Expedição Shackleton–Rowett: diferenças entre revisões

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Shackleton tinha decidido voltar a sua atenção da Antárctica para norte, e "preencher este espaço em branco chamado de [[mar de Beaufort]]".<ref name= Fisher442>Fisher, pp. 442–45</ref> Esta região do oceano Árctico, a norte do [[Alasca]] e a oeste do [[Arquipélago Ártico Canadiano]], estava, na sua maioria, por explorar; Shackleton acreditava, tendo por base os registos das marés, que o mar tinha grandes porções de terra por descobrir, e que "seriam de grande interesse científico para o mundo, para além do potencial valor económico ".<ref name= Fisher442/> Ele também esperava alcançar o [[Polo de inacessibilidade|polo de inacessibilidade norte]], o ponto mais remoto da região árctica.<ref>Wild, p. 2</ref> Em Março de 1920, os seus planos receberam a aprovação geral da [[Real Sociedade Geográfica (Reino Unido)|Real Sociedade Geográfica]] (RSG) e foram apoiados pelo governo do Canadá. De seguida, Shackleton deu início à recolha de fundos necessário,os quais estimou em {{formatnum:50000}} libras esterlinas (cerca de 1,6 milhões de libras em 2008).<ref name= Fisher442/><ref>{{citar web|título= Measuring Worth|url= http://www.measuringworth.com/ppoweruk/|publicado= Institute for the Measurement of Worth|acessodata= 21 de Novembro de 2008}}</ref> Mais tarde naquele ano, Shackleton encontrou, por mero acaso, um ex-colega de escola, [[John Quiller Rowett]], o qual concordou em criar um fundo inicial para permitir a Shackleton começar a organizar a expedição. Com este dinheiro, Shackleton conseguiu, em Janeiro de 1921, comprar o baleeiro norueguês de madeira ''Foca I'', adquirir outro equipamento, e recrutar a sua tripulação.<ref name= Fisher442/>
 
Em maioMaio de 1921, os planos canadianos foram abandonados. Com a mudança de governo (o primeiro-ministro era agora [[Arthur Meighen]]), a política relativa aos fundos da expedição foi alterada, cessando o apoio a Shackleton.<ref name= Huntford680>Huntford, pp. 680–82</ref> A reacção de Shackleton foi no sentido de reorientar a sua expedição. Em meados de maioMaio, o seu associado [[Alexander Macklin]], que se encontrava no Canadá a comprar cães, recebeu um telegrama a informá-lo de que o no destino era a Antárctida; a exploração do mar de Beaufort tinha sido substituída por um abrangente programa de exploração, mapeamento costeiro, prospecção mineral e pesquisa oceanográfica nas águas do sul.<ref name= Fisher442/>
 
==Preparativos para a Antárctida ==
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===Objectivos===
[[File:Shack-endurance.jpg|thumb|upright|[[Ernest Henry Shackleton|Ernest Shackleton]], líder da expedição]]
Mesmo antes do impasse com o governo canadiano, Shackleton tinha pensado uma expedição ao sul como alternativa ao mar de Beaufort. De acordo com o bibliotecário da [[Hugh Robert Mill]], já em março de 1920 Shackleton tinha mencionado dois possíveis planos — a exploração do mar de Beaufort Sea; e "uma expedição oceanográfica com o objectivo de visitar todas as pequenas ilhas conhecidas do Atlântico Sul e Pacífico Sul".<ref>Mills, p. 287</ref> Por volta de junhoJunho de 1921, a sua ideia era de alargar a exploração a uma circum-navegação do continente antárctico, e o mapeamento de 3200&nbsp;km de linha costeira não cartografada. Também incluía uma busca por ilhas sub-antárcticas "perdidas" ou mal cartografadas (incluindo a [[Ilha Dougherty]], [[Tuanaki]] e as [[Ilhas Nimrod]]),<ref>Harrington, p. 1</ref><ref name="Spokesman-Review">{{citar web|url=http://news.google.com/newspapers?id=FrFXAAAAIBAJ&sjid=uPMDAAAAIBAJ&pg=6442,621950&dq=quest+south+georgia&hl=en |título=Shackleton, Antarctic Explorer, is Dead |obra=[[The Spokesman-Review|The (Spokane) Spokesman-Review]] |acessodata=17 de Março de 2012 |formato=}}</ref> pesquisa de possíveis recursos minerais nestas ilhas, e um programa abrangente e ambicioso de pesquisa científica.<ref name= Fisher446/> Esta deveria incluir medições de profundidade à volta da [[ilha Gough]] para analisar uma alegada "ligação continental submarina entre África e a América."<ref>{{citar jornal|título=Shackleton to Sail to Antarctic Again |obra=New York Times |página=13 |data=29 de Junho de 1921 |url=http://query.nytimes.com/gst/abstract.html?res=9B02E2DE1731EF33A2575AC2A9609C946095D6CF }}</ref> A biógrafa de Shackleton, Margery Fisher, caracteriza o plano como ''"diffuse"'' e "demasiado ambicioso para um pequeno grupo de homens levar a cabo num espaço de dois anos ".<ref name= Fisher446>Fisher, pp. 446–49</ref> De acordo com o biógrafo [[Roland Huntford]], a expedição não tinha um objectivo principal e era "não mais do que algo improvisado, um pretexto para [Shackleton] se ir embora ".<ref name="Huntford684"/>
 
Fisher descreve a expedição como representando "a linha separadora entre o que se tornou conhecido como a Idade Heroica da Antárctida e a Idade Mecânica ".<ref name= Fisher446/> Shackleton chamou à viagem "pioneira", referindo-se, em particular, à aeronave que foi levada (mas que acabou por não ser utilizada) na expedição.<ref name= Fisher446/> De facto, este foi um, entre muitos, dos aspectos tecnológicos marcantes que marcaram o empreendimento. O cesto da gávea estava aquecido electricamente; os locais de vigia também eram aquecidos, e estavam equipados com sistemas de transmissão sem fios e com um aparelho designado por [[odómetro]] que podia traçar e cartografar a rota do navio automaticamente.<ref name= Fisher446/> A fotografia encontrava-se por toda a parte, e "foi adquirido um largo conjunto de câmaras, máquinas cinematográficas e diverso material fotográfico".<ref>Frank Wild, citado por Leif Mills, p. 289</ref> Entre o equipamento de pesquisa oceanográfica encontrava-se um aparelho de medição de profundidade designado por Lucas.<ref>Wild, p. 13</ref>
 
Todo este equipamento teve origem no apoio de Rowett, que alargou o âmbito do seu patrocínio para uma cobertura total dos custos de toda a expedição.<ref name= Leif287>Mills, pp. 287–88</ref> O investimento total de Rowett não é conhecido; um valor inicial calculado por Shackleton ascendia a "cerca de £100,000".<ref name= Fisher446/> Seja qual for o total, Rowett terá entrado com a maior parte do dinheiro, o que levou Frank Wild a mais tarde registar que, único entre as outras expedição antárcticas daquele período, esta terminou sem qualquer dívida.<ref>Wild (Preface)</ref><ref>Huntford (p. 693) regista que Rowett estimou o seu apoio em £70,000</ref> De acordo com Wild, sem o apoio de Rowett, a expedição não teria sido possível: "A sua generosa atitude é ainda mais marcante pois ele sabia que não haveria retorno financeiro, e o que ele fez foi no interesse da pesquisa científica e da amizade por Shackleton."<ref name= WildRGS>{{citar periódico|autorlink = Frank Wild|título= The Voyage of the "Quest"|periódico= The Geographical Journal|volume= 61|página= 74|data= fevereiroFevereiro de 1923}}</ref> O único reconhecimento a ele atribuído foi a inclusão do seu nome à designação da expedição.<ref name= Leif287/> Rowett era, segundo Huntford, um homem de negócios "com um olhar pesado, prosaico",<ref name= Huntford682>Huntford, p. 682</ref> co-fundador e principal contribuidor, em 1920, de um instituto de pesquisa de alimentação animal, em [[Aberdeen (Escócia)|Aberdeen]], conhecido como [[Rowett Research Institute]] (actualmente parte integrante da [[Universidade de Aberdeen]]). Ele também tinha patrocinado trabalhos de pesquisa dentária no [[Hospital de Middlesex]].<ref name= Huntford682/> Rowett não viveria muitos mais anos depois do regresso da expedição; em 1924, aos 50 anos de idade, suicidou-se, aparentemente por problemas financeiros.<ref>{{citar web|título= The Agricultural Association, the Development Fund, and the Origins of the Rowett Research Institute|url= http://www.bahs.org.uk/46n1a4.pdf|formato=PDF|publicado= British Agricultural History Society|acessodata= 5 de novembro de 2008}} Footnote, p. 60</ref>
 
===''Quest''===
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===Viagem em direcção ao sul ===
[[File:South georgia Islands map-en.svg|thumb|300px|[[Geórgia do Sul]], primeiro porto de paragem sub-antárctico da expedição. O porto [[Grytviken]] está indicado na costa norte.]]
O ''Quest'' partiu das [[Docas de St Katherine]], Londres, a 17 de setembroSetembro de 1921, depois de inspecionado pelo rei [[Jorge V do Reino Unido|Jorge V]].<ref>Huntford, p. 683</ref> A multidão juntou-se nas margens do rio e nas pontes, para testemunhar o evento. Marr escreveu no seu diário que pareceia que "toda a Londres se tinha juntado para nos desejar uma emocionada despedida".<ref name= Fisher460/>
 
A intenção original de Shackleton era de rumar para a [[Cidade do Cabo]], visitando as ilhas do Sul do Atlântico pelo caminho. Da Cidade do Cabo, o ''Quest'' deveria dirigir-se para a [[Terra de Enderby]], na costa da Antárctida, onde, uma vez no gelo, exploraria a linha costeira em direcção à [[Terra de Coats]], no [[mar de Weddell]]. No final da estação do Verão, o navio seguiria para [[South Georgia]] antes de regressar à Cidade do Cabo, para efectuar trabalhos de manutenção e preparação para o segundo ano da expedição.<ref name= Fisher460/> No entanto, o desempenho do navio nas primeiras fases da viagem alterou o calendário planeado. Problemas graves no motor necessitaram que o navio ficasse uma semana em [[Lisboa]], seguindo-se outras paragens na Madeira e em [[Cabo Verde]].<ref name= Leif292>Mills, pp. 292–93</ref> Estes atrasos, e a velocidade lenta do navio, alterou o plano de Shackleton que pretendia visitar as ilhas do Atlântico Sul e, em vez disso, dirigiu-se para o [[Rio de Janeiro]], onde o motor foi sujeito a uma manutenção mais profunda. O ''Quest'' chegou ao Rio de Janeiro a 22 de novembro de 1921.<ref name=Leif292/>
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===Morte de Shackleton===
No dia 17 de dezembroDezembro, um dia antes da partida planeada do ''Quest'' do Brasil, Shackleton adoeçeu. Poderá ter sofrido um ataque cardíaco;<ref>Huntford, p. 687</ref> Macklin foi chamado, mas Shackleton não quis ser examinado e afirmou que "se sentia melhor", na manhã seguinte.<ref name= Fisher471/><ref name="Mills, p. 294">Mills, p. 294</ref> Na viagem que se seguiu para a Geórgia do Sul, ele estava, de acordo com alguns membros da tripulação, estranhamente calmo e apático. Começou a beber champanhe de manhã "para acalmar a dor", contrariamente à sua regra de não permitir álcool a bordo.<ref name= Fisher471/> Um forte tempestade veio estragar a festa de Natal que estava planeada, e mais um problema no motor veio atrasar o progresso da expedição, e aumentar o stress de Shackleton.<ref>Fisher, pp. 473–76</ref> A 1 de janeiroJaneiro de 1922, as condições atmosféricas apresentavam-se calmas: "Calma depois da tempestade – o ano começou de forma simpática para nós ", escreveu Shackleton no seu diário.<ref name= Shackdiary>{{citar web|último = Shackleton|primeiro = Ernest|título= Diary of the ''Quest'' Expedition 1921–22|url= http://www.spri.cam.ac.uk/library/archives/shackleton/articles/1537,3,9.html|publicado= [[Instituto de Pesquisa Polar Scott]]|local= Cambridge|acessodata= 3 de Dezembro de 2008}}</ref> No dia 4 de janeiroJaneiro de 1922, a Geórgia do Sul foi avistada, e, mais tarde na manhã daquele dia, o ''Quest'' ancorou em Grytviken.
[[Imagem:Shackleton Grave SouthGeorgia.jpg|thumb|upright|left|Sepultura de sir Ernest Shackleton]]
Depois de visitar as instalações de pesca de baleia em terra, Shackleton regressou ao navio, aparentemente, bem-disposto. Disse a Frank Wild que iriam celebrar o Natal atrasado no dia seguinte, e retirou-se para a sua cabina para escrever no seu diário.<ref name="Mills, p. 294"/><ref name= Fisher476>Fisher, pp. 476–77</ref> "O velho cheiro de baleias mortas pentra em todo o lado ", escreveu. "É um lugar estranho e curioso....Um fim de tarde maravilhoso. No escurecer do crepúsculo, observei uma estrela solitária, qual pedra preciosa a pairar sobre a baía."<ref name= Shackdiary/> Mais tarde adormeceu, e o cirurgião McIlroy, que tinha terminado o seu turno de vigia, ouviu-o ressonar.<ref name= Fisher476/> Pouco depois das duas horas da manhã do dia 5 de janeiroJaneiro, Macklin, que tinha começado o seu turno, foi chamado à cabina de Shackleton. De acordo com o diário de Macklin, encontrou Shackleton a queixar-se de dores nas costas e com séria [[nevralgia]] facial, e a pedir analgésicos. Numa pequena troca de palavras, Macklin disse ao seu chefe que ele tinh-se esforçado muito nos últimos tempos, e que precisava de ter uma vida mais normal. Macklin lemra uma pergunta de Shackleton: "Estão sempre a dizer-me para eu desistir das coisas, de que devo eu desistir?" Macklin respondeu "Do álcool, Chefe, acho que não combina consigo."Logo a seguir, Shackleton "sofreu um forte ataque, durante o qual morreu ".<ref>Diário de Macklin, citado por Fisher, p. 477</ref><ref>Huntford, p. 690</ref>
 
A certidão de óbito, assinado por Macklin, indica a causa da morte como "[[Ateroma]] da artérias [[coronária]]s e falha cardíaca"—em termos médicos actuais, [[Trombose coronariana|trombose coronária]].<ref name= Fisher478/> Mais tarde nessa manhã, Wild, agora no comando, deu as notícias a uma tripulação em choque, e disse-lhes que a expedição iria continuar.<ref>Wild, p. 66</ref> O corpo foi levado para terra, para ser embalsamado, antes de regressar a Inglaterra. A 19 de janeiroJaneiro, Leonard Hussey acompanhou o corpo para bordo de um navio-a-vapor que seguia para [[Montevideo]], mas, à chegada, tinha uma mensagem de lady Shackleton, que pedia que o corpo regressasse à Geórgia do Sul para ser enterrado.<ref name= Fisher478/> Hussey acompanhou o corpo a bordo de um navio-a-vapor britânico, e voltou a Grytviken.<ref name= Fisher478>Fisher, pp. 478–81</ref> Ali, a 5 de março, Shackleton foi enterrado no cemitério norueguês; entretanto, o ''Quest'' tinha continuado viagem, e assim, dos antigos companheiros de Shackleton, apenas Hussey esteve presente.<ref>Wild, p. 69</ref> Na altura, apenas foi colocada uma cruz a marcar a sepultura; só passados seis anos é que seria substituída por uma coluna de granito.<ref>Ver Fisher, ilustrações pp. 480–81</ref>
 
===Viagem ao gelo ===
Como líder da expedição, Wild tinha que decidir onde a expedição iria agora. Kerr informou que o problema da caldeira era controlável, e depois de novos abastecimentos, tanto de alimentos como de equipamentos, com o que havia de disponível na Geórgia do Sul, Wild decidiu continuar de acordo com o plano original de Shackleton. Ele levaria o navio até à [[ilha Bouvet]] e daí para a frente, antes de virar para sul e entrar no gelo, tão perto quanto possível da Terra de Enderby Land, e dar início aos trabalhos de pesquisa costeira. A expedição também deveria investigar uma [[Ilha fantasma|"Aparição de Terra"]] na entrada do mar de Weddell, relatada por [[James Clark Ross]] em 1842, mas sem ser avistada desde então. No entanto, o que definiria o progresso da expedição seriam as condições atmosféricas, o estado do gelo, e o desempenho do navio.<ref>Wild, pp. 73–75 and 78–79</ref>
 
[[Imagem:Quest Antarctica.png|thumb|300px|Percurso do ''Quest'' entre 3 e 24 de fevereiroFevereiro de 1922, mostrando as várias tentativas de penetrar no gelo em direcção da costa antárctica <ref>Based on Wild, pp. 98–137</ref>]]
O ''Quest'' deixou a Geórgia do Sul a 18 de janeiroJaneiro em direcção a sudeste, para as [[Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul|ilhas Sandwich do Sul]]. Havia um pesado [[swell]], de forma que o sobrecarregado navio muitas vezes mergulhava suas amuradas abaixo das ondas, enchendo o ''waist'' com água.<ref>Wild, pp. 82–87</ref> À medida que iam navegando, Wild escreveu que o ''Quest'' rodava como um tronco, necessitava de bombear frequentemente a água que entrava, estava a consumir muito carvão e era lento. Todos estes factores levaram-no, no final de janeiroJaneiro, a mudar o seu plano. A ilha Bouvet foi abandonada em favor de uma rota mais favorável para sul, o que os levou até ao extremo do banco de gelo a 4 de fevereiroFevereiro.<ref>Wild, pp. 88–91 and p. 98</ref>
 
"Agora, o pequeno ''Quest'' poderá realmente mostrar o que vale ", escreveu Wild, quando o navio entrou numa zona de gelo solto.<ref name= Wild98>Wild, pp. 98–99</ref> Wild registou que o ''Quest''era o navio de menor dimensão que jamais tinha tentado penetrar no sólido gelo da Antárctida, e pensou no destino de outros que tentaram. "Será que vamos escapar, ou será que o ''Quest'' se irá juntar aos outros navios em Davy Jones's Locker?"<ref name= Wild98/>{{nota de rodapé|[[Davy Jones's Locker]] é uma expressão utilizada entre os marinheiros para indicar o fundo do mar.}} Nos dias que se seguiram, conforme iam navegando para sul, e com as temperaturas a caírem, o gelo ia ficando cada vez mais sólido. No dia 12 de fevereiroFevereiro, chegaram à latitude mais a sul que atingiriam, 69°17'S, e à longitude mais a leste, 17°9'E, ainda longe da Terra de Enderby. Vendo o estado do gelo do mar, e tememdo ficar preso, Wild "operou uma retirada rápida e enérgica " para norte e oeste.<ref>Wild, pp. 115–21</ref> Wild ainda tinha esperança de penetrar no gelo e tentar passar para território desconhecido. A 18 de fevereiroFevereiro, virou o navio para sul, de novo, mas também não conseguiu ser bem-sucedido.<ref>Wild, p. 132</ref> A 24 de fevereiroFevereiro, depois de várias tentativas, Wild estabeleceu uma rota através da entrada do mar de Weddell. A sua ideia era tentar visitar a [[ilha Elefante]] nas [[ilhas Shetland do Sul]], antes de regressar à Geórgia do Sul no começo do Inverno.<ref>Wild, p. 136</ref>
 
[[File:Elephant Island NOAA.jpg|thumb|left|Aproximação à [[ilha Elefante]] (fotografia de 1962)]]
Esta fase da viagem, ao longo do mar de Weddell, foi calma. Wild e Worsley não estavam dando-se bem, de acordo com Macklin,<ref>Mills, p. 303</ref> e não havia outro descontentamento entre a tripulação que Wild, por sua própria conta, tratava com ameaça de "tratamento mais drástico".<ref>Wild, pp. 137–39</ref> A 12 de março chegaram a 64°11'S, 46°4'W, onde Ross tinha relatado uma "Aparição de Terra " em 1842, mas não viram sinal de nada; uma análise de profundidade a mais de 4200 m nada indicou, o que significava que não havia terra por perto.<ref>Wild, p. 144</ref> Entre 15 e 21 de março, o ''Quest'' ficou preso no gelo, e a falta de carvão era a principal preocupação. Quando o navio se libertou do gelo, Wild estabeleceu uma rota directa para a [[ilha Elefante]] onde esperava que a sua reserva de carvão pudesse ser complementada com a gordura das focas.<ref>Mills, p. 304</ref> A 25 de Março, a ilha foi avistada. Wild queria visitar Cape Wild, o local onde a expedição do ''Endurance'' acampou, mas o mau tempo não o permitiu. Conseguiram ver o local através de binóculos, observando os antigos marcos, antes de desembarcarem na costa oeste para caçarem focas-elefante.<ref name= Leif305>Mills, p. 305</ref> Conseguiram obter gordura suficiente para misturar com o carvão e, com o vento a favor, chegaram à Geórgia do Sul no dia 6 de abrilAbril.<ref name= Leif305/>
 
===Regresso===
[[File:Tristan Map.png|thumb|300px|Mapa com a ilha [[Tristão da Cunha (arquipélago)|Tristão da Cunha]], [[Ilha Inacessível (Tristão da Cunha)|ilha Inacessível]] e a [[Ilha de Gonçalo Álvares]], [[oceano Atlântico]]]]
O ''Quest'' ficou na Géorgia do Sul durante um mês, tempo esse em que os antigos companheiros de Shackleton erigiram um memorial ao seu ex-líder, num local à situada na entrada do porto de Grytviken.<ref>Fisher, pp. 482–83</ref> O navio navegou , então, para a África do Sul a 8 de maioMaio. O primeiro porto de paragem, contudo, seria [[Tristão da Cunha (arquipélago)|Tristão da Cunha]], uma ilha remota habitada a sudoeste da [[Cidade do Cabo]]. Aqui, sob as ordens de [[Robert Baden-Powell|escuteiro-chefe]], Marr devia apresentar uma bandeira aos escuteiros locais.<ref>{{citar web|título=Shackleton-Rowett Expedition 50th anniversary, Tristan da Cunha |url=http://www.sossi.org/articles/tristan.htm |publicado=Scouts on Stamps Society International |acessodata=28 de novembro de 2008 }}</ref><ref name= Wild232/> Depois de uma passagem por "[[Roaring Forties]]", o ''Quest'' chegou a Tristão da Cunha, a 20 de maioMaio.<ref name= Leif306/>
 
Durante a estadia de cinco dias, com a ajuda de alguns habitantes a ilha, a expedição efectuou alguns curtos desembarques na pequena [[Ilha Inacessível (Tristão da Cunha)|ilha Inacessível]], 32&nbsp;km a sudoeste de Tristão, e visitaram a ainda mais pequena [[ilha Nightingale]], para recolher algumas espécies.<ref>Wild, pp. 206–14</ref> A impressão geral de Wild sobre a estadia em Tristão não foi muito positiva. Verificou a terrível miséria e pobreza em que viviam e escreveu sobre a população: "Eles são ignorantes, fechados ao mundo, enfim, terrivelmente limitados."<ref>Wild, p. 207</ref> Apesar desta descrição, a parada de escuteiros e a apresentação da bandeira, tiveram lugar antes do ''Quest'' rumar para a [[Ilha de Gonçalo Álvares]], 3200&nbsp;km a leste.<ref name= Wild232>Wild, p. 232</ref> Aqui, os membros da expedição recolheram diversas amostras geológicas e botânicas.<ref name= Leif306>Mills, pp. 306–08</ref> Chegaram à Cidade do Cabo no dia 18 de junhoJunho, onde foram recebidos por uma multidão entusiasta. O primeiro-ministro sul-africano [[Jan Smuts]] ofereceu-lhes uma recepção oficial e eles foram homenageados em jantares e lanches por organizações locais.<ref name= Leif306/>
 
Também se encontraram pelo agente de Rowett, recebendo a mensagem de que deviam regressar a Inglaterra.<ref>Fisher, p. 483</ref> Wild escreveu: "Gostaria de ter passado mais uma estação no Enderby Quadrant...muito pode ser realizado fazendo da Cidade do Cabo o nosso ponto de partida, e partindo logo no início da estação."<ref>Wild, p. 287</ref> No entanto, a 19 de julhoJulho, deixaram a Cidade do Cabo e rumaram para norte. As suas últimas visitas foram a [[Santa Helena (ilha)|ilha de Santa Helena]], [[ilha de Ascensão]] e [[Ilha de São Vicente (Cabo Verde)|ilha de São Vicente]]. A 16 de setembroSetembro, um ano após a partida, chegaram a [[Plymouth (Devon)|Plymouth]].<ref name="Wild313"/>
 
==Rescaldo e consequências==
 
===Análise===
[[File:Quest Diagram.JPG|thumb|left|Diagrama em perfil do "Quest" da revista [[Popular Science]], dezembroDezembro de 1921]]
De acordo com Wild, a expedição terminou de forma "calma", embora o seu biógrafo Leif Mills refira a multidão entusiasta em Plymouth Sound.<ref name = Wild312>Wild, pp. 312–13</ref><ref>Mills, p. 308</ref> No fim da sua história, Wild expressou a esperança de que a informação que trouxeram poderia "ser útil para resolver os grandes problemas naturais que nos preocupam ".<ref name= Wild312/> Estes resultados foram sumariados em cinco apêndices no livro de Wild.<ref>Wild, pp. 321–49</ref> Os sumários reflectem os esforços da equipa científica para recolher dados e espécimenes em cada porto de paragem,<ref name="Mills, p. 307">Mills, p. 307</ref> e o trabalho geológico e de pesquisa levados a cabo por Carr e Douglas na Geórgia do Sul, antes da viagem ao sul.<ref>Wild, p. 80</ref> Deste material, foram feitos alguns relatórios e artigos,<ref>Fisher, pp. 516–17</ref> mas foi, de acordo com Leif Mills, "o suficiente para mostrar o trabalho de um ano".<ref name="Mills, p. 307"/>
 
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{{refbegin|2}}
*{{citar livro|último =Fisher|primeiro = Margery and James|título= Shackleton|publicado=James Barrie Books|ano=1957|local= London}}
*{{citar jornal|primeiro =John Walker |último =Harrington |título=Shackleton's Search for Antarctic Islands of Doubt |obra=New York Times |página=68 |data=3 de julhoJulho de 1921 |url=http://query.nytimes.com/gst/abstract.html?res=9900E6D61739E133A25750C0A9619C946095D6CF }}
*{{citar livro|último =Huntford|primeiro = Roland|título=Shackleton|publicado= Hodder & Stoughton|ano= 1985|local= London|isbn= 0-340-25007-0}}
*{{citar livro|último = Huntford|primeiro = Roland (intro.)|título= The Shackleton Voyages|publicado= Weidenfeld & Nicolson|local= London|ano= 2002|isbn= 0-297-84360-5}}
*{{citar livro|último = Mills|primeiro = Leif|título= Frank Wild|publicado= Caedmon of Whitby|local= Whitby|ano= 1999|isbn= 0-905355-48-2}}
*{{citar livro|último = Riffenburgh|primeiro = Beau|título= Encyclopedia of the Antarctic|url= http://books.google.com/?id=fRJtB2MNdJMC&dq=Riffenburgh+encyclopedia&printsec=frontcover|publicado= Routledge|ano= 2006|acessodata= 12 de dezembroDezembro de 2008|isbn= 9780415970242}}
*{{citar livro|último = Smith|primeiro = Michael|título= An Unsung Hero: Tom Crean - Antarctic Survivor|ano= 2000|local= London|publicado= Headline Book Publishing|isbn= 0-7472-5357-9}}
*{{citar livro|último = Tyler-Lewis|primeiro = Kelly|título= The Lost Men|publicado= Bloomsbury Publications|ano= 2006|local= London|isbn= 978-0-7475-7972-4}}
*{{citar livro|último = Verdon-Roe|primeiro = Alliott|título= The World of Wings and Things|ano= 1938|local= London|publicado= Hurst & Blackett}}
*{{citar periódico|último = Wild|primeiro = Frank|título= The Voyage of the "Quest"|periódico= The Geographical Journal|volume= 61|página= 74|data= fevereiroFevereiro de 1923}}
{{refend}}
 
==Ligações externas==
*[http://www.bahs.org.uk/46n1a4.pdf The Agricultural Association, the Development Fund, and the Origins of the Rowett Research Institute] PDF. British Agricultural and Horticultural Society
*{{citar web|título= An Antarctic Time Line 1519–1959|url=http://www.south-pole.com/p0000052.htm|publicado= South-pole.com|acessodata= 30 de novembroNovembro de 2008}}
*{{citar web|título= Measuring Worth|url= http://www.measuringworth.com/ppoweruk/|publicado= Institute for the Measurement of Worth|acessodata= 21 de novembroNovembro de 2008}}
*{{citar web|título= Shackleton-Rowett Expedition 50th anniversary, Tristan da Cunha|url= http://www.sossi.org/articles/tristan.htm|publicado= Scouts on Stamps Society International|acessodata= 28 de novembroNovembro de 2008}}
*{{citar web|autor = Wild, Frank|título= Shackleton's last voyage: The Story of the ''Quest''|url= http://www.archive.org/stream/shackletonslastv00wilduoft/shackletonslastv00wilduoft_djvu.txt|publicado= www.archive.org|acessodata= 21 de novembroNovembro de 2008}}
*{{citar web|último = Shackleton|primeiro = Ernest|título= Diary of the ''Quest'' Expedition 1921–22|url= http://www.spri.cam.ac.uk/library/archives/shackleton/articles/1537,3,9.html|publicado= Instituto de Pesquisa Polar Scott|local= Cambridge|acessodata= 3 de dezembroDezembro de 2008}}
 
{{Exploração polar}}