Cossacos: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Kozak9.1.jpg|thumb|200px|right|Um cossaco ucraniano nos tempos da [[República das Duas Nações]]. Pintura de [[Dariusz T. Wielec]].]]
 
Os Cossacos da zona de [[Zaporizhzhya|Zaporozhian]], que habitaram as [[estepes]] ucranianas são um grupo cossaco bem conhecido e importante. O seu número aumentou bastante entre os séculos XV e XVII, “alimentado” pela nobreza [[Boiardo|Boiarda]] pobre da [[Ruténia|Ruteniana]], comerciantes e camponeses dissidentes da [[República das Duas Nações]]. Os Cossacos zaporozhianos protagonizaram um papel importante na geopolítica europeia, criando e desfazendo uma série de conflitos e alianças com a República das Duas Nações, [[Império Russo]], e com o [[Império Otomano]]. Em resultado da [[Revolta de Chmielnicki]], nos meados do século XVII, os Cossacos zaporozhianos conseguiram criar um estado independente que mais tarde se tornou no estado autónomo Cossaco, sendo um protectorado russo, prestando vassalagem ao [[Czar]] russo, mas governado por [[Hetman]]s cossacos por cerca de meio século.
 
Na segunda metade do século XVIII, as autoridades russas dissolveram o estado Zaporozhiano, e alguns descendentes dos Cossacos deslocaram-se para a zona do delta do [[Danúbio]] e foz do rio [[Kuban]]. No entanto, depois de 1828, a maior parte dos Cossacos que se tinham estabelecido na zona do Danúbio, foram-se também estabelecer na Rússia, primeiro na região de [[Azov]], e mais tarde nas terras afectas ao rio [[Kuban]]. Apesar de nos dias de hoje, os Cossacos de Kuban não se considerem ucranianos, o seu dialecto local e folclore preservam e demonstram a influência ucraniana, havendo até muitos historiadores que consideram que o povo desta região tem origem nos Cossacos de Dnieper, como sendo os fundadores da [[Ucrânia]] moderna. Menos conhecidos são os Cossacos Polacos ([[Cossacos registrados|Kozacy]]), e os Cossacos de [[Tartária|tatar]]. O nome ''cossacos'' foi também dado a uma divisão de cavalaria ligeira da [[República das Duas Nações]].
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Os Cossacos também tomaram parte na guerra com o corpo de partisãos, bem no interior do território russo ocupado pelos franceses, atacando as linhas de comunicação e abastecimento. Foi com estes ataques, levados a cabo por Cossacos conjuntamente com cavalaria ligeira russa e outro tipo de unidades militares, onde se deram os primeiros desenvolvimentos da [[Guerrilha|Guerra de guerrilha]] e respectivas táticas, dando origem ao que hoje se conhece por [[Centro de Instrução de Operações Especiais (Portugal)|Operações Especiais]].
 
Os europeus ocidentais tiveram poucos contactos com Cossacos antes dos aliados terem ocupado Paris em 1814, ditando o fim das invasões napoleónicas. Sendo as tropas mais exóticas vistas em françaFrança, os Cossacos atraíam uma parte substancial das atenções e notoriedade, devido a alegados excessos cometidos durante as campanhas napoleónicas de 1812.
 
== História ==
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Ninguém sabe com exactidão quando é que os [[Eslavos|Povos Eslavos]] se estabeleceram nas terras ao largo dos rios [[Rio Don|Don]] e [[Rio Dneper|Dneper]], mas é improvável que tal tenha acontecido antes do século XIII, quando os exércitos mongóis invadiram as terras dos [[Cumanos]], e outras tribos turcas. Grupos protocossacos surgiram muito provavelmente nos territórios que hoje formam a actual [[Ucrânia]], em meados do século XIII.
 
Em 1261, alguns povos eslavos que viviam nos territórios entre os rios [[Rio Dniester|Dniestre]] e [[Rio Volga|Volga]], foram mencionados em crónicas [[Ruténia|rutenas]]. Registos históricos dos Cossacos anteriores ao século XVI são escassos. No século XV, a sociedade cossaca era descrita como uma federação de comunidades independentes, sem um governo que as unisse todas sob a mesma coroa, ou seja, era no fundo, um aglomerado de comunidades independentes entre si, sem que houvesse um governo, exército nacional ou classe governativa que unisse ou representasse o povo face a um assunto exterior. Estas localidades organizavam frequentemente pequenos exércitos completamente independentes dos exércitos das nações vizinhas (como por exemplo [[República das Duas Nações]], [[Grão-Principado de Moscou|Grão Ducado de Moscovo]] ou [[Canato da Crimeia]]), para se poderem defender quando eram atacadas.
 
Por alturas do século XVI, estas sociedades cossacas fundiram-se em dois grandes territórios independentes, e em outros mais pequenos, ainda assim, também eles independentes:
 
* Os Cossacos de [[ZaporizhiaOblast (ólblast)de Zaporíjia|Zaporizhia]], centrado nas terras baixas do [[rio Dniepre]], dentro do actual [[Subdivisões da Ucrânia|território ucraniano]], com a cidade fortificada de [[Zaporozhian Sich]] como sua capital. Foi formalmente reconhecido como estado, após a assinatura de um tratado com a [[República das Duas Nações]] em 1649.
* Os Cossacos do estado de Don, junto ao [[rio Don]], separava o Grão Ducado de Moscovo dos estados [[Horda Nogai|Nogai]], vassalos do [[Império Otomano]]. A sua capital era [[Starocherkasskaya]], mais tarde movida para [[Novocherkassk]].
 
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Entretanto, a população Cossaca aumentava com a quantidade de agricultores que fugia dos senhores [[Feudalismo|feudais]] da [[República das Duas Nações]]. Em consequência disto, a [[Szlachta]] faz várias tentativas para reconverter Cossacos em escravos feudais, o que agastou imenso as relações entre Cossacos e [[República das Duas Nações|Polaco-Lituanos]], convertendo os Cossacos em tempos defensores aguerridos à república e altamente leais, em Cossacos revoltosos contra a república. As ambições cossacas em serem reconhecidos como iguais ou pertencentes à [[Szlachta]] eram também constantemente rejeitadas, e planos para transformar a República das Duas Nações numa [[República polaco-lituana-rutena|República das Três Nações]] obtiveram um grande insucesso devido à grande impopularidade dos Cossacos no resto da república resultante da insurreição dos Cossacos face à constante rejeição da sua ambição em serem reconhecidos como membros da [[Szlachta]].
 
A aliança histórica dos Cossacos com a [[Igreja Ortodoxa]], agravavam ainda mais as tensões entre Cossacos e [[República das Duas Nações|Polaco-Lituanos]]. Mas o clima de insatisfação e tensão entre as duas partes viria a ser ainda mais agravado quando a política de relativa tolerância religiosa que a república aplicava aos Cossacos, passou a ser a de total intolerância, o que fez com que os Cossacos passassem a ser radicalmente anticatólicos, que simultâneamentesimultaneamente se traduzia em anti-República das Duas Nações. A lealdade decrescente dos Cossacos e a arrogância da [[Szlachta]] para com todo o povo Cossaco originaram várias revoltas contra a república no século XVII. Finalmente, a recusa definitiva do Rei relativamente às aspirações dos [[cossacos registrados]] em [[1648]] foi a “gota de água” nas relações [[República das Duas Nações|polaco-lituano]]-[http://pt.wikipedia.org/Cossacos rutenas], que resulta na insurreição cossaca com maior impacto e sucesso em toda a história da república: A [[Revolta de Chmielnicki]].
 
=== A Revolta de Chmielnicki ===
{{Ver artigo principal|[[Revolta de Chmielnicki]]}}
A Revolta de Chmielnicki deu-se em 1648]. A revolta foi o despoletar de uma série de eventos catastróficos para a [[República das Duas Nações]], conjunto de eventos esse que se toma pelo nome de [[O Dilúvio (história polonesa)|“O Dilúvio”]], que enfraqueceram altamente a República das Duas Nações, e iniciou o seu processo de desintegração que culmina cerca de cem anos mais tarde. A rebelião terminou em 1654 com o [[Tratado de Pereyaslav]] no qual os Cossacos prometiam lealdade e proteção ao Czar Russo, reconhecimento da ''[[starshyna]]'' cossaca (nobreza) e total autonomia sob governo do Czar, libertando os Cossacos da esfera de influência da República das Duas Nações, mais especificamente dos polacos.
A última e falhada tentativa de reconstrução da aliança Polaco-Lituana-Rutena, e da consequente criação de uma República de Três Nações foi em 1658 com o [[Tratado de Hadiach]], o qual era aprovado pelo Rei Polaco e pelo [[Sejm]], assim como pelos cossacos [[starshyna]], incluindo o seu chefe, o [[hetman]] Ivan Vyhovsky. No entanto, a [[starshyna]] cossaca estava dividida quanto ao tratado. Por isso, o tratado teve ainda menos apoio entre a população cossaca, daí o seu falhanço.
 
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[[Ficheiro:Kubanskie kazaki 2.jpg|thumb|200px|right|Foto de Cossacos de [[Kuban]] nos finais do século XIX.]]
Em 1775, Zaporozhian foi dissolvida, e foi garantida aos líderes Cossacos títulos de nobreza (''dvoryanstvo''). A maior parte dos Zaporozhianos deslocaram-se e estabeleceram novas colónias nas [[estepe]]s de [[Kuban]], que foi uma âncora crucial para a expansão russa no [[Cáucaso]]. No entanto, alguns deles, foram-se reunindo ao longo do [[Rio Danúbio|Danúbio]] (território sob o controle do [[Império Otomano]]), para formarem uma nova comunidade antes de se juntarem aos seus compatriotas em [[Kuban]]. Durante a sua estadia nessas terras, uma nova comunidade cossaca foi fundada, que, por alturas de 1778 já rondava os 12 mil habitantes. A sua colónia, junto à fronteira com o [[Império Russo]] foi aprovada pelo Império Otomano depois de os Cossacos terem oficialmente jurado servir o [[sSultãoSultão]].
 
Contudo, os conflitos dentro da própria comunidade cossaca derivados da nova lealdade, e as manobras políticas utilizadas pelo Império Russo, conduziram a uma cisão nos Cossacos. Após uma porção de Cossacos que desertaram a colónia ter regressado à Rússia, estes foram integrados no exército russo para formar novas unidades militares, que também incorporavam [[Grécia|gregos]], [[Albânia|albaneses]] e [[tártaros da Crimeia]].
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== Visibilidade ==
=== Imagem popular ===
Os cossacos têm uma imagem muito “romântica” no exterior, no sentido em que idealizam a liberdade e a resistência à autoridade externa e as suas conquistas militares para com os seus inimigos têm contribuidocontribuído em grande parte para esta imagem. Para muitos, os Cossacos foram um símbolo de repressão por causa do papel que desempenharam em supressões populares no [[Império Russo]], assim como as suas incursões a populações judaicas.
 
Desde o colapso da [[União Soviética]], muitos começaram a ver os cossacos russos como defensores da soberania russa. Os Cossacos não só restabeleceram todas as suas comunidades, como também passaram a ocupar quase na totalidade todos os cargos na polícia e administrações territoriais das suas terras. As forças armadas russas também tiraram partido do sentimento de patriotismo entre os Cossacos, e à medida que as comunidades iam crescendo e se iam tornando cada vez mais organizadas, as forças armadas russas foram tecnológicamente aproveitando os excedentes cossacos. Não podemos esquecer também que os Cossacos desempenham um papel fundamental no sul da Rússia.
 
Desde toda a população rural dos territórios de [http://en.wikipedia.org/wiki/Rostov Rostov], [[StarvropolStavropol]] e [[Krasnodar (cidade)|Krasnodar]], até às repúblicas autónomas no norte do [[Cáucaso]], que consiste quase exclusivamente em descendentes cossacos, que a região foi sempre conhecida (mesmo durante os tempos da severa disciplina da [[URSS]]) pela sua baixa criminalidade e sentimentos conservacionistas. Um bom exemplo disso mesmo, é o facto de a região ter um dos mais altos rácios de frequência da missa e [[Alfabetização|literacia]] em todo o mundo. O resultado mais visível disso, é de que entre as camadas jovens da população russa, os Cossacos começaram a representar a ordem, e em alguns dos casos, mesmo a esperança, especialmente quando eram comparados com o altamente impopular [[Exército da Rússia|Exército Russo]].
 
[[Ficheiro:Kozacka piesn.jpg|thumb|180px|right| Um músico ucrâniano de folclore, Ostap Kindratchuk, a tocar a bandura num velho mercado em [[Poznań]], vestindo um traje tipíco cossaco.]]
 
Na [[Ucrânia]], onde o povo cossaco representa uma enorme herança cultural e histórica, algumas pessoas têm vindo a tentar recriar a mística dos cossacos ucranianos. A cultura ucrânianaucraniana é frequentemente e cada vez mais aculturada à cultura Cossaca, e os governos ucrânianoucraniano têm vindo inclusive a apoiar estas tentativas. A tradicional [[Bulawa]] é um dos símbolos nacionais, e a ilha de [http://en.wikipedia.org/wiki/Khortytsia Khortytsia], onde a cidade de [[Zaporozhian Sich]] existiu em tempos, foi restaurada.
 
Reflexões literárias da cultura cossaca proliferam cada vez mais nas literaturas russa, ucraniana e polacas, particularmente no livro “[http://en.wikipedia.org/wiki/With_Fire_and_Sword Com fogo e a espada]” de [[Nikolai Gogol]], [[Taras Shevchenko]], [[Mikhail Sholokhov]] e [[Henryk Sienkiewicz]]. Resta ainda dizer, que a maior parte da literatura polaca, é em torno do imaginário cossaco. Os Cossacos também são retratados no poema narrativo da [[Guerra da Crimeia]] “[http://en.wikipedia.org/wiki/The_Charge_of_the_Light_Brigade_%28poem%29 A carga da brigada ligeira]” de [[Tennyson]], ou na pequena obra literária de [[Richard Connell]], “[http://en.wikipedia.org/wiki/The_Most_Dangerous_Game O mais perigoso jogo]”.
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=== Uniformes militares ===
Cada comunidade Cossaca possui os seus próprios uniformes militares. Isto deve-se ao facto de ter sido incutida à comunidade Cossaca o fardo de terem de ser auto-suficientes com o seu próprio material militar. Em relação aos uniformes, enquanto estes por vezes eram manufacturados avulso em fábricas de propriedade do ''[[Voisko]]''. O modelo do vestuário era normalmente desenhado e costurado numa determinada família com tradições costureiras. Certos itemsitens individuais poderão variar um pouco do que está determinado em regulamento oficial, sendo que poderão ter ficado fora de uso ou obsoletos.
 
Na maior parte das comunidades Cossacas, o uniforme básico compreende a tradicional túnica com calças largas, tipícas dos uniformes tradicionais russos do período 1881 – 1908. Contudo, as comunidades [[Cáucaso|caucasianas]] (Kuban e Terek), usam uniformes muito compridos com uma abertura frontal, casacos Cherkesska com faixas de caruchos ornamentais e Beshmets (casacos) coloridos, que estereotipam a imagem popular que os Cossacos mundo fora. Na maior parte das comunidades Cossacas usa-se também chapéus com os topos coloridos. As duas comunidades [[Cáucaso|caucasianas]] no entanto preferem usar chapéus mais altos do que o habitual entre os uniformes militares cossacos.
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Até 1909, blusas brancas e capas brancas normalmente usadas nos uniformes do Exército Russo eram também usadas pelos regimentos militares cossacos no Verão. As Divisas e Galões são da cor identificativa de cada comunidade Cossaca. De 1910 a 1918, um casaco cinzento-caqui era usado durante as estadias em campanha, usadas juntamente com ceroulas coloridas com listas com as cores do uniforme que traziam.
 
Enquanto que a maior parte dos Cossacos servia nas arma de cavalaria, também existiam unidades de artilharia e infantaria. De facto, três regimentos cossacos faziam mesmoomesmo parte da Guarda Imperial da Rússia, conjuntamente com a ''Konvoi'' – a escolta montada do [[czar]]. Os regimentos que compunham a Guarda Imperial usavam como uniforme vestes definidias pelo governo, que eram de uma aparência espetacular segundo relatam as crónicas. Em exemplo disso mesmo, a ''Konvoi'' usava ''Cherkesskas'' de cor escarlate, ''Beshmets'' brancos e coroas vermelhas nos seus chapéus.
 
No entanto, tais características também variavam conforme a comunidade Cossaca de onde provinham, senão vejamos: