Companhia de Jesus: diferenças entre revisões

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== História ==
[[Imagem:Ignatius Loyola.jpg|thumb|esquerda|[[Santo Inácio de Loyola]].]]
Inácio de Loyola, de origem nobre, foi ferido em combate na defesa da fortaleza de [[Pamplona]] contra os franceses em 1521. Durante o período de convalescença dedicou-se à leitura do ''Flos Sanctorum'', após o que decidiu-se a desprezar os bens terrenos em busca dos sobrenaturais.<ref name= "Câmara1">CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica'. Editora Vozes, Petrópolis: 1957, p.267.</ref> No santuário de [[Monserrat]] fez a sua 'vigília d'armas' e submeteu-se a uma confissão geral. Abandonou a indumentária fidalga substituindo-a pela dos mendicantes. Retirando-se para a gruta de [[Manresa]] ali entregou-se a rigorosas penitências e escreveu a sua principal obra o ''[[Livro de Exercícios Espirituais]]'', admirável sobretudo por não ter ainda o autor conhecimentos teológicos acadêmicos.<ref name="Câmara1" />
 
Em [[15 de agosto]] de [[1534]], Inácio e seis outros estudantes<ref>[http://miguelservetinvestigacion.com/jesuitas.html Miguel Servet Pesquisa] Página da Web que contém o manuscrito da Universidade de Paris, que mostra seis dos sete jesuítas originais, e Miguel de Villanueva ("Servet")</ref> (o [[França|francês]] [[Pedro Fabro]], os espanhóis [[Francisco Xavier]], [[Alfonso Salmerón]], [[Diego Laynez]], e [[Nicolau de Bobadilla]] e o [[Portugal|português]] [[Simão Rodrigues]]) encontraram-se na Capela dos Mártires, na colina de [[Montmartre]], e fundaram a Companhia de Jesus - para "desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em [[Jerusalém]], ou para ir aonde o papa nos enviar, sem questionar". Nesta ocasião fizeram os votos de [[pobreza]] e [[castidade]].<ref name="Câmara1" />
 
[[Inácio de Loyola]] escreveu as constituições jesuítas, adotadas em 1554, que deram origem a uma organização rigidamente disciplinada, enfatizando a absoluta abnegação e a obediência ao Papa e aos superiores hierárquicos (''perinde ac cadaver'', "disciplinado como um cadáver", nas palavras de Inácio). O seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas: ''[[Ad maiorem Dei gloriam]]'' ("Para a maior glória de Deus")
 
Na companhia de Fabro e Laynez, Inácio viajou até Roma, em outubro de 1538, para pedir ao papa a aprovação da ordem. O plano das Constituições da Companhia de Jesus foi examinado por [[Tomás Badia]], mestre do Sacro Palácio, e mereceu sua aprovação. A congregação de cardeais, depois de algumas resistências, deu parecer positivo à constituição apresentada.<ref name="Câmara1" /> Em [[27 de setembro]] de [[1540]] Paulo III confirmou a nova ordem através da bula ''Regimini militantis Ecclesiae''{{Nota de rodapé|''Regimini militantis Ecclesiae'' afirma que o principal propósito da ordem seria a propagação da fé e o progresso das almas na vida e doutrina cristã e que suas atividades teriam base no ministério de Jesus e de seus discípulos (ideal apostólico e itinerante). (Cf. [http://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/view/5095 Sob o signo das Luzes: o pensamento jesuítico e a Ilustração nas cartas do Padre David Fáy], acesso em 11 de dezembro de 2016)</ref>, que integra a "Fórmula do Instituto", onde está contida a legislação substancial da ordem, cujo número de membros foi limitado a 60. A limitação foi porém posteriormente abolida pela bula ''Injunctum nobis'' de 14 de março de 1543.
 
O papa [[Papa Paulo III|Paulo III]] autorizou que fossem ordenados padres, o que sucedeu em [[Veneza]], pelo bispo de [[Rab (ilha)|Rab]], em 24 de junho. Devotaram-se inicialmente a pregar e em obras de caridade em Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os [[turcos seljúcidas]] tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável. Inácio de Loyola foi escolhido para servir como primeiro [[Superior Geral da Companhia de Jesus|superior geral]]. Enviou os seus companheiros e missionários para vários países europeus, com o fim de criar escolas, liceus e seminários.
 
== Obra inicial ==
{{Catolicismo}}
A Companhia de Jesus foi fundada no contexto da [[Reforma Católica]] (também chamada de Contrarreforma), os jesuítas fazem votos de obediência total à doutrina da Igreja Católica, tendo Inácio de Loyola declarado:
{{quote1|Acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado.}}
 
A companhia logo se espalhou muito. Em Portugal, D. João III pediu missionários e lhe foram enviados Simão Rodrigues, que fundou a província, e S. [[Francisco Xavier]], que foi enviado ao Oriente. Na França tiveram a proteção do [[Cardeal de Guise]]. Na Alemanha, os primeiros foram Pedro Faber e [[Pedro Canísio]] e outros, que foram apoiados pela casa da Baviera, logo dirigiram colégios, ensinaram em universidades e fundaram congregações.<ref name="Câmara2">CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica'. Editora Vozes, Petrópolis: 1957, p.268 - 269.</ref> A causa das perseguições contra a companhia costuma ser sua íntima união com a [[Santa Sé]], a universalidade do apostolado e a firmeza de princípios.<ref name="Câmara2" /> Os jesuítas alcançaram grande influência na sociedade nos períodos iniciais da [[Idade Moderna]] (séculos XVI e XVII), frequentemente eram educadores e confessores dos reis dessa altura - D. [[Sebastião de Portugal]], por exemplo.
 
A Companhia de Jesus teve atuação de destaque na [[Reforma Católica]], em parte devido à sua estrutura relativamente livre (sem os requerimentos da vida na comunidade nem do ofício sagrado), o que lhes permitiu uma certa flexibilidade de ação. Em algumas cidades alemãs os jesuítas tiveram relevante papel. Algumas cidades, como [[Munique#Religiões|Munique]] e [[Bona#Religiões|Bona]], por exemplo, que inicialmente tiveram simpatia por [[Martinho Lutero]], ao final permaneceram como bastiões católicos - em grande parte, graças ao empenho e vigor apostólico de padres jesuítas.
 
== Organização ==
São membros da ordem os professos, os escolásticos e os coadjutores. Os professos devem ser doutores e, além dos três votos comuns têm o de obediência ao papa.{{Nota de rodapé|Total obediência ao papa e a aceitação de ser enviado a qualquer lugar onde Sua Santidade quisesse, entre os turcos ou nas Índias, entre hereges ou cismáticos,<ref>[http://www.historia.uff.br/stricto/td/1626.pdf Crônica e História: a Companhia de Jesus e a Construção da História do Maranhão], acesso em 26 de novembro de 2016</ref> quanto às missões.}} O geral, os provinciais, assistentes e os professores de teologia devem ser professos. O geral, além dos assistentes, tem ainda o admoestador. O órgão superior de administração é a Congregação Geral na qual tomam parte todos os professos eleitos por suas províncias. Os assistentes são eleitos pelas províncias e o geral é vitalício.<ref name="Câmara2">CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica'. Editora Vozes, Petrópolis: 1957, p.268 - 269.</ref>
 
A companhia possui casas de professos, colégios, residências e missões. O vestuário depende do lugar onde moram, não têm hábito próprio. Não há a obrigação do ofício de côro. Após quinze anos de vida religiosa proferem os últimos votos; devem passar dois anos de noviciado, três de filosofia, alguns de magistério, quatro de teologia, e um segundo noviciado que é chamado de terceiro ano de aprovação.<ref name="Câmara2">CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica'. Editora Vozes, Petrópolis: 1957, p.268 - 269.</ref> Como em todas as ordens religiosas da Igreja Católica, os jesuítas também têm a prática do retiro espiritual, mas de modo especial praticam os Exercícios Espirituais de Santo Inácio.
 
== Expansão ==
Em [[Portugal]], o caráter de [[milícia]] era evidente, acabando a Companhia por se tornar a arma mais poderosa da Contra-Reforma. [[João III de Portugal|D. João III]], aconselhado por [[Diogo de Gouveia]], solicitou a Loyola o envio de irmãos para a [[evangelização]] do Oriente. Ainda em 1540, chegam a Portugal o basco Francisco Xavier (depois São Francisco Xavier) e o português Simão Rodrigues. Este permaneceu no reino e aquele partiu para o Oriente em missão evangélica, chegando ao [[Ceilão]] e às ''Molucas'' em 1548, e à [[China]] em 1552. As missões iniciais no [[Japão]] tiveram como resultado a concessão aos jesuítas de um enclave feudal em [[Nagasaki (província)|Nagasaki]], em 1580. No entanto, o receio em relação a crescente influência da ordem fez com que esse privilégio fosse abolido no ano de 1587.
 
Os jesuítas penetraram no [[Reino do Congo]] (1547), em [[Marrocos]] (1548) e na [[Etiópia]] (1555).
 
Simão Rodrigues, enquanto isso, criara a primeira casa em Portugal, em 1542, concretamente o Colégio de Santo Antão o Velho, em Lisboa, logo se seguindo outros - em [[Coimbra]] (1542), Évora (1551) e de novo Lisboa (1553). Em 1555, foi-lhes entregue o Colégio das Artes em Coimbra e, em 1559, a [[Universidade de Évora]]. Em 1560 recebem em doação o Colégio de São Paulo, em Braga, por D. Frei Bartolomeu dos Mártires {{Carece de fontes|Em 1560 recebem em doação o Colégio de São Paulo, em Braga, por D. Frei Bartolomeu dos Mártires|hist|data=agosto de 2016}}. Logo muitos poderosos passaram a querer jesuítas como confessores.
 
O jesuíta [[António de Andrade]], padre e explorador português, é o primeiro europeu a visitar o [[Tibete]]<ref>Didier, Hugues. 1999. Os Portugueses no Tibete. Os primeiros relatos dos jesuítas (1624-1635). Lisboa: Comissão Nacional para as comemorações dos descobrimentos portugueses.</ref>: em 1624 chega a [[Tsaparang]] a capital do reino tibetano de Guge.<ref>Himalaias - A Viagem dos Jesuítas Portugueses (RTP - Joaquim Magalhães de Castro).</ref> Outros missionários jesuítas Gruber e D'Orville chegaram a [[Lassa]] em 1661.
 
=== Na América do Sul ===
{{Artigo principal|Missões jesuíticas}}
Desde 1549, chegara ao Brasil ([[Bahia]]) o primeiro grupo de seis missionários liderados por [[Manuel da Nóbrega]], trazidos pelo governador-geral [[Tomé de Sousa]].
 
Certamente a maior obra jesuítica em terras brasileira consistiu na fundação de [[São Paulo (cidade)|São Paulo de Piratininga]] em torno do seu famoso colégio, ponto de origem da expansão territorial e da colonização do interior do país.
 
As missões jesuítas na [[América Latina]] foram controversas na [[Europa]], especialmente na [[Espanha]] e em [[Portugal]], onde eram vistas como interferência na ação dos reinos governantes. Os jesuítas opuseram-se várias vezes à [[escravidão]] [[Indígenas americanos|indígena]]. Eles fundaram uma série de aldeamentos missionários - chamados [[missões]] ou ''misiones'' no sul do [[Brasil]], ou ainda ''reducciones'', no [[Paraguai]] - organizados de acordo com o ideal católico, que, mais tarde, acabaram sendo destruídos por espanhóis, e principalmente por portugueses, à cata de escravos.
 
Segundo o historiador Manuel Maurício de Almeida, desde o fim do século XVI houve expansão hispano-jesuítica a partir de ''Asunción'' ([[Assunção]]) no atual Paraguai, em três frentes pioneiras:
# no [[Paraná]], onde se fundou em 1554 [[Ontíveros]], [[Ciudad Real del Guayrá]], [[Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo|Vila Rica del Espiritu Santu]]'' e outras [[redução|reduções]] na então ''[[República do Guairá]]''.
# rumo ao [[Mato Grosso do Sul]]. Fundada a vila de [[Santiago de Xerez]], que seria o centro da Província de Nueva Vizcaya, havia missões que aldeavam os representantes das comunidades primitivas do [[Itatins|Itatim]]. Projeto com apoio do Estado e da Igreja, para assegurar o controle do vale do [[rio Paraguai]] e articular as missões do Itatim com as de Mojos e Chiquitos, de modo a assegurar proteção ao altiplano mineiro na atual [[Bolívia]].
# em trechos do atual território do estado do [[Rio Grande do Sul]], no [[Brasil]], aldeias do Tape, Uruguai e Sierra.
 
As missões na América do Sul eram unidades de produção autossuficientes, com relação de produção do tipo feudal. Cada família cultivava em regime de posse individual e coletiva porções de terra. A retribuição era sempre representada por produtos, realizados coletivamente (''tupambaé'', "parte de Deus") ou nas terras de posse familiar (''abambaé'',"parte das pessoas"). O que era reservado à reprodução do sistema econômico, ou comércio, constituía ''tabambaé'' ou "parte da aldeia". Havia um cabido rudimentar, presidido por um corregedor indígena eleito pela comunidade. A ideologia religiosa era católica.
 
Com a ocupação dos portos negreiros na África, [[São Jorge da Mina]], [[São Tomé (São Tomé e Príncipe)|São Tomé]] e [[São Paulo de Luanda]], pelos holandeses, o apresamento de índios se expandiu na segunda metade do século XVII para muito além das vizinhanças do planalto de [[Piratininga]], força de trabalho escrava mais lucrativa - principalmente [[Guairá (departamento)|Guairá]]. Autoridades espanholas favoreceram mesmo, na vigência da [[União Ibérica]], a destruição das missões.
 
Em 30 de julho de 1609, uma lei de [[Filipe III de Espanha|Filipe III]] declarou livres todos os índios. Sob influência da Companhia de Jesus, a escravidão era proibida mas se mantinha sobre eles a jurisdição dos jesuítas. Houve reclamações tamanhas, por se ter desordenado a economia da colônia, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, que a Coroa retrocedeu, por lei de 10 de janeiro de 1611 ao regime anterior, os escravos sendo prisioneiros de guerra justa. Foi sempre a principal causa dos conflitos entre o povo e os jesuítas. A ficção legal era a do resgate, o troco de índios das tribos que os houvessem tomado em guerra para salvá-los da morte e convertê-los - um eufemismo. A ação dos jesuítas resultava em simples transferência da escravidão em favor da Companhia, que os tratava porém com grande humanidade.
 
=== Atuação no Brasil ===
[[Imagem:Mosteiro dos Frades Jesuítas 02.JPG|direita|thumb|upright=1.0|Antigo mosteiro dos padres jesuítas, no Maciço de Baturité]]
 
{{Artigo principal|[[A Companhia de Jesus no Brasil]]}}
 
Os jesuítas chegaram ao [[Brasil]] em 1549 liderados por Manoel de Nóbrega e começaram sua catequese erguendo um colégio em [[Salvador (Bahia)|Salvador da Bahia]], fundando a Província Brasileira da Companhia de Jesus. Cinquenta anos mais tarde já tinham colégios pelo litoral, de [[Santa Catarina]] ao [[Ceará]]. Quando o [[marquês de Pombal]] os expulsou, em 1760, eram 670 por todo o país, distribuídos em aldeias, missões, colégios e conventos.
 
== A supressão da ordem ==
{{Veja|Supressão da Companhia de Jesus}}
 
As tendências anticristãs do século XVIII dirigiram contra a Congregação dos Jesuítas grandes combates, por julgá-la o mais forte baluarte da [[Santa Sé]]. A par de algumas queixas políticas mais ou menos fundadas, a Companhia suscitava ódios em razão da bem sucedida luta contra os [[jansenistas]]; oposição ao [[galicanismo]] e a consequente adesão do Papa. Além disto, tinha posição destacada nas cortes com professores, pregadores e confessores e um certo predomínio científico manifestado tanto nos colégios como nas publicações.<ref name="Câmara4" >CÂMARA, Jaime de Barros. Apontamentos de História Eclesiástica'. Editora Vozes, Petrópolis: 1957, p.275 - 278.</ref>
 
Em Portugal, o rei D. José I tinha por ministro [[Sebastião José de Carvalho e Melo]], marquês de Pombal, que na convicção que os jesuítas eram obstáculo aos seus planos, resolveu dar-lhes combate culpando-os da crise nos [[Sete Povos das Missões]] com os indígenas, mandou prender a todos no Brasil e os meteu em cárcere em Portugal sem que tivessem defesa<ref name="Câmara4" /> e de onde só puderam sair em [[1777]], com a ascensão de D. Maria I ao trono: dos 9.460 encarcerados só restavam uns 800.<ref name="Câmara4" /> Em [[Portugal]] e nas [[Casa de Bourbon|Cortes Borbónicas]], muitos Jesuítas foram presos ou mesmo condenados a suplícios, como é o caso do padre [[Gabriel Malagrida]], acusado no [[processo dos Távoras]]. Outros ingressaram no [[clero secular]] ou em outras ordens.
 
Na França, os [[jansenistas]], [[galicanos]] e [[voltaireanos]] já havia muito queriam exterminar a Companhia, para isto valeram-se do caso do Pe. La Valette. Este era procurador de uma casa de jesuítas na [[Martinica]] e deu-se a especulações comerciais contra todas as regras da ordem, pelo que dela foi expulso.<ref name="Câmara4" />
No entanto, como devia pessoalmente grande soma, atribuíram a dívida à Companhia que se negou a pagar. O assunto foi ao parlamento que deu a alternativa: ou a Ordem se reconhecia culpada das acusações ou os jesuítas seriam exilados. Apesar dos protestos do episcopado francês e do próprio Papa, [[Luís XV]] também expulsou a Companhia da [[França]] em 1764. Foram promotores da expulsão o ministro absolutista [[Étienne François Choiseul|Choiseul]] e [[madame Pompadour]], cuja escandalosa presença na corte francesa era repudiada pelo Pe. Perisseau, confessor do rei.<ref name="Câmara4" />
 
Em Espanha, o ministro de [[Carlos III de Espanha|Carlos III]], [[Aranda]], intrigou os jesuítas com o rei acusando-os de defenderem a independência das colônias e de levantarem dúvida sobre a legitimidade do nascimento do rei. Carlos III mandou prender a todos os jesuítas em 1767 com a [[Pragmática Sanção]]. Por mais que o papa pedisse, o rei nunca lhe apresentou as razões do decreto.<ref>CÂMARA, Jaime de Barros. Op. cit. p. 277.</ref>
 
Em Nápoles, o ministro Tanucci era mais forte que [[Fernando I das Duas Sicílias|Fernando IV]]. Depois de dois anos de perseguição os desterrou para os [[Estados Pontifícios]]. Em [[Parma]] o marquês Tillot imperava tiranicamente: aos pedidos do papa respondeu com a expulsão dos jesuítas em 1768. No mesmo ano o grão-mestre dos cavalheiros de Malta os desterrou da ilha. Essas cortes juntaram-se na pressão sobre o Papado para suprimir a Companhia, ao que resistiu [[Papa Clemente XIII|Clemente XIII]].<ref>CÂMARA, Jaime de Barros. Op. cit. p. 277.</ref>
 
O papa [[Papa Clemente XIV|Clemente XIV]], seu sucessor, embora bem intencionado, era indeciso e fraco, cedendo às pressões dos reis e principalmente da Espanha - através da [[bula papal|bula]] [[Dominus ac Redemptor]] ''- obtida quase à força pelo embaixador espanhol Moniño, órgão central de quase todas as maquinações antijesuíticas, no período da supressão -''<ref name="Camara5" >CÂMARA, Jaime de Barros. Op. cit. p. 278.</ref> suprimiu oficialmente a Companhia em 21 de julho de 1773. O Superior Geral da Companhia, [[Lorenzo Ricci]], juntamente com os seus assistentes, foi feito prisioneiro no [[Castelo de Sant'Angelo]], em [[Roma]], sem julgamento prévio. Os demais foram obrigados a deixar a Ordem ao que obedeceram.
 
Como papa Clemente XIV deixou a critério dos soberanos a publicação da bula, a [[czar]]ina [[Catarina, a Grande|Catarina a Grande]] os conservou na [[Rússia]] e usou a ocasião para atrair para o seu país os membros da Companhia, gente de grande erudição, o mesmo se deu com [[Frederico da Prússia]], na [[Silésia]]. Na altura da supressão havia cinco assistências, 39 províncias, 669 colégios, 237 casas de formação, 335 residências missionárias, 273 missões e 22589 membros.
 
== Restauração ==
Depois de suprimida pelo papa [[Papa Clemente XIV|Clemente XIV]] em julho de 1773, a Companhia de Jesus manteve-se na [[Rússia]]. Nessa altura milhões de católicos, incluindo numerosos jesuítas, viviam nas províncias polacas da Rússia. Aí a companhia manteve intensa actividade religiosa, de ensino e de missionação.
 
Deste modo, o papa [[Papa Pio VI|Pio VI]] autorizou formalmente a existência da Companhia de Jesus na Polónia e Rússia, o que levou os jesuítas a elegerem [[Stanislaus Czerniewicz]] como seu superior em 1782.<ref name="Camara5"/> Em 1814, mudadas as cortes europeias pelas [[Guerras Napoleônicas]], o papa [[Papa Pio VII|Pio VII]] viu-se em condições de restaurar a companhia, o que fez no dia 7 de agosto daquele ano em Roma, entregando a bula da restauração encíclica ''[[Sollicitudo omnium ecclesiarum]]'' aos velhos padres ainda existentes e ali reunidos. O superior geral [[Thaddeus Brzozowski]], que havia sido eleito em 1805, adquiriu então jurisdição universal. A Companhia de Jesus foi derrubada e levantou-se.<ref name="Camara5"/>
 
Durante os séculos XIX e XX, a Companhia de Jesus voltou a crescer enormemente até os anos 50 do século XX, quando atingiu o pico. Desde aí, seguindo a quebra de vocações na [[Igreja Católica]], o número de jesuítas também tem vindo a decrescer.
 
== Os jesuítas hoje ==
 
Em 2009, a Companhia de Jesus era o instituto religioso masculino mais numeroso na Igreja Católica. Contava com {{fmtn|18516}} membros com uma média de idades de 57 anos,<ref>Outra fonte ([http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/10321-jesuitas-se-preparam-para-congregacao-geral Jesuítas se preparam para Congregação Geral], acesso em 25 de janeiro de 2014), apontava a idade média dos jesuítas em 65 anos em 2007, mas essa fonte levava em conta apenas os que já fizeram a [[terceira provação]], ou seja, excluía do cálculo os noviços e jesuítas em formação.)</ref> sendo que {{fmtn|13112}} eram sacerdotes, {{fmtn|1675}} irmãos, {{fmtn|2920}} jesuítas em formação e {{fmtn|809}} eram noviços. A sua distribuição fazia-se por 127 países dos cinco continentes, sendo os [[Estados Unidos]] e a [[Índia]] os países com maior número de jesuítas.<ref>{{citar web|URL=http://www.jesuitas.pt/Os-Jesu%C3%ADtas-no-Mundo-15.aspx|título=Os Jesuítas no Mundo |autor=|data=|publicado=|acessodata=}}</ref>
 
A companhia caracteriza-se pela sua forte ligação com a educação, com numerosos estabelecimentos de ensino, inclusive de nível superior. No Brasil, as universidades Católica do Rio de Janeiro, Católica de Pernambuco, do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, Centro Universitario FEI, em São Paulo e a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e a Escola de Direito Dom Helder, em Belo Horizonte, pertencem à ordem.
 
Em junho de 2013, a Província Portuguesa da Companhia de Jesus era formada por 237 jesuítas. Destes 237, 160 encontravam-se em Portugal e 21 estavam noutros países; 56 pertenciam à Região de Moçambique.<ref>{{citar web|URL=http://www.jesuitas.pt/Os-Jesu%C3%ADtas-em-Portugal-18.aspx|título=Os Jesuítas em Portugal|autor=|data=|publicado=|acessodata=}}</ref>
 
Após o [[Concílio Vaticano II]], sob a direcção do superior geral [[Pedro Arrupe]], a Companhia de Jesus privilegiou a defesa dos direitos humanos o que levou alguns dos seus membros a serem rotulados como subversivos e perseguidos. Tal foi o caso de seis jesuítas mortos pelo exército [[El Salvador|salvadorenho]] a 16 de novembro de 1989 no campus universitário da [[Universidade da América Central]], em [[San Salvador]].
 
A 31 de outubro de 1991, a Província Portuguesa da Companhia de Jesus foi feita membro-honorário da [[Ordem da Instrução Pública]].<ref>[http://www.ordens.presidencia.pt/]</ref>
 
A 19 de janeiro de 2008, [[Adolfo Nicolás]] foi eleito para suceder a [[Peter Hans Kolvenbach]] como 30.º [[Superior Geral da Companhia de Jesus]], o que foi logo reconhecido pelo papa [[Papa Bento XVI|Bento XVI]].
 
Em 13 de março de 2013, [[Jorge Mario Bergoglio]] tornou-se o primeiro papa jesuíta da [[Igreja Católica]].
 
== Jesuítas e o Holocausto ==
Nove padres jesuítas foram formalmente reconhecidos como heróis do [[Holocausto]] pelo [[Yad Vashem]], a autoridade [[israel]]ita em favor da memória dos mártires e heróis do Holocausto, por levarem a cabo todos os esforços possíveis para salvar e dar asilo a [[Judaísmo|judeus]] durante a [[Segunda Grande Guerra Mundial]].<ref>[http://www.holycross.edu/departments/library/website/hiatt/righteous.htm''Hiatt Holocaust Collection'']</ref>
 
== Jesuítas célebres ==
Os jesuítas estão presentes, desde a primeira hora, nos novos mundos que se abrem à atividade missionária da época. [[Francisco Xavier|São Francisco Xavier]] percorre a [[Índia]], [[Indonésia]], [[Japão]] e chega às portas da [[China]]; [[João Nunes Barreto]] e [[Andrés de Oviedo]] empreendem a fracassada missão da [[Etiópia]]; [[Manuel da Nóbrega|Padre Manuel da Nóbrega]], [[José de Anchieta|São José de Anchieta]] e muitos outros ajudaram a fundar as primeiras cidades do [[Brasil]]: [[Salvador (Bahia)|Salvador]], [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] e [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], com exceção de [[São Vicente (São Paulo)|São Vicente]], [[Cananeia]] e [[Itanhaém]], que lhes são anteriores. Os chamados [[Quarenta Mártires do Brasil]] (liderados pelo [[Inácio de Azevedo|Beato Inácio de Azevedo]]) foram outros religiosos jesuítas de grande relevância na [[evangelização]] do Brasil. De enorme importância na evangelização da China, tem-se o caso do bem-aventurado [[Matteo Ricci]]. A cidade de [[Anchieta (Espírito Santo)|Anchieta]] tem sua origem ligada à aldeia de Iriritiba, também chamada Reritiba, termo [[Língua tupi|tupi antigo]] que significa "ajuntamento de [[ostra]]s, [[sambaqui]]".<ref>NAVARRO, E. A. ''Dicionário de Tupi Antigoː a Língua Indígena Clássica do Brasil''. São Paulo. Global. 2013. p. 596.</ref> A aldeia foi fundada pelo padre José de Anchieta em 1561.
 
Por cerca de 500 anos, a Ordem Jesuíta não ocupou lugares no alto clero do [[Vaticano]] devido à sua distância em relação a altos cargos na Igreja. O primeiro jesuíta eleito papa foi o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa [[Papa Francisco|Francisco]], eleito em 2013 após a renúncia de [[Papa Bento XVI|Bento XVI]]. Além de ser o primeiro jesuíta, foi também o primeiro [[América do Sul|sul-americano]] no papado.
 
== Outras considerações ==
Acima das inevitáveis ambiguidades, as missões dos jesuítas impressionam pelo espírito de [[inculturação]] (adaptação à cultura do povo a quem se dirigem). As [[Missões jesuíticas na América|Reduções do Paraguai]] e a adoção dos [[rito]]s [[Costa do Malabar|malabares]] e chineses são os exemplos mais significativos.
 
A atividade educativa tornou-se logo a principal tarefa dos jesuítas. A gratuidade do ensino da antiga Companhia favoreceu a expansão dos seus colégios. Em 1556, à morte de Santo Inácio, eram já 46. No final do século XVI, o número de colégios elevou-se a 372. A experiência pedagógica dos jesuítas sintetizou-se num conjunto de normas e estratégias, chamado a ''Ratio Studiorum'' (Ordem dos Estudos), que visa à formação integral do homem cristão, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo.
 
Os primeiros jesuítas participaram ativamente da [[Reforma Católica]] e do esforço de renovação teológica da Igreja Católica. No [[Concílio de Trento]], destacaram-se dois companheiros de Santo Inácio (Laínez e Salmerón). Desejando levar a fé a todos os campos do saber, os jesuítas dedicaram-se às mais diversas ciências e artes: [[Matemática]], [[Física]], [[Astronomia]]. Entre os nomes de crateras da [[Lua]] há mais de 30 nomes de jesuítas. No campo do [[Direito]], Suarez e seus discípulos desenvolveram a doutrina da origem popular do poder. Na [[Arquitectura|Arquitetura]], destacaram-se muitos irmãos jesuítas, combinando o estilo [[Arquitetura barroca|barroco]] da época com um estilo mais [[Funcionalismo (arquitetura)|funcional]].
 
==Papas jesuítas==
{| {{prettytable}}
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|-
|[[Papa Francisco]]
|{{dtlink|13|3|2013}}
|atualmente
|{{idade em anos e dias|2013|3|13}}
|-
|-
|}
 
== Cardeais jesuítas ==
* [[Albert Vanhoye]]