John Langshaw Austin: diferenças entre revisões

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Bibliogra fia e a teoria dos atos de fala
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Estudou no [[Balliol College, Oxford|Balliol College]] da [[Universidade de Oxford]]. Após servir o [[MI6|serviço britânico de inteligência]] durante a [[Segunda Guerra Mundial]]. Tornou-se professor titular da cátedra White (Thomas White [1550?-1624]) de Filosofia Moral, em Oxford, considerada a mais prestigiosa cadeira de Filosofia Moral do mundo.
{{quote1|Acredito que a única maneira clara de definir o objeto da filosofia é dizer que ela se ocupa de todos os resíduos, de todos os problemas que ficam ainda insolúveis, após experimentar todos os métodos aprovados anteriormente. Ela é o depositário de tudo o que foi abandonado por todas as ciências, em que se encontra tudo o que não se sabe como resolver. J. L. Austin, 1958. Colóquio de Royaumont}}
Austin nasceu em Lancaster, Inglaterra, em 26 de março de 1911, filho de Geoffrey Langshaw Austin e Mary Austin. Seus primeiros interesses foram Aristóteles, Kant, Leibniz e Platão, suas posturas diante das questões filosóficas foram fortemente influenciadas por G. E. Moore, John Cook Wilson e H. A. Prichard.
 
Durante a Segunda Guerra Mundial, Austin serviu no corpo de inteligência britânico e deixou o exército, em setembro de 1945, com o posto de tenente-coronel. Foi homenageado por seu trabalho de inteligência com uma Order of the British Empire, o French Croix de Guerre e o U.S. Officer of the Legion of Merit. Depois da Guerra, voltou para Oxford onde se tornou Professor de Filosofia Moral, em 1952.
 
Austin casou-se com Jean Coutts em 1941, tiveram quatro filhos, duas meninas e dois meninos. Ele morreu aos 48 anos de idade, em Oxford, em 8 de fevereiro de 1960. 
 
== Pensamento ==
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Elaborou um estudo sobre conceitos de verdade e falsidade, qualificando os atos de fala como sendo verdadeiros ou falsos a depender da descrição que é feita. Iniciou as idéias sobre o ''performativo'', onde o falar implica num fazer, diferenciando estes atos de meras descrições, porque nada descreviam, nada relatavam, etc.
 
=== A Teoria dos Atos deda fala ===
== A contribuição de Austin para a linguagem ==
A filosofia analítica estuda o funcionamento da linguagem, para então estabelecer modelos lógicos e ideais que deem conta das questões filosóficas. Para muitos filósofos, a linguagem humana dificulta o desenvolvimento de muitas questões filosóficas, por exemplo, uma palavra ou uma frase não expressa um conceito preciso, ou seja, não expressa um pensamento claro. Não há correspondência única entre a palavra e o conceito, entre a frase e o pensamento. 
 
As questões sobre sentido, significado e referência são, para alguns campos da linguística e da filosofia, uma forte barreira para o desenvolvimento da teoria sobre a linguagem humana.
 
Austin dedicou-se ao estudo do uso da linguagem ordinária e revolucionou a filosofia analítica, na década de 40. Questionou postulados fundamentais da linguística enquanto ciência autônoma, além de promover grandes discussões sobre a filosofia da linguagem. Deste modo, distanciou-se da filosofia tradicional e trouxe à tona a discussão sobre os enunciados performativos e enunciados constativos.
 
Segundo Ottoni (2002), Austin traz uma nova abordagem para a linguagem sem se preocupar com as fronteiras entre a linguística e a filosofia. Ottoni (2002) chama tal abordagem de ''visão performativa''. Este modo inovador de tratar a linguagem ordinária, gera uma reorganização tanto na linguística como na filosofia.
 
A filosofia fica dividida entre a Filosofia Analítica de Oxford e a Filosofia Construtivista. Na linguística, existe o grupo de linguistas que entende a linguística como ciência autônoma e a aproxima das ciências exatas. De outro modo, existe o grupo que se aproxima da linguística filosófica. Para melhor compreender o cenário construído com as novas propostas de Austin ver Ottoni (2002).
 
Um dos fortes questionamentos de Austin foi sobre a fronteira entre a filosofia e a linguística e suas implicações nos estudos da linguagem ordinária. Em seu artigo, Ottoni (2002) reproduz o comentário de Austin sobre a fronteira entre linguística e filosofia. “''Onde está a fronteira? Há uma em alguma parte? Você pode colocar esta mesma questão nos quatro cantos do horizonte. Não há fronteira. O campo está livre para quem quiser se instalar. O lugar é do primeiro que chegar. Boa sorte ao primeiro que encontrar alguma coisa”'' (Austin 1958, p.134). 
 
=== A Teoria dos Atos de fala ===
São coisas feitas com palavras (Austin 1962b, 1956b, 1963), onde qualquer sentença pode ser usada para realizar uma variedade de atos linguísticos. Se em declarações produzimos aquilo que pode ser considerado "verdadeiro ou falso", em '''atos performativos''' não precisamos produzir coisas que são verificáveis pela verdade ou falsidade. Os atos ou enunciados performativos podem ser '''atos locucionários''' (locutionary acts), '''atos ilocucionários''' (illocutionary act) e '''atos perlocucionários''', que poderia ser a distinção entre dizer alguma coisa, alguma coisa com alguma ênfase e os efeitos de se dizer alguma coisa ou de conseguir que alguém faça alguma coisa que se deseje (1962b: 83–164).
 
Austin apresentou dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos. Os enunciados constativos descrevem ou relatam um estado de coisas e podem ser valorados como verdadeiros ou falsos. Isto é, são relatos, descrições ou afirmações, como por exemplo, a ''menina tem seis anos'', ''João foi à farmácia'', ''está calor hoje''. Tais enunciados recebem o valor de verdadeiro, se estiverem adequados a um contexto/circunstância. De modo contrário, esses enunciados recebem o valor de falso, se não estiverem adequados a um contextos/circunstância.
 
Ottoni (2002) reproduz a fala de Austin sobre a verdade ou falsidade dos enunciados: ''“pois'' (''deixando de fora os chamados enunciados ‘analíticos’'') ''a questão da verdade ou falsidade não depende somente de saber o que'' é ''uma frase nem mesmo do que'' significa'', mas, falando de modo geral, das circunstâncias em que se deu seu enunciado''.” (Austin 1962, p. 142). Ou seja, para considerar uma sentença verdadeira ou falsa deve-se considerar os objetivos e intenções do falante, as circunstâncias do enunciado e as obrigações que são assumidas ao se afirmar algo.
 
Os enunciados performativos, quando ditos, realizam ações, por exemplo, o''rdeno que você saia'', ''eu te perdoo'', ''declaro aberta a sessão.'' Estes enunciados não descrevem ou relatam coisas, por isso, não podem ser valorados como falsos ou verdadeiros, mas sim executam atos (ato de ordenar, batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão, etc.). Quando um enunciado performativo é realizado/dito, está sendo concretizado um ato/ação. No exemplo, ''declaro aberta a sessão'', este enunciado não informa sobre a abertura da sessão, mas este enunciado é a concretização do ato de abrir a sessão.
 
É preciso ressaltar que apenas dizer um enunciado performativo não é a garantia da concretização do ato, é necessário que o enunciado performativo seja realizado dentro de um contexto/circunstância adequado. Austin denominou ''condições de felicidade'' a adequação do enunciado performativo ao contexto em que é realizado/dito. No exemplo, ''eu te batizo em nome do pai, do filho e do espírito santo'', se dito por um engenheiro em seu ambiente de trabalho, o ato performativo não se concretiza, ou seja, é infeliz. Mas quando dito por um padre durante uma cerimônia na igreja, o ato do batizado se concretiza, ou seja, é feliz. 
 
Para que um enunciado performativo seja uma ação, é preciso que alguns critérios sejam satisfeitos: o falante deve ter autoridade para executar o ato (deve ser autoridade para dizer o enunciado performativo) e as circunstâncias devem ser apropriadas.
 
As condições de infelicidade mais específicas do performativo são:
 
·        Nulo ou sem efeito. Quando o orador não tem autoridade para dizer o enunciado. Por exemplo, se um caminhoneiro fala para seu companheiro de viagem: ''eu te condeno a 10 anos de prisão''.
 
·        O abuso da fórmula ou falta de sinceridade. Por exemplo, quando se diz: ''eu prometo'', mas não há intenção de cumprir a promessa.
 
·        A quebra de compromisso. Quando se diz: ''eu te perdoo'', mas não há de fato o perdão da pessoa.
 
Austin tenta elaborar um critério gramatical para os enunciados performativos: verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa. Por exemplo, ''eu prometo que''...
 
Mas encontra problemas como: existem enunciados performativos sem o uso do verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa. Por exemplo, t''odos os moradores estão convidados para a festa do bairro hoje, proibido fumar neste recinto.'' Nestes exemplos, o ato de proibição e de convidar se realizam sem o uso de ''eu convido'' e ''eu proíbo''.
 
Existem enunciados na primeira pessoa do singular do presente do indicativo na forma afirmativa e na voz ativa que não são performativos. Por exemplo, ''eu trabalho muito'', ''eu pratico esporte'', ''eu canto na igreja''. Nestes exemplos, os atos de trabalhar muito, praticar esporte e cantar na igreja não se concretizam quando são pronunciadas tais sentenças.
 
Ainda durante sua busca para encontrar um critério gramatical para definir os enunciados performativos, Austin encontra enunciados performativos sem nenhuma palavra relacionada ao ato que realizam. Por exemplo, ''curva perigosa'', ''chegarei domingo'' que podem ser ''eu prometo que chegarei domingo'', ''eu te advirto que a curva é perigosa''. O que ocorre também com os imperativos, por exemplo, ''cale a boca'' que pode ser ''eu ordeno que cale a boca''.
 
Existe uma diferença entre esses dois tipos de performativo, o exemplo e''u ordeno que você saia'' é uma sentença muito precisa do ato que realiza, uma ordem. Já o exemplo s''aia'' é vago ou ambíguo, pode ser uma ordem, um pedido, um conselho etc. Diante disto, Austin propõe a existência de performativos explícitos, que são enunciados com performatividade explícita (''eu ordeno que você saia''), e a existência de performativos implícitos ou primários, que são enunciados sem performatividade explícita (''saia''). 
 
A partir dessa distinção, Austin atribui o conceito de performativo primário ou implícito aos enunciados constativos, anulando a distinção constativo e performativo, já que é possível a transformação de um enunciado constativo em performativo.
 
Austin concluiu que todos os enunciados são performativos, pois, quando são pronunciados, realizam algum tipo de ação, que é a realização de um ato de fala. Além disso, identifica três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado: o locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário:
 
·        Ato locucionário: ato de dizer algo. O ato de dizer certas expressões, bem formadas de um ponto de vista sintático e significativo.
 
·        Ato ilocucionário: é a realização de um ato ao dizer algo.
 
·        Ato perlocucionário: produz efeitos e consequências no ouvinte.
 
Austin também postula que o ato locucionário é a produção de sentido do enunciado, o ato ilocucionário é a força, a intenção do locutor no enunciado e o ato perlocucionário é o efeito do enunciado sobre o interlocutor.
 
Conforme Ottoni (2002), a força do ato ilocucionário é o que permite um enunciado ser performativo, não sendo possível estabelecer critérios gramaticais para defini-los. Os atos ilocucionários são convencionais, ou seja, regras convencionais proporcionam aos enunciados, em determinados contextos, serem performativos. Por isso, Austin desconstrói a distinção entre enunciados constativos e performativos.
 
Em Ottoni (2002), para uma visão performativa o que importa não é o significado das palavras ou do enunciado, mas sim as circunstâncias em que o enunciado é realizado, a força que este enunciado tem e o efeito que ele provoca. 
 
== John Searle ==
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* –––, 1939, “Are There A Priori Concepts,” Proceedings of the Aristotelian Society, Supplementary Volume 18: 83–105. Reprinted in Austin 1979.
* –––, ms1940, “The Meaning of a Words,” in Austin 1979.
*<blockquote> –––, 1946, “Other Minds,” Proceedings of the Aristotelian Society, Supplementary Volume 20: 148–187. Reprinted in Austin 1979.</blockquote>
* –––, 1950, “Truth,” Proceedings of the Aristotelian Society, Supplementary Volume 24: 111–128. Reprinted in Austin 1979.
* –––, 1952a, “Critical Notice: Aristotle's Syllogistic by Jan Łukasiewicz,” Mind 61, 243: 395–404.