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=== Roteiro ===
Luiz Bolognesi iniciou seu trabalho em ''Rei das Manhãs'' escrevendo uma história de personagem em sua essência dramática. O roteirista comentou em entrevistas que dificilmente um longa-metragem em seu status inicial tenha um primeiro tratamento aceitável, e com ''Bingo'' não foi diferente. Ele chegou a apresentar o primeiro tratamento do roteiro a várias pessoas, incluindo [[Fernando Meirelles]], que ficou surpreso ao ler o que Bolgnesi tinha feito até então: "se a história é sobre um palhaço, então cadê a comédia? Talvez não deveria ser um drama, e sim uma [[tragicomédia]]" relata Meirelles. Daniel Rezende assentiu a observação de Meirelles e conduziu o longa-metragem a guinar o gênero para uma [[comédia dramática]]. Porém, neste momento Bolognesi estava recebendo uma proposta que em primeira instância soou receosa. Ele nunca havia trabalhado escrevendo comédia, o que considera o gênero mais difícil do cinema. Acreditava que poderia não desenvolver o que a equipe estava esperando. Neste dilema, ele confessou que iria tentar porém com ressalvas: "é drama somado com a comédia ao mesmo tempo, o que é muito bom, mas eu nunca fiz nem sei fazer, deixa eu tentar [...] daqui uns quatro a cinco meses, se a gente ver que eu não estou rendendo chama outro roteirista, que eu saio ou trabalho junto".<ref name="o2filmes-entrevista-bolognesi"/> Daniel Rezende acabou curtindogostando muito odo que estava sendo escrito, e ele estava sem pressa, queria fazer um trabalho segundo ele "bem trabalhadopolido".<ref Concomitantemente, Bolognesi estava em seu trabalho árduo, o que acarretou em uma série de pesquisas sobre o gênero. Dentre os conteúdos que constituem a base de inspiração do roteirista, esteve ''O Riso'' (1899) de [[Henri Bergson]], uma espécie de tratado filosófico com realces psicológicos e antropológicos que pretende discutir o humor, com questões como name="de onde vem o risoyout-jacaré", "porque o ser humano rir", "o que ele quer dizer com o riso". O leque de inspirações conta também com uma consultoria de [[Domingos Montagner]]./> Depois de estreado, Bolognesi sentiu-se feliz ao saber pelas primeiras reações indicando que sua tragicomédia tinha realmente funcionado. "Ouvi muitos relatos que riram e até mesmo choraram, ou seja, a expressão máxima de uma produto deste gênero que funciona" conta o roteirista contente.<ref name="o2filmes-entrevista-bolognesi">{{citar web|título=Qualé dos roteiristas - Luiz Bolognesi e os desafios de "Bingo"|url=http://www.o2filmes.com/noticias/10975/quale-a-dos-roteiristas-65-luiz-bolognesi-e-os-desafios-de-bingo/|obra=O2 Filmes|acessodata=1 de setembro de 2017|data=29 de agosto de 2017}}</ref>
''Bingo: O Rei das Manhãs'' é descrito por Daniel Rezende como um filme cujo roteiro aborda os bastidores da televisão brasileira nos anos de 1980, segundo ele, "uma era cafona e louca, de muitos excessos, na qual um sujeito egresso de uma linhagem de artista tenta buscar seu lugar sob os holofotes".<ref name="omelete01"/> O desenvolvimento do roteiro esteve fincado desde o inicio na premissa de não se ater a nomes, marcas ou outros elementos que pudessem, de alguma forma, barrar a qualidade criativa da obra. Para percorrer estes princípios, foram tomadas algumas decisões que resultaram em um longa-metragem agarrado à história real, mas sem deixar de lado a arte de ficcionalizar e dar espaço à liberdade de criação. "A gente queria fazer a história que a gente queria contar" explica o diretor, que juntamente com o roteirista Luiz Bolognesi, teve de alterar da história real de Arlindo Barreto, que em um programa infantil interpretava a versão brasileira de [[Bozo]], para no filme o personagem principal se chamar Augusto, travestido de Palhaço Bingo.<ref name="adoro01"/> Essa sendo apenas uma das vertentes para vetar nomes no filme; sendo a outra os direitos autorais protegidos, uma vez que o palhaço é uma marca americana.<ref>{{citar web|último=Carlos Trentini|título=CCXP 2016 — “Bingo: O Rei das Manhãs” é destaque em painel sem novidades da Warner|url=http://www.carlostrentini.com.br/2016/12/05/ccxp-2016-bingo-o-rei-das-manhas-e-destaque-em-painel-sem-novidades-da-warner/|acessodata=3 de janeiro de 2017|data=5 de dezembro de 2016}}</ref><ref name="folha"/> Embora essa decisão esteja presente nas nomeações dos personagens e das marcas como um todo ([[Xuxa]] virou Lulu, [[SBT]] passou a ser TVP e a [[Rede Globo]] foi renomeada como Mundial), teve o advento de uma exceção ao personagem da [[Gretchen]], ao qual se comprometeu dar a referência histórica como uma espécie de um "ícone da época" que o diretor precisava. "Ela chega como um fundamento do real no recorte pop que fizemos, com uma função dramática importante para o filme, centrado na busca de Augusto para encontrar seu espaço na televisão" explica o diretor.<ref name="omelete01"/>
 
''Bingo: O Rei das Manhãs'' é descrito por Daniel Rezende como um filme cujo roteiro aborda os bastidores da televisão brasileira nos anos de 1980, segundo ele, "uma era cafona e louca, de muitos excessos, na qual um sujeito egresso de uma linhagem de artista tenta buscar seu lugar sob os holofotes".<ref name="omelete01"/> O desenvolvimento do roteiro esteve fincado desde o inicio na premissa de não se ater a nomes, marcas ou outros elementos que pudessem, de alguma forma, barrar a qualidade criativa da obra. Para percorrer estes princípios, foram tomadas algumas decisões que resultaram em um longa-metragem agarrado à história real, mas sem deixar de lado a arte de ficcionalizar e dar espaço à liberdade de criação. "A gente queria fazer a história que a gente queria contar" explica o diretor, que juntamente com o roteirista Luiz Bolognesi, teve de alterar da história real de Arlindo Barreto, que em um programa infantil interpretava a versão brasileira de [[Bozo]], para no filme o personagem principal se chamar Augusto, travestido de Palhaço Bingo.<ref name="adoro01"/> Essa sendo apenas uma das vertentes para vetar nomes no filme; sendo a outra os direitos autorais protegidos, uma vez que o palhaço é uma marca americana.<ref>{{citar web|último=Carlos Trentini|título=CCXP 2016 — “Bingo: O Rei das Manhãs” é destaque em painel sem novidades da Warner|url=http://www.carlostrentini.com.br/2016/12/05/ccxp-2016-bingo-o-rei-das-manhas-e-destaque-em-painel-sem-novidades-da-warner/|acessodata=3 de janeiro de 2017|data=5 de dezembro de 2016}}</ref><ref name="folha"/> Embora essa decisão esteja presente nas nomeações dos personagens e das marcas como um todo ([[Xuxa]] virou Lulu, [[SBT]] passou a ser TVP e a [[Rede Globo]] foi renomeada como Mundial), teve o advento de uma exceção ao personagem da [[Gretchen]], ao qual se comprometeu dar a referência histórica como uma espécie de um "ícone da época" que o diretor precisava. "Ela chega como um fundamento do real no recorte pop que fizemos, com uma função dramática importante para o filme, centrado na busca de Augusto para encontrar seu espaço na televisão" explica o diretor.<ref name="omelete01"/>
Bolognesi iniciou seu trabalho em ''Rei das Manhãs'' escrevendo uma história de personagem em sua essência dramática. O roteirista comentou em entrevistas que dificilmente um longa-metragem em seu status inicial tenha um primeiro tratamento aceitável, e com ''Bingo'' não foi diferente. Ele chegou a apresentar o primeiro tratamento do roteiro a várias pessoas, incluindo [[Fernando Meirelles]], que ficou surpreso ao ler o que Bolgnesi tinha feito até então: "se a história é sobre um palhaço, então cadê a comédia? Talvez não deveria ser um drama, e sim uma [[tragicomédia]]" relata Meirelles. Daniel Rezende assentiu a observação de Meirelles e conduziu o longa-metragem a guinar o gênero para uma [[comédia dramática]]. Porém, neste momento Bolognesi estava recebendo uma proposta que em primeira instância soou receosa. Ele nunca havia trabalhado escrevendo comédia, o que considera o gênero mais difícil do cinema. Acreditava que poderia não desenvolver o que a equipe estava esperando. Neste dilema, ele confessou que iria tentar porém com ressalvas: "é drama somado com a comédia ao mesmo tempo, o que é muito bom, mas eu nunca fiz nem sei fazer, deixa eu tentar [...] daqui uns quatro a cinco meses, se a gente ver que eu não estou rendendo chama outro roteirista, que eu saio ou trabalho junto". Daniel Rezende acabou curtindo muito o que estava sendo escrito, e ele estava sem pressa, queria fazer um trabalho segundo ele "bem trabalhado". Concomitantemente, Bolognesi estava em seu trabalho árduo, o que acarretou em uma série de pesquisas sobre o gênero. Dentre os conteúdos que constituem a base de inspiração do roteirista, esteve ''O Riso'' (1899) de [[Henri Bergson]], uma espécie de tratado filosófico com realces psicológicos e antropológicos que pretende discutir o humor, com questões como "de onde vem o riso", "porque o ser humano rir", "o que ele quer dizer com o riso". O leque de inspirações conta também com uma consultoria de [[Domingos Montagner]]. Depois de estreado, Bolognesi sentiu-se feliz ao saber pelas primeiras reações indicando que sua tragicomédia tinha realmente funcionado. "Ouvi muitos relatos que riram e até mesmo choraram, ou seja, a expressão máxima de uma produto deste gênero que funciona" conta o roteirista contente.<ref>{{citar web|título=Qualé dos roteiristas - Luiz Bolognesi e os desafios de "Bingo"|url=http://www.o2filmes.com/noticias/10975/quale-a-dos-roteiristas-65-luiz-bolognesi-e-os-desafios-de-bingo/|obra=O2 Filmes|acessodata=1 de setembro de 2017|data=29 de agosto de 2017}}</ref>
 
Como o filme é baseado na vida de Arlindo Barreto, foi necessário o fechamento de um contrato de autorização de reprodução de sua história de vida, o que pode configurar o filme como uma [[cinebiografia]]. No contrato que assinou junto à produção do longa-metragem, Barreto estipula que no roteiro deve haver uma parte exclusiva para abordar o que ele chama de "virada na vida", que corresponde a cerca de 25% da história, que por sua vez, deve culminar em semelhanças com a situação atual dele — que segundo ele —, é "disseminando a palavra de Deus".<ref>{{citar web|último=Lucas Rezende|título=Do Front do filme sobre Arlindo Barreto, o Bozo: Emanuelle Araújo vai viver Gretchen, enquanto Tainá Muller e Leandra Leal já estão na labuta|url=http://www.heloisatolipan.com.br/tv/do-front-do-filme-sobre-arlindo-barreto-o-bozo-emanuelle-araujo-vai-viver-gretchen-enquanto-taina-muller-e-leandra-leal-ja-estao-na-labuta/|acessodata=2 de janeiro de 2017|data=1 de novembro de 2015}}</ref> Luiz Bolognesi trabalhou no roteiro em cima de dois conflitos notórios na trama: o primeiro referente ao protagonista que torna-se famoso ao travestir-se de palhaço, tornando este personagem um alter-ego no qual é seu refúgio depois de muitas drogas; e outra a relação conturbada com o filho, que por vezes sente-se sozinho devido seu pai prestar seu tempo ao trabalho, sexo e uso ilícito de entorpecentes, menos a ele.<ref>{{citar web|título=Wagner Moura vai interpretar o palhaço Bozo no cinema|url=http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-105458/|obra=AdoroCinema|acessodata=2 de janeiro de 2017}}</ref> Para ter um recorte melhor da vida de Arlindo Barreto, e também dos anos 1980, a produção de ''Rei das Manhãs'' teve uma entrevista de quase cinco horas com Barreto que serviu como base para o desenvolvimento do roteiro. Traços como a "personalidade", "vivacidade" e o "humor" foi captado nestas horas de entrevistas e chamou a atenção de Vladimir Britcha e Bolognesi que introduziram no filme consideravelmente.<ref>Vídeo no YouTube: Hugo Gloss entrevista Vladimir Brichta e Daniel Rezende - "Bingo - O ...</ref> Rezende classifica seu filme como "filme de personagem", e teve desde o inicio da produção ''[[Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)|Birdman]]'' (2015) como referência. Nele, [[Michael Keaton]] é um ator sufocado por seu maior personagem — alusão ao [[Batman]] que o estadunidense de fato viveu de 1989 a 1992.<ref>[http://on.ig.com.br/imagem/2015-01-31/de-batman-a-birdman-relembre-a-carreira-do-ator-michael-keaton.html De "Batman" a "Birdman": Relembre a carreira do ator Michael Keaton]</ref><ref name="globo_01">{{citar web|último=Alessandro Giannini|título=Montador Daniel Rezende comanda filme inspirado na vida do palhaço Bozo|url=http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/montador-daniel-rezende-comanda-filme-inspirado-na-vida-do-palhaco-bozo-20721024|obra=O Globo|acessodata=3 de janeiro de 2017|data=3 de janeiro de 2017}}</ref> Dentre os conteúdos que constituem a base de inspiração do roteirista, esteve ''O Riso'' (1899) de [[Henri Bergson]], uma espécie de tratado filosófico com realces psicológicos e antropológicos que pretende discutir o humor, com questões como "de onde vem o riso", "porque o ser humano rir", "o que ele quer dizer com o riso". O leque de inspirações conta também com uma consultoria de [[Domingos Montagner]].<ref name="o2filmes-entrevista-bolognesi"/>
 
=== Escolha do elenco ===
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Com um orçamento de 8,5 milhões de reais — deste, cerca de 35% oriundos do Fundo da Ancine —, ''Bingo: O Rei das Manhãs'' iniciou seu estágio de [[filmagem|filmagens]] em outubro de 2015 em [[São Paulo]]<ref>{{citar web|título=Começam as filmagens de Rei das Manhãs, filme de Daniel Rezende|url=http://www.programacinesom.com/2015/10/comecam-as-filmagens-de-o-rei-das.html|acessodata=2 de janeiro de 2017}}</ref> e foram finalizadas em dezembro.<ref>{{citar web|título=Filmagens de O Rei Das Manhãs foram concluídas|url=http://seriesemcena.com.br/novidades/2015/12/filmagens-de-o-rei-das-manhas-foram-concluidas/|obra=Series em Cena|acessodata=2 de janeiro de 2017}}</ref> Para as filmagens de cenas internas, como as do ''Programa do Bingo'', a produção de ''Rei das Manhãs'' fechou um acordo com a [[TV Cultura]] para a utilização do Estúdio C dos blocos de estúdios disponíveis no bairro [[Água Branca (bairro de São Paulo)|Água Branca]], em São Paulo.<ref>{{citar web|título=O Metrópolis mostra o Set de filmagem do longa O Rei das Manhãs|url=http://tvcultura.com.br/videos/47914_metropolis-o-rei-das-manhas.html|obra=TV Cultura|acessodata=3 de janeiro de 2017}}</ref> O diretor Daniel Rezende relatou em uma entrevista uma pequena dificuldade peculiar dele e de [[Lula Carvalho]] — o diretor de fotografia — para realização dos ensaios da ambientação, devido à figuração do Bingo. Como a maquiagem do personagem por causa das luzes derretia com facilidade, era preciso gravar as cenas sem muitos erros em pouco tempo, para isso eram necessários os ensaios sem a figuração completa. Porém, quando transformado no palhaço, o figurino, sobretudo a peruca, corroborava no revés constante de desfazer os enquadramentos.<ref name="drivla"/>
 
Desde seu trabalho em ''[[Blackout]]'' — um curta-metragem filmado consideravelmente em uma única sequência —, os planos sequencias mostrou-se como um desafio para Daniel Rezende. Ele queria fazer algo que de alguma maneira não fosse o forte dele, que talvez não tangiciava o campo de dominio dele, e o plano sequencia foi pensado como uma das ferramentas a ser usada em ''Rei das Manhãs'' por intermédio deste raciocinio. "Eu percebi em ''Blackout'' que o plano sequência também possui cortes, existe montagem. A única diferença é que você edita ao vivo, no set de filmagem. [...] Então eu usei toda minha experiência como montador, pra fazer a marcação de tempo já pensando em como transitar a câmera na cena [...] É um ritmo, como se fosse um balé da câmera, o ''timing'' dos atores, tudo tem que ter a precisão na hora".<ref name="yout-jacaré">Vídeo no YouTube: Jacaré Banguela entrevista Daniel Rezende no quadro "Não Fale com o Motorista". Assistido em 27 de agosto de 2017.</ref> Britcha comenta a habilidade que Rezende teve em conduzir as cenas de plano sequência com tanta eficiência em tomadas até mesmo em 360 graus: "Ele é um cronometro ambulante. Tem uma métrica muito clara de como organizar a cena". O primeiro plano sequência do filme que teve aproximadamente cinco minutos de duração foi gravado nos estúdios da TV Cultura e precisou de ensaios durante uma manhã inteira, sendo repetido durante 8 [[Take|takes]].<ref name="bial-entrevista"/>
 
=== Pós-produção ===