Culto aos egunguns: diferenças entre revisões

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[[Imagem:National Museum of Ethnology, Osaka - Egungun Costume - Yorùbá people in Nigeria - Collected in 1996.jpg|300px|thumb|[[National Museum of Ethnology]], [[Osaka]] - roupa de Egungun - povo Yorùbá da [[Nigéria]] - coletado em 1996.]]
 
O ''''Culto aos Egunguns''',<ref>[https://books.google.com.br/books?id=7CoRAQAAIAAJ&dq=Egungun%20cult&hl=pt-BR&source=gbs_similarbooks S. O. Babayemi, Egúngún Among the Ọyọ Yoruba, Ọyọ State Council for Arts and Culture, 1980]</ref> é o culto aos ancestrais masculinos, uma vez que o culto aos ancestrais femininos denomina-se [[Gelede]]<ref>[https://books.google.com.br/books?id=IIqc3pizziAC&pg=PA277&dq=Egungun+cult&hl=pt-BR&sa=X&ei=cVaEVaOmJIGq-AGb1L6oDw&ved=0CCoQ6AEwAg#v=onepage&q=Egungun%20cult&f=false Gẹlẹdẹ: Art and Female Power Among the Yoruba, Por Henry John Drewal,Margaret Thompson Drewa]</ref> na [[religião yoruba]] e outras [[religiões tradicionais africanas]].
 
== África ==
Segundo a tradição, o '''culto de ''[[Egungun]]''''' é originário da região de [[Império de Oyo|Oyò]], na [[África]]. É um culto exclusivo de homens, sendo [[Alapini|Alápini]] o cargo mais elevado dentro do culto, tendo, como auxiliares, os [[Babaojé|Ojés]]. Todo integrante do culto de ''egungun'' é chamado de ''[[mariwô|Mariwó]]''. [[Xangô]] (Sòngó) é o fundador do culto a egungum: somente ele tem o poder de controlá-los, como diz um trecho de um ''[[Itan]]'':
 
{{quote2|Em um dia muito importante, em que os homens estavam prestando culto aos ancestrais, com Xangô à frente, as [[Iyami-Ajé|Yàmi]] fizeram roupas iguais às de Egungum, vestiram-na e tentaram assustar os homens que participavam do culto. Todos correram mas Xangô não o fez, ficou e as enfrentou, desafiando os supostos espíritos. As Yàmi ficaram furiosas com Xangô e juraram vingança. Em um certo momento em que Xangô estava distraído atendendo a seus súditos, sua filha brincava alegremente, subiu em um pé de [[Cola acuminata|obi]], e foi aí que as Yàmi atacaram e derrubaram Adubaiyni, a filha de Xangô que ele mais adorava. Xangô ficou desesperado, não conseguia mais governar seu reino, que, até então, era muito próspero. Foi até [[Orunmila|Orunmilà]], que lhe disse que Yàmi é que havia matado sua filha. Xangô quis saber o que poderia fazer para ver sua filha só mais uma vez, e Orunmilà lhe disse para fazer oferendas ao [[orixá]] Ikù (Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos mortos. Assim fez Xangô, seguindo à risca os preceitos de Orunmilà.
 
Xangô conseguiu rever sua filha e pegou para si o controle absoluto dos egunguns (ancestrais), estando agora sob domínio dos homens este culto e as vestimentas dos egunguns, e se tornando terminantemente proibida a participação de mulheres neste culto. Por terem provocado a ira de [[Olorun|Olorum]], Xangô, Ikú e dos próprios egunguns, este foi o preço que as mulheres tiveram que pagar pela maldade de suas ancestrais, as Yami.}}
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O culto principal aos egunguns é praticado na ilha de [[Itaparica]], no estado da [[Bahia]], mas existem casas em outros estados.
 
Quanto ao aspecto físico, um terreiro de egungum ou [[egum]] apresenta, basicamente, as seguintes unidades:
 
* um espaço público, que pode ser frequentado por qualquer pessoa, e que se localiza numa parte do barracão de festas;
 
* uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores, e para onde os eguns vêm quando são chamados, para se mostrar publicamente;
 
* uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a casa do segredo), onde também se encontra um montículo de terra preparado e consagrado, que é o [[Igba orixá|assentamento]] de [[Onilé]];
 
* um espaço público, que pode ser frequentado por qualquer pessoa, e que se localiza numa parte do barracão de festas;
* uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores, e para onde os eguns vêm quando são chamados, para se mostrar publicamente;
* uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a casa do segredo), onde também se encontra um montículo de terra preparado e consagrado, que é o [[Igba orixá|assentamento]] de [[Onilé]];
* um espaço privado ao qual só têm acesso os iniciados da mais alta hierarquia, onde fica o Ilê Awô, com os assentamentos coletivos, e onde se guardam todos os instrumentos e paramentos rituais, como os ''Isan'' (pronuncia-se "ixan"), longas varas com as quais os [[Babaojé|Ojés]] invocam (batendo no chão) e controlam os egunguns.
 
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*Terreiro de Vera Cruz: fundado por volta de 1820 por um africano chamado "Tio Serafim", em [[Vera Cruz (Bahia)|Vera Cruz]], na Ilha de Itaparica. Ele trouxe, da África, o egum de seu pai, invocado até hoje como ''Egun Okulelê''. Faleceu com mais de cem anos.
 
*Terreiro de Mocambo: fundado por volta de 1830 por um africano chamado "Marcos-o-Velho" para distingui-lo do seu filho, na plantação de Mocambo, Ilha de Itaparica. Teria comprado sua carta de alforria, anos mais tarde teria voltado à [[África]] junto com seu filho Marcos Teodoro Pimentel, conhecido como "Tio Marcos", lá permanecendo por muitos anos aperfeiçoando seus conhecimentos litúrgicos, onde também seu filho foi iniciado. Quando voltaram, trouxeram, com eles, o assento do ''Baba Olukotun'', considerado o Olori Egun, o ancestral primordial da nação nagô.
 
*Terreiro de Encarnação: fundado por volta de 1840 por um filho do Tio Serafim, chamado "João-Dois-Metros" por causa de sua altura, no povoado de Encarnação. Foi nesse terreiro que se invocou, pela primeira vez no Brasil, o egum ''Baba Agboula'', um dos patriarcas do povo Nagô.
 
*Terreiro de Tuntun: fundado por volta de 1850 pelo filho de Marcos-o-Velho, chamado Tio Marcos, num velho povoado de africanos denominado Tuntun, na Ilha de Itaparica. Marcos possuiu o título de [[Alapini]], ''Ipekun Ojé'', Sacerdote Supremo do Culto aos Egunguns. Na tradição histórica Nagô, o Alapini representa os terreiros de egum no ''afin'', o palácio real.
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Outros terreiros de egunguns foram registrados no final do [[século XIX]]: um, localizado em Quitandinha do Capim, que cultuava os eguns ''Olu-Apelê'' e ''Olojá Orum''; o de Tio Agostinho, em [[Matatu]], que se tornou ponto de concentração de vários Ojés de outras casas, inclusive o alapini Tio Marcos; o Terreiro da Preguiça, ao lado da [[Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia|Igreja da Conceição da Praia]].
 
*[[Ilê Agboulá]]<ref>[http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3396/mais-um-terreiro-recebe-protecao-do-iphan IPHAN Mais um terreiro recebe proteção do Iphan]</ref>: localizado em [[Praia da Ponta de Areia|Ponta de Areia]], na Ilha de Itaparica, o Ilê Agboulá é, hoje, no Brasil, um dos poucos lugares dedicados exclusivamente ao culto dos eguns. Sua fundação remonta ao primeiro quarto do [[século XX]] por [[Eduardo Daniel de Paula]], Tio Opê, Tio Serafim e Tio Marcos, mas a comunidade que lhe deu origem e que lhe mantém os fundamentos está estabelecida na ilha desde o século 19XIX.
 
*Ilê Olokotun, na Ilha de Itaparica
 
*Ilê Axipá - [[Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Axipá]].
 
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Calendário Litúrgico do Ilê Agboulá (obtido do Projeto Egungun):
 
As festas e obrigações obedecem, no Ilê Agboulá, a um bem elaborado calendário litúrgico. Durante essas festas, podem ocorrer rituais não periódicos e não obrigatoriamente integrados no calendário, como iniciação de novos Amuixan ou de novos Ojé, ou mesmo obrigações e oferendas de outros titulados da comunidade. Mas o calendário, mesmo, obedece o seguinte:
 
Janeiro - Em janeiro, por ocasião do [[Ano-Novo|ano-novo]], as obrigações transcorrem até o dia nove. Esses rituais começam com uma obrigação para [[Onilê]], seguida de outra para Babá Olukotun. Junto com esta, são celebradas as cerimônias anuais em homenagem a Babá Alapalá e Babá Ologbojô.
 
Fevereiro - em fevereiro, começando no dia 2 e se estendendo por duas semanas, ocorre uma festa muito especial, principalmente porque a comunidade de Itaparica vive do mar e para o mar. É a festa de [[Iemanjá]] e [[Oxum]], deusas das águas, e de [[Oxalá]], o deus da criação.
 
Junho - em junho, na época do [[São João]], realizam-se as festas de Babá Erin, que é o egum de Eduardo Daniel de Paula, fundador da casa. As festas se realizam por ocasião do ciclo de Xangô, que era o orixá de Eduardo. E atingem grande brilhantismo porque, entre a comunidade do Ilê Agboulá, que é descendente do povo de Oyó, a veneração a Xangô é muito forte.
 
Setembro - De 7 a 17 de setembro, ocorrem as festas de Babá Agboulá. Por essa época é que é feita a colheita dos primeiros frutos na Ilha de Itaparica, sob a proteção de Babá. E isto é muito importante pelo fato de, até bem pouco tempo atrás, a Ilha de Itaparica ter sido o grande fornecedor de frutas para a cidade de [[Salvador (Bahia)|Salvador]].