Catarina de Siena: diferenças entre revisões
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{{misticismo cristão}}
'''Catarina de Siena''' [[T.O.S.D.]], nascida ''Caterina Benincasa'' ([[Siena]], [[25 de março]] de [[1347]] {{mdash}} [[Roma]], [[29 de abril]] de [[1380]]), foi uma [[ordem terceira|terceira]] da [[Ordem dos Pregadores]] (dominicanos), [[escolasticismo|filósofa escolástica]] e teóloga do século XIV. Lutou arduamente para trazer o [[papado]] de [[Gregório XI]] de volta para [[Roma]] durante o chamado "[[Grande Cisma do Ocidente|Cisma do Ocidente]]", um período de quase um século no qual se estabeleceu o [[papado de Avinhão]], e também foi fundamental para a restauração da paz entre as [[Lista de províncias da Itália|cidades-estado italianas]].
Desde 18 de junho de 1866, ela é uma das duas [[santo padroeiro|padroeiras]] da [[Itália]] juntamente com [[São Francisco de Assis]].<ref name=Vatican>{{citar web|url = http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/briefs/documents/hf_p-xii_brief_19390618_patroni-italia_it.html| título = Patronos da Itália| publicado = Site oficial do Vaticano| língua = inglês}}</ref>
== Biografia ==
Caterina Benincasa nasceu em 25 de março de 1347 na cidade de [[Siena]] devastada pela [[peste negra]], filha de Jacopo Benincasa, um [[tinturaria|tintureiro]] que tocava seus negócios com a ajuda de seus filhos, e Lapa Piacenti, que pode ser a filha de um poeta local,<ref name=gardner>{{1913CE|St. Catherine of Siena}}</ref>
Uma criança muito feliz, Catarina recebeu da família o apelido carinhoso de "Eufrosina", que deriva da palavra [[língua grega|grega]] para "alegria" e era também o nome de uma das santas cristãs mais antigas, [[Santa Eufrosina]].<ref name=crawley>[http://www.ewtn.com/library/MARY/CATSIENA.HTM ''Lives of Saints'', John J. Crawley & Co., Inc.]</ref>
Segundo o [[confissão (sacramento)|confessor]] e, posteriormente, biógrafo de Catarina, [[Raimundo de Cápua]], [[O.P.]], Catarina teve a primeira de suas [[visão (religião)|visões]] de [[Jesus Cristo]] quando tinha apenas cinco ou seis anos de idade. Ela estava voltando pra casa com o irmão de uma visita à casa de uma de suas irmãs casadas e viu [[Cristo em Majestade|Cristo entronado]] em majestade com os [[apóstolos]] [[São Pedro|Pedro]], [[Paulo de Tarso|Paulo]] e [[João Evangelista|João]]. Raimundo conta ainda que, ao sete, Catarina jurou [[vida consagrada|dedicar sua vida a Deus]]<ref name=crawley/><ref>Raimundo de Cápua, ''Legenda Major'' I, iii.</ref>
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Ainda atormentada pelo luto pela morte de sua irmã mais velha, Boaventura, a jovem Catarina, com apenas dezesseis anos, foi pressionada pelos pais a se casar com o viúvo dela. Absolutamente contrária à ideia, iniciou um duríssimo [[jejum]], prática que havia aprendido com a irmã recém-falecida e cujo marido não apreciava, pois mais de uma vez Boaventura havia conseguido mudar suas atitudes recusando-se a comer. Mais adiante, Catarina desapontou a mãe ao cortar os longos cabelos para protestar contra a constante pressão para que melhorasse sua aparência para conseguir atrair um bom marido<ref name=foley>[http://www.americancatholic.org/Features/Saints/saint.aspx?id=1368 Foley O.F.M., Leonard. ''Saint of the Day, Lives, Lessons, and Feast'', (revised by Pat McCloskey O.F.M.), Franciscan Media], ISBN 978-0-86716-887-7</ref>
Muito depois, Catarina recomendaria que Raimundo de Cápua, quando tivesse que enfrentar um problema, seguisse uma prática que criara em sua adolescência: ''"Construa uma cela em sua mente da qual você jamais possa escapar"''. Nesta cela mental, ela transformou seu pai numa representação de Cristo, sua mãe, na [[Virgem Maria]], e seus irmãos, nos [[apóstolos]]. Servi-los com humildade tornou-se uma oportunidade de crescimento espiritual para ela e, desta forma, Catarina conseguiu resistir ao costume do casamento e da maternidade por um lado e, por outro, a tornar-se uma [[freira]], escolhendo viver uma vida ativa e piedosa fora do [[claustro]] dos [[convento]]s, mas seguindo o modelo dos [[dominicanos]].<ref name=bellitto>[http://www.americancatholic.org/Messenger/Nov1999/feature2.asp#F5 Bellitto, Christopher M. "10 Great Catholics of the Second Millennium", ''St. Anthony Messenger'']</ref>
Uma visão de [[São Domingos de Gusmão|São Domingos]] deu-lhe ainda mais forças, mas seu desejo de juntar-se à sua ordem incomodava Lapa, que levou a filha consigo até as termas em [[Bagno Vignoni]] numa tentativa de melhorar sua saúde. Ao contrário do esperado, Catarina ficou muito doente, acometida de uma violenta coceira, febre e dores no corpo, o que, convenientemente, serviu como pretexto para que sua mãe aceitasse tentar conseguir a sua admissão no ''"Mantellato"'', a associação local dos [[T.O.S.D.|terceiros dominicanos]].<ref name="Siena. Available Means 2001">Catherine of Siena. Available Means. Ed. Joy Ritchie and Kate Ronald. Pittsburgh, Pa.: University of Pittsburgh Press, 2001. Print.</ref>
Por volta de 1368, aos vinte e um anos, Catarina experimentou o que ela própria descreveu em suas cartas como um "[[casamento místico]]" com Jesus{{sfn|Raymond of Capua, Life, pp. 99-101}}, um tema que se tornaria extremamente popular na [[arte cristã]] com o nome de "[[Casamento Místico de Santa Catarina]]". ''"Sublinhando o tanto que este casamento era uma fusão física com Cristo [...] Catarina recebeu não um anel de ouro e jóias que seu biógrafo relata em sua versão atenuada, mas o anel do [[Santo Prepúcio|prepúcio de Cristo]]"''<ref>{{
Conforme as tensões políticas e sociais se aprofundavam em Siena, Catarina se viu tentada a intervir na arena política. Ela viajou pela primeira vez para [[Florença]] em 1374, provavelmente para ser entrevistada pelas autoridades dominicanas no [[capítulo geral]] que se realizou em maio de 1374, embora o tema seja ainda debatido: se ela foi de fato entrevistada, a ausência de evidências sugere que ela foi considerada suficientemente ortodoxa.<ref name=foley/>
Depois desta viagem, Catarina passou a viajar com seus seguidores pelas regiões norte e central da Itália defendendo a reforma do [[clero]] e aconselhando o povo que o [[arrependimento]] e a renovação poderiam ser alcançados através ''"do amor total a Deus"''{{sfn|Hollister, p. 342}}. Em Pisa, em 1375, Catarina utilizou de toda sua influência para evitar que a cidade e também [[Lucca]] se aliassem às forças contrárias ao papa, que na época vinham se fortalecendo e ganhando momento. Ela também ajudou com seu entusiasmo na formação de uma nova [[cruzada]]. Segundo Raimundo, foi em Pisa, em 1375, que ela recebeu seus ''[[estigma (fenômeno)|estigma]]s'' (visíveis, depois de um pedido dela, somente para ela){{sfn|Noffke, p. 5}}
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Suas viagens não eram a única forma que Catarina utilizava para fazer conhecer suas opiniões. A partir de 1375{{sfn|Noffke, p. 5}}, ela começou a ditar cartas para diversos assistentes<ref name="Siena. Available Means 2001"/> endereçadas inicialmente a homens e mulheres de seu círculo de amigos e, gradativamente, a uma audiência mais ampla, incluindo figuras políticas a quem ela pedia paz e o retorno do [[papado de Avinhão]] para Roma. Ela manteve ainda uma duradoura correspondência com o [[papa Gregório XI]], na qual pedia-lhe que reformasse o clero e a administração dos [[Estados Papais]].
No final de 1375, Catarina retornou para Siena para ajudar um jovem prisioneiro político, Niccolò di Tuldo, em sua execução{{sfn|Noffke, p. 5}}.<ref>Carta T273, destinada a Raimundo provavelmente em junho de 1375, trata do tema.</ref>
Catarina voltou para Siena e passou os primeiros meses de 1377 fundando um mosteiro [[estrita observância]] para mulheres fora da cidade, na antiga fortaleza de Belcaro{{sfn|Noffke, p. 6}}. O resto do ano passou em Rocca d'Orcia, por volta de 35 quilômetros de Siena, numa missão de paz e pregação. Durante o período, no outono de 1377, ela teve uma nova experiência que a levou a escrever seu "Diálogo" e a passar a escrever por conta própria, apesar de continuar utilizando assistentes em suas correspondências.<ref name=gardner/><ref>Esta experiência está descrita na carta 272, escrita a Raimundo, em outubro de 1377.</ref>
No final de 1377 ou início do ano seguinte, Catarina foi novamente para Florença por ordem de Gregório XI para tentar negociar a paz entre florentinos e romanos. Depois da morte do papa em março de 1378, [[Revolta dos Ciompi|revoltas]] irromperam em Florença a partir de 18 de junho e, na violência que se seguiu, Catarina quase foi morta. Finalmente, em julho, a paz foi negociada entre as duas cidades e ela pôde voltar para casa.
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No final de novembro de 1378, depois do [[Grande Cisma do Ocidente|cisma]], o novo papa, [[papa Urbano VI|Urbano VI]], convocou-a a Roma e ela permaneceu na corte papal tentando convencer nobres e [[cardeal|cardeais]] da legitimidade do novo papa romano, pessoalmente ou através de suas cartas{{sfn|Noffke, p. 6}}.
Por muitos anos, Catarina se acostumou a períodos de rigorosa abstinência.<ref>[http://www.ewtn.com/library/MARY/CSIENA.HTM Butler, Alban. ''The Lives or the Fathers, Martyrs and Other Principal Saints'', Vol.IV, D. & J. Sadlier, & Company, (1864)]</ref>
== Fontes para vida de Catarina ==
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Três tipos diferentes de obras de Catarina de Siena chegaram aos nossos dias:
* Seu principal tratado é o "O Diálogo da Providência Divina", iniciado provavelmente em outubro de 1377 e certamente terminado em novembro do ano seguinte. Contemporâneos de Catarina afirmam unanimemente que a maior parte da obra foi ditada enquanto Catarina experimentava seus [[êxtase religioso|êxtases]], embora seja possível também que a própria Catarina possa, depois, ter reeditado muitas passagens no livro{{sfn|Noffke, p. 13}}. Trata-se de um diálogo entre uma alma que ascende a Deus e o próprio [[Deus]].
* As cartas de Catarina são consideradas uma das grandes obras da literatura toscana primitiva. Muitas delas foram ditadas, embora a própria Catarina tenha aprendido a escrever em 1377. Quase quatrocentas sobreviveram. Em suas cartas ao [[papa]], ela geralmente se refere a ele afetuosamente simplesmente como ''"papa"'' ("papai") ao invés do [[
* 26 orações de Catarina de Siena também sobreviveram, a maioria composta nos últimos dezoito meses de sua vida.
== Veneração ==
Catarina foi enterrada no cemitério de [[Santa Maria sopra Minerva]], uma [[basílica]] perto do [[Panteão (Roma)|Panteão]], em [[Roma]]. Depois que [[milagre]]s passaram a ser relatados perto do túmulo, Raimundo moveu-o para dentro da basílica,<ref name=grave>{{
Sua cabeça, porém, foi separada de seu corpo e colocada no interior de um busto de [[bronze]] que, posteriormente, foi levado para Siena para ser carregado pela cidade durante as [[procissão|procissões]] dominicanas. Nas primeiras, caminhava atrás dele Lapa, a mãe de Catarina, que viveu até os 89 anos e já havia presenciado o fim da riqueza e da felicidade de sua família. Tendo sobrevivido a todos os seus filhos e a diversos netos, Lapa ajudou Raimundo a escrever a biografia de Catarina e afirmou: ''"Acredito que Deus tenha colocado minha alma de través no meu corpo para que ela não consiga sair"''.<ref>{{
O [[papa Pio II]], nascido em Siena, [[canonização|canonizou]] Santa Catarina em 29 de junho de 1461.<ref name=beckwith>[http://www.americancatholic.org/Messenger/Apr2006/Feature1.asp Beckwith, Barbara. "St. Catherine of Siena: A Feisty Role for Sister Nancy Murray", ''St. Anthony Messenger'']</ref>
[[Ficheiro:Sarcophagus of Saint Catherine of Siena.jpg|thumb|direita|300px|Túmulo de Santa Catarina em [[Santa Maria sopra Minerva]], em [[Roma]].]]
Inicialmente, porém, sua festa não foi incluída no [[calendário romano]]. Quando foi, em 1597, a data escolhida foi a de sua morte, 29 de abril; porém, como a data já estava ocupada pela festa de [[São Pedro de Verona]], a de Catarina foi movida, em 1628, para o dia 30 de abril.<ref>''"Calendarium Romanum"'' (Libreria Editrice Vaticana, 1969), p. 91.</ref>
=== Padroeira ===
Num decreto em 13 de abril de 1866, [[Papa Pio IX|Pio IX]] declarou Santa Catarina co-padroeira de Roma. Em 18 de junho de 1939, [[papa Pio XII|Pio XII]] declarou-a padroeira da Itália juntamente com [[São Francisco de Assis]].
Em 1 de outubro de 1999, [[São João Paulo II]] tornou-a também padroeira da [[Europa]].<ref name=Vatican2/><ref name=Vatican3/>
=== Iconografia ===
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* Blessed Raymond of Capua, ''The Life of St. Catherine of Siena,'' tr. George Lamb (Rockford, Illinois: TAN Books, 2003)
* Catherine of Siena, ''The Dialogue'', ed. Suzanne Noffke, (Paulist Press, New York, 1980) ISBN 0-8091-2233-2
* Hollister, Warren C. and Bennett, Judith M. ''Medieval Europe: A Short History'', 9th ed., (McGraw-Hill Companies Inc, Boston, 2002)
* Skårderud, Finn. ''Holy anorexia: Catherine of Siena'', (Tidsskrift for norsk psykologforening, Oslo, 2008)
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* The most recent Italian critical edition of the Letters is Antonio Volpato, ed, ''Le lettere di Santa Caterina da Siena: l'edizione di Eugenio Duprè Theseider e i nuovi problemi'', (2002)
* Carolyn Muessig, George Ferzoco, Beverly Mayne Kienzle, eds, ''A companion to Catherine of Siena'', (Leiden: Brill, 2012).
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* Cross, F. L., ed. (1957) ''The Oxford Dictionary of the Christian Church''. Oxford U. P.; p. 251
* {{citar livro|sobrenome=Ferretti|nome=Lodovico|título=Catherine de Sienne|editora=Cantagalli|ano=1998|páginas=176|local=Siena|ref=Harv}}
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* Phyllis Hodgson and Gabriel M Leigey, ''The Dialogue'', eds, ''The Orcherd of Syon'', (London; New York: Oxford UP, 1966).
* Catherine of Siena, ''The Dialogue of the seraphic virgin Catherine of Siena'', trans Algar Thorold, (London: Kegan Paul, Trench, Trübner & Co, 1896).
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* ''The Prayers of Catherine of Siena'', trans Suzanne Noffke, 2nd edn 1983, (New York, 2001)
* {{
* Girolamo Gigli, ed, ''L'opere di Santa Caterina da Siena'', 4 vols, (Siena e Lucca, 1707-1721)
* ''The Dialogue of St. Catherine of Siena'', [[TAN Books]], 2009. ISBN 978-0-89555-149-8
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