Religião na Roma Antiga: diferenças entre revisões

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No âmbito privado, os cidadãos, por sua vez, tradicionalmente buscavam proteção nos espíritos domésticos, os chamados [[lares]], e nos espíritos dos antepassados, os [[penates]], aos quais rendiam culto dentro de casa.
 
== Visão geral ==
Os sacerdócios da religião pública eram mantidos por membros das classes de elite. Não havia um princípio análogo à [[Separação Igreja-Estado|separação da Igreja e do Estado]] na Roma antiga. Durante a [[República Romana]] (509-27 a.C), os mesmos homens que foram eleitos funcionários públicos também podem servir como [[áugure]] e [[Pontífice|pontífices]]. Os sacerdotes se casavam, criavam famílias e levavam vidas politicamente ativas. Júlio César tornou-se [[pontífice máximo]] antes de ser eleito [[Cônsul (Roma Antiga)|cônsul]]. Os áugures liam a vontade dos deuses e supervisionavam a marcação dos limites como um reflexo da ordem universal, sancionando assim o expansionismo romano como uma questão de destino divino. O [[triunfo romano]] era em sua essência uma procissão religiosa em que o general vitorioso exibia sua piedade e sua disposição para servir ao bem público, dedicando uma parte de seus despojos aos deuses, especialmente a [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]], que encarnava a regra justa. Como resultado das [[Guerras Púnicas]] (264-146 a.C), quando Roma lutou para se estabelecer como uma potência dominante, muitos novos templos foram construídos por magistrados em cumprimento de um voto a uma deidade para assegurar seu sucesso militar.
 
A religião romana era, portanto, prática e contratual, baseada no princípio ''do ut ut'', "Dou para que tu dês". A religião dependia do conhecimento e da [[Ortopraxia|correta prática]] da oração, do ritual e do sacrifício, não da fé ou do dogma, embora a [[literatura latina]] preserve a especulação aprendida sobre a natureza do divino e sua relação com os assuntos humanos. Mesmo os mais céticos entre a elite intelectual de Roma, como [[Cícero]], que era áugure, via a religião como uma fonte de ordem social. Para os romanos comuns, a religião era uma parte da vida diária [1]. Cada casa tinha um santuário familiar no qual eram oferecidas orações e [[Libação|libações]] às divindades domésticas da família. Santuários de bairro e lugares sagrados, como nascentes e bosques pontilhavam a cidade [2]. O [[calendário romano]] foi estruturado em torno de observâncias religiosas. Mulheres, escravos e crianças participavam de uma série de atividades religiosas. Alguns rituais públicos só podiam ser conduzidos por mulheres, e as mulheres formavam o que talvez seja o sacerdócio mais famoso de Roma, as [[Vestal|vestals]] apoiadas pelo Estado, que cuidaram do lar sagrado de Roma durante séculos, até serem dissolvidas sob a dominação cristã.
 
Os romanos são conhecidos pelo grande número de deidades que eles honravam, uma capacidade que ganhou escárnio dos primeiros cristãos apologéticos [3]. A presença de [[Magna Grécia|gregos na península italiana]] desde o início do período histórico influenciou a cultura romana, introduzindo algumas práticas religiosas que se tornaram tão fundamentais quanto o culto de [[Apolo]]. Os romanos procuravam um terreno comum entre seus deuses principais e os gregos (''[[interpretatio graeca]]''), adaptando [[Mitologia grega|mitos gregos]] e iconografia para a literatura latina e a [[Arte da Roma Antiga|arte romana]]. A [[Mitologia etrusca|religião etrusca]] também foi uma influência importante, particularmente na prática do [[auspício]].
 
As [[Religião de mistérios|religiões de mistério]] importadas, que ofereciam a salvação dos iniciados no pós-vida, eram uma questão de escolha pessoal para um indivíduo, praticada além de realizar os ritos familiares e participar da religião pública. Os mistérios, contudo, envolviam juramentos e segredos exclusivos, condições que os romanos conservadores encaravam com suspeita como características da "magia", da atividade conspiratória (''coniuratio'') ou subversiva. Esporádicas e às vezes brutais tentativas foram feitas para suprimir os religiosos que pareciam ameaçar a moralidade tradicional e unidade, como com os esforços do senado para restringir os [[Senatus consultum de Bacchanalibus|Bacchanalibus]] em 186 a.C.
 
Como os romanos estenderam seu domínio em todo o mundo mediterrâneo, sua política em geral era absorver as divindades e cultos de outros povos, em vez de tentar erradicá-los [4], pois acreditavam que a preservação da tradição promovia a estabilidade social. Uma das formas em que Roma incorporou diversos povos foi apoiando sua herança religiosa, construindo templos para deidades locais que enquadravam sua teologia dentro da hierarquia da religião romana. As inscrições em todo o império registram o culto lado a lado das divindades locais e romanas, incluindo dedicações feitas por romanos aos deuses locais. Na altura do Império, numerosas deidades internacionais foram cultivadas em Roma e levadas até mesmo para as mais remotas províncias, entre elas [[Cibele]], Í[[Ísis|sis]], [[Epona]] e deuses do [[Monismo|monismo solar]] como [[Mitraísmo|Mitras]] e [[Sol Invicto|Sol Invictus]], encontrados até ao norte como [[Britânia (província romana)|Britânia romana]]. Como os romanos nunca foram obrigados a cultivar um só deus ou um só culto, a tolerância religiosa não era um problema no sentido que é para sistemas monoteístas concorrentes [7]. O rigor monoteísta do judaísmo representava dificuldades para a política romana que, às vezes, conduzia a compromissos e à concessão de isenções especiais, mas às vezes a conflitos intratáveis. Por exemplo, disputas religiosas ajudavam a causar a [[Primeira guerra judaico-romana|Primeira Guerra Judaico-Romana]] e a [[Terceira guerra judaico-romana|Revolta de Bar Kokhba]].
 
Na esteira do colapso da República, a religião estatal havia se adaptado para apoiar o novo regime dos imperadores. [[Augusto]], o primeiro imperador romano, justificou a novidade da regra de um só homem com um vasto programa de revivalismo e reforma religiosa. Os votos públicos feitos anteriormente para a segurança da república agora dirigiam-se ao bem-estar do imperador. O chamado "culto do imperador" expandiu em grande escala a tradicional veneração romana dos mortos ancestrais e do [[Gênio (mitologia romana)|Gênio]], o tutelar divino de cada indivíduo. O [[culto imperial]] tornou-se uma das principais maneiras pelas quais Roma anunciava sua presença nas províncias e cultivava identidade e lealdade cultural compartilhadas em todo o Império. A rejeição da religião estatal equivalia a traição. Este foi o contexto para o conflito de Roma com o [[Cristianismo]], que os romanos consideravam de forma diversa como uma forma de ateísmo e superstição nova.
 
== ''Pietas'' ==