Luís de Camões: diferenças entre revisões

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====A conquista, o herói português e o papel da arte====
Para Ivan Teixeira, embora ''Os Lusíadas'' não tenha sido escrito por encomenda do Estado, ajustou-se perfeitamente a uma necessidade cultural da empreitada expansionista. Camões acreditava no discurso dominante em Portugal na sua época, de que os portugueses tinham uma missão civilizadora a cumprir no mundo. No texto essa missão é explicitada, mas a ideologia não tolda a sua arte.<ref>[http://books.google.com/books?id=RffKKJPYttgC&printsec=frontcover&dq=cam%C3%B5es&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1970&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2010&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=22#v=onepage&q&f=false Teixeira, p. 33]</ref> Ao contrário, é a Poesia que dá amplitude à História, uma amplitude que Camões imaginava ser o dever do poeta revelar aos seus contemporâneos, apoiando-se na glória do passado e do presente para subir num voo alto e perscrutar com o olho do espírito as perspetivas ainda mais grandiosas no distante horizonte do futuro, trazendo através da Arte de volta para o mundo a visão recebida, a fim de que a Arte infundisse na História um sentido novo, garantisse o significado superior dessa História na imortalidade de uma Arte que lhe faz jus, reacendendo com isso o ardor do português por conquistas ainda maiores. Como sugeriu Alcyr Pécora, é como se sem a epopeia o Bem da proeza não se pudesse cumprir integralmente. As armas apenas não bastam para a grandeza, é necessário que as artes a cantem, e se o herói não estima a arte, limita-se a sua virtude, e perde a capacidade de atingir o sublime.<ref name="Soares"/><ref>Pécora, Alcyr. [http://books.google.com/books?id=ypJhhmMDrIAC&printsec=frontcover&dq=cam%C3%B5es&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1970&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2010&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=8#v=onepage&q=cam%C3%B5es&f=false ''Máquina de gêneros: novamente descoberta e aplicada a Castiglione, Della Casa, Nóbrega, Camões, Vieira, La Rochefoucauld, Gonzaga, Silva Alvarenga e Bocage'']. Universidade de São Paulo, 2001. pp. 135-151</ref> Camões, sem modéstia, colocou-se como a voz desse canto necessário à grandeza de Portugal, mas consternado acusava a ingratidão e as injustiças que sofria:
[[Ficheiro:Camoes-salvando-os-lusiadas-a-nado.jpg|thumb|left|220px|Selo português comemorando os 400 anos de seu nascimento, em 1924, onde se mostra o poeta salvando o manuscrito de ''Os Lusíadas'' no naufrágio.]]
 
{{quote2|Olhai que há tanto tempo que, cantando<br>O vosso Tejo e os vossos lusitanos,<br>A Fortuna me traz peregrinando,<br>Novos trabalhos vendo e novos danos:<br>.....<br>A troco dos descansos que esperava,<br>Das capelas de louro que me honrassem,<br>Trabalhos nunca usados me inventaram,<br>Com que em tão duro estado me deitaram<br>.....<br>Vede, Ninfas, que engenhos de senhores<br>O vosso Tejo cria valerosos,<br>Que assim sabem prezar, com tais favores,<br>A quem os faz, cantando, gloriosos!"''|''Os Lusíadas'', Canto VII}}