Nobreza da Itália: diferenças entre revisões

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Ao longo da história a nobreza foi sempre se reestruturando para acompanhar o curso dos acontecimentos e as mudanças sociais, invariavelmente monopolizando os principais cargos administrativos, jurídicos e eclesiásticos e detendo muitos outros privilégios. Algumas famílias vieram a se tornar “reinos” maiores que reinos, com extenso número de membros, títulos e posses espalhados por toda a Península Itálica e mesmo no estrangeiro, formando uma rede de sólidos relacionamentos de parentesco e interesse que ultrapassava largamente as fronteiras geográficas do seu Estado de origem e influía nos destinos de grandes regiões, de fato, criando boa parte da História dessas regiões, como observou Campanile.<ref>Campanile, Filiberto. ''L'armi, ouero Insegne de' nobil, Oue sono i discorsi d'alcune famiglie nobili, così spente, come viue del regno di Napoli''. Longo, 1610</ref><ref>Visconti, A. ''L’Italia nell’ epoca della Controriforma dal 1516 al 1713''. Milão, 1958</ref>
 
Eram vários os critérios para que uma família ou indivíduo fossem enobrecidos, mas cada um dos muitos Estados e cidades-Estado que existiram na península itálica estabeleceu suas próprias regras. Na maioria dos Estados precisavam atestar por várias gerações o não envolvimento direto com atividades mecânicas e rudes, consideradas indignas da nobreza; em geral era exigida também tradição familiar consolidada e uma riqueza expressiva, baseada em geral na posse hereditária da terra, mas também podiam ser enobrecidos [[plebeu]]s que se distinguissem nas armas, nas carreiras jurídicas e eclesiásticas, e mesmo no comércio e nas artes. Ao longo dos séculos muito se discutiu quais desses critérios eram mais ou menos justificáveis, se a mulher podia ser fonte de nobreza, e se a nobreza moral era equiparável à nobreza tradicional. A nobreza não estava necessariamente associada à riqueza ou à posse hereditária de um feudo, e muitas vezes não esteve. Como as honras oficiais e a maior parte das riquezas das famílias nobres passavam em geral aos homens, em particular ao primogênito, a concentração da herança na primogenitura fez com que inúmeros ramos cadetes empobrecessem. Isso podia acarretar a perda do estatuto. Da mesma maneira como havia exigências para enobrecimento, havia critérios para a perda da nobreza, como a decadência moral, empobrecimento além de certo nível, envolvimento em crimes graves ou traição ao governo.<ref>Muzio, Girolamo. ''Il Gentilhuomo''. Valuassori & Micheli, 1575</ref><ref name="Visconti"/><ref>Lyman, Theodore. ''The Political State of Italy''. Wells and Lilly, 1820</ref><ref name="Ranke">Ranke, Leopold von. ''The history of the popes, their church and state and especially of their conflicts with Protestantism in the sixteenth & seventeenth centuries'', Volume 2. Henry G. Bohn, 1853</ref>
[[File:Libro d'Oro della Nobiltà Italiana Collegio Araldico - Roma.jpg|thumb|Capa do ''Libro d'Oro della Nobiltà Italiana'' publicado pelo Collegio Araldico.]]
 
A nobreza italiana foi numerosa. Von Ranke calculava que no século XVIII havia cerca de nove mil famílias nobres na Itália, com um total estimado de 144 mil indivíduos nobres, mas ele refere que eram poucos em relação a outros Estados europeus, como a [[Espanha]], que tinha uma população comparável mas quase três vezes mais nobres. Mesmo assim, sempre foi uma classe minoritária, e somente [[Milão]] na época tinha cerca de 100 mil habitantes.<ref name="Ranke"/> Após a fundação do [[reino da Itália]] em 1861 toda a nobreza nacional foi submetida a um recenseamento e o estatuto foi reorganizado, passando a ser uma honra quase meramente decorativa, sem implicar em acesso ao governo e praticamente sem qualquer prerrogativa legal especial. Ao mesmo tempo, a maioria dos patriciados formais foi abolida. Neste processo de reorganização, para que as antigas famílias permanecessem na nobreza passou a ser necessário efetuarem uma requisição ao governo, que podia ou não ratificar o seu estatuto. A requisição exigia a atestação documental da outorga dos títulos e privilégios, mas como muitas famílias eram nobres há muitos séculos, às vezes há milênios, em muitos casos já haviam perdido a sua documentação primitiva, impedindo seu reconhecimento. Esta situação previsivelmente causou grande polêmica, pois afetava a maioria das famílias mais tradicionais da Itália. O recenseamento ainda não havia sido concluído quando foi proclamada a república em 1946, e em 1948 todos os títulos de nobreza deixaram de ser reconhecidos pelo governo republicano.<ref name="Jocteau"/>
 
Após a fundação do [[reino da Itália]] em 1861 toda a nobreza nacional foi submetida a um recenseamento e o estatuto foi reorganizado, passando a ser uma honra quase meramente decorativa, sem implicar em acesso ao governo e praticamente sem qualquer prerrogativa legal especial. Ao mesmo tempo, a maioria dos patriciados formais foi abolida. Neste processo de reorganização, para que as antigas famílias permanecessem na nobreza passou a ser necessário efetuarem uma requisição ao governo, que podia ou não ratificar o seu estatuto. A requisição exigia a atestação documental da outorga dos títulos e privilégios, mas como muitas famílias eram nobres há muitos séculos, às vezes há milênios, em muitos casos já haviam perdido a sua documentação primitiva, impedindo seu reconhecimento. Esta situação previsivelmente causou grande polêmica, pois afetava a maioria das famílias mais tradicionais da Itália. O recenseamento ainda não havia sido concluído quando foi proclamada a república em 1946. Com a adoção da Constituição de 1948, todos os títulos de nobreza deixaram de ser legalmente reconhecidos. Alguns ''predicati'' (designações territoriais reconhecidos) antes de 1922 podiam continuar a ser anexados aos sobrenomes e utilizados em documentos legais.<ref name="Jocteau"/>
<gallery mode=packed caption=" " widths="150px" heights="150px">Imagem:Parmigianino 015.jpg|Nobre italiano do [[século XVI]].
Imagem:Chigi.jpg|Nobre italiano do [[século XVII]].
Imagem:VAlfieriFabre.jpg|Nobre italiano do [[século XVIII]]
Imagem:Stieler - Marianna Marchesa Florenzi, 1831.JPG|Nobre italiana do [[século XIX]].
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Em 1967 o Tribunal Superior estabeleceu definitivamente que a legislação heráldica-nobiliárquica do Reino da Itália (1861-1946) não tem mais validade. Apesar disso, algumas ordens soberanas de [[cavalaria]] continuaram a conceder ou reconhecer títulos,<ref>Uberti, Pier Felice Degli. ''Ordini cavallereschi e onorificenze''. De Vecchi, 1993</ref> e várias instituições privadas, principalmente o Collegio Araldico e o Corpo della Nobiltà Italiana, reivindicam modernamente continuar as funções da antiga Consulta Araldica instituída no século XIX, o organismo oficial do governo que administrava as questões da nobreza. Essas instituições não têm nenhuma representação oficial ou direitos legais para reconhecer ou conceder títulos.<ref>Valfrei, Lorenzo Caratti di. ''Araldica''. Mondadori, 2008, pp. 143-152</ref>
Antes da [[unificação italiana]] (1870) - o chamado ''Risorgimento'' -, o [[Reino da Sardenha]] (1297-1861), o [[Reino das Duas Sicílias]] (1816-1861 (que, antes de [[1816]], estava separado em [[Reino de Nápoles]] (1282-1816) e [[Reino da Sicília]] (1130-1816), o [[Grão-Ducado da Toscana]] (1569-1859), o [[Ducado de Parma e Piacenza]] (1545-1860), o [[Ducado de Módena e Reggio]] (1452-1859), o [[Ducado de Saboia]] (1416-1714) originário do [[Condado de Saboia]]), o [[Ducado de Milão]] (1395-1797), a [[República Florentina]] (1115-1532), o [[Ducado de Florença]] (1532-1569), a [[República de Gênova]] ([[século XI]]-1805), o [[Ducado de Urbino]] (1443-1631), os [[Estados Pontifícios]] (752-1870), e demais estados no [[norte da Itália]], tinham [[nobreza]]s paralelas com diferentes [[tradição|tradições]] e regras, de estado para estado. Sob o [[Reino de Itália (1861–1946)|Reino da Itália]] (1861-1946), criou-se uma nobreza nacional, com origem intrínseca na nobreza dos [[estado]]s antecessores à unificação italiana (1870). Os privilégios gozados pelo [[estamento]] foram abolidos em 1946, quando foi fundada a [[República Italiana]] (1946-presente). Segundo a Constituição Italiana adoptada em 1948, títulos de nobreza não são legalmente reconhecidos. Alguns predicati (designações territoriais reconhecidos) antes de 1922 podem continuar a ser anexado aos sobrenomes e utilizado em documentos legais. Muitas vezes, estes eram territórios feudais históricos de famílias nobres. A decisão do Tribunal Superior, em 1967, definitivamente estabeleceu que a legislação heráldica-nobiliárquica do Reino da Itália (1861-1946) não é lei atual.
 
Por séculos, foi entre a alta nobreza italiana que se deu a escolha do [[Papa]] da [[Igreja Católica]]. Por esta razão, diversos papas nasceram nas famílias [[Casa de Sforza|Sforza]], [[Casa de Visconti|Visconti]], [[Casa de Pirovano|Pirovano]], [[Della Rovere]], [[Casa de Médici|Médici]], [[Casa Della Torre|Della Torre]], [[Bórgia]], entre outras.
 
==Ver também==