Terror (gênero): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Racconish (discussão | contribs)
Better quality (GlobalReplace v0.6.5)
m ajustando datas, traduzindo nome/parâmetro, ajustes gerais nas citações, outros ajustes usando script
Linha 5:
== Terror na Literatura ==
 
A '''literatura de horror''' é um gênero literário e é comum que as obras ligadas ao horror sejam confundidas com as de terror, pois tanto nas livrarias e bibliotecas como na mente de grande parte dos leitores e dos críticos, ficam na mesma seção. A verdade é que as duas possuem uma enorme diferença.
 
De fato, a Literatura de terror (encontrada em muitos dos contos de [[Poe]], volta-se para a criação de uma atmosfera de suspense cuja explicação nada possui de sobrenatural, sendo essencialmente psicológica. É por exemplo o caso de ''O barril de Amontillado'', do citado autor. Nada existe ali de sobrenatural: é apenas o relato da vingança de Montresor, que empareda vivo ao desafortunado Fortunato. O livro ''Cujo'', do consagrado escritor [[Stephen King]], traduzido no Brasil como ''[[Cão Raivoso (livro)|Cão Raivoso]]'', é a história, evidenciada pelo título, de uma família, aterrorizada por um cão da raça [[São-bernardo]] chamado Cujo, quando ele é mordido por um morcego portador de [[Hidrofobia]].
 
Por seu lado, a Literatura de horror contém indissociavelmente elementos do sobrenatural, muitas vezes associados a componentes típicos, por exemplo, da ficção científica. É o caso de ''[[Frankenstein]]'', no qual um cientista (no caso, um médico) decide criar um ser (um Novo Prometeu) unindo partes retiradas de cadáveres e usando a eletricidade como fluido vital.
Mas ela também recorre ao [[folclore]] e à cultura tradicional (é o caso de ''[[Drácula]]'' e ''[[Carmilla]]''), à religião (''Aprisionado com os faraós'', de Lovecraft), isto é, ao sobrenatural - ou mesmo a supostos poderes latentes no ser humano: leia-se o conto ''O estranho caso do Sr. Waldemar'' (Poe), no qual o dito Sr. Waldemar, prestes a morrer, é [[mesmerismo|mesmerizado]] e permanece vivo enquanto dura o transe. A idéia de escapar à morte é recorrente na Literatura de horror; além do óbvio ''Frankenstein'', temos ''Vento frio'', de [[Lovecraft]], cujo personagem principal, mesmo estando morto, consegue se manter vivo mediante sistema de refrigeração instalado em seu apartamento. Também de Lovecraft, existe ''O caso de Charles Dexter Ward'', com a idéia da reencarnação premeditada.
 
Linha 15:
 
=== História ===
O terror na [[literatura]] tem suas origens no [[folclore]] e em tradições religiosas, focando na [[morte]], na ideia de [[vida após a morte]], no [[mal]], em [[demônios]] e no princípio de ''algo'' incorporado à pessoa.<ref>{{citecitar booklivro|authorautor =Rosemary Jackson |yearano=1981|titletítulo=Fantasy: The Literature of Subversion|publisherpublicado=[[Methuen Publishing|Methuen]]|placelocal=London|pagespáginas=53–5, 68–9}}</ref> Estes manifestaram-se em histórias de [[bruxas]], [[vampiros]], [[lobisomens]], [[fantasmas]] e [[pactos]] com [[demônios]], tais como o que verifica-se no [[Fausto]] de [[Goethe]].
 
=== Terror Gótico no Século XVIII ===
[[File:Edgar Allan Poe 2.jpg|thumb|alt=A photograph of Edgar Allan Poe|[[Edgar Allan Poe]], autor de ''[[The Raven]]''.]]
O terror gótico do [[Século XVIII|décimo oitavo século]] teve suas origens com o seminal e controverso ''[[O Castelo de Otranto]]'' (1764) de [[Horace Walpole]]. Este marcou a primeira vez em que um romance moderno incorporou elementos do sobrenatural ao invés de elementos do realismo. Na realidade, a primeira versão foi publicada disfarçadamente como um romance medieval italiano que fora supostamente descoberto e posteriormente republicado por um fictício tradutor. Uma vez revelado como sendo um autor contemporâneo, muitos o consideraram anacrônico, reacionário ou simplesmente como portador de mau gosto, mas o mesmo provou-se como sendo popular imediatamente.
Esta primeira obra de terror gótico inspirou obras como ''[[Vathek]]'' ([[1797]]) de [[Matthew Beckford]], ''[[Os Mistérios de Udolpho]]'' ([[1794]]), ''[[O Italiano]]'' ([[1796]]) de [[Ann Radcliffe]] e ''[[O Monge]]'' ([[1797]]) de [[Matthew Lewis]]. Uma significante quantidade de obras do gênero de terror nesta era foram escritas por mulheres, o que fez com que tais obras alcançassem uma maior audiência feminina, devido ao fato de as engenhosas protagonistas femininas comumente sofrerem em soturnos castelos.<ref>{{citecitar booklivro|authorautor =Richard Davenport-Hines|yearano=1998|titletítulo=Gothic: 1500 Years of Excess, Horror, Evil and Ruin|placelocal=London|publisherpublicado=Fourth Estate}}</ref>
 
=== Terror Gótico no Século XIX ===
[[File:Mary Wollstonecraft Shelley Rothwell.tif|left|thumb|[[Mary Shelley]] (Autora de [[Frankenstein]]) por [[Richard Rothwell]] (1840–1841).]]
A tradição gótica floresceu ao gênero moderno que os leitores chamam de "terror literário" a partir do [[século XIX]]. Influentes obras e personagens que continuam a ressoar através do cinema nos dias de hoje viram seu ''genesis'' em obras como o ''[[Frankenstein]]'' de [[Mary Shelley]] ([[1818]]), os contos de [[Edgar Allan Poe]], os trabalhos de [[Sheridan Le Fanu]], o ''[[Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde]]'' ([[1886]]) de [[Robert Louis Stevenson]] e o ''[[Drácula de Bram Stoker]]'' ([[1897]]). Cada uma destas obras criaram um contínuo ícone de horror que fora visto em modernas ''re-imaginações'' manifestadas em palco ou em tela de cinema.<ref>{{cite bookcitar livro|authorautor =Christopher Frayling |yearano=1996|titletítulo=Nightmare: The Birth of Horror|placelocal=London|publisherpublicado=BBC Books}}</ref>
 
=== Terror Gótico no Século XX ===
Linha 30:
 
A proliferação de baratas revistas periódicas na virada do século popularizou a ideia de escrever obras do gênero de terror. Um autor que especializou-se em terror às massas através de revistas como a ''[[All-Story Magazine]]'' foi o [[Tod Robbins]], cuja ficção lidou com temas de [[loucura]] e [[crueldade]].<ref>[[Brian Stableford]], "Robbins, Tod", in [[David Pringle]], ed., ''St. James Guide to Horror, Ghost & Gothic Writers'' (London: St. James Press, 1998) ISBN 1558622063 (pp. 480-1).</ref>
<ref>[[Lee Server]]. ''Encyclopedia of Pulp Fiction Writers''. New York: Facts On File, 2002. ISBN 978-0-8160-4578-5 (pp. 223-224).</ref> Posteriormente, publicações especializadas emergiram para dar aos escritores do gênero de terror uma saída, entre estas, a ''[[Weird Tales]]''<ref>[[Robert Weinberg (author)|Robert Weinberg]], "Weird Tales" in M.B Tymn and Mike Ashley, ''Science Fiction, Fantasy, and Weird Fiction Magazines''. Westport, CT: Greenwood, 1985.ISBN 0-313-21221-X (pp. 727-736).</ref> (Revista na qual [[H.P Lovecraft]] publicou seus primeiros trabalhos) e ''[[Unknown Worlds]]''.<ref>"Unknown". in: M.B. Tymn and Mike Ashley, Science Fiction, Fantasy, and Weird Fiction Magazines. Westport: Greenwood, 1985. pp.694-698. ISBN 0-313-21221-X</ref>.
[[Ficheiro:Haunted4April.jpg|thumb|left|Revista em quadrinhos This Magazine is Haunted # 4, Fawcett Comics (Abril de 1952). Arte de [[Sheldon Moldoff]].]]
Influentes autores do gênero de terror do início do [[século XX]] tiveram o início de suas carreiras através destes meios. Especialmente, o venerado autor de terror fantástico [[H.P Lovecraft]], que com seu duradouro [[Cthulhu Mythos]], foi pioneiro no gênero de [[cosmicismo|horror cósmico]], e [[M. R. James]] é creditado por redefinir as estórias do sobrenatural daquele tempo.
O início do cinema foi inspirado por muitos aspéctos do horror na literatura, e o começo do terror no cinema deu início a uma forte tradição de [[Filme de terror|filmes de horror]] e subgêneros baseados em ficção de terror que continua até os dias de hoje. Do início, subindo até as representações de [[violência]] e demasiada quantidade de sangue na tela, comumente associadas com os filmes e [[histórias em quadrinhos]], tais como os publicados pela [[EC Comics]], famosa por séries como a ''[[Tales From The Crypt]]'' na década de 1950, alvo de críticas do psiquiatra [[Fredric Wertham]] em seu livro [[Seduction of the Innocent]] (1954)<ref>Jones, Gerard. Homens do Amanhã - geeks, gângsteres e o nascimento dos gibis. [S.l.]: [[Conrad Editora]], 2006. ISBN 85-7616-160-5</ref> e a [[Warren Publishing]] nas década de 1960 e 1970,<ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20100829164910/http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/chiaroscuro_nomenclatura.cfm|titulo=Quando a nomenclatura faz a diferença|autor=Sérgio Codespoti |data=8 de maio de 2008|obra=Universo HQ|língua2=pt|acessodata=16 de maio de 2010}}</ref><ref>{{citar web|url=http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=materias&cod_materia=275|título=Warren - O melhor terror do mundo!|autor=[[Roberto Guedes]]|data=06/10/2004|publicado=[[HQManiacs]]|acessodata=}}</ref> leitores satisfizeram-se em suas buscas por imagens de horror que a prateada tela de cinema não podia proporcionar, graças a estes quadrinhos.
 
Muitas obras modernas que transmitem uma descrição de "mortos vivos" podem ter sua origem em contos de [[H.P Lovecraft]], tais como ''[[Cool Air]]'' ([[1925]]), ''[[In The Vault]]'' ([[1926]]) e ''[[The Outsider]]'' ([[1926]]). O romance ''[[I Am Legend]]'' de [[Richard Matheson]] de [[1954]] também influenciou uma inteira geração de ficção apocalíptica relacionada a ideia de "[[zumbis]]", emblemática dos filmes de [[George A. Romero]].
Linha 39:
=== Terror Contemporâneo ===
[[File:Stephen King, Comicon.jpg|thumb|[[Stephen King]], autor de ''[[O Iluminado (livro)|O Iluminado]]'', na [[San Diego Comic-Con|Comicon]].]]
Um dos mais populares escritores de terror contemporâneo é o [[Stephen King]], conhecido por ter escrito as famosas obras ''[[Carrie]]'', ''[[O Iluminado (livro)|O Iluminado]]'', ''[[It (livro)|It]]'', ''[[Misery (livro)|Misery]]'' e muitas outras.<ref>[[Richard Bleiler]], "Stephen King" in: Bleiler, Ed. ''Supernatural Fiction Writers: Contemporary Fantasy and Horror.'' New York: Thomson/Gale, 2003, ISBN 9780684312507. (pp. 525-540).</ref> Tendo iniciado o seu trabalho na década de 1970, King conseguiu atrair uma enorme audiência, motivo este que fez com que a ''[[U.S. National Book Fundation]]'' o premiasse em 2003.<ref>{{citecitar newsjornal| url = http://news.google.com/newspapers?id=Uj4fAAAAIBAJ&sjid=kscEAAAAIBAJ&pg=1529,1684719&dq=national+book+award+stephen+king&hl=en| title título= Stephen King receives honorary National Book Award| authorautor = Hillel Italie| work obra= Ellensburg Daily Record|data=18 datede =setembro September 18,de 2003| accessdate acessodata= 2010-09-12| quote citação= Stephen King, brand-name writer, master of the horror story and e-book pioneer, has received an unexpected literary honor: a National Book Award for lifetime achievement.}}</ref> [[Brian Lumley]], [[James Herbert]], [[Dean Koontz]], [[Clive Barker]],<ref>[[K.A. Laity]],"Clive Barker" in Richard Bleiler, ed. ''Supernatural Fiction Writers: Contemporary Fantasy and Horror''. New York: Thomson/Gale, 2003.
ISBN 9780684312507 (pp. 61-70).</ref>, [[Ramsey Campbell]]<ref>K.A. Laity, "Ramsey Campbell",in Richard Bleiler, ed. ''Supernatural Fiction Writers: Contemporary Fantasy and Horror''. New York: Thomson/Gale, 2003. ISBN 9780684312507 (pp. 177-188.)</ref> e [[Peter Straub]] também são autores de horror contemporâneo populares.
Sequências de livros ''[[best-selling]]'' de tempos contemporâneos estão relacionadas com ficção de horror, tais como a [[fantasia urbana]] de lobisomens [[Kitty Norville]] de [[Carrie Vaughn]], e a ficção gótica e erótica de [[Anne Rice]]. Elementos do gênero de horror continuam a se expandir para além do gênero de terror em si.
 
Linha 50:
*[[Stephen King]]
*[[Clive Barker]]
*[[Lovecraft]]
*[[Bram Stoker]]
*[[Mary Shelley]]
Linha 70:
'''Romances'''
 
*''O castelo de Otranto *Drácula
*Frankenstein
*Vatekh
Linha 79:
*Eu sou a lenda
* O demônio do Gólgota
* A hora do Vampiro
 
 
Linha 103:
O compositor francês [[Camille Saint-Saëns]] (1835–1921) terminou de compor em [[1874]] a sua Dança Macabra (''[[Danse Macabre]]''), obra esta que foi baseada em uma antiga superstição francesa (Superstição esta que diz que a figura da [[morte]] aparece à meia-noite de [[Halloween]]). Na obra, a figura da morte chama os mortos de suas tumbas para dançarem ao som de seu violino.
* {{IMSLP2|id=Danse_Macabre%2C_Op.40_%28Saint-Sa%C3%ABns%2C_Camille%29|cname=Danse macabre}}
[[FileImagem:C. Saint-Saëns - Danse Macabre - SH vs Arsène Lupin, Lupin découvert.ogg|Trecho da Danse Macabre.|thumb]].
[[Harold Dexter Hoopes]] produziu uma animação de Halloween da Danse Macabre baseada na superstição original que inspirou o compositor.<ref>
[http://rarehalloweenvideos.blogspot.nl/2011/10/1980s-danse-macabre-from-pbs.html Rare Halloween Videos Blog]</ref>
Linha 110:
[[File:Franz Liszt c1869 by Franz Seraph Hanfstaengl.jpg|thumb|[[Franz Liszt]] em [[1869]] por [[Franz Seraph Hanfstaengl]].]]
[[File:Liszt Totentanz.ogg|thumb|[[Totentanz]] de Liszt.]]
Alguns dos títulos das peças de [[Franz Liszt]], como [[Totentanz]], [[Funérailles]], [[La Lugubre Gondola]], [[Pensée des Morts]], mostram a fascinação que o compositor tinha com o tema da [[morte]]. Quando jovem, Liszt já apresentava esta fascinação através da [[religião]], demonstrando interesse em temas como [[céu]] e [[inferno]]. Segundo [[Alan Walker]],<ref>{{cite bookcitar livro|último last=Walker |primeiro first=Alan |autorlink authorlink=Alan Walker (musicologist)| titletítulo=Franz Liszt: The Virtuoso Years 1811-1847 | publisherpublicado=Faber and Faber | datedata=1983 | pagepágina=152}}</ref>, Liszt frequentava [[hospitais]], [[casinos]] e [[sanatórios]] [[paris]]ienses no início da década de [[1830]], e ele até visitou masmorras de prisioneiros para observar os condenados que estavam prestes a morrer.
 
== Ver também ==
* [[Queer Horror]]
* [[Terror psicológico]]
* [[Lista de filmes de terror]]
* [[Filme de suspense]]