Era vitoriana: diferenças entre revisões

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== Economia ==
[[Imagem:Opening Liverpool and Manchester Railway.jpg|esquerda|thumbnail|upright=1.2|Abertura da linha ferroviária entre [[Liverpool]] e [[Manchester]] (1830).]]
Nesta época, a indústria da Grã-Bretanha continuou a ser predominantemente [[têxtil]] e, juntamente com a indústria do vestuário empregava quase 40% da mão-de-obra industrial em 1880. A mecanização aconteceu de forma distinta nos setores: alguns, como o do algodão, adotaram-na mais rapidamente, enquanto outros, como o da lã, com um maior atraso.<ref> Crouzet F., ''De la supériorité de l´Anglaterre sur la France'' (1982), págs 33 e 38</ref>. A indústria siderúrgica cresceu de forma bastante rápida, mas perdeu força ao longo da época .<ref> Crouzet F., ''De la supériorité de l´Anglaterre sur la France'' (1982), págs 33 e 38</ref>. O nível de exportações britânicas foi maior na segunda fase da Revolução Industrial, entre [[1840]] e [[1860]].<ref>W. Schlote, ''British Overseas Trade'' (1952), págs. 41-42</ref>.
 
No período vitoriano, uma das mais importantes medidas econômicas adotadas foi a revogação dos Atos de Navegação, que foram instituídos por [[Oliver Cromwell]] no século XVII. Tal fato deu-se em razão do crescimento naval de outras nações o que estava afetando o comércio e a economia inglesa. O não envolvimento em questões de guerra na Europa também contribuiu para o efetivo desenvolvimento económico que já era acelerado. A participação mundo afora nos transportes públicos, com as companhias de capital, e produtos industrializados terminaram por consolidar o apogeu económico do período.
 
A revolução ao nível dos transportes, com a introdução do comboio e do barco a vapor, fez com que fossem necessárias maiores quantidades de materiais pesados como o ferro e o aço e ainda o carvão, o que fez com que estes mercados se expandissem. Entre [[1850]] e [[1873]] o Reino Unido produziu dois terços do carvão a nível mundial, metade do algodão e quase metade dos produtos metálicos .<ref> Crouzet F., ''De la supériorité de l´Anglaterre sur la France'' (1982)</ref>.
 
Em 1850, a Grã-Bretanha tinha pouco mais de 200 000 trabalhadores em 3 000 minas. Este número aumentou e atingiu o meio milhão de pessoas ainda antes do final do século. O elevado número de mineiros em certos distritos tornava este grupo decisivo em alturas de eleições e muitos, motivados pela falta de condições de segurança no trabalho e aos baixos ordenados, acabaram por aderir a sindicatos de [[Socialismo|ideologia socialista]].<ref>''[http://www.webhistoria.com.ar/articulos/25.html Segunda fase de la Revolución Industrial]'' em Web de Historia, autor original: Hosbawm Eric J. em "Industria e Imperio". Consultado a 18 de setembro de 2013.</ref>.
 
Em meados do [[século XIX]], metade das empresas era de pequena dimensão. No [[Lancashire]], em 1841, apenas 0,5% das empresas tinha mais de 500 trabalhadores e 50% das empresas não chegavam aos 100 trabalhadores. Em 1871, mais de 23 000 fábricas tinham em média 86 trabalhadores .<ref> Crouzet F., ''De la supériorité de l´Anglaterre sur la France'' (1982)</ref>.
 
Os [[caminhos-de-ferro]] conheceram um grande crescimento na época. Desde a inauguração do primeiro troço entre Liverpool e Manchester em 1830 até 1875, construíram-se mais de 70% das linhas ferroviárias. Em 1850, 19 companhias ferroviárias tinham um capital superior a 3 milhões de libras, sendo que na época poucas empresas ultrapassavam as 500 000 libras .<ref> Crouzet F., ''De la supériorité de l´Anglaterre sur la France'' (1982)</ref>.
 
Também foi durante a era vitoriana que se construíram e desenvolveram as primeiras linhas do [[metro de Londres]].
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Na era vitoriana houve um aumento demográfico sem precedentes no Reino Unido. A população aumentou de 13,9 milhões em [[1831]] para 32,5 milhões em [[1901]]. O Reino Unido foi o primeiro país a passar pela [[transição demográfica]] e pelas revoluções [[Revolução Agrícola|agrícola]] e [[Revolução Industrial|industrial]].
 
A Grã-Bretanha era líder no rápido crescimento económico e populacional. Na época, [[Thomas Malthus]] acreditava que a falta de crescimento fora do Reino Unido se devia à “armadilha malthusiana” que dita que a população tem tendência a aumentar mais rapidamente do que os recursos materiais, o que resultava em crises (tais como fomes, guerras ou epidemias) que reduziam a população para números mais sustentáveis. O Reino Unido escapou à “armadilha malthusiana” devido ao impacto positivo da [[Revolução Industrial]] nas condições de vida da população.<ref>Malthus, An Essay on the Principle of Population: Library of Economics", Liberty Fund, Inc., 2000, [http://www.econlib.org/library/Malthus/malPop.html EconLib.org]</ref>. As pessoas tinham mais dinheiro e podiam melhorar as suas circunstâncias, portanto o aumento da população era sustentável.
 
===Taxa de fecundidade===
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A taxa de fecundidade aumentou em todas as décadas da era vitoriana até 1901, ano em que começou a estabilizar. Existem várias razões que justificam o aumento da [[taxa de natalidade]]. Uma delas é biológica. Uma vez que as condições de vida melhoraram, a percentagem de mulheres capazes de engravidar aumentou. Uma outra explicação pode ser social. No século XIX, o número de casamentos aumentou e a população em geral casou-se em idades bastante jovens. As razões que levavam as pessoas a casarem-se tão jovens são incertas. Uma das possíveis explicações prende-se ao facto de a prosperidade económica permitir que as pessoas conseguissem pagar o casamento e as novas habitações mais cedo do que era possível anteriormente.
 
As taxas de natalidade começaram por ser medidas através do método da taxa de natalidade bruta, que media os nascimentos por ano na população por cada mil pessoas. Este método não é considerado o mais preciso uma vez que as taxas de fertilidade dos grupos-chave não é clara. O método também não tem em consideração as mudanças populacionais, tais como o mesmo número de nascimentos numa população mais reduzida (como quando os homens vão para a guerra, etc.).
 
A estabilização da taxa de fecundidade no início do século XX deveu-se sobretudo a algumas grandes mudanças: certos [[Contracepção|contraceptivos]] foram disponibilizados e o comportamento a nível sexual da população alterou-se.<ref>Bradlaugh, Charles; Besant, Anne. ''The Fruits of Philosophy, or the Private Companion of Young Married People''</ref>.
 
===Taxa de mortalidade===
A taxa de mortalidade no Reino Unido mudou bastante durante o século XIX. Não houve nenhuma catástrofe de fome ou surto epidémico na [[Inglaterra]] e na [[Escócia]] durante esse século, sendo a primeira vez na História do país que essa situação se verificou. As mortes por cada mil habitantes na Inglaterra e no [[País de Gales]] desceram de 21,9 entre [[1848]] e [[1854]] para 17 em 1901.<ref>Szreter, Simon (1988). ''The importance of social intervention in Britain's mortality decline c.1850–1914: A re-interpretation of the role of public health. Social History of Medicine 1'': 1–37</ref>. O estatuto social teve um grande impacto na taxa de mortalidade uma vez que as classes mais elevadas tinham uma taxa mais baixa de morte precoce no início do século XIX do que as classes mais baixas.<ref>Robert W. Fogel, ''The Escape from Hunger and Premature Death, 1700–2100: Europe, America, and the Third World'' (Cambridge Studies in Population, Economy and Society in Past Time) (2004) p 40</ref>.
 
As condições ambientais e de saúde também melhoraram durante a era vitoriana. As melhorias na nutrição também tiveram um papel importante.<ref>Szreter, Simon (1988). ''The importance of social intervention in Britain's mortality decline c.1850–1914: A re-interpretation of the role of public health. Social History of Medicine 1'': 1–37</ref>. As redes de esgotos foram melhoradas, assim como a qualidade da água. Com melhores condições ambientais, as doenças espalhavam-se mais dificilmente e as pessoas eram menos contaminadas. Houve também evoluções a nível da medicina uma vez que a população tinha mais dinheiro para gastar em inovações na área médica (tais como técnicas para prevenir a morte durante o parto, pelo que mais mulheres e crianças sobreviviam), o que também levou a que se encontrassem mais curas para as doenças. Porém, houve uma epidemia de [[cólera]] em Londres entre 1848 e [[1849]] que matou 14 137 pessoas e mais 10 738 quando voltou a surgir em 1853. Há quem atribua esta anomalia à substituição das fossas sépticas nos esgotos de Londres.
 
==Sociedade==
[[Imagem:1871-fashion-class-contrast.gif|esquerda|thumbnail|upright=1.4|A diferença entre classes expressa na forma de vestir em 1871. Mulher aristocrática e mulher da classe trabalhadora.]]
A sociedade da era vitoriana era pródiga em moralismos e disciplina, com preconceitos rígidos e proibições severas .<ref>Licenciada Rosa Aksenchuk ''De la moral victoriana al goce moderno: Freud, Lacan y Zizek en Revista de Observaciones Filosóficas''.</ref>. Os valores vitorianos podiam classificar-se como “puritanos”, e na época a poupança, a dedicação ao trabalho, a defesa da moral, os deveres da fé e o descanso dominical eram considerados valores de grande importância.<ref> Charlot M. y Marx R., 1993, p. 21-22 y Thompson F. M. L., 1988, p. 251</ref>.
 
Os homens dominavam, tanto em espaços públicos, como em privado e as mulheres deviam ser submissas e dedicar-se em exclusivo à manutenção do lar e à educação dos filhos. Existem vários exemplos de como a sociedade levava a moralidade ao extremo, mas um dos mais infames foi a condenação de [[Oscar Wilde]] e de Lord Alfred Douglas a dois anos de [[trabalhos forçados]] por [[sodomia]], por terem mantido um caso.<ref> Reed, Christopher (2011). ''Art and Homosexuality: A History of Ideas''. Oxford University Press, 2011; pág. 97</ref>.
 
Talvez tenha sido esta moralidade acentuada que levou o psicanalista [[Jacques Lacan]] a dizer que sem a rainha Vitória não teria existido a [[psicanálise]], uma vez que foi ela que fez com que fosse necessário o que Lacan apelidou de “despertar”.<ref>Lacan, Jacques em ''Seminario'' 22 - R.S.I.</ref>.
 
Certas condições como a preguiça e o vício estavam vinculados à pobreza e o sexo era alvo de repulsa social, uma vez que era associado a paixões baixas e o seu caráter animalesco provinha da carne.<ref>Charlot M. y Marx R., 1993</ref>. Por estas razões, considerava-se que a castidade era uma virtude que devia ser protegida.<ref>Bédarrida François, 1988, p. 38</ref>.
 
A insatisfação feminina, em qualquer circunstância, era considerada um distúrbio de ansiedade e tratada com medicamentos e psicanálise e, se a mulher tivesse recursos econômicos suficientes, o distúrbio era tratado por um “especialista” que a estimulava sexualmente com as suas mãos.<ref>Alicia G. Arribas, [http://www.diariodecadiz.es/article/cine/1283220/nuestros/tabues/vienen/la/epoca/victoriana.html ''Nuestros tabúes vienen de la época victoriana''], Diario de Cádiz, Madrid. 15 de junho de 2012</ref>.
 
Uma novidade da época foi o abandono da ruralidade: em [[1851]], e pela primeira vez na História, o número de habitantes das cidades ultrapassou o das aldeias. Nos anos seguintes, o número de populações rurais diminuiu de forma acelerada, ainda que o número de camponeses se tivesse mantido estabilizado. Em 1880, a população rural constituía apenas 10% da população total ativa e a falta de alimentos era resolvida com a importação.<ref>Cortés Carmen (1985). ''Historia del Mundo Contemporáneo''. Madrid, España: Akal. [[ISBN]] [https://es.wikipedia.org/wiki/Especial:FuentesDeLibros/84-7600-008-1 84-7600-008-1]</ref>.
 
A [[industrialização]] deu origem a uma classe média burguesa que aumentou gradualmente a sua influência nas normas culturais, estilo de vida e valores morais da sociedade. A casa da classe média passou a ter características que a identificavam de forma clara. Anteriormente, tanto nas vilas como nas cidades, o espaço residencial era adjacente ou incorporado no local de trabalho e ocupava virtualmente o mesmo espaço geográfico. A vida privada e a vida profissional passaram a ser distintas. Na era vitoriana, a vida familiar inglesa tornou-se cada vez mais compartimentada: o lar era uma estrutura autossuficiente que abrigava a família imediata e que era alargada de acordo com as circunstâncias e podia incluir outras relações de sangue. O conceito de privacidade tornou-se um marco da vida da classe média. “…A casa inglesa fechou-se e tornou-se mais escura no decorrer desta década (1850), o culto da vida doméstica associou-se ao culto da privacidade”. A burguesia vivia num espaço interior, escondido atrás de cortinas e desconfiava das intrusões, abrindo apenas as suas portas com convites para festas ou para o chá.<ref>Summerscale, Kate, ''"The Suspicions of Mr. Wicher,"'' </ref>. “O facto de as pessoas não se conhecerem umas às outras e de a sociedade contribuir para a manutenção de uma fachada que escondia inúmeros mistérios, foram os temas que preocuparam muitos dos romancistas de meados do século”.<ref>Summerscale, Kate, ''"The Suspicions of Mr. Wicher,"'' Walker & Company, 2009, citação nas notas: Wohl, A., ''"The Victorian Family: Structure and Stresses"'', Palgrave Macmillan, 1978</ref>.
 
===As classes sociais===
[[Imagem:AbrahamSolomon-FirstClass-TheMeeting-RevisedVersion.jpg|thumbnail|upright=1.5|Segunda versão da obra de Abraham Solomon, ''First Class - The Meeting'' ([[1855]]). A obra original causou polémica por mostrar dois jovens a falar enquanto o homem mais velho dormitava e teve de ser alterada para se ajustar à moral vitoriana.]]
 
A imagem quotidiana da era vitoriana é a de uma sociedade burguesa e de classe média. Porém, as diferenças dentro desta classe não estavam muito definidas. A burguesia inglesa definia-se a si mesma como ''"middle class”'', o que a distinguia da ''“upper class”'', constituída pela nobreza e pelos aristocratas de grandes famílias. A alta burguesia era constituída por banqueiros, homens de negócios e financeiros que tinham conseguido a sua fortuna em virtude das novas características da economia.<ref>Cortés Carmen, 1985, p. 31-32</ref>.
 
A classe média comum e a classe média baixa tentavam imitar os costumes das classes mais altas e os seus membros eram pequenos comerciantes e empresários, médicos e advogados, entre outros.<ref>Cortés Carmen, 1985, p. 33</ref>.
 
As normas sociais eram definidas pelas classes mais elevadas. Os aristocratas possuíam propriedades com mais de quatro mil hectares nas quais passavam os meses de verão e, no inverno, iam para Londres. Os ''gentry'', um grupo social do qual faziam parte cerca de três mil famílias que possuíam propriedades de tamanho superior a cem e inferior a quatro mil hectares, seguiam também estas normas.<ref>Cortés Carmen, 1985, p. 33</ref>.
 
No seu conjunto, a classe alta controlava, em 1873, quase 80% da superfície da Inglaterra <ref>Mingay G. E., 1976, p. 59.</ref> e possuía ainda uma representação no [[Parlamento do Reino Unido|Parlamento]] e no conselho de ministros que chegava a atingir os 80% e 60% respetivamente.<ref>Beckett J. V., The aristocracy in England 1660-1914, Londres, Basil Blackwell, 1986, págs. 403 e 408.</ref>. Além disso, ocupava os postos de chefia do exército (três quartos destas posições estavam nas mãos de membros da classe alta em [[1838]]) e da [[igreja anglicana]] (até ao final do século, cerca de metade dos bispos estavam casados com mulheres da aristocracia).<ref> Scott John, The upper classes. Propiety and privilege in Britain, Londres, MacMillan, 1982</ref> <ref>Canales Esteban (1999), ''La Inglaterra victoriana''. Madrid: Akal. [[ISBN]] [https://es.wikipedia.org/wiki/Especial:FuentesDeLibros/978-84-460-1185-9 978-84-460-1185-9] p. 102</ref>.
 
A classe trabalhadora, a baixa, possuía um elevado número de empregados domésticos. Em 1851, cerca de 1 900 indivíduos realizavam esse tipo de tarefas, em 1871 esse número atingia já quase o meio milhão e, no final do século XIX eram já quase dois milhões e meio de pessoas.<ref>Cortés Carmen, 1985, p. 33-35</ref>.
 
Os trabalhadores não possuíam quaisquer benefícios sociais. A única regulação que existia consistia na [[Poor Laws|Lei dos Pobres]], mas ela servia de pouco.<ref>Cortés Carmen, 1985, p. 33-35</ref>.
 
===Prostituição===
A dupla moral sexual era comum na era vitoriana. Se por um lado a rainha mandou aumentar as toalhas de mesa do palácio para que cobrissem as pernas da mesa na sua totalidade, uma vez que dizia que elas podiam fazer lembrar as pernas de uma mulher aos homens, por outro, desenvolvia-se um mundo sexual clandestino onde proliferava o adultério e a prostituição. Existiam ainda as cortesãs, mulheres que “cuidavam” exclusivamente dos monarcas.
 
A noite encarregava-se de ocultar os vícios: no Este de Londres aglomeravam-se os bordéis, as salas de espetáculos e as salas de jogos. Nas ruas vendiam-se drogas, sexo e faziam-se apostas. Além disso, havia orgias, espetáculos eróticos, relações homossexuais, abuso de menores e violência. Nesta Inglaterra, desenvolveu-se o primeiro [[preservativo|preservativo em látex]], numa época em que em público se defendia que as relações sexuais deveriam existir apenas com fins reprodutivos.<ref>''La era victoriana: puritanismo y doble moral'' por Cristina de la Llana, na inMagazine. 05 de abril de 2012.</ref>.
 
A prostituição era uma atividade bastante frequente no Reino Unido do século XIX. Só em [[Whitechapel]], a polícia metropolitana estimava que existiam cerca de 1 200 prostitutas de classe social baixa e 62 bordéis.<ref>Donald Rumbelow (2004) The Complete Jack the Ripper: 12. Penguin</ref>. No geral, estas mulheres vendiam os seus serviços por valores bastante baixos e tinham diferentes nacionalidades. Londres era uma capital em crescimento económico acentuado e um destino popular para muitos estrangeiros.
 
As prostitutas enchiam os bares e as ruas de Whitechapel, um dos bairros mais pobres do [[East End de Londres]]. Porém, também se encontravam perto de teatros e de estabelecimentos de ócio masculinos, desde bordéis até locais onde os homens bebiam e viam espetáculos eróticos, muitas vezes protagonizados por menores. A prostituição homossexual também existia, ainda que o seu secretismo fosse ainda maior.
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===Trabalho infantil===
[[Imagem:Coaltub.png|esquerda|thumbnail|upright=1.5|Trabalho infantil numa mina de carvão no Reino Unido]]
O livro ''[[Oliver Twist]]'' de [[Charles Dickens]] é talvez o melhor reflexo da vida precária de muitas crianças na era vitoriana. Foi publicado em [[1838]] e caiu como um “balde de água fria” nos britânicos, fazendo uma crítica mordaz à hipocrisia social, às instituições e à justiça devido aos estragos que causaram e por terem levado a fome, o trabalho e a mortalidade às crianças.<ref>''[http://www.elmundo.es/suplementos/magazine/2005/322/1132765480.html La miseria infantil en la gloriosa era Victoriana]''. El Mundo. 27 de novembro de 2005.</ref>. O próprio Charles Dickens começou a trabalhar aos 12 anos numa empresa que produzia graxa de sapatos quando a sua família se encontrava detida numa [[prisão civil]].
 
Na época as crianças oriundas de famílias mais pobres deviam contribuir para o orçamento familiar e faziam muitas vezes trabalhos de alto risco em troca de ordenados bastante baixos .<ref>Laura Del Col, West Virginia University, [http://www.victorianweb.org/history/workers1.html The Life of the Industrial Worker in Nineteenth-Century England]{{deadligação linkinativa|datedata=Octoberoutubro de 2011}}</ref>. As fábricas procuravam crianças a partir dos 4 anos de idade para trabalhar. Os rapazes mais ágeis limpavam chaminés e as crianças pequenas eram contratadas pelas indústrias mineira e têxtil onde entravam por túneis demasiado estreitos e baixos para adultos e em máquinas em funcionamento para as limparem, procurar cones e encontrar linhas rotas nos teares .<ref>''[http://www.elmundo.es/suplementos/magazine/2005/322/1132765480.html La miseria infantil en la gloriosa era Victoriana]''. El Mundo. 27 de novembro de 2005.</ref>. Os acidentes de trabalho eram comuns e muitas crianças morreram nos seus locais de trabalho. O pó e a humidade das fábricas faziam com que muitas crianças morressem de doenças contraídas no trabalho tais como tuberculose, [[asma]] e [[alergias]]. Um inquérito realizado em [[1878]] mostrou que as crianças trabalhadoras mediam em média menos 12 centímetros do que as crianças aristocráticas e burguesas.<ref>Rioux Jean Pierre (1989). ''La Révolution industrielle, Nouvelle édition''. França: Points Histoire. [[ISBN]] [https://es.wikipedia.org/wiki/Especial:FuentesDeLibros/2_02_010871_2 2 02 010871 2] p. 174-175.</ref>. Além disso, as crianças eram açoitadas se a sua produtividade diminuísse. No Reino Unido, as crianças desfavorecidas pertenciam à igreja que as vendiam às fábricas através de anúncios publicados em jornais quando elas começavam a ser demasiadas e já não havia condições para tratar delas. Em muitos casos, as crianças eram vendidas sem o consentimento dos pais .<ref>Rioux Jean Pierre, 1989, p. 174-175</ref>.
 
Algumas crianças da época trabalhavam como moços de recados, varredores, engraxadores de sapatos e vendiam artigos de baixo preço nas ruas tais como fósforos e flores. Outras aprendiam certas aptidões, tais como construção e serviço doméstico. As horas de trabalho eram longas: os trolhas chegavam a trabalhar 64 horas por semana no verão e 52 horas no inverno, enquanto que os empregados domésticos chegavam a trabalhar 80 horas por semana. Muitas jovens trabalhavam como prostitutas (a maioria das prostitutas em Londres tinham entre 15 e 22 anos).<ref>Barbara Daniels, ''[http://www.hiddenlives.org.uk/articles/poverty.html Poverty and Families in the Victorian Era]''</ref>.
 
Um dos pioneiros na investigação do trabalho infantil e das suas consequências, foi o cirurgião e farmacêutico Charles Turner Thackrah, que publicou vários estudos onde revelou os seus riscos para a saúde e propôs medidas preventivas. Na sua obra, ''The Effects of Arts, Trades and Professions and of Civic States and Habits of Living, on Health and Longevity'', revela, num tom de preocupação, os longos horários que as fábricas têxteis deviam cumprir, principalmente as mais pequenas. A sua opinião e diversas obras contribuíram para a criação de reformas nas leis .<ref>Ward J. T., ''The factory system. Vol. II: The factory system and society'', David & Charles, Newton Abbott, 1970, págs. 27-38</ref> . O Estado inglês tomou medidas em 1833 que regulavam o trabalho infantil. O Factory Act impedia que crianças com menos de 9 anos trabalhassem e obrigava que as fábricas registassem os seus horários e fornecessem apoio escolar. O facto de as crianças terem uma profissão impedia que fossem para a escola e, em 1828, 2 em cada 14 crianças britânicas tinham andado na escola .<ref>''[http://www.elmundo.es/suplementos/magazine/2005/322/1132765480.html La miseria infantil en la gloriosa era Victoriana]''. El Mundo. 27 de novembro de 2005.</ref>.
 
Em Inglaterra, 44% dos ladrões e 23% dos agressores tinham menos de 21 anos de idade .<ref>''[http://www.elmundo.es/suplementos/magazine/2005/322/1132765480.html La miseria infantil en la gloriosa era Victoriana]''. El Mundo. 27 de novembro de 2005.</ref>.
 
===A cultura do ópio e de outras drogas===
[[Imagem:Opium smoking 1874.jpg|direita|thumbnail|upright=1.5|Representação de um grupo de homens a fumar ópio em [[1874]]]]
Apesar da rigorosa moral vitoriana, eram muitas as práticas não tão morais como a cultura do [[ópio]], cujo relato mais significativo foi o de [[Thomas de Quincey]] no livro autobiográfico ''Confessions of an English Opium-Eater'', que foi amplamente difundido e traduzido em várias línguas e no qual se retrata o uso e vício do ópio. Quincey consumiu ópio em forma de [[láudano]] para tratar uma nevralgia dental e ficou viciado .<ref>[http://www.letralia.com/ciudad/carrizales/opio.htm ''Opio y literatura''], Letralia. Consultado a 19 de setembro de 2013</ref>. Tal não é muito estranho, uma vez que o ópio era distribuído livremente na corte real e até a própria rainha Vitória o consumia misturado com [[cocaína]] na forma de pastilhas e, na ficção, [[Sherlock Holmes]] (cujas histórias venderam milhões de cópias) injetava cocaína frequentemente, uma vez que esta droga era receitada a pessoas que pensavam demais e eram muito nervosas. O ópio era consumido como uma “droga social” e com o tempo a sua conceção mudou e passou a ser consumido nos mesmos locais onde se praticava a prostituição .<ref>''[http://www.lr21.com.uy/mundo/1018794-se-cumplen-100-anos-del-comienzo-de-la-lucha-contra-las-drogas Se cumplen 100 años del comienzo de la lucha contra las drogas]'', La Red 21 de Uruguay. 25 de janeiro de 2012.</ref>.
 
Os britânicos não só viam no ópio benefícios medicinais, como também benefícios económicos, uma vez que o exportavam. Em 1830, a situação crítica da sociedade chinesa fez com que fosse ordenado um combate ao ópio e, em 1839, o representante chinês Lin Hse Tsu enviou uma carta à rainha Vitória a pedir-lhe para não autorizar a comercialização de substâncias tóxicas: ''“(…) Parece que esta mercadoria envenenada é fabricada por algumas pessoas diabólicas em locais que estão sob a lei de Sua Majestade (…) Ouvi dizer que é proibido fumar ópio no seu país. Isso significa que não ignora até que ponto ele pode ser nocivo. Porém, em vez de proibir o consumo de ópio, era melhor proibir a sua venda ou, melhor ainda, o seu fabrico”'' .<ref>[http://www.claseshistoria.com/imperialismo/%2Blinzexuopio.htm Carta à rainha Vitória, 1839]</ref>. Obviamente, a rainha rejeitou o pedido. Entre [[1839]] e [[1842]], teve lugar a [[Primeira Guerra do Ópio]] que terminou com a [[China]] a render-se, a entrega da ilha de [[Hong Kong]] ao Reino Unido e a subsequente abertura das importações. Entre [[1856]] e [[1869]], teve lugar a [[Segunda Guerra do Ópio]], na qual a Grã-Bretanha e a França eram aliadas e que teve consequências ainda mais catastróficas para a China que não aceitou os primeiros tratados que ditavam que devia, quando terminasse a guerra, legalizar o comércio do ópio, indemnizar a Grã-Bretanha e a França, abrir o seu comércio, indemnizar os comerciantes britânicos e abrir a cidade de Pequim ao comércio.
 
O ópio era de tal forma aceito pela sociedade que os grandes autores da era vitoriana, como [[Charles Dickens]], [[Oscar Wilde]] e [[Sir Arthur Conan Doyle]] fazem referências à droga em muitas das suas obras .<ref>[http://www.letralia.com/ciudad/carrizales/opio.htm ''Opio y literatura''], Letralia. Consultado a 19 de setembro de 2013</ref>.
 
===Obsessão com a morte===
[[Imagem:Princess Beatrice mourning.jpg|esquerda|thumbnail|upright=1.0|As cinco filhas da rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]] em luto após a morte do seu pai, o príncipe [[Alberto de Saxe-Coburgo-Gota|Alberto]]]]
A morte era algo que estava bastante presente na sociedade vitoriana. A esperança média de vida de [[1830]] em Londres das classes mais altas era de 44 anos, a dos homens de negócios era de 25 anos e a das classes trabalhadoras não ultrapassava os 22 anos de idade. Além disso,
57% das crianças das classes trabalhadoras morriam antes de completarem 5 anos .<ref>Hunter, Lyn''[http://www.berkeley.edu/news/berkeleyan/2000/04/05/death.html A Victorian Obsession With Death - Fetishistic Rituals Helped Survivors Cope With Loss of Loved Ones]'', Berkeleyan 5 de abril de 2000. Página consultada a 10 de setembro de 2013</ref>.
 
Ao contrário do que acontece nos dias de hoje, em que cerca de 80% das mortes ocorre em hospitais, na era vitoriana a maioria das pessoas morria em casa, o que fazia com que houvesse uma maior proximidade com a morte e que se criassem certos rituais em seu redor. Quando alguém estava às portas da morte, era costume chamar toda a família que se reunia à volta da cama e aguardava com expectativa as últimas palavras do falecido .<ref>Hunter, Lyn''[http://www.berkeley.edu/news/berkeleyan/2000/04/05/death.html A Victorian Obsession With Death - Fetishistic Rituals Helped Survivors Cope With Loss of Loved Ones]'', Berkeleyan 5 de abril de 2000. Página consultada a 10 de setembro de 2013</ref>. Devido à elevada mortalidade infantil e ao facto de esta ser, em muitos casos, uma das poucas ocasiões em que a família estava toda reunida, começou a surgir o costume de tirar fotografias aos falecidos. No caso das crianças, estas fotografias eram muitas vezes a única recordação que a família tinha dos seus filhos e era costume colocá-las em locais de destaque da casa, como a sala de visitas .<ref>Miklós, Vincze, ''[http://io9.com/the-strangest-tradition-of-the-victorian-era-post-mort-472772709 The Strangest Tradition of the Victorian Era: Post-Mortem Photography]'', io9, 13 de abril de 2013. Página consultada a 10 de setembro de 2013</ref>.
 
Havia ainda regras bastante restritas no que diz respeito ao luto. As viúvas tinham de usar vestimentas de luto durante dois anos e meio após a morte dos maridos e não podiam socializar durante esse período .<ref>''Manners and Rules of Good Society, or, Solecisms to be Avoided'' (London, Frederick Warne & Co., 1887)</ref>. A própria rainha Vitória manteve um luto de 40 anos quando o seu marido, o príncipe [[Alberto de Saxe-Coburgo-Gota|Alberto]], faleceu.
 
Esta ligação à morte estendia-se ainda ao entretenimento. Os espectáculos de [[espiritismo]] atraiam multidões e em privado as sessões de espíritos com a presença de [[Médium|médiuns]] estavam em voga, principalmente nas classes mais altas. A popularidade do espiritismo nesta época é atribuída ao declínio na crença religiosa ao mesmo tempo que o prestígio da ciência aumentava. Muitos vitorianos achavam que este fenómeno apresentava uma explicação mais racional para o que sucedia após a morte e procuravam nas sessões de espíritos provas de vida após a morte .<ref>Gregory, Candace ''A Willing Suspension of Disbelief: Victorian Reactions to the Spiritualist Phenomena''. loyno.edu. Página consultada a 19 de setembro de 2013</ref>.
 
==Cultura e entretenimento==
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Outras peças e autores da época incluem: adaptações para os palcos do [[Frankenstein]] de [[Mary Shelley]] e do novo gênero de romances sobre [[vampiro]]s. Em [[1849]] as histórias de Frankenstein e dos vampiros são finalmente combinadas em ''Frankenstein; ou A Vítima do Vampiro''. Em [[1887]], ''The Model Man'', uma peça teatral na qual o monstro Frankenstein e um vampiro estão no [[Ártico]], aparece em Londres. As peças de [[Henrik Ibsen]] causam controvérsia no palco de Londres, com homens como [[James Joyce]] e [[George Bernard Shaw]] apoiando o novo estilo dramático oriundo da [[Noruega]].
 
A nível musical, as brass bands eram bastante populares. Uma vez que a gravação de música ainda não era uma realidade, muita gente tinha apenas acesso à mesma quando estas bandas tocavam em [[Coreto|coretoscoreto]]s.
[[Imagem:Painted Ladies San Francisco January 2013 panorama 2.jpg|thumb|esquerda|350px|Casas em estilo vitoriano em [[São Francisco (Califórnia)|São Francisco]], [[Califórnia]].]]
A era vitoriana foi ainda a era dourada do circo britânico. O Astley's Amphitheatre em [[Lambeth]], Londres um circo com mais de 1000 metros de largura, estava no epicentro dos circos do século XIX. A estrutura era permanente e durou um século. Os circos ambulantes dominaram nas províncias britânicas, na Escócia e na Irlanda .<ref>[http://www.fairsarefun.net/html/icon.aspx?id=27&p=4 ''19th century Circus Peep behind the scenes'']. Fairsarefun.net. 6 de janeiro de 1990. Página consultada a 18 de setembro de 2013</ref>.
 
Foi na era vitoriana que o desporto foi sistematicamente introduzido nas escolas privadas ('''public schools''') inglesas. Desta forma reiniciava-se a era das atividades físicas que fora interrompida por Teodósio no século IV. Este movimento está intimamente ligado ao renascimento dos [[Jogos Olímpicos|jogos olímpicos]], que aconteceria em [[1896]] em Atenas, e este foi idealizado pelo [[Pierre de Coubertin|Barão de Cobertin]], mas o mérito deve ser partilhado aos primórdios da Educação Física Inglesa que já idealizava a formação do homem como um todo, nem só intelectual e nem só físico.
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O futebol também surgiu nesta época. A primeira liga de futebol foi criada pelo diretor do [[Aston Villa]], [[William McGregor]] em 1888. O Aston Villa foi a equipa de futebol de maior sucesso na era vitoriana, uma vez que foram campeões da liga por cinco vezes e venceram três [[FA Cup|taças FA]]. Outros clubes proeminentes da época foram o [[Blackburn Rovers]], o [[Sunderland]] e o [[Preston North End]]. No final do século XIX, o futebol era já um fenómeno de massas, atraindo grandes multidões maioritariamente constituídas por homens da classe trabalhadora.
 
Outros desportos modernos que foram introduzidos ou desenvolvidos nesta época incluem: o [[críquete]], o [[ciclismo]], o [[Croquet|croquet]], o [[skate]], o [[hipismo]] e desportos aquáticos. O [[ténis]] moderno teve origem em [[Birmingham]] entre 1859 e 1865. O torneio de ténis mais antigo do mundo, o de [[Wimbledon Championships|Wimbledon]], foi disputado pela primeira vez em Londres em 1877.
 
== Cronologia ==