Sociologia da educação: diferenças entre revisões

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* Seguindo essa visão,''' [[Talcott Parsons]] '''defendeu que através do processo de socialização o indivíduo aprende a desempenhar determinados [[papel social|papéis sociais]] e que o processo de [[aprendizado]] correspondia a formação de uma determinada [[personalidade]]. Através da educação o indivíduo internaliza as normas sociais e forma uma determinada [[identidade social]]. Tanto Durkheim quanto Parsons tentam mostrar como a educação é um processo que molda os seres sociais e é necessária para a a reprodução da vida social: ela é uma [[Funcionalismo (ciências sociais)|necessidade funcional]]. A escola é considerada uma instituição social responsável pela educação formal e representa um desdobramento da família (educação informal). O sistema escolar nasce da complexificação da sociedade e é resultado da [[divisão social do trabalho,|divisão do trabalho,]] ou seja, é um desdobramento da diferenciação e da especialização social.
 
* Já na '''interpretação crítica''' o processo de aprendizagem e a escola situam-se entre as fontes da superestrutura (da camada mais superficial da sociedade, formada por exemplo pelos pensamentos e sentimentos que circulam na sociedade). Como tudo mais que está na superestrutura (mesmo servindo de fonte para alterações ou para a reprodução dela), o processo de aprendizagem e a escola dependem da [[infra-estrutura]] da sociedade (que é a camada mais básica), e estão apoiados nela. A infra-estrutura consiste no modo como se organiza a produção dos bens econômicos em uma sociedade, e o modo de acesso da população a esses bens faz parte dessa organização. Portanto do ponto de vista crítico as questões de política econômica, diretamente ligadas às condições de sustento material dos indivíduos e às desigualdades, divisões e conflitos que ocorrem na sociedade, afetam direta ou indiretamente todas as outras questões em uma sociedade, inclusive as questões educacionais. É na escola e nos processos de aprendizagem em geral que são produzidas as ideias ou [[ideologias]] correspondentes aos distintos [[Modo de produção|modos de produção]]. Na realidade atual a escola serve às necessidades do [[capitalismo]]. Seguindo, portanto, as teses de [[Karl Marx]] e [[Friedrich Engels]], os estudiosos marxistas analisam a escola como o lugar na qual são gestadas as visões que legitimam sistemas de exploração, alienação e dominação. É o caso de [[Louis Althusser]] com sua tese de que a escola é um [[ideologia|aparelho ideológico]] do Estado. Outros teóricos ligados ao [[marxismo]], como [[Antonio Gramsci]], por sua vez, preferem entender a escola como o lugar em que pode ser produzida uma contra-ideologia ou uma nova [[hegemonia]]. Outras correntes do criticismo são contra esta concepção, pois veem a redução da escola a mero aparelho ideológico o que anula o discurso de possibilidade e esperança, salientando que as teorias reprodutivistas cumprem um papel fundamental, na medida em que libertam a pedagogia do espaço meramente escolar, relacionando escola/educação com os aspectos políticos, econômicos e sociais, visto que a escola não se explica por si. No interior da corrente crítica, portanto, existe um debate sobre o papel reprodutor ou transformador da escola. <ref> https://www.espacoacademico.com.br/042/42pc_critica.htm </ref>. A teoria crítica tem enorme influência no Brasil e é adotada por diversos nomes do pensamento [[pedagogia|pedagógico]] como é o caso de [[Paulo Freire]], fundador dessa escola.
 
* Outra vertente da sociologia da educação retoma as ideias de [[Max Weber|'''[[Max Weber]]''']] e sua teoria a racionalização social e do desencantamento do mundo. Com base em sua sociologia da dominação (burocrática, tradicional e carismática) esse pensador identificou três tipos ideais ou puros (modelos abstratos)segundo os quais ocorre o aprendizado. A pedagogia carismática visa despertar as qualidades do indivíduo, a pedagogia tradicional o cultivo das qualidades morais e intelectuais e a pedagogia burocrática a formação técnica (treinamento). Max Weber foi um grande defensor da liberdade de pensamento no ensino superior mas defendeu que o educador não deve utilizar a sala de aula como tribuna para divulgar suas convicções. No plano da ciência Weber defendia a neutralidade axiológica: o papel do professor é estimular a autonomia intelectual do educando e não impor suas próprias ideais. Weber fez análises detalhadas sobre a educação ministrada pelos [[mandarins]] na China imperial (exemplo de pedagogia tradicional) e estudou a correlação entre educação e grupos religiosos (protestantes e católicos) na Alemanha no primeiro capítulo de seu estudo intitulado ''[[A ética protestante e o espírito do capitalismo]]''. Na linha weberiana outro importante pensador dos processos educacionais é [[Karl Mannheim|'''[[Karl Mannheim]]''']]''' '''que definiu a educação como um tipo de técnica social: ''Assim, a educação apenas será corretamente compreendida se a consideramos como uma das técnicas que influenciam o comportamento humano e como um meio de controle social. A menor mudança nessas técnicas e controles mais gerais reflete-se na educação em sentido restrito - ou seja, a processada no interior da escola''.
 
== A educação na sociologia contemporânea ==
* Nos anos 60 e 70 a sociologia da educação recebeu um enorme impulso com as pesquisas de [[Pierre Bourdieu|'''[[Pierre Bourdieu]]''']]''' '''que buscou analisar a relação entre escola e reprodução social: ele escreveu "''Os estudantes e o ensino''" em 1968 e " ''A reprodução''" em 1970, este junto com [[Jean-Claude Passeron]]. Ele também analisou o sistema universitário em "''Homo academicus''" (1984). Esse autor demonstrou como o processo de socialização imprime nos alunos um [[habitus]] primário que tende a se reproduzir em suas práticas sociais. Na Escola as camadas de baixa renda acabam se defrontando com um habitus diferente, o que acaba desestimulando e dificultando o aprendizado. Em outros termos, na escola o educando encontra um capital cultural diferente daquele herdado na família. Ao mostrar os mecanismos sócio-culturais da [[exclusão social]] a teoria de Pierre Bourdieu recebeu a denominação de crítico-reprodutivista. O tema das desigualdades escolares aparece também na obra de[[Establet| Roger Establet]] e [[Bernard Lahire]].
 
* Algumas linhas de pensamento dedicaram-se também a entender os processos de socialização em uma perspectiva [[Microssociologia|microssociológica]], ou seja, a partir do cotidiano dos indivíduos e de suas [[Ação social|ações sociais]]: no centro dessa abordagem estão as [[Interação social|interações sociais]] e o estudo dos [[Grupo social|grupos sociais]], seja o meio familiar, seja o meio escolar, grupos de amigos, etc.. Um dos principais representantes desse tipo de análise é [[George Herbert Mead|'''[[George Herbert Mead]]''']]. Em ''Mind, Self, and Society ''(1932) ele estuda os processos de formação da subjetividade ([[Self]]) a partir da capacidade dos indivíduos de se representarem no lugar do outro (Outro generalizado) em atividades como jogos e recreações infantis. Embora seu estudo seja adotado também pela [[psicologia social]], a análise das relações entre mente e sociedade também faz parte dos estudos sociológicos.
Nos Estados Unidos é especialmente importante a pesquisa de [[James S. Coleman]] e na Inglaterra um dos principais nomes é [[Basil Bernstein]]. [[Michael Apple]] e [[Henry Giroux]] são alguns autores que propõem uma análise crítica dos currículos escolares. Também as pesquisas de [[Michel Foucault]] e sua análise da microfísica do poder e da [[biopolítica]] tem uma enorme importância na pesquisa social em educação.A pesquisa sobre [[Género (sociedade)|gênero]] e os temas do [[racismo]] e da [[desigualdade social]] são também fundamentais nessa área de estudos.