Carlos III de Espanha: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
ajustes |
|||
Linha 39:
== Legado imperial de Espanha ==
Em 1713, a [[Guerra
Em 1700, o pai de Carlos tornou-se rei de Espanha como [[Filipe V de Espanha|Filipe V]]. Durante o resto do seu reinado (1700-1746), Filipe tentou insistentemente recuperar os territórios perdidos. Em 1714, após a morte da sua primeira esposa, a princesa [[Maria Luísa de Saboia|Maria Luísa Gabriela de Saboia]], o cardeal [[Giulio Alberoni]] arranjou com sucesso o casamento de Filipe com a ambiciosa [[Isabel Farnésio]], sobrinho e enteada de [[Francisco Farnésio]], [[Lista dos duques de Parma e
Em 1716, Isabel deu à luz o infante Carlos de Espanha no [[Real Alcázar de Madrid]]. Carlos estava na quarta posição da linha de sucessão ao trono espanhol, depois dos seus meios-irmãos mais velhos: o infante Luís, príncipe das Astúrias (que reinou durante um breve período de tempo como [[Luís I de Espanha]] antes de morrer em 1724), o infante [[Filipe de Espanha|Filipe]] (que morreu em 1719) e Fernando (o futuro rei [[Fernando VI de Espanha|Fernando VI]]). Uma vez que o duque Francisco de Parma e a sua esposa não tinham filhos, Isabel esforçou-se por conseguir que o seu filho mais velho herdasse o [[Ducado de Parma e
== Biografia ==
Linha 66:
O meio-irmão de Carlos, o infante Filipe Pedro, morreu a 29 de dezembro de 1719, colocando Carlos no terceiro lugar de sucessão, atrás de Luís e Fernando. Esta seria a sua posição, atrás dos dois meios-irmãos, até à morte de cada um deles. O seu segundo irmão, o infante [[Filipe I de Parma|Filipe de Espanha]], nasceu a 15 de março de 1720.
Desde 1721, o rei Filipe negociava com
Em 1726, Carlos conheceu Filipina Isabel pela primeira vez; Isabel Farnésio escreveu mais tarde ao regente e à sua esposa sobre este encontro:
Linha 76:
{{Quote2|''Acho-a a criança mais bonita e adorável do mundo. É muito divertido vê-la com o seu pequeno marido: como se acariciam e como já se amam. Têm muitos segredinhos para contar um ao outro e não se conseguem separar nem um segundo.''<ref>Williams, Hugh Noel, ''Unruly daughters; a romance of the house of Orléans'', 1913</ref>}}
De todas estas uniões, apenas Luís e Luísa Isabel se chegaram a casar. Isabel Farnésio procurou outras possíveis noivas para o seu filho mais velho, principalmente na Áustria, o principal rival pela influência na península italiana. Assim, propôs ao imperador [[Carlos VI
A aliança entre a Espanha e a Áustria foi assinada a 30 de abril de 1725, e incluía o apoio de Espanha na [[Sanção Pragmática]], um documento escrito pelo imperador Carlos em 1713 para garantir o apoio a Maria Teresa para que sucedesse ao trono dos Habsburgo. O imperador também renunciou às suas pretensões ao trono de Espanha e prometeu apoiar a Espanha nas suas tentativas de reconquistar [[Gibraltar]]. A [[Guerra Anglo-Espanhola (
Após o Tratado de Sevilha, Filipe V ignorou os seus termos e formou uma aliança com a França e a Grã-Bretanha. António Farnésio, [[
O ducado foi ocupado pelo conde Carlo Stampa que prestou serviço como tenente de Parma em nome do jovem Carlos. A partir de então, o infante passou a ser reconhecido como Dom Carlos de Espanha (ou Borboun), duque de Parma e Placência, infante de Espanha. Uma vez que ainda era menor de idade, a sua avó materna, a princesa [[Doroteia Sofia de Neuburgo|Doroteia Sofia de Neuburg]], foi nomeada regente.
Linha 89:
Carlos chegou a [[Península Itálica|Itália]] a 20 de outubro de 1731. Após uma cerimónia solene em Madrid, Carlos recebeu a ''épée d'or'' (espada de ouro) do seu pai; a espada tinha sido entregue a Filipe V pelo seu avô, o rei [[Luís XIV de França]], antes da sua partida para Espanha em 1700. Carlos partiu de Espanha e viajou por terra de [[Sevilha]] para [[Antibes]] seguindo depois para a [[Toscana]], tendo chegado a [[Livorno]] a 27 de dezembro de 1731. O seu primo, [[João Gastão de Médici]], grão-duque da Toscana foi nomeado seu co-tutor e, apesar de Carlos ser considerado herdeiro presumível de João Gastão, o grão-duque recebeu-o bem. A caminho de [[Florença]] a partir de [[Pisa]], Carlos adoeceu de [[varíola]]. Carlos entrou majestosamente em Florença, capital dos [[Médici]], a 9 de março de 1732, com uma comitiva de 250 pessoas. Ficou alojado com o seu anfitrião na residência ducal, o [[Palácio Pitti]].<ref>Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988, pp. 46–48.</ref>
João Gastão organizou uma grande festa em honra do santo patrono de Florença, São João Baptista, a 24 de junho. Durante esta festa, nomeou Carlos seu herdeiro, concedendo-lhe o título de príncipe-
=== Personalidade e aparência ===
Quando chegou à [[península Itálica]], Carlos ainda não tinha dezassete anos de idade. Recebeu a educação rigorosa e estruturada dada a um infante espanhol. Era muito devoto e muitas vezes sentia-se intimidado pela sua mãe dominadora, com quem, segundo relatos da época, se parecia muito. Alvise Giovanni Mocenigo, [[Doge de Veneza]] e embaixador de Veneza e Nápoles declarou que:
{{quote2|''Recebeu uma educação afastada de todos os estudos e aplicações necessários para se poder governar sozinho (...)''.|<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Napoli, Edizioni Agea, 1988, p. 48.</ref>}}
Linha 104:
== Conquista de Nápoles e da Sicília ==
[[Imagem:El Futuro Carlos III de España a caballo en Gaeta.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''Carlos a cavalo em Gaeta''
Em 1733, quando morreu o rei [[Augusto II da Polónia]], houve uma crise de sucessão na [[Polónia]]. A França apoiava um pretendente enquanto a Áustria e a Rússia preferiam outro. A França e os Saboia criaram uma aliança e conquistaram territórios à Áustria. A Espanha, que se tinha aliado a França em finais de 1733 através do chamado Pacto dos Bourbon, também entrou no conflito.
Linha 114:
A 27 de fevereiro, o rei Filipe expressou a sua intenção de conquistar o reino de Nápoles, afirmando que o libertaria da "violência excessiva exercida pelo vice-rei da Áustria em Nápoles, assim como a sua opressão e tirania".<ref>Gleijeses, Vittorio. Don Carlos Naples, Edizioni Agea, 1988. p. 49</ref> Carlos, que era agora conhecido como "Carlos I de Parma", seria o responsável. Carlos inspeccionou as tropas espanholas em [[Perúgia]] e marchou a caminho de Nápoles a 5 de março. O exército passou pelos [[Estados Pontifícios]], na altura governados pelo papa [[Clemente XII]].<ref>Acton, ''Harold. I Borboni di Napoli'' (1734–1825) Florence, Giunti, 1997 p. 20</ref>
Os austríacos, que já se encontravam a combater os franceses e os exércitos dos Saboia pela [[Lombardia]], tinham poucos recursos para se defenderem em Nápoles e estavam divididos em relação à melhor forma de combater os espanhóis. O
O vice-rei austríaco, Giulio Borromeo Visconti, e o comandante do seu exército, Carafa, deixaram algumas tropas a defender a fortaleza da cidade e retiraram-se para a [[Apúlia]]. Lá esperaram pela chegada de reforços em número suficiente para se defenderem contra os espanhóis. Os espanhóis entraram em Nápoles e cercaram as fortalezas controladas pelos austríacos. Durante este intervalo, Carlos foi elogiado pela nobreza local e uma delegação de oficiais eleitos da cidade ofereceu-lhe as chaves e o livro de privilégios da mesma.<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988. p. 50-53</ref>
Linha 133:
{{quote2|''Meu mui ilustre e amado filho. Por razões importantes e motivos poderosos e importantes, tinha resolvido que, caso as minhas forças reais, que enviei para Itália para fazer frente ao imperador, controlassem o reino de Nápoles, esse reino deveria ficar em sua posse, como se o tivesses conquistado com as suas próprias forças e, tendo Deus decidido olhar pela justa causa que me assiste, e providenciar-nos com a sua poderosa ajuda este mui feliz acontecimento: declaro que é de minha vontade que a referida conquista lhe pertença como a seu legítimo soberano na forma mais alargada que existe: e para que possais fazê-lo constatar onde e quando seja conveniente, foi meu desejo manifestá-lo através desta carta que assino com a minha própria mão e foi rectificada pelo meu Conselheiro e Secretário de Estado e Escritório.''}}
A carta começava com as palavras "''Para o rei de Nápoles, o Meu Filho e Meu Irmão''".<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988. p. 60</ref> Carlos foi único, uma vez que foi o primeiro rei de Nápoles que realmente viveu no seu território após um período de duzentos anos de vice-reis. No entanto, a resistência austríaca ainda não tinha sido completamente eliminada. O
As tropas espanholas, lideradas pelo conde de Montemar atacou os austríacos a 25 de maio de 1734 em Bitonto, e conseguiu uma vitória decisiva. Belmonte foi feito prisioneiro depois de fugir para [[Bari]], enquanto as outras tropas austríacas conseguiram fugir por mar. Para celebrar a vitória, a cidade de Nápoles foi iluminada durante três noites e, a 30 de maio, o duque de Montemar, o comandante do exército de Carlos, recebeu o título de duque de Bitonto.<ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988. p. 61-62</ref> Actualmente, existe um obelisco na cidade que celebra esta batalha.
Após a queda de [[
Em 1735, após se ter delineado o tratado que terminou a guerra, Carlos cedeu formalmente a cidade de Parma ao
=== Relações com a Santa Sé ===
Linha 146:
Durante os seus primeiros anos de reinado, a corte de Nápoles envolveu-se numa disputa com a [[Santa Sé]]. O Reino de Nápoles era um condado antigo dos [[Estados Pontifícios]]. Por isso, o papa [[Clemente XII]] considerava-se o único com autoridade para investir o rei de Nápoles e não reconhecia Carlos de Bourbon como soberano legítimo. Através do núncio apostólico, o papa informou Carlos que não considerava a nomeação que tinha recebido da parte do pai válida. Em resposta, um comité liderado pelo advogado da Toscana, Bernardo Tanucci em Nápoles concluiu que a investidura do papa não era necessária, uma vez que a coroação de um rei não podia ser vista como um sacramento. Tanucci também implementou uma política que limitava substancialmente os privilégios do clero que não pagava impostos pelas suas vastas possessões e tinha a sua própria jurisdição. No entanto, o governo de Nápoles também procedeu por vezes de forma conciliatória para com a igreja proibindo, por exemplo, o regresso do historiador Pietro Giannonne que tinha sido exilado por não ser bem visto pela hierarquia eclesiástica. <ref>Vittorio Gleijeses, ''Don Carlos'', Nápoles, Edizioni Agea, 1988, p. 63-64.</ref>
A situação piorou quando, em 1735, alguns dias antes da coroação de Carlos, o papa preferiu aceitar as oferendas tradicionais do cavalo de [[Hackney]] do
Entretanto, Carlos tinha chegado à Sicília. Apesar da conquista da ilha por parte dos Bourbon ainda não estar completa, foi coroado rei das [[Duas Sicílias]] a 3 de julho na antiga [[Catedral de Palermo]], depois de viajar por terra para Palmi e por mar de Palmi para Palermo. A coroação ultrapassou a autoridade do papa graças à legação apostólica da Sicília, um privilégio medieval que dava à ilha uma autonomia especial da igreja. Assim, o legado papal não esteve presente na cerimónia, tal como Carlos teria desejado.<ref>Vittorio Gleijeses, Don Carlos, Nápoles, Edizioni Agea, 1988, pp. 65–66</ref>
Em março de 1735, voltou a surgir discórdia entre Roma e Nápoles. Foi descoberto em Roma que os Bourbon tinham retido cidadãos romanos na cave do [[
O episódio foi visto como uma afronta grave à corte de Bourbon. Como consequência, os embaixadores de Espanha e de Nápoles deixaram Roma enquanto os núncios apostólicos foram dispensados em Madrid e Nápoles. Vários regimentos de tropas dos Bourbon invadiram os Estados Pontifícios. A ameaça foi tal que alguns portões de Roma foram barricados e o número de guardas civis foi duplicado. Valletri foi ocupada e obrigada a pagar 8000 coroas pela ocupação. Ostia foi saqueada, enquanto Palestrina evitou o mesmo destino ao pagar um resgate de 16000 coroas.
Linha 160:
=== Escolha do nome ===
Carlos deveria ser recordado como ''Carlos VII de Nápoles'' (algumas fontes inclusivamente tratam-no desta forma), mas este número nunca foi utilizado oficialmente por ele. Era conhecido simplesmente como Carlos de Bourbon. O motivo pelo qual nunca foi utilizado qualquer número oficialmente deve-se ao facto de este desejar realçar o facto de ser o primeiro rei de Nápoles a viver realmente neste território e para marcar a separação entre ele e os governantes anteriores que tinham o mesmo nome, mais especificamente, o
Na Sicília, era conhecido por Carlos III da Sicília e de Jerusalém, preferindo o número III ao V. O povo da Sicília não tinha reconhecido o rei [[Carlos I da Sicília|Carlos I de Nápoles]] (Carlos de Anjou) como seu governante e rebelaram-se contra ele. O mesmo tinha acontecido com o
=== Paz com a Áustria e casamento ===
Linha 170:
Chegou-se a uma paz preliminar com a Áustria a 3 de outubro de 1735. No entanto, esta seria apenas definitiva três anos depois, com a assinatura do [[Tratado de Viena (1738)]] que concluiu a [[Guerra da Sucessão Polaca]].
Nápoles e a Sicília foram entregues pela Áustria a Carlos que, em troca, cedeu [[Parma]] e a [[Toscana]]. Carlos tinha herdado a Toscana em 1737, após a morte de Gian Gastone, mas este território passou para as mãos de [[Francisco
O tratado incluía também a transferência de todos os bens da [[Casa de Farnese]] para Nápoles. Carlos levou consigo a colecção de arte, os arquivos e a biblioteca do ducado, os canhões do forte e até uma escadaria de mármore do palácio ducal.<ref>Acton, Harold. ''I Borboni di Napoli (1734–1825)''' , Florença, Giunti, 1997</ref>
A mãe de Carlos, Isabel, voltou a procurar possíveis noivas para o filho, agora oficialmente reconhecido como rei de Nápoles e da Sicília. Era impossível conseguir uma arquiduquesa da Áustria para o cargo, por isso a rainha centrou as suas atenções na Polónia, escolhendo a princesa [[Maria Amália da Saxônia|Maria Amália da Saxónia]], filha do novo rei da Polónia, [[Augusto III da Polônia|Augusto III]] e da sua esposa austríaca, a arquiduquesa [[Maria Josefa da Áustria (
Maria Amália tinha apenas treze anos de idade quando soube da proposta de casamento. A data para a união foi marcada para 31 de outubro de 1737. Maria Amália casou-se por procuração, em [[Dresden]], em maio de 1738, tendo o seu irmão [[Frederico Cristiano,
O casal viu-se pela primeira vez a 19 de junho de 1738 em Portella, uma aldeia na fronteira do reino perto de [[Fondi]]. Na corte, as festividades duraram até dia 3 de julho. Como parte das festividades, Carlos criou a [[Ordem de São Januário]], a ordem de cavalaria mais prestigiada do reino. Mais tarde criou a [[Ordem de Carlos III|Ordem Carlos III]] em Espanha, a 19 de setembro de 1771.
Linha 183:
[[Imagem:Rosalba Carriera - Maria Theresa, Archduchess of Habsburg (1730) - Google Art Project.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''A arquiduquesa [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]]'', mais tarde imperatriz da Áustria, <small>por [[Rosalba Carriera]], [[Pinacoteca dos Mestres Antigos]]</small>]]
Foi assinado o tratado de paz entre Carlos e a Áustria em Viena, em 1740. Nesse ano, o
Carlos desejava manter-se neutro durante o conflito, mas o seu pai queria que ele participasse e reunisse tropas para ajudar a Espanha. Carlos conseguiu enviar {{Formatnum|10000}} soldados para o seu país natal, comandados pelo duque de Castropignano, mas estes viram-se forçados a retirar quando as forças britânicas, comandadas pelo comodoro William Martin ameaçaram bombardear o porto de Nápoles se não se afastassem do conflito.<ref>Luigi del Pozzo, [http://books.google.it/books?id=gpo3AAAAcAAJ Cronaca civile e militare delle Due Sicilie sotto la dinastia borbonica dall'anno 1734 in poi]
Após este incidente, Carlos voltou a insistir na ideia da neutralidade, uma decisão que foi mal recebida em França e pelo seu pai em Espanha. Os seus pais encorajaram-no a entrar em combate, tal como tinha feito o seu irmão, o infante [[Filipe I de Parma|Filipe]]. Após publicar uma proclamação a 25 de março de 1744 onde dava garantias aos seus súbditos, Carlos assumiu o comando de um exército contra os exércitos do austríaco príncipe Lobkowitz que estavam prestes a entrar na fronteira de Nápoles.
Linha 191:
Para se oporem ao pequeno mas poderoso partido pró-austríaco em Nápoles, foi criado um novo consílio sob o comando de Tanucci que resultou na detenção de mais de 800 pessoas. Em abril, Maria Teresa falou aos napolitanos através de uma proclamação na qual prometia perdões e outros benefícios aos que se insurgissem contra os "usurpadores", ou seja, os Bourbons.<ref>Giuseppe Coniglio, ''I Borboni di Napoli'', Milão, Corbaccio, 1999.</ref>
A participação de Nápoles e da Sicília no conflito levou, no dia 11 de agosto, à decisiva [[Batalha de Velletri]], onde as tropas napolitanas, comandadas por Carlos e pelo duque de Castropignano, e as tropas espanholas comandadas pelo conde de Pledges, derrotaram os austríacos de Lobkowitz, que se retiraram com pesadas perdas. A coragem demonstrada por Carlos levou o rei da Sardenha, seu inimigo, a escrever que
O vice-rei de Velletri garantiu que Carlos tinha o direito de conferir o título de duque de Parma ao seu irmão mais novo, o infante Filipe. Este direito foi reconhecido no [[Tratado de Aquisgrão (1748)|Tratado de Aquisgrão]], assinado em 1748, mas foi só no ano seguinte que o infante Filipe se tornou oficialmente duque de Parma,
== Impacto do Reinado em Nápoles e na Sicília ==
[[Imagem:Campania Caserta2 tango7174.jpg|miniaturadaimagem|direita|[[Palácio de Caserta]], uma das obras de Carlos
Em 1746, o rei [[Filipe V de Espanha]] faleceu aos sessenta-e-dois anos de idade. O trono de Espanha foi herdado pelo seu filho, o infante Fernando, que reinou como [[Fernando VI de Espanha]]. Fernando, que não tinha um bom relacionamento com a sua madrasta, forçou-a a deixar a corte espanhola. Esta atitude significava também que Isabel Farnese perdia a influência que tinha junto do seu filho por ser rainha de Espanha.
Linha 202:
Nesse mesmo ano, foi introduzida a [[Inquisição]] nos reinos de Carlos, trazida pelo cardeal [[Giuseppe Spinelli|Spinelli]]. Esta medida não foi bem recebida e levou à intervenção de Carlos.
Carlos deixou um legado duradouro no seu reino; construiu muitos edifícios e deu início a reformas no país. Em Nápoles e nas zonas circundantes é possível encontrar uma série de palácios construídos durante o seu reinado. Tendo como inspiração o [[Palácio de Versalhes]] e o [[Palácio Real de Madrid]] (que tinha já utilizado Versalhes como modelo), Carlos deu início à construção de um dos palácios mais luxuosos da Europa, o [[Reggia di Caserta|Palácio de Caserta]]. A ideia de construir o palácio surgiu em 1751, quando Carlos tinha vinte-e-cinco anos de idade. O local escolhido para a sua construção era uma cabana de caça, à semelhança de [[Versalhes]]. Carlos gostava do local porque lembrava [[Real Sitio de San Ildefonso
Outros edifícios construídos durante o seu reinado foram o [[Reggia di Portici|Palácio de Portici]], o [[Teatro San Carlo|Teatro di San Carlo]], construído apenas duzentos-e-setenta dias após o [[Museu de Capodimonte|Palácio de Capodimonte]]. Também renovou o [[Palácio Real de Nápoles]]. Juntamente com a sua esposa, Carlos mandou construir a Fábrica de Porcelana de [[Capodimonte]]. Também criou a Academia Ercolanesi e o [[Museu Arqueológico Nacional
Em Nápoles, Carlos deu início a uma série de reformas às quais daria continuação mais tarde em Espanha. O primeiro-ministro de Nápoles, Bernardo Tanucci, influenciou-o consideravelmente. Foi durante o seu reinado que as cidades romanas de [[Herculano]] (1738), [[Estábia]] e [[Pompeia]] (1748) foram redescobertas. O rei encorajou as escavações e era informado constantemente sobre novas descobertas, mesmo depois de se mudar para Espanha. Carlos também encorajou a formação de artesãos instruídos em Nápoles e na Sicília, após séculos de domínio estrangeiro. Carlos é reconhecido por ter
Carlos foi o rei mais popular que os napolitanos tiveram em muitos anos. Apoiava as necessidades das pessoas, independentemente da sua classe social, e foi celebrado como um monarca iluminado. Entre as suas iniciativas para ajudar o reino a sair da sua complicada situação económica, Carlos criou o "
O reino de Nápoles manteve-se neutro durante a [[Guerra dos Sete Anos]] (1756-1763). O primeiro-ministro britânico, [[William Pitt, 1.º Conde de Chatham|William Pitt]], tinha o desejo de criar uma liga italiana, na qual Nápoles e a [[Sardenha]] lutariam juntos contra a Áustria, mas Carlos recusou participar. Esta escolha foi muito criticada pelo embaixador napolitano em Turim, Domenico Caraccioli, que escreveu:
Linha 219:
== Ascensão ao trono de Espanha ==
[[Imagem:Ferdinand IV at age nine.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|''Infante [[Fernando I das Duas Sicílias|Fernando]]'', futuro rei das Duas Sicílias, aos
Em finais de 1758, o meio-irmão de Carlos, o rei [[Fernando VI de Espanha|Fernando VI]], começou a manifestar os mesmos sintomas de depressão do pai. Fernando tinha perdido a sua amada esposa, a infanta [[Maria Bárbara de Bragança, Rainha de Espanha|Bárbara de Portugal]], em agosto de 1758 e entrou num período de luto profundo por ela. Nomeou Carlos seu herdeiro presumível a 10 de dezembro de 1758, antes de trocar Madrid por Villaviciosa de Odón, onde viria a falecer a 10 de agosto de 1759.
Nesta altura, Carlos foi proclamado rei de Espanha com o nome de Carlos III, respeitando o terceiro Tratado de Viena que definia que não seria possível juntar os territórios de Nápoles e da Sicília ao trono espanhol. Mais tarde, Carlos recebeu o título de ''Senhor das Duas Sicílias''. O [[Tratado de Aquisgrão (1748)|Tratado de Aquisgrão]], que Carlos não tinha rectificado, previa a eventualidade da sua subida ao trono de Espanha; assim, Nápoles e Sicília passariam para o seu irmão [[Filipe I
Determinado a manter os seus descendentes na corte de Nápoles, Carlos iniciou um período de negociações extensivas com Maria Teresa e, em 1758, os dois assinaram o quarto Tratado de Versalhes, no qual a Áustria renunciava formalmente aos ducados italianos. No entanto, [[Carlos Emanuel III da Sardenha]] continuou a desejar obter o território de Placência e ameaçou até ocupá-lo.
Linha 229:
Para defender o [[Ducado de Parma]] das ameaças de Carlos Emanuel, Carlos enviou tropas para as fronteiras dos [[Estados Pontifícios]]. Graças à mediação do rei Luís XV de França, Carlos Emanuel renunciou ás suas pretensões em Placência em troca de uma compensação financeira. Assim, Carlos garantiu a sucessão de um dos seus filhos, reduzindo as ambições de Carlos Emanuel na altura. Segundo Domenico Caracciolo, este foi um "''golpe fatal''" para as esperanças e desejos do rei da Sardenha".<ref> Franco Valsecchi, ''Il riformismo borbonico in Italia'', Roma, Bonacci, 1990</ref>
O filho mais velho de Carlos, o infante [[
Carlos e a sua esposa chegaram a [[Barcelona]] no dia 7 de outubro de 1759.
Linha 236:
[[Imagem:Departure of Charles III from Naples.jpg|miniaturadaimagem|direita|''Carlos III deixa Nápoles'']]
Ao contrário dos vinte anos produtivos que passou em Itália, a sua era em território espanhol não é vista com tanto entusiasmo. A política interna do país, assim como a sua relação com outros países foram completamente reformadas. Carlos representava um novo tipo de governante: o governante que tinha aderido ao [[absolutismo iluminado]], uma forma de monarquia absoluta na qual os monarcas incorporavam os princípios do [[iluminismo]], com especial destaque para a racionalidade, e os aplicavam nos seus territórios. Estes monarcas tendiam a permitir a tolerância religiosa, liberdade de expressão e de imprensa e o direito de deter propriedade privada. A maioria apoiou as artes, ciência e educação. Carlos partilhava estes ideais com outros monarcas, incluindo a imperatriz [[Maria Teresa da Áustria|Maria Teresa]], o seu filho [[José II
Os princípios do iluminismo foram aplicados no seu reino em Nápoles e Carlos pretendia fazer o mesmo em Espanha, mas numa escala muito maior. Carlos levou a cabo a sua reforma com a ajuda do [[Leopoldo de Gregorio, Marquês de Esquilache|marquês de Esquilache]], do [[Pedro Pablo Abarca de Bolea, Conde de Aranda|conde de Aranda]], do [[Pedro Rodríguez de Campomanes|conde de Campomanes]], do [[José Moñino y Redondo|conde de Floridablanca]], de [[Ricardo Wall]] e do aristocrata de [[Génova]], [[Jerónimo Grimaldi, 1.º Duque de Grimaldi|Jerónimo Grimaldi]]. Graças a estes princípios, Carlos III decidiu proibir as touradas, uma prática que considerava brutal e pouco civilizada.
Linha 246:
A amizade tradicional com França deixava a impressão de que o poder da Grã-Bretanha acabaria por diminuir enquanto o de Espanha e França aumentaria cada vez mais. Esta aliança foi reforçada pelo [[Pacto de Família]], assinado a 15 de agosto de 1761 (também chamado de "Tratado de Paris"). Carlos preocupava-se profundamente que o sucesso da Grã-Bretanha na [[Guerra dos Sete Anos]] acabasse por destruir o equilíbrio de poder e que, em breve, os britânicos tentassem conquistar o [[Império Espanhol]], como tinham já feito com o francês.
Em inícios de 1762, a Espanha declarou guerra. Os seus principais objectivos eram invadir [[Portugal]] e capturar a [[Jamaica]], mas acabariam por falhar em ambos. A Grã-Bretanha e Portugal não só travaram o ataque de Espanha a Portugal, mas conseguiram também capturar as cidades de [[Havana]] e [[Manila]] aos espanhóis. Carlos III queria continuar a guerra no ano seguinte, mas os líderes franceses conseguiram convencê-lo a não o fazer. Através do [[Tratado de Paris (1763)|Tratado de Paris de 1763]], a Espanha cedeu a
Durante a [[Crise das Ilhas Malvinas de 1770]], a Espanha quase entrou em guerra com a Grã-Bretanha depois de expulsar uma guarnição britânica das [[Ilhas Malvinas]]. No entanto, Espanha foi forçada a voltar atrás quando a Marinha Real Britânica começou a mobilizar-se e a França recusou ajudar o seu aliado.
Linha 252:
As disputas territoriais permanentes com Portugal levaram à assinatura do [[Tratado de Santo Ildefonso (1777)|Tratado de Santo Ildefonso]] a 1 de outubro de 1777. Neste tratado, Espanha ficou com [[Colonia del Sacramento]], no actual território do [[Uruguai]], e com os [[Sete Povos das Missões]], no actual território do Brasil, mas não com as regiões ocidentais do Brasil, e também o [[Tratado de El Pardo (1778)|Tratado de El Pardo]], a 11 de março de 1778, no qual os espanhóis voltaram a afirmar que o Brasil português se estava a expandir para além da longitude oeste especificada no [[Tratado de Tordesilhas]]. Em troca, Portugal cedeu o actual território da Guiné Equatorial a Espanha.
A rivalidade com a Grã-Bretanha também o levou a apoiar os revolucionários americanos durante a [[Guerra da Independência dos Estados Unidos|Guerra da Independência]], apesar de Carlos ter reservas quanto ao exemplo que esse movimento poderia representar para as colónias espanholas. Durante a guerra, Espanha recuperou [[Minorca]] e o oeste da [[Florida]] durante campanhas militares, mas não conseguiu reconquistar Gibraltar. As operações militares espanholas no oeste da Florida e no Rio Mississippi ajudaram as Treze Colónias a assegurar as suas fronteiras a sul e a oeste dos pontos de ataque britânicos. A captura de [[Nassau (Bahamas)|Nassau]] e das [[Bahamas]] permitiu que a Espanha também recuperasse o este da Florida durante as negociações de paz. O [[Tratado de Paris (1783)|Tratado de Paris de 1783]] confirmou a reconquista
=== Políticas ===
Linha 280:
== Nascimento de uma nação ==
[[Ficheiro:Flag of Spain (1785-1873 and 1875-1931).svg|miniaturadaimagem|direita|A bandeira de Espanha entre 1785 e 1931
Durante o reinado de Carlos, a Espanha começou a ser reconhecida como uma nação única e não como uma série de reinos e territórios com um soberano em comum. Os seus esforços resultaram na criação do [[Hino nacional de Espanha|Hino Nacional]], de uma bandeira e de uma capital merecedora desse título, bem como da construção de uma rede de estradas coerente que convergia em Madrid. A 3 de setembro de 1770, Carlos III declarou que a Marcha Real deveria ser utilizada em cerimónias oficiais. Foi Carlos quem escolheu as cores da actual bandeira de Espanha, o vermelho e o amarelo. O rei apresentou a bandeira da marinha militar a 28 de maio de 1785. Até aí, as embarcações espanholas surgiam com a bandeira branca dos Bourbon e com o escudo do soberano. Esta foi substituída pela de Carlos devido à sua preocupação com o facto de a bandeira anterior ser demasiado parecida com as de outras nações.
O escudo utilizado por Carlos enquanto rei de Espanha fez parte da bandeira até 1931, ano em que o seu descendente, o rei [[Afonso XIII de Espanha|Afonso XIII]], foi deposto e foi proclamada a [[Segunda República Espanhola]] (houve também uma breve interrupção entre 1873-5). [[Filipe VI da Espanha]], o actual monarca, é descendente directo pela linha masculina do
== Descendência ==
Linha 376:
== Bibliografia ==
{{Refbegin|2}}
* MELANI, Maria Raquel Apolinário. Projeto Araribá - História. São Paulo:Editora Moderna, 2006{{Refend}}
* Chávez, Thomas E. ''Spain and the Independence of the United States: An Intrinsic Gift'', Albuquerque: University of New Mexico Press, 2002.
Linha 387:
{{Commonscat|Charles III of Spain}}
{{Limpar}}
{{Começa caixa}}
|