As Mil e Uma Noites: diferenças entre revisões

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== Sinopse ==
A história conta<ref name="SAGARZAZU">''Las mil y una noches'' trad. María Elvira Sagarzazu. Colihue Clásica, 2006. ISBN 950-563-023-9</ref> que Xariar, rei da Pérsia da dinastia dos [[Sassânidas]], descobre que sua mulher é infiel, dormindo com um escravo cada vez que ele viaja. O rei, decepcionado e furioso, mata a mulher e o escravo, convencendo-se por este e outros casos de infidelidade que nenhuma mulher do mundo é digna de confiança. Decide então que, daquele momento em das ''Mil e uma noites'' é um fragmento de um [[manuscrito]] do início do século IX em que se lê o título da obra e algumas linhas iniciaisdiante, emdormirá que Duniazade pede a um narrador não especificado que conte uma história<ref name="ABBOTT">Abbott, Nabia. Cap 2. in ''The Arabian Nights reader''. Wayne State University Press, 2006 [http://books.google.com.ar/books?id=AKd6mZSGsVUC&pg=PA21&lpg=PA21&dq=nabia+abbot+%22thousand+nights%22&source=bl&ots=-Fq8eCTkK_&sig=QNWqNKXmX6p9yt1NtlHDq9IOobk&hl=es&ei=OFtcS6u5E9ChuAet3ejxDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAkQ6AEwAA#v=onepage&q=nabia%20abbot%20%22thousand%20nights%22&f=false]</ref>. Mais dados sobre a existência deste livro e sua origem encontram-se nos escritos do [[historiador]] [[Al-Masudi]] (888-957), que se refere a uma coleçãomulher dediferente contoscada fantasiosos traduzidos do [[Língua persa|persa]]noite, [[sânscrito]] e [[Língua grega|grego]],mandando incluindomatá-sela entrena elesmanhã um livro persa chamado ''Hazār afsāna'' ("''Mil histórias''" em persa) <ref name="IRANICA">[httpseguinte://www.iranica.com/newsite/index.isc?Article=http://www.iranica.com/newsite/articles/v1f8/v1f8a035.html ''Alf Layla Wa Layla'' na Encyclopedia Iranica]</ref>. Segundo Al-Masudi, a coleção era conhecida como "''As mil noites e uma noite''" em [[Língua árabe|árabe]] e contava a história de "um rei, seu vizir, sua filha Xerazade e sua escrava, Duniazade". A existência desta traduçãoforma donão persapoderá aoser árabetraído é corroborada pelo [[bibliógrafo]] [[xiita]] [[Ibn al-Nadim]] (m. 995 ou 998), que menciona o livro em sua obra ''Fehrest'' (ou ''Fihrist''), escrita em 987-988<ref name="IRANICA" />. Ibn al-Nadim informa ainda que o livro possui menos de 200 contos, uma vez que cada conto ocupanunca mais de uma noite<ref name="TRANSNATIONALII4">Grotzfeld, Heinz. Cap II.4. in ''The Arabian nights in transnational perspective''. Wayne State University Press, 2007 [http://books.google.com.ar/books?id=tknULXNl21oC&pg=PA49&dq=Panchatantra+%22thousand+nights%22&source=gbs_toc_r&cad=7#v=onepage&q=Panchatantra%20%22thousand%20nights%22&f=false]</ref>.
 
Passam-se assim três anos durante os quais o rei desposou e sacrificou inúmeras moças, trazidas à sua presença pelo [[vizir]] (equivalente a um primeiro-ministro) do reino. Certo dia, quando já quase não havia virgens no reino, uma das filhas do vizir, [[Xerazade]], pediu para ser entregue como noiva ao rei, pois sabia de um estratagema para escapar ao triste fim que alcançaram as moças anteriores. O vizir apenas aceita depois de muita insistência da filha, levando-a finalmente ao rei. Antes de ir, Xerazade diz à irmã, Duniazade, que lhe peça que conte uma história quando for chamada ao palácio do rei.
 
Xerazade, ao chegar na presença do rei, pede-lhe que permita a vinda de sua irmã, para despedir-se. O rei o permite, e Duniazade vem ao palácio e instala-se na câmara nupcial. Após o rei possuir Xerazade, Duniazade pede à irmã que conte uma história para passar o tempo. Após respeitosamente pedir a permissão do rei, Xerazade começa a contar a extraordinária "''História do mercador e do [[Gênio (mitologia árabe)|gênio]]''" mas, ao amanhecer, ela interrompe o relato, dizendo que continuará a narrativa na noite seguinte. O rei, curioso com o maravilhoso conto de Xerazade, não ordena sua execução para poder saber o final da história na noite seguinte. Assim, repetindo essa estratégia, Xerazade consegue sobreviver noite após noite, contando histórias sobre os mais variados temas, desde o fantástico e o religioso até o heróico e o erótico. Ao fim de inúmeras noites e contos, Xerazade já havia tido três filhos do rei, e lhe suplica que a poupe, por amor às crianças. O rei, que há muito havia-se arrependido dos seus atos passados e se convencido da dignidade de Xerazade, perdoa-lhe a vida e faz dela sua rainha definitiva. Duniazade é feita esposa do irmão do rei, Xazamã.
 
== Origens e manuscritos ==
A mais antiga menção a um livro árabe das ''Mil e uma noites'' é um fragmento de um [[manuscrito]] do início do século IX em que se lê o título da obra e algumas linhas iniciais, em que Duniazade pede a um narrador não especificado que conte uma história<ref name="ABBOTT">Abbott, Nabia. Cap 2. in ''The Arabian Nights reader''. Wayne State University Press, 2006 [http://books.google.com.ar/books?id=AKd6mZSGsVUC&pg=PA21&lpg=PA21&dq=nabia+abbot+%22thousand+nights%22&source=bl&ots=-Fq8eCTkK_&sig=QNWqNKXmX6p9yt1NtlHDq9IOobk&hl=es&ei=OFtcS6u5E9ChuAet3ejxDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAkQ6AEwAA#v=onepage&q=nabia%20abbot%20%22thousand%20nights%22&f=false]</ref>. Mais dados sobre a existência deste livro e sua origem encontram-se nos escritos do [[historiador]] [[Al-Masudi]] (888-957), que se refere a uma coleção de contos fantasiosos traduzidos do [[Língua persa|persa]], [[sânscrito]] e [[Língua grega|grego]], incluindo-se entre eles um livro persa chamado ''Hazār afsāna'' ("''Mil histórias''" em persa) <ref name="IRANICA">[http://www.iranica.com/newsite/index.isc?Article=http://www.iranica.com/newsite/articles/v1f8/v1f8a035.html ''Alf Layla Wa Layla'' na Encyclopedia Iranica]</ref>. Segundo Al-Masudi, a coleção era conhecida como "''As mil noites e uma noite''" em [[Língua árabe|árabe]] e contava a história de "um rei, seu vizir, sua filha Xerazade e sua escrava, Duniazade". A existência desta tradução do persa ao árabe é corroborada pelo [[bibliógrafo]] [[xiita]] [[Ibn al-Nadim]] (m. 995 ou 998), que menciona o livro em sua obra ''Fehrest'' (ou ''Fihrist''), escrita em 987-988<ref name="IRANICA"/>. Ibn al-Nadim informa ainda que o livro possui menos de 200 contos, uma vez que cada conto ocupa mais de uma noite<ref name="TRANSNATIONALII4">Grotzfeld, Heinz. Cap II.4. in ''The Arabian nights in transnational perspective''. Wayne State University Press, 2007 [http://books.google.com.ar/books?id=tknULXNl21oC&pg=PA49&dq=Panchatantra+%22thousand+nights%22&source=gbs_toc_r&cad=7#v=onepage&q=Panchatantra%20%22thousand%20nights%22&f=false]</ref>.
 
[[Imagem:Arabian nights manuscript.jpg|right|250px|thumb|Manuscrito árabe utilizado por Galland em sua tradução das ''Mil e uma noites'' (século XIV ou XV).]]
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Os contos que compõe as ''Mil e uma noites'' são de diversas origens e foram sendo acrescentados e suprimidos ao longo da história da obra, sendo alguns possivelmente originários da Índia, outros da Pérsia e outros do mundo árabe<ref name="IRANICA"/>. As mais antigas referências à obra não mencionam quais contos compunham a coleção e, uma vez que os manuscritos com contos que chegaram até a atualidade são já do século XV, é hoje impossível saber quais eram os contos que compunham as primeiras versões das ''Mil e uma noites'', inicialmente derivados da obra persa ''Hazār afsāna''<ref name="BRILL">[http://www.brill.nl/uploadedFiles/EI3preview.pdf Encyclopedia of Islam 3. Brill, 2007]</ref>. Sobre o estado inicial das ''Mil e uma noites'' o único que se pode afirmar com certeza é que a história básica de Xerazade e Xariar, que unifica a obra, já estava presente desde o século IX.
 
Os estudiosos acreditam que os manuscritos das ''Mil e uma noites'' que existem atualmente são derivados de reelaborações realizadas entre os séculos XIII e XIV no [[Médio Oriente]], à época dominado pelos [[mamelucos]]. O mais famoso e um dos mais completos e antigos dos manuscritos é o utilizado por [[Antoine Galland]] para sua tradução publicada em 1704. Este manuscrito em três volumes, originário da [[Síria]] e conservado hoje na [[Biblioteca Nacional de Paris]] (''arabe'' 3609-3611), data de meados do século XV (alguns pensam que é do sséculo francêsXIV) [[Antoinee Galland]]contém (1645-1715),um quetotal publicoude entre282 1704noites<ref ename="GROTZFELD"/>. 1717 suaainda ''Milleum etpequeno unegrupo nuits''.de Amanuscritos principal fonte pararelacionados a versãoeste deaos Gallandquais foise um manuscritoo sírionome emde trêsramo volumes,sírio escritodos em árabemanuscritos, quetodos terminavaterminando na noite 282 e nãodeixando apresentavaincompleto o final.''Conto Parado completarPríncipe a sua obraCamaralzaman e aumentarda oPrincesa númeroBudura''<ref de noitesname="GROTZFELD">Grotzfeld, GallandHeinz. utilizou''The outrosmanuscript textostradition árabes,of incluindothe manuscritosArabian egípciosNights'' (hojein perdidos)''The comArabian osnights contosencyclopedia, vol. 1''Príncipe. CamaralzamanABC-CLIO, e2004 a[http://books.google.com.ar/books?id=EMKSYqUQ4QcC&pg=PA18&dq=%22syrian+branch%22+%22thousand+nights%22&cd=1#v=onepage&q=%22syrian%20branch%22%20%22thousand%20nights%22&f=false]</ref><ref Princesaname="CODENHOTO"/>. Budura''Um egrupo ode ''Contomanuscritos demais Ganim''.recente, Gallande tambémdiferentes incorporoulinguisticamente históriasdo queramo originalmentesírio, nãofoi secompilado encontravamentre emos nenhumséculos manuscritoXVII dase ''MilXVIII e umaconstitui noites''o conhecido.chamado Umaramo éegípcio, apor históriaserem deem sua maioria provenientes ''[[SimbadEgipto|Simbad odesta marujoregião]]''<ref name="CODENHOTO">Codenhoto, traduzidaChristiane aD. partirResenha dedo uma''Livro manuscritodas árabemil avulso.e Outrauma noites. fonteTradução de Galland,Mamede segundoMustafa oJarouche''. próprio,Revista foide umEstudos contadorÁrabes dee históriasdas chamadoCulturas Hannado DiabOriente Médio. FFLCH, umUSP. 2006.[[maronita]http://www.fflch.usp.br/dlo/tiraz/2006/CODENHOTO_CHRISTIANE_DAMIEN_06.pdf]</ref>. deEstes [[Alepo]]manuscritos, quecompilados narrou-lheem contosparte comopara oatender à demanda europeia de histórias das ''[[Aladim|AladimMil e auma Lâmpada Maravilhosa]]noites'' eapós o êxito da obra de ''[[AliGalland, Babáchegou |Aliao Babánúmero ede osnoites Quarentado Ladrões]]''título, ou seja, mil e uma. EstesA contoscompilação incorporadosegípcia pormais Galland,moderna - datada da segunda metade do século XVIII e quebase aparentementede nãomuitas formavamtraduções partee dasedições posteriores - é referida como ZER (''MilZotenberg eEgyptian's uma noitesRecension''; original,edição tornaram-secrítica extremamenteegípcia popularesde eZotenberg) passaramem ahomenagem serao incluídosestudioso emHermann árabesZotenberg, eautor traduçõesde europeiasimportantes produzidasestudos posteriormente.sobre esses manuscritos no final do século XIX<ref name="SAGARZAZUBRILL"/>. O termo "ZER" também é utilizado como sinônimo para o ramo egípcio<ref name="BRILL"/>.
 
== Traduções e edições ==
A primeira versão em [[língua árabe|árabe]] das ''Mil e uma noites'', redigida no século IX ou no século anterior, foi uma tradução da obra [[língua persa|persa]] ''Hazār afsāna'', atualmente perdida. Pouco ou nada se conhece dos contos que faziam parte das primeiras versões em árabe, uma vez que estas são conhecidas atualmente apenas por pequenos fragmentos de texto e menções em outras obras e os manuscritos mais antigos da obra conservados atualmente datam já do século XV.<ref name="SAGARZAZU" />
 
A primeira tradução a uma língua europeia foi realizada pelo [[orientalista]] francês [[Antoine Galland]] (1645-1715), que publicou entre 1704 e 1717 sua ''Mille et une nuits''. A principal fonte para a versão de Galland foi um manuscrito sírio em três volumes, escrito em árabe, que terminava na noite 282 e não apresentava o final. Para completar a sua obra e aumentar o número de noites, Galland utilizou outros textos árabes, incluindo manuscritos egípcios (hoje perdidos) com os contos ''Príncipe Camaralzaman e a Princesa Budura'' e o ''Conto de Ganim''. Galland também incorporou histórias que originalmente não se encontravam em nenhum manuscrito das ''Mil e uma noites'' conhecido. Uma é a história de ''[[Simbad|Simbad o marujo]]'', traduzida a partir de uma manuscrito árabe avulso. Outra fonte de Galland, segundo o próprio, foi um contador de histórias chamado Hanna Diab, um [[maronita]] de [[Alepo]], que narrou-lhe contos como o de ''[[Aladim|Aladim e a Lâmpada Maravilhosa]]'' e o de ''[[Ali Babá |Ali Babá e os Quarenta Ladrões]]''. Estes contos incorporados por Galland, e que aparentemente não formavam parte das ''Mil e uma noites'' original, tornaram-se extremamente populares e passaram a ser incluídos em manuscritos árabes e traduções europeias produzidas posteriormente.<ref name="SAGARZAZU" />
 
Para os padrões atuais, Galland produziu uma tradução fantasiosa, mais uma recriação qeque uma tradução. Além das mistura de fontes para os contos, Galland omitiu e introduziu textos, alterou a fala de personagens e retirou os muitos versos poéticos dos originais. Além disso, Galland não explicitou com precisão que fontes utilizou para sua obra, o que dificulta seu estudo hoje. De qualquer forma, sua versão das ''Mil e uma noites'' foi imensamente popular e foi o ponto de partida para a influência da obra árabe no [[mundo ocidental]] e até mesmo na revalorização que os contos tiveram no [[mundo árabe]].<ref name="SAGARZAZU" />
 
Já no século XVIII o interesse despertado pela obra de Galland levou à busca de manuscritos mais "completos" das ''Mil e uma noites'', uma vez que a fonte utilizada pelo francês terminava na noite 282. No [[Egito]] foram produzidas várias compilações de contos que eventualenteeventualmente chegaram a abranger as 1001 noites do título, e baseados nestes manuscritos do ramo egípcio floresceram mutasmuitas edições e traduções ao longo do século XIX. Em [[língua árabe]], a primeira [[Impressão|edição impressa]] foi publicada em [[Calcutá]] em 1814-1818 (chamada Calcutá I), seguida de outras publicadas no [[Cairo|Caio]] em 1835 (Bulaq I), Calcutá em 1839-1842 (Calcutá II) e novamente Cairo em 1862 (Bulaq II). Com base nestas edições em árabe foram realizadas importantes traduções a línguas europeias, como ao [[Língua inglesa|inglês]] por John Paine ([[Londres]], 1839-41), [[Edward Lane]] (1882-84) e finalmente [[Richard Francis Burton]] (Londres, 1885). A tradução deste último, chamada ''The'' 1835Book (ulaqof I),the CalcutáThousand emNights 1839-1842and (Calcutáa II)Night'' e novamente Cairopublicada em 186210 (Bulaqvolumes, II).foi Combaseada baseem nestasCalcutá ediçõesII eme árabetornou-se forammuito realizadasinfluente, importantesalém traduçõesde aescandalosa línguasna europeis[[Era vitoriana|Inglaterra vitoriana]], ''Boo''euma vez que Burton, ao contrário de seu predecessor Paine, não censurou as cenas eróticas da obra e inclusive as enfatizou, enfrentando os costumes morais da época. Mais tarde, BurtBurton publicou contos de outros manuscritos das ''Noites'' em um ''Suplemento'' publicado entre 1886 e 1888.<ref name="SAGARZAZU" />
 
== Lista de histórias ==
Lista extraída da edição inexpurgada de ''As Mil e uma Noites'' da [[Editora Saraiva]] de 1961, em oito volumes, traduzida por [[Nair Lacerda]] (prosa) e [[Domingos Carvalho da Silva]] (poesia) com cotejo de textos árabes por Suleiman Khalil Safady, única tradrsonagenstradução brasileira que abrange mil e uma noites consecutivas, seguindo a mesma ordem da tradução clássica inglesa de [[Richard Francis Burton|Richard Burton]]. Embora na obra desfile uma rica galeria de personagens, os que mais se popularizaram são [[Simbad]], [[Aladim]] e [[Ali Babá]].
 
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