Missão Artística Francesa: diferenças entre revisões

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O grupo era liderado por [[Joachim Lebreton]] e foi amparado pelo governo de [[João VI de Portugal|Dom João VI]], mas seu trabalho tardou a frutificar, encontrando a resistência da [[Barroco no Brasil|tradição barroca]] firmemente enraizada e tendo de enfrentar a escassez de recursos financeiros e uma série de intrigas políticas que dissolveram boa parte do primeiro entusiasmo oficial pelo projeto.
 
== Antecedentes ==
{{artigos principais|[[História do Brasil]], [[Transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821)]], [[Barroco no Brasil]], [[Neoclassicismo]], [[Neoclassicismo no Brasil]]}}
A partir de 1813, depois da queda definitiva de [[Napoleão Bonaparte]], [[Portugal]], que fora ocupado pelos franceses, pôde iniciar um processo de normalização de suas relações diplomáticas, comerciais e culturais com a [[França]]. Nesta altura a sede do reino português estava instalada no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], onde a corte se havia refugiado. O príncipe regente [[João VI de Portugal|Dom João]] desde sua chegada havia procurado dinamizar a vida da então colônia. Entre outras medidas, abriu os portos brasileiros para as nações amigas, fundou o [[Banco do Brasil]], fomentou uma [[indústria]] incipiente e estimulou a vida cultural especialmente na capital, e, no contexto das negociações do [[Congresso de Viena]], em [[1815]] alçou o Brasil à categoria de [[Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]].<ref name="NEVES">Neves, Lúcia M. B. Pereira das. [http://bndigital.bn.br/redememoria/missfrancesa.html ''A missão artística francesa'']. Rede da Memória Virtual Brasileira.</ref> Do ponto de vista administrativo, não seria producente, para uma corte instalada no exílio, manter uma terra enorme sob o antigo perfil extrativista e agrário, com uma administração semifeudal, quando a metrópole estava talvez perdida para sempre, a [[ciência]] estava em alta e a [[indústria]] começava a se tornar desejada e necessária. Não havia garantia de quando a volta seria, se é que haveria um retorno, e assim melhor fazer esta imensidão ser competitiva diante da comunidade das nações.<ref>Neto, Manoel S. in www.opiniaoenoticia.com.br/interna.php?id=15319 ''A chegada da Corte Portuguesa ao Brasil'']. Entrevista, Jornal Opinião e Notícia, 24 de março de 2008</ref> Além disso a instituição de um sistema de ensino superior em artes e ofícios viria a minimizar o vazio provocado pela expulsão dos jesuítas, que antes administravam boa parte do ensino.<ref>Lima, Oliveira. [http://www.consciencia.org/capitulo-v-emancipacao-intelectual-d.joao-vi-no-brasil-oliveira-lima ''Emancipação intelectual: D. João VI no Brasil'']. Disponível em Consciência.org</ref><ref name="CARDOSO">Cardoso, Rafael. [http://www.dezenovevinte.net/ensino_artistico/rc_ebatecnico.htm ''A Academia Imperial de Belas Artes e o Ensino Técnico'']. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume III, n. 1, janeiro de 2008.</ref>
 
Nesse ambiente de renovação, segundo Neves, [[António de Araújo e Azevedo]], o 1.º [[conde da Barca]], ministro do reino, teve a ideia de convidar alguns artistas franceses para que trouxessem para o Brasil elementos louváveis e desejáveis da civilização francesa. Com o estabelecimento de acordos comerciais com a França em 1815, se iniciaram as negociações para a organização do grupo. Como intermediários do governo português na França, estavam o [[embaixador]] [[Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho]], [[Marquês de Marialva]], e o encarregado de negócios em Paris, [[Francisco José Maria de Brito]], que consultaram o [[naturalista]] [[Alexander von Humboldt]] a respeito do assunto. Humboldt indicou, então, o nome de [[Joachim Lebreton]], que fora secretário do [[Institute de France]] e recém havia sido demitido por suas ligações com o finado [[Primeiro Império Francês|regime bonapartista]]. Ele, por sua vez, assumiu a liderança do projeto e reuniu um grupo de interessados em se transferir para o Brasil, desde que o governo português financiasse a viagem e seu estabelecimento.<ref name="NEVES"/>
[[Ficheiro:João VI de Portugal por Charles Pradier.jpg|300px246x246px|esquerda|thumb|Pradier: ''Retrato de dom João VI''.]]
 
Entretanto, as origens da Missão Francesa não são muito claras, e outros autores afirmam que a iniciativa partiu de Marialva <ref name="Pinassi">Pinassi, Maria Orlanda. [http://books.google.com/books?id=U7ew-nhe1rkC&pg=PA55&dq=%22miss%C3%A3o+Francesa%22&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR#v=onepage&q=%22miss%C3%A3o%20Francesa%22&f=false ''Três devotos, uma fé, nenhum milagre: Nitheroy, revista brasiliense de ciências, letras e artes'']. Coleção Prismas. UNESP, 1998, pp. 55-59</ref> ou que foi fruto de um oferecimento espontâneo dos franceses à corte portuguesa diante da sua situação política problemática em sua terra natal. Segundo Schwarcz esta parece ser a hipótese mais provável, a partir da opinião de [[Laudelino Freire]], [[Mário Barata]] e [[Mário Pedrosa]], que baseando-se em documentos mais antigos, desmontaram a "versão oficial" do caso que apontava Dom João como o mentor do projeto e que pretendia apenas enaltecer o caráter ilustrado da monarquia portuguesa. Reforços a esta tese vieram de [[Donato Mello Júnior]], que descobriu em 1980 duas cartas de [[Nicolas-Antoine Taunay]] ao príncipe regente Dom João oferecendo seus serviços. Parte da correspondência pessoal de Lebreton, conservada na [[Torre do Tombo]] em Lisboa, também diz o mesmo, e a correspondência oficial de [[Fernando José de Portugal e Castro]], [[Marquês de Aguiar]], para o príncipe sugere a mesma coisa, dizendo além de tudo em carta para Lebreton que de parte da corte não havia intenção nenhuma de financiar a viagem deles ou garantir-lhes a estadia. Sobrevivem também cartas de Brito ao Conde da Barca onde ele apresenta o projeto concebido por Lebreton, e uma carta de Brito a Lebreton, onde ele lembrava ao destinatário que o projeto era inteiramente obra de Lebreton e que não lhe garantira nada em nome do governo português, e que uma acolhida oficial dependeria apenas da circunstância, incerta, de o príncipe regente decidir apoiá-los. Fica claro que até então isso ainda não estava assegurado, e só o foi de fato em janeiro de 1816, quando Barca passou a preparar no Rio a chegada do grupo, já contando com o aval de Dom João.<ref>Schwarcz, Lilia Moritz. [http://books.google.com/books?id=LN86Xxq1jSgC&pg=PA188&dq=%22miss%C3%A3o+Francesa%22&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR#v=onepage&q=%22miss%C3%A3o%20Francesa%22&f=false ''O sol do Brasil: Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de d. João'']. Companhia das Letras, 2008, pp. 176-188</ref> Finalmente, o decreto de fundação da [[Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios]] em 12 de agosto de 1816 informa que Dom João, ao criar a escola, desejava aproveitar o serviço de "alguns estrangeiros" que a ele haviam recorrido em busca de proteção, como se lê no trecho a seguir: