendente, o rei [[Afonso XIII de Espanha|Afonso XIII]], foi deposto e foi proclamada a [[Segunda República Espanhola]] (houve também uma breve interrupção entre 1873-5). [[Filipe VI da Espanha]], o actual monarca, é descendente directo pela linha masculina do "''rey alcalde''".
 
== Descendência ==
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== Bibliografia ==
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* MELANI, Maria Raquel Apolinário. Projeto Araribá - História. São Paulo:Editora Moderna, 2006{{Refend}}
* Chávez, Thomas E. ''Spain and the Independence of the United States: An Intrinsic Gift'', Albuquerque: University of New Mexico Press, 2002.
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{{Commonscat|Charles III of Spain}}
 
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