Império Angevino: diferenças entre revisões

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{{Info/Estado extinto
|nome_oficial = Angevin Empire
|nome_completo= Império angevino
|nome_comum = Império angevino
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|era = [[Idade Média]]
|forma_de_governo= [[Monarquia feudal]]
|ano_início = 1154
|ano_fim = 1214
|duração = 1154–1214 (efetivo)<br />''1214–1259'' (formal)
|evento_início= [[Henrique II da Inglaterra|Henrique de Anjou]] torna-se [[Rei da Inglaterra|rei da Inglaterra]]
|data_início = [[25 de outubro]]
|evento_fim = [[Batalha de Bouvines]]
|data_fim = [[27 de julho]]
|evento1 =
|ano_evento1 =
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|religião = [[Catolicismo Romano]]
|moeda = [[Libra esterlina]]<br /> [[Livre (moeda)|Franco Livre]]
|título_líder = [[Anexo:Lista de monarcas da Inglaterra#Casa Plantageneta|Monarcas]]
|líder1 = [[Henrique II da Inglaterra|Henrique II]]
|ano_líder1 = 1154 - 1189
|líder2 = [[Ricardo I da Inglaterra|Ricardo I]]
|ano_líder2 = 1189 - 1199
|líder3 = [[João da Inglaterra|João I]]
|ano_líder3 = 1199 - 1216
|legislatura =
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== Origem do termo ==
 
O termo "império" para referir os territórios sob controle de Henrique II e seus descendentes é utilizado pelo menos uma vez desde o [[século XII]], no ''Dialogus de Scaccario'' de Richard fitz Nigel, surgido por volta de [[1179]]. No entanto, a ausência de uma unidade política, administrativa e financeira, assim como a breve existência do império (entre [[1154]] e [[1214]]) fizeram nascer algumas reticências nos historiadores quanto à utilização dessa expressão.<ref>Martin Aurell, ''L’Empire des Plantagenêts (1154-1224)'', Paris, Perrin, 2003, p.10</ref>. O "império Plantegeneta" é, na realidade, um conjunto de vários Estados: um reino (Inglaterra), dois ducados (a [[Aquitânia]] e a [[Normandia]]) e vários condados. A sua unidade vem do fato de que uma [[União pessoal|única pessoa encabeça]] esses territórios: [[Henrique II da Inglaterra|Henrique II]].
 
Em [[1984]], Robert-Henri Bautier fala em "espaço Plantageneta" em vez de "império". Mesmo empregando a expressão, o historiador Jean Favier acha mais correto falar em "complexo feudal" do que em "império". São empregues outras expressões tais como "estado" ou "federação".<ref>Jean Favier, ''Les Plantagenêts : origines et destin d'un empire : XIe-XIVe siècles'', Edições Fayard, Paris, 2004.</ref>. No entanto hoje em dia, na França, o termo "império Plantageneta" é o mais utilizado em publicações. Na Inglaterra fala-se em "Império Angevino" (''Angevin Empire''), termo utilizado pela primeira vez em [[1887]] por Kate Norgate em ''England under the Angevin Kings'',<ref>Norgate, Kate, [http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=86049679 ''England Under the Angevin Kings'']</ref> referindo-se à origem da [[Dinastia Plantageneta|dinastia Plantageneta]]. Alguns vão mesmo ao ponto de utilizarem o termo ''Commonwealth''.<ref>Aurell, ''L’Empire des Plantagenêts (1154-1224)'', Paris, Perrin, 2003, p.11</ref>
 
Em essência, o título mais alto foi ''[[rei da Inglaterra]]'', ao qual foram adicionados os títulos de duques e condes, originário da França e que foram completamente independentes do título real, e não eram sujeitos a qualquer direito inglês. Devido a isso alguns historiadores preferem o termo ''Commonwealth'' do que império, enfatizando que o Império angevino era mais um conjunto de sete estados totalmente independentes, soberanos e fracamente ligados uns aos outros, como uma [[confederação]].<ref>Aurell, ''L’Empire des Plantagenêts (1154-1224)'', Paris, Perrin, 2003, p.11</ref>
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== Formação ==
 
O rei [[Henrique I de Inglaterra]] tinha derrotado seu irmão [[Roberto II da Normandia|Roberto Curthose]], virando rival de seu sobrinho [[Guilherme Clito]], (filho de Roberto, tornou-se [[Anexo:Lista de condes da Flandres|conde de Flandres]] em [[1127]]) na qual usou sua herança paterna para reivindicar o Ducado da Normandia e o Reino da Inglaterra. Henrique tentou estabelecer uma aliança com [[Anjou]] contra [[Flanders]] ao casar o seu único filho legítimo, [[Guilherme Adelin]] com Matilde de Anjou, a filha mais nova de [[Fulque V de Anjou]], mas Guilherme morreu no desastre do [[White Ship]] em [[25 de novembro]] de [[1120]] sem gerar descendentes.
 
Henrique então planeja casar sua filha [[Matilde da Inglaterra|Matilde]] com [[Godofredo V de Anjou]] (filho mais velho de Fulque V e seu sucessor). Os anglo-normandos tinham de aceitar a herança de Matilda ao trono da Inglaterra. Houve apenas uma ocorrência de uma rainha europeia reinante antes, [[Urraca de Leão e Castela]], e não era um precedente encorajador. No entanto, em janeiro [[1127]] os barões anglo-normandos reconheceram Matilda como herdeira ao trono em um juramento. Em [[17 de junho]] de [[1128]], o casamento de Matilde e Godofredo foi celebrado em [[Le Mans]].
 
=== Guerra civil ===
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=== Ascensão de Henrique II ===
[[Ficheiro:King Henry II from NPG.jpg|thumb|left|Representação moderna do rei [[Henrique II de Inglaterra|Henrique II]].]]
Apesar de Estêvão retomar o poder, o caos se instaurou por anos no país. Nos anos seguintes o rei ia ficando cada vez mais doente. Estêvão fez o que pôde para legitimar-se e coroar seu filho [[Eustácio IV, Conde de Bolonha]], o que fora proibido pela Papa.
 
Eustácio morreu em [[1153]], destruindo as chaces de continuidade da linhagem dos [[Casa de Blois|Blois]]. Aproveitando a situação, [[Henrique II da Inglaterra|Henrique, Conde de Anjou]] (futuro Henrique II), filho de Matilde e Godofredo, invadiu a Inglaterra em novembro do mesmo ano e forçou Estêvão a assinar o [[Tratado de Wallingford]], que o declarava herdeiro. Quando Estêvão morreu, Henrique subiu ao trono sem oposição.
 
Quando Henrique II tornou-se rei, ele já havia herdado de seu pai em [[1151]] os títulos de [[duque da Normandia]], [[conde de Anjou]] e do Maine, em com o seu casamento em [[1152]] com [[Leonor da Aquitânia]] se tornou [[Ducado da Aquitânia|duque da Aquitânia]] e [[Condado de Poitiers|conde de Poitiers]] (''[[jure uxoris]]'').
 
== Expansão ==
[[Ficheiro:Chateauangers.jpg|thumb|left|300px|O [[castelo de Angers]] e suas muralhas, sede da [[Dinastia de Anjou|dinastia de Anjou]].]]
[[Ficheiro:Conquetes_Philippe_Auguste.png|thumb|right|300px|O [[Reino da França]] em durante o reinado de [[Filipe II de França|Filipe Augusto]]. O território angevino está em vermelho.]]
 
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[[File:Philippe Auguste et Richard Acre.jpg|thumb|right|300px|[[Filipe II da França|Filipe II]] (direita) e [[Ricardo I da Inglaterra|Ricardo I]] (esquerda) em [[São João de Acre]], na [[Terceira Cruzada]].]]
 
* Na Grande Anjou,<ref group="Nota">A ''Grande Anjou'' é um termo utilizado para designar o agrupamento do condado de Anjou com o condado de Touraine e o condado de Maine.</ref><ref>Elizabeth M. Hallam & Judith Everard ''Capetian France 937 - 1328'', Edições Longman, página 66.</ref> existiam dois cargos que partilhavam a administração: os [[preboste]]s e os [[Senescal|senescais]]. Estes últimos estavam sediados em [[Tours]], [[Chinon]], [[Baugé]], [[Beaufort-en-Vallée|Beaufort]], [[Brissac-Quincé|Brissac]], [[Angers]], [[Saumur]], [[Loudun]], [[Loches]], [[Langeais]] e [[Montbazon]]. Os restantes senhorios não eram administrados pela família Plantageneta. O Maine foi, num primeiro tempo, desprovido de administração central. Os plantagenetas instalaram ali novos administradores, como o senescal de [[Le Mans|Mans]]. Mas essas reformas surgiram tardiamente e os Capetianos foram os únicos a beneficiar disso após anexarem a Grande Anjou.<ref>Hallam & Everard, p.67</ref>.
 
* O ducado de [[Gasconha]] era um território mal administrado, onde os administradores residiam em [[Entre-deux-mers]], [[Baiona (França)|Baiona]], [[Dax]], ao longo do caminho de peregrinação de [[Santiago de Compostela]] (na [[Espanha]]) e da [[Garona]] até [[Agen]]. O resto do território não tinha administradores e representava uma grande parte do ducado, comparando com outras províncias. Era difícil para os Plantagenetas, tal como o fora para os [[condes de Poitou]], manter a sua autoridade no ducado.<ref>Hallam & Everard, p.76</ref>. Essa parte da Gasconha era pouco atrativa devido à sua paisagem (húmida, deserta e pantanosa).<ref>John Gillingham, ''The Angevin Empire'', página 30</ref>.
 
* A [[oeste]] de Poitou e da Aquitânia, existiam numerosos castelos nos quais viviam os representantes oficiais, mas a [[leste]] dessas províncias não havia nenhum. Os senhores locais governavam essas regiões como se fossem soberanos, possuindo fortes poderes. Foi ali que [[Ricardo I de Inglaterra|Ricardo Coração de Leão]] morreu lutando contra um senhor local, no [[Limousin]]. Alguns senhores eram poderosos rivais, tais como a [[Casa de Lusignan]], em [[Poitou]].
 
* A [[Irlanda]] era gerida pelo ''senhor da Irlanda'', título criado por Henrique II ao mesmo tempo que o [[senhorio da Irlanda]] aquando da conquista da [[ilha]] em [[1171]]. O rei teve sérias dificuldades em impor a sua autoridade. [[Dublin]] e [[Leinster]] eram as principais praças fortes dos plantagenetas, enquanto que o [[condado de Cork]], de [[condado de Limerick|Limerick]] e de [[condado de Ulster|Ulster]] estavam nas mãos dos nobres anglo-normandos.<ref>Seán Duffy, ''Medieval Ireland'', página 58.</ref>.
 
* A [[Escócia]] era um reino independente, mas após a [[Revolta de 1173-1174|desastrosa campanha militar]] de [[Guilherme I da Escócia|Guilherme I]] contra Henrique II, foram colocadas guarnições inglesas nos castelos de [[Castelo de Edimburgo|Edimburgo]], [[Castelo de Roxburgo|Roxburgo]], [[Castelo de Jedburgo|Jedburgo]] e [[Castelo de Berwick|Berwick]], tal como estabelecido no [[Tratado de Falaise]], assinado em [[1174]].<ref name="falaisetreaty">Carpenter, p.226</ref>.
 
* O [[conde de Tolosa]] estava ligado por um laço de vassalagem que raramente honrava. Apenas [[Quercy]] era diretamente administrada pelos Plantagenetas, e manteve-se uma terra contestada.
 
* A Bretanha, região onde os nobres são tradicionalmente independentes, estava sob controlo dos Plantagenetas (regentes e depois duques) de [[1166]] a [[1203]]. [[Nantes]] estava indiscutivelmente sob domínio angevino enquanto que os Plantagenetas metiam-se muitas vezes nos assuntos bretões, colocando bispos e impondo a sua autoridade.<ref>Gillingham, p. 24</ref>.
 
* O [[Pais de Gales]] reconheceu os Plantagenetas como senhores.<ref name="Rhyssubmission">David Carpenter, p. 215</ref>. No entanto continuava a ter uma administração independente, fornecendo aos Plantagenetas [[soldado]]s e [[Arco longo inglês|arqueiros]].
 
== Colapso ==
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[[Ficheiro:Bataille de Bouvines gagnee par Philippe Auguste.jpg|thumb|right|350px|''La Bataille de Bouvines'', por [[Horace Vernet]].]]
 
Três anos após sua ascensão, [[João da Inglaterra]], cognominado de ''Sem Terra'', iniciou em [[1202]] campanhas na Normandia, buscando aumentar seu território perante Filipe II. Filipe, por sua vez, perdeu muitos territórios para João, até sua vitória no Cerco Château Gaillard, em [[1204]], fazendo o exército anglo-normando recuar. João conseguiu formar alianças com [[Otão IV, Sacro Imperador Romano-Germânico]] (neto de Henrique I e primo-irmão de João), [[Henrique I de Brabante]] e Reinaldo de Dammartin (pai de [[Matilde II, Condessa de Bolonha]], rainha de Portugal).
 
Apesar de os aliados terem 25.000 homens (dez mil à mais que a França) na [[Batalha de Bouvines]] em [[1214]], acabaram por perder. A vitória decisiva de Filipe foi fundamental na ordenação política na Inglaterra e na França. No primeiro caso, tão enfraquecido foi o derrotado rei João, que ele logo necessário submeter-se as exigências dos barões e assinar a [[Carta Magna]], que limita o poder da coroa e estabelecer a base para a lei comum. Neste último, a batalha foi fundamental na formação da forte [[monarquia absoluta]], que caracterizaria França até a primeira [[Revolução Francesa]].
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{{Artigo principal|[[Primeira Guerra dos Barões]]}}
 
Em 1215, os barões ingleses, convencidos de que João não respeitara os termos da recente assinada Carta Magna, enviaram uma carta para a corte francesa, oferecendo a coroa da Inglaterra ao [[Luís VIII da França|príncipe Luis]], neto por via materna de [[Margarida I da Flandres]], prima em primeiro grau de Henrique II. Em novembro uma guarnição francesa foi enviada para Londres para apoiar os rebeldes. Em [[22 de maio]] de [[1216]] as forças francesas desembarcaram em [[Sandwich]], liderada pelo próprio Luís (ainda príncipe). João fugiu, permitindo Luís capturar Londres e [[Winchester]]. Em agosto, Luis controlava a maior parte do leste da Inglaterra; apenas [[Dover]], [[Lincoln]], e [[Windsor]] permaneceram leais a João. Mesmo o rei [[Alexandre II da Escócia]] viajou para [[Canterbury]] e prestou homenagem ao príncipe Luis, reconhecendo-o como rei da Inglaterra.
 
João morreu dois meses depois, derrotado até mesmo na Inglaterra. Em contraste com o fracasso de João para honrar os termos da Carta Magna, a regência, que o seguiram ([[Henrique III de Inglaterra|Henrique III]] era menor de idade) decidiu em conformidade com ela. Os barões anglo-normandos, portanto, retiraram seu apoio de Luis. Ele foi derrotado quase um ano depois em Lincoln e Sandwich, e deixou cair a sua reivindicação à coroa inglesa pelo [[Tratado de Lambeth]], em setembro de [[1217]].