Saartjie Baartman: diferenças entre revisões

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== Biografia ==
=== Sul da África ===
Saartjie Baartman nasceu no seio de uma família [[khoisan]] no vale do [[rio Gamtoos]], na atual província do [[Cabo Oriental]], [[África do Sul]]. Esta é a forma [[Língua africâner|africânder]] do seu nome, cujo original é desconhecido. ''Saartjie'' (que se pronuncia «Sarqui») pode ser considerado equivalente ao português «SarazinhaSarinha».
 
Saartjie era criada de servir numa fazenda de holandeses perto da [[Cidade do Cabo]]. Hendrick Cezar, irmão do seu patrão, sugeriu que ela se exibisse no [[Reino Unido]], prometendo que isso a tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.
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=== Exibições na Europa ===
[[Imagem:Baartman.jpg|thumbnail|Caricatura de Baartman, desenhada no início do século XIX]]
Saartjie foi para [[Londres]] em 1810 e viajou por todatodo o [[Reino Unido]] exibindo as suas dimensões corporais «inusitadas» (segundo a perspetiva europeia), o que levou à opinião generalizada de que estas eram típicas entre os hotentotes. Mediante um pagamento extra, os seus exibidores permitiam aos visitantes tocar-lhe as nádegas, cujo invulgar volume ([[esteatopigia]]) parecia estranho e perturbador ao europeu da época.
 
Por outro lado, Saartjie tinha ''sinus pudoris'', também conhecido por «avental», «cortina da vergonha» ou «bandeja», em referência aos longos [[pequenos lábios|lábios da genitália]] de algumas Khoisan. Segundo [[Stephen Jay Gould]], «os pequenos lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos nas mulheres khoi-san e podem sobressair da [[vagina]] entre 7,5 e mais de 10 cm quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e envolvente» (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro traço fosse exibido.
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No final de 1814, Saartjie foi vendida a um francês, domador de animais, que viu nela uma oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como [[prostituta]] ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras. Foi exposta em [[Paris]], tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da reentronização de [[Napoleão Bonaparte]] no início de 1815 incluíram festas noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher.
 
Foi depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês [[Georges Cuvier]] e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas ilustrações científicas no [[Jardin du Roi]]. O corpo foi totalmente investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do [[clitóris]], dos [[lábios (genitais)|lábios]] e dos [[mamilos]] para museus e institutos zoológicos e científicos. Com a nova derrota de Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a prostituir-se e tornou-se [[alcoolismo|alcoólicaalcoólatra]].
 
== Uso de seu corpo ==
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== Morte e legado ==
 
[[Imagem:Saartjie_Baartman-001.JPG|thumb|Memorial em homenagem a Baartman no Vale do [[Rio Gamtoos]], [[Cabo Oriental]], [[África do Sul]]]]
Ela morreu no dia 29 de dezembro de 1815 por conta de uma doença inflamatória indeterminada,<ref name="jsa-154">{{cite journal|journal=The Journal of Science and the Arts|year=1818|volume=III|issue=V|page=p. 154|url=http://www.archive.org/stream/journalsciencea02britgoog#page/n187/mode/1up/search/venus|accessdate=19 de julho de 2010|title=Proceedings of the Academy of Sciences of the Royal Institute of France}}</ref> possivelmente [[varíola]],<ref>''In The Blood'' por Steve Jones (p. 204).</ref><ref> Times [London, England] 6 Jan. 1816: 3. The Times Digital Archive. Web. 7 Ago. 2012.</ref> enquanto outras fontes sugerem que ela tenha contraído [[sífilis]]<ref name=atrest/> ou [[pneumonia]]. A [[dissecção]] de seu corpo foi realizada e publicada pelo anatomista francês [[Henri Marie Ducrotay de Blainville]] (1816) e republicado pelo naturalista francês [[Georges Cuvier]] em ''Mémoires du Museum d'Histoire Naturelle'' (1817). Cuvier, que conhecera Baartman, observou em sua monografia que o seu objeto de estudo era era uma mulher inteligente, com uma memória excelente, especialmente para rostos. Além de sua língua nativa, ela falava [[Língua neerlandesa|neerlandês]] fluentemente, tinha um [[Língua inglesa|inglês]] razoável e algum conhecimento de [[Língua francesa|francês]]. Ele descreve os ombros e costas dela como "graciosos", com "braços delgados", mãos e pés como "encantadores" e "bonitos". Ele acrescenta que ela era adepta de [[berimbau de boca]], dançava de acordo com as tradições de seu país e tinha uma personalidade alegre. Apesar disso, ele interpretou seus restos mortais, de acordo com suas teorias sobre [[Raças humanas|evolução racial]], como a manifestação de traços semelhantes a [[macaco]]s. Ele acreditou que suas orelhas pequenas eram semelhantes as de um orangotango e também comparou sua vivacidade, quando viva, à rapidez de um macaco.<ref name="Qureshi">Sadiah Qureshi, Displaying Sara Baartman, the ‘Hottentot Venus’ History of Science, Volume 42, Parte 2, Número 136, Junho de 2004, p.233-257</ref> Seu esqueleto, órgãos genitais e cérebro foram preservados e colocados em exposição em Paris, no [[Musée de l'Homme]],<ref name="rumor">Hal Morgan and Kerry Tucker. ''Rumor!'' Fairfield, Pennsylvania: Penguin Books, 1984, p. 29.</ref> até 1974, quando então foram retirados da visitação pública e guardados; ainda assim, um acervo foi exibido pelos dois anos seguintes.<ref>{{cite book|title=Untrodden fields of anthropology : observations on the esoteric manners and customs of semi-civilized peoples|publisher=American Anthropoligical society|url=http://www.archive.org/stream/cu31924029859174#page/n459/mode/1up/search/venus|author=X, Jacobus, Dr., pseud; Carrington, Charles|accessdate=19 de julho de 2010}}</ref>
 
Houve pedidos esporádicos para o retorno de seus restos mortais ao continente africano, começando na década de 1940. Um poema escrito em 1978 por [[Diana Ferrus]], ela própria descendente do povo khoisan, intitulado ''Eu vim para te levar para casa'', desempenhou um papel fundamental no estímulo ao movimento para trazer os restos de Baartman de volta para sua terra natal.<ref name=atrest/> O caso ganhou proeminência mundial só depois de [[Stephen Jay Gould]] escrever '' The Hottentot Venus'' na década de 1980. Após a vitória do [[Congresso Nacional Africano]] na eleição geral na [[África do Sul]] em 1994, o presidente [[Nelson Mandela]] solicitou formalmente que a [[França]] devolvesse os restos mortais. Depois de muita disputa legal e debates na [[Assembleia Nacional Francesa]], o governo francês aceitou o pedido em 6 de março de 2002. Seus restos mortais foram repatriados para sua terra natal, o Vale do [[Rio Gamtoos]], em 6 de maio de 2002<ref name=bbcnews2002>{{cite news |title='Hottentot Venus' goes home|url=http://news.bbc.co.uk/2/low/europe/1957240.stm |publisher=BBC|date=29 de abril de 2002|accessdate=13 de outubro de 2008}}</ref> e eles foram enterrados em 9 de agosto de 2002, sobre Vergaderingskop, uma colina na cidade de Hankey, mais de 200 anos depois de seu nascimento.<ref>{{cite web|url=http://academic.sun.ac.za/history/news/s_kerseboom.pdf|title="Burying Sara Baartman": Commemoration, Memory and Historica Ethics.1|last=Kerseboom|first=Simone|publisher=Stellenbosch University History Department|accessdate=23 de outubro de 2008}}</ref>