António Bernardo da Costa Cabral: diferenças entre revisões

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Costa Cabral foi nomeado juiz da Relação açoriana por decreto de [[23 de Março]] de [[1833]], tendo tomado posse do lugar a [[20 de Maio]] daquele ano. Como jovem juiz do novo [[Tribunal da Relação dos Açores]], o qual, depois de uma complexa contenda entre as elites da [[ilha de São Miguel]] e da [[Terceira]], acabara por ser sedeado em [[Ponta Delgada]], Costa Cabral instalou-se naquela cidade envolto numa relativa tranquilidade, passando ao lado dos tempos tumultuosos que se viviam em [[Lisboa]].
 
Inserindo-se na vida local, casou com Louise Mitchell Meredith Read, enteada de [[William Harding Read]], o cônsul geral [[Reino Unido|britânico]] nos [[Açores]]. Este cônsul, simultaneamente um dos mais abastados comerciantes micaelenses e o maior exportador de laranja açoriana para Londres, era naturalmente homem influente, tendo-se destacado pelo seu apoio à formação do exército liberal e por ter hospedado D. [[Pedro IV de Portugal|Pedro IV]] em sua casa, aquando da sua estadia na ilha de São Miguel.
 
Durante a permanência de Costa Cabral na [[ilha de São Miguel]] nasceu, em [[23 de Maio]] de [[1835]], o seu filho [[Bernardo da Costa Cabral]], o futuro 2.º [[conde de Tomar]].
 
Estas ligações familiares, aliadas à grande ambição e tacto político do jovem juiz, fizeram com que fosse o candidato natural da esquerda liberal da ilha às eleições de [[1834]], nas quais foi folgadamente eleito. Iniciava-se assim a vida política e parlamentar de Costa Cabral.
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Nas eleições gerais de Julho de [[1836]] foi novamente eleito pelo círculo de [[Ponta Delgada]], não chegando contudo a prestar juramento devido ao cancelamento da legislatura causado pela [[Revolução de Setembro]], nome pelo qual ficaram conhecidos os acontecimentos revolucionários desse ano.
 
Afirmando-se como um político de extrema esquerda, distinguindo-se pelos seus dotes oratórios e pela sua participação no [[Clube do Arsenal]], uma agremiação informal de esquerdistas, Costa Cabral aderiu naturalmente à [[Revolução de Setembro]] de [[1836]], estando entre os que protestaram contra a percebida manipulação das eleições. Com o aprofundar da crise insurreccional, Costa Cabral fez parte da Junta Governativa que se formou a [[4 de Novembro]] de [[1836]] como reacção ao golpe palaciano da [[Belenzada]], ocorrido entre os dias 3 a 5 daquele mês.
 
Suspensa a vigência da [[Carta Constitucional de 1826]] e realizadas a [[20 de Novembro]] de [[1836]] eleições gerais para umas Cortes com poderes constituintes, Costa Cabral é novamente eleito pelos [[Açores]], tomando assento a [[25 de Janeiro]] de [[1837]]. Durante os trabalhos constituintes defende os princípios democráticos da [[Constituição portuguesa de 1822|Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822]], assumindo uma postura bem mais moderada do que aquela que o seu passado político indiciava, encaminhando-se progressivamente para a esquerda moderada.
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Em Lisboa, sede da monarquia e das legações e consulados estrangeiros, urgia dar à cidade o sossego e a tranquilidade de que a vida democrática carecia. Para isso, urgia controlar as Guardas Nacionais que se haviam formado. Apesar do seu passado de extrema-esquerda, foi Costa Cabral o homem escolhido pelo governo e pela rainha para liderar a pacificação da capital. Com essa missão específica, a [[7 de Março]] de [[1838]] foi nomeado administrador-geral de Lisboa, tendo conseguido esmagar o levantamento da Guarda Nacional que ocorreu no dia 13 imediato. Até [[7 de Dezembro]] de [[1838]], data em que cessou funções como administrador-geral, subordinou a Guarda Nacional ao governo, saneando os elementos revolucionários que a integravam. Com isto foi possível pôr termo aos [[pronunciamentos]] constantes da Guarda Nacional, uma ''amálgama instável de elementos os mais heterogéneos e irrequietos''.
 
A Guarda Nacional foi controlada, mas para tal Costa Cabral muitas vezes arriscou a vida e criou os primeiros ódios, sendo visto pelos [[setembrista]], aos quais pertencera, como um traidor. Esta ruptura, e os ódios que concitou, marcariam toda a trajectória política de Costa Cabral: a esquerda jamais lhe perdoaria ter passado de orador do [[Clube do Arsenal]] a fundador do partido [[cartista]].
 
A partir destes acontecimentos, Costa Cabral passou a manifestar-se profundamente desiludido com o [[setembrismo]], o qual qualificaria de ''estado revolucionário'' apenas apostado em ''servir a manutenção dos seus chefes no poder'', e dedica-se a combater a revolução, numa deriva para a direita que o levaria a assumir a função de expoente máximo do ''doutrinarismo'' português em luta contra o ''radicalismo'' laicizante e ateu.
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Na vertente eclesiástica, consegue uma relativa normalização das relações entre o regime liberal e a Igreja Católica, levantando, o que nas suas palavras, era o ''anátema'' que desde [[1834]] ''indevidamente privava'' inúmeros eclesiásticos ''das suas dioceses, das suas paróquias, dos seus canonicatos e dos seus benefícios''.
 
Em finais de [[1841]] já tinha conseguido fortalecer a sua posição política a ponto de poder dispensar algumas das alianças estratégicas que entretanto tivera de manter. Por essa altura já conquistara decididamente as simpatias do Paço Real e o número dos seus adeptos no governo e no parlamento era já dominante. Mesmo na [[Maçonaria]], a força dominante por detrás da política portuguesa de então, tinha nesse ano atingido o 33.º grau e sido eleito 1.º [[Soberano Grande Comendador]] do [[Supremo Conselho]] afecto ao Grande Oriente Lusitano e 10.º [[Grão-Mestre]] do [[Grande Oriente Lusitano]], cargos que manteria até [[1846]].<ref name="members.tripod.com"/>
 
Gozando dessa posição de grande influência política, seguro do apoio da rainha, inicia em Novembro e Dezembro de [[1841]] uma clara rotura com a ''[[Constituição portuguesa de 1838|constituição setembrista]]'' e com o [[Setembrismo]], propondo um retorno, embora com alterações à [[Carta Constitucional de 1826]].
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Apesar da forte oposição e das dificuldades em conseguir manter as forças antagónicas que o apoiavam sob controlo, o Cabralismo deu a Portugal o primeiro governo de legislatura desde a implantação do constitucionalismo. Gozando de forte apoio régio, ao ponto de o apodarem de ''valido'' da rainha, Costa Cabral beneficiou a [[3 de Maio]] daquele ano da nomeação por D. Maria II de 30 novos pares do Reino, seus apoiantes, que lhe deram a maioria na Câmara alta. A este reforço seguiu-se uma retumbante vitória nas eleições gerais realizadas a 5 e 19 de Junho imediatos, a qual lhe deu absoluto controlo sobre o Parlamento. Nessas eleições Costa Cabral foi eleito pela [[Beira Baixa]].
 
Uma das primeiras reformas do ''Cabralismo'' foi a centralização administrativa, aprovando o [[Código Administrativo de 1842]]. Seguiu-se a reforma das Guardas Nacionais, um dos factores de instabilidade anteriores, o retomar de relações com a [[Santa Sé]] e o controlo da dívida externa e do défice governamental. Nas palavras panegíricas de [[José Augusto Barbosa Colen]], a administração de Costa Cabral foi um sucesso:
: ''Logo no primeiro ano dessa histórica administração, Costa Cabral não desmentiu o juízo que dele se formara. Os trabalhos do ministro do reino repartiam se principalmente por três ramos da sua administração, porque nesse tempo a agricultura e as obras publicas pertenciam ainda ao ministério do reino. Na Instrução Pública, Costa Cabral criara a escola da arte dramática e fizera construir o teatro de D. Maria II. Organizara o Conservatório, a Academia de Belas Artes, o museu da Academia, Imprensa Nacional e a Academia Portuense de Belas Artes. Na Administração fizera e pusera em execução o Código Administrativo, que por tantos anos se manteve; organizara em novas bases a Guarda Nacional; fixara o número de empregados e tratara da organização dos arquivos das câmaras municipais, tão preciosos para a história; cuidou de salvar os bens das Misericórdias, Confrarias, etc. Na Agricultura providenciara sobre os celeiros comuns, sobre a criação e aperfeiçoamento dos gados; sobre a companhia das Vinhas do Alto Douro; sobre o despacho e fiscalização dos géneros de consumo na capital. Tratara eficazmente de determinar a lavra das minas, fazendo a legislação que correspondia; abrira estradas, construíra pontes, algumas que se consideravam então, arrojadíssimas tentativas de engenharia, como a pênsil do Porto; fizera grandes plantações de arvoredo nas matas nacionais; mandara enxugar pântanos; construir e levantar diques; procurara tentar um grande esforço para desenvolver a indústria da produção e fabricação das sedas, a que previa um grande futuro. Em suma, não houve nada em que a sua mão não tocasse, marcando tudo com a forte punção da sua iniciativa tão arrojada como organizadora''.
 
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Pouco depois da sua chegada ao Rio de Janeiro, Portugal passou a ser considerado como nação mais favorecida. Foi este um trabalho obscuro e esquecido, mas de grande valia. Conseguido o objectivo, Costa Cabral voltou para Portugal, retirando-se para Tomar onde a sua vida discretamente traduzia bastantes dificuldades financeiras.
 
A partir do seu regresso do Brasil, manteve alguma participação nos trabalhos da Câmara dos Pares, mas sem o fulgor de outrora. As suas posições são cada vez mais as da defesa da monarquia e da [[Igreja Católica]], numa deriva conservadora que o coloca cada vez mais longe das posições assumidas na década de 1830, quando era um dos oradores do [[Clube do Arsenal]].
 
Esta situação de relativo apagamento manteve-se durante toda a década de 1860, durante a qual a sua actividade parlamentar é uma constante e intransigente ''defesa da honra''. A sua última intervenção na Câmara ocorre em [[1870]], pouco antes de lhe der confiada nova missão diplomática, agora como chefe da Legação de Portugal junto da [[Santa Sé]].
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Tendo regressado gravemente doente, manteve-se afastado da vida política, procurando recuperar a saúde perdida. E foi por razões de saúde que em Julho de [[1889]], acompanhado pela filha, partiu para a [[Foz do Douro]]. Faleceu naquela localidade no dia [[1 de Setembro]] imediato. Na igreja da Foz foram-lhe feitas exéquias, seguindo o seu corpo para Lisboa, onde no dia 4 de Setembro ficou depositado em jazigo de família no [[cemitério dos Prazeres]].
 
O marquês de Tomar era [[par do reino]] e [[Fidalgo do Conselho|conselheiro de Estado]]. Foi condecorado com as grã-cruzes da [[Ordem Militar de Cristo]] e da [[Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa]] com a grã-cruz da [[Imperial Ordem da Rosa]] do Brasil, com as medalhas de [[Ordem de São Gregório Magno]], da [[Ordem da Águia Branca]] da Rússia, de [[Ordem de Pio IX]] da [[Santa Sé]], da [[Ordem dos Santos Maurício e Lázaro]], de [[Reino de Itália (1861–1946)|Itália]], de Nitchen Iftiar de 1.ª classe, em brilhantes, da [[Império Otomano|Turquia]], da [[Ordem de Leopoldo I]] da [[Bélgica]], da [[Ordem Ernestina de Saxe-Coburg-Gotha]], da [[Ordem de Carlos III]] de Espanha, esta última com grande-colar de número. Fora comendador da [[Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa]], cuja comenda em brilhantes lhe foi oferecida, como homenagem, por um grupo de admiradores do Porto a 4 de Abril de 1838.
 
O título de conde foi-lhe concedido por decreto de [[8 de Setembro]] de [[1845]], emitido por [[Maria II de Portugal|D. Maria II]], e o de marquês por decreto de [[11 de Julho]] de [[1878]], emitido por [[Luís I de Portugal|D. Luís]]. O seu brasão de armas era o mesmo de seu irmão, o 1.º [[conde de Cabral]].
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== Descendência ==
Do seu casamento com Louise Mitchell Meredith Read ([[Portsmouth]], [[11 de novembro|11 de Novembro]] de [[1816]] - [[Roma]], [[5 de fevereiro]] de [[1885]]), filha de John Read e de Louise Mitchell Meredith (que casara em segundas núpcias com [[William Harding Read]], cônsul britânico em [[Ponta Delgada]]), o marquês de Tomar deixou cinco filhos:
* Bernardo da Costa Cabral, 2.º [[Conde de Tomar]], nascido em ([[Ponta Delgada]], [[23 de maio|23 de Maio]] de [[1835]] - ?) bacharel formado em filosofia, diplomata e par do reino;
* João Rebelo da Costa Cabral, bacharel formado em direito, [[governador civil]] em vários distritos, casou com D. Maria Isabel do Couto Magalhães;
* Fernando Augusto da Costa Cabral, oficial na marinha britânica, contra-almirante, condecorado com a medalha da Crimeia e cavaleiro da [[Ordem da Torre e Espada]], que foi ajudante de campo do rei D. [[Carlos I de Portugal|Carlos]];